Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

Um ano de jazz de primeiro mundo

29 maio 2004

Neste mês faz um ano que o CJUB lançou no panorama da música instrumental do Rio de Janeiro, a sua visão particular de como levar a arte do jazz de qualidade ao público carioca. Pois foi em maio de 2003 que, no "lounge" do hoje extinto restaurante Epitácio, do boa-praça Claudio Sieira, neófito em jazz mas com grande tino comercial, lançamos a pedra fundamental dos concertos Chivas Jazz Lounge, patrocinados pela Pernod-Ricard do Brasil.

Daquela noite inicial, uma quarta-feira cercada de amigos fiéis e muitas expectativas - inaugurada com uma arrepiante microfonia logo na primeira música, presenciada pelo todo-poderoso presidente da Pernod - até agora, vimos trilhando um caminho de aperfeiçoamento constante no que tange à organização, à divulgação e à produção musical propriamente dita. Fizemos, ao todo, 13 concertos, sendo que o extranumerário foi com os sensacionais expatriados Helinho Alves, Duduka da Fonsaca e Nilson Matta, que abriram o ano de 2004 com seu talento a serviço do CJUB.

Chegamos a um ponto de reconhecimento do nosso trabalho no qual ótimos músicos de jazz do Rio que ainda não se apresentaram para nós, cobram-nos uma participação nas futuras produções. Isso significa não apenas que o boca-a-boca entre eles é eficiente, mas traduz que tocar e ser aplaudido num concerto do CJUB lhes dá o prestígio de atuar para quem de fato lhes valoriza o talento.

Entretanto, não estamos interessados apenas no reconhecimento público desse talento dos músicos cariocas ou aqui radicados, mas também em fazer intercâmbio com outros estados - o que já se iniciou com a vinda de dois paulistas mais um americano radicado em São Paulo para o concerto deste dia 27 passado - aumentando as oportunidades de mostrar que, uma vez captada a atenção dos amantes do bom jazz, há espaço para produzir-se mais e melhores espetáculos inovadores e plenamente capazes de gerar satisfação a nós, principalmente, e em decorrência, ao resto do público que nos vem prestigiando.

Ergo, então, um brinde chivasregaliano a todos os membros-produtores deste grupo de amantes do jazz e a todos aqueles que acreditaram e acreditam na nossa capacidade de produzir noites de jazz dignas da qualificação "espetáculo" e que nos vem acompanhando nas realizações mensais.

A todos, nosso agradecimento. Cheers!

10 Jazz Best-Sellers, pela Tower Records

25 maio 2004

Até 24 de maio, a Tower Records apresentava os seguintes 10 CDs de jazz mais vendidos em suas lojas:

1. DIANA KRALL - THE GIRL IN THE OTHER ROOM (VERVE)
2. JAMIE CULLUM - TWENTY SOMETHING (VERVE)
3. PETER WHITE - CONFIDENTIAL (COLUMBIA)
4. MICHAEL BUBLÉ (REPRISE)
5. JOYCE COOLING - THIS GIRL'S GOT TO PLAY (NARADA)
6. JOHN SCOFIELD TRIO - ENROUTE (VERVE)
7. BOBBY SHORT - SONGS OF NEW YORK (TELARC)
8. DIANA KRALL - LIVE IN PARIS (VERVE)
9. CHRIS BOTTI - A THOUSAND KISSES DEEP(COLUMBIA)
10. ELIANE ELIAS - DREAMER (BLUE BIRD)

Foram por mim desconsiderados os CDs da Norah Jones, Caetano Veloso, Harry Connick, Jr. e Rod Stewart - não cumpriram requisitos mínimos.

BELA CENA

Bela cena: Vai começando o inverno e as temperaturas mais baixas pedem um copo com três, e não mais que três, pedras de gelo. O uísque é o ... que se tiver. Ao fundo, desliza rouco o barítono de Pepper Adams. E à meia-luz, sua fiel companheira mostra-lhe todo o seu charme, justificando ainda uma vez a acertada escolha que você fez tempos atrás. Posted by Hello

CHIVAS JAZZ FESTIVAL 2004 - 8/4/2004 - COTAÇÕES

24 maio 2004

RICHARD GALLIANO & THE FRENCH TOUCH QUARTET - @@@@

Sobrevivendo ao Saara sonoro que fechou a noite anterior, encontramos em Richard Galliano um merecido "oásis", alocado "na medida", na noite de encerramento desta última edicão do Chivas Jazz Festival.

Catedrático em todos os gêneros onde o acordeon transformou-se em protagonista (tango, chanson française e até o forró e afins nordestinos), Galliano mostrou a classe, a técnica, a paixão e, acima de tudo, a emoção de sua arte instantaneamente apreendida pela audiência, virtude privativa de pouquíssimos músicos.

O French Touch Quartet, formado por Joel Xavier (guitarra), marcantemente influenciado pela música flamenca; Jean Philippe Viret (contrabaixo), o mais afinado de todos os baixistas deste Festival, não a toa o atual líder da L'Orchestre de Contrebasses; e pelo baterista Jean Luc Danna, sideman perfeito para o grupo, brindou-nos, sob a direção do iluminado líder, com temas próprios e de Piazzolla (Libertango), deixando para o fim Bebe, homenagem a Hermeto Paschoal, para a qual assumiu a bateria o brasileiro Boto, numa verdadeira festa para olhos e ouvidos plenamente realizados.


THE SUN RA ARKESTRA - @

Em contrapartida, pena tenha-se encerrado o festival com uma big band de 2ª (?) categoria - não a Sun Ra Arkestra de outrora, bom frisar - mas, certamente, a que aqui esteve, fechando a noite de sábado, sob a liderança de Marshal Allen.

Arranjos requentados, batas e turbantes em profusão, caras pintadas, músicos cantando e dançando no meio da platéia, acrobacias na frente do palco, enfim, alegorias demais para música de menos.

Eles se divertem o tempo todo. Mas, e nós?

A orelinha singela vai para John Ore, legendário baixista que tantos anos acompanhou Monk, e que, mesmo cego (assim ouvi) e apesar da idade (70 anos), mantém pulso e solidez impressionantes.

Um encerramento melancólico, incapaz, porém, de apagar o êxito, por vezes olímpico, que o Chivas Jazz deste ano logrou alcançar, ao menos com a vinda de Louis Hayes, Steve Kuhn, David Galliano, Bud Shank, Raul de Souza, Tom Harrel e Andrew Hill.

XI Chivas Jazz Lounge com o Markos Resende Quarteto:
Tributo a Richard Rodgers

23 maio 2004

No próximo dia 27, quinta-feira, a partir das 21 horas, o Mistura Fina será palco de mais uma edição do projeto Chivas Jazz Lounge, uma produção deste CJUB com patrocínio da Pernod-Ricard do Brasil. Estará em ação o quarteto do pianista Markos Resende, com um "Tributo a Richard Rodgers".

Um dos maiores compositores norte-americanos de todos os tempos, Richard Charles Rodgers, ao lado de Lorenz Hart e Oscar Hammerstein II, publicou mais de 900 canções e 40 musicais. A ligação com o jazz é antiga. Desde Charlie Parker até Chick Corea, a maioria esmagadora dos jazzistas importantes fez versões do songbook de Rodgers, em razão da qualidade melódica e harmônica de seus temas. Somente My Funny Valentine recebeu 1200 gravações.
Em 2002, os americanos comemoraram o seu centenário com muitos eventos. O fato não foi divulgado no Brasil. Assim, o CJUB presta respeitosamente uma homenagem "made in Brasil" a esse gênio da música popular norte-americana. E para isso estará no palco o Markos Resende Quarteto.

MARKOS RESENDE (RJ): Em 1966, viajou para Lisboa com a intenção de estudar medicina. Formou um trio com colegas e passou a excursionar pela Europa. Participou do Newport Jazz Festival, em Cascais, apresentando-se ao lado de Dexter Gordon. Abriu concertos para Cannonball Adderley, Phil Woods, Art Blakey e Stan Getz. Tocou com Don Byas, Ponny Poindexter e Steve Potts, entre outros. De volta ao Brasil, formou o grupo Index. Como compositor, escreveu trilhas para o cinema e para espetáculos de dança. Em 90, retomou sua carreira na Europa. Lançou o CD About Jobim, gravado em trio no Copenhagen Jazz Festival. Em 2000, gravou Abrolhos, com composições próprias. Pianista e arranjador, trará aos temas de Rodgers um sabor todo especial.

DANIEL D'ALCÂNTARA (SP): Trompetista, iniciou seus estudos com o pai, Magno D'Alcântara. Foi integrante da Orquestra Experimental de Repertório. Tocou ao lado de grandes nomes da nossa música, como Ivan Lins, Milton Nascimento, Roberto Menescal e João Donato. Gravou recentemente um CD, Horizonte,com Edu Ribeiro, Sizão Machado, Tiago Costa e Vitor Alcântara. Comenta o baterista Tutty Moreno: "Claudio Roditi já havia me falado do Daniel há muito tempo, impressionado com o seu talento, o que o CD comprova".

BOB WYATT (SP): Norte-americano, é reconhecido e respeitado por todos os bateristas brasileiros. Traz no currículo as suas performances com Maynard Ferguson. De estilo vigoroso, é um dos mais assediados bateristas quando o gênero é jazz. Mantém em São Paulo uma banda chamada Soundscape.

ALBERTO LUCAS(SP): Formado em contrabaixo na UNICAMP, integra a banda Soundscape. Membro permanente do trio do baterista Nenê, (Ex-Hermeto), gravou dois CDs. Segundo os amantes do jazz e críticos de São Paulo, trata-se de uma das maiores revelações no instrumento.

SET LIST:
BEWITCHED (lembrando...brad mehldau)
MY ROMANCE (lembrando ... bill evans)
MY FUNNY VALENTINE (lembrando... miles davis)
I DIDN'T KNOW WHAT TIME IT WAS (lembrando... charlie parker)
IT'S EASY TO REMEMBER (lembrando.... john coltrane)
LOVER (lembrando...dave brubeck)
BLUE MOON (lembrando... chet baker)
THE LADY IS A TRAMP (lembrando... ella fitzgerald)
MY FAVORITE THINGS (lembrando...dori caymmi)
(FINAL SURPRESA QUARTETO)

JoFlavio

ELVIN JONES, NO BLUE NOTE, EM JUNHO? WADDAHELL?

Para o clube novaiorquino Blue Note, Elvin Jones não morreu. Tanto é que, na agenda da casa, está programado para o dia 24 de junho. Ah, se um erro desses ocorresse aqui... Posted by Hello

Lendário Jazzista Silver de Volta ao Palco

22 maio 2004

Sexta 21 de Maio, 2004
Por Dan Ouellette, em transcrição da Billboard (e tradução livre)

New York - Horace Silver está de volta e essa é a notícia do momento.

Nos últimos anos o legendário rei do hard-bop descarrilhou por doença, pela relutância em viajar e pela falta de crédito por parte das gravadoras em sua capacidade de fazer coisas boas.
Mas quando o pianista/compositor de 75 anos acomodou-se no Blue Note em New York, no final de abril e início de maio, a casa lotou em todos os seus sets. O compromisso assumido por uma semana inteira marcou a primeira aparição pública de Silver em mais de quatro anos e ficou óbvio o quanto ele fez falta.
Em 29 de abril, Silver tocou temas intrigantes e efervescentes do album conceitual "Rockin' With Rachmaninoff" que gravou em 1991 mas não havia sido lançado até o final do ano passado, pelo selo Bop City Records. Ele apareceu com um octeto provisório que incluía o trombonista Conrad Herwig e o saxofonista Eric Alexander.
A sua resistência musical prevaleceu quando, sorrindo o tempo todo, Silver liderou seus coortes pelos temas "Rocky Meets the Duke", matizado pela rumba, por "Sunday Mornin' Prayer Meetin'", com uma vibração típica de New Orleans, e pelo caprichoso "Monkeyin' Around With Monk".
O primeiro set fechou com o clássico jazzístico e hit de Horace, "Song for My Father", que o compositor expandiu para um improviso de mexer com as cabeças, com um "groove" funk no qual demonstrou sua capacidade extraordinária ao teclado.
Depois de dar dezenas de autógrafos Silver relaxou no camarim no intervalo e sorriu. "Estou me sentindo muito bem", disse. Perguntado se a receptividade do público o encorajaria a voltar a se apresentar em turnê, respondeu: "Ah, não. Vou tocar um pouco aqui e ali mas estou muito confortável em minha casa".
Quanto ao CD, Silver disse que concebeu a música a partir de um sonho onde Duke Ellington se encontrava com Serge Rachmaninoff no céu e apresentava ao compositor clássico a todos os grandes jazzistas que lá estavam. As composições foram aoresentadas em Junho de 1991 quando um musical estreou com cantores e dançarinos no Barnesdale Theater de Hollywood.
Mas as músicas não foram consideradas, então, pelos selos Columbia, GRP/Impulse e Verve, com quem Silver estava associado nos anos noventa, como boas para um lançamento fonográfico. "São antigas, mas são novas," disse Silver, que continua trabalhando em novas composições. "Não tenho composto tanto ultimamente mas ainda tenho muito material para desenvolver".
Seus fans acham uma vergonha que ele esteja sem nenhum acerto para fazer um disco e tem esperança que algum selo reconheça que Silver ainda vale ouro.

21 maio 2004


Moças do CJUB, onde andam vocês, que não as lemos - e menos ainda - as vemos?

CHIVAS JAZZ FESTIVAL 2004 - 7/4/2004 - COTAÇÕES

20 maio 2004

TOM HARREL QUINTET - @@@

Ótimas e originais composições, quase que todo o tempo pontuadas pela influência latin - especialmente a bossa nova - deram o tom geral do concerto de Tom Harrel (trompete), à frente de seu destacado quinteto, trazendo Marcus Strickland, no sax tenor, os irmãos Xavier (piano) e Quincy Davis (bateria) e o baixista Ugonna Okegwo.

Num set exclusivamente composto de originais, todos com arranjos de Harrel também, o trompetista mostrou sua sonoridade atraente, porém um tanto mais "suja" que o habitual, parecidíssima, no timbre do trompete (e nisto apenas), com a do Chet Baker dos anos 70/80.

Os destaques individuais ficaram, justamente, para os irmãos Davis, Xavier como o camaleão de sempre (já tocou "com todo mundo"), apto a brilhar em qualquer contexto, e Quincy, extremamente jovem, porém talentosíssimo.

O combalido estado de sáude de Tom Harrel em nada parece afetar sua instigante relação com a música, que transpira arte verdadeira a cada compasso com que nos vai surpreendendo e emocionando.


RAUL DE SOUZA QUINTETO - @@@

Não há trombonista que domine, com igual maestria e desenvoltura, ambos os idiomas, do be-bop e do samba, como Raul de Souza. Para cada um dos estilos, sem dúvida, fileiras de nomes surgiram e surgirão como expoentes, mas aquele capaz de discursar com idêntica eloquência nos dois, chama-se Raul de Souza.

Desde o "timbraço" vindo de trás do palco, já com a banda devidamente instalada e aquecida, o mestre brasileiro trouxe para o Chivas autêntica música brasileira, "envenenada" (no bom sentido) pela língua do jazz. Samba, samba-canção, gafieira: o Brasil desfilou soberano na 3ª noite do festival, inclusive a partir do jovem grupo de músicos curitibanos arregimentados para a sessão, com amplo destaque para o baixista Glauco Solter e para o guitarrista Mario Conde.

A técnica impressionante de Raul revela-se ainda mais incendiária no Souzabone, trombone especial, com 4 válvulas, por ele idealizado.

Uma apresentação digna do reencontro com a platéia carioca, do sumo pontífice do instrumento, no país.



BOBBY PREVITE´s BUMP THE RENAISSANCE BAND - 1/2

Imaginem um baterista muito mais "pesado" que Dave Weckl. Mais pesado, até, que Dennis Chambers. Aliás, imaginem logo "Bonzo" (John Bonham), do Led Zeppelin.

Agora, pensem nele tentando tocar um suposto "free jazz". Ou seria um ... "free rock" ?

Quem assistiu à Bump de Bobby Previte não precisou imaginar. Testemunhou in loco a autêntica catástrofe "musical" que antagonizou todo o festival.

A esperada reunião, em torno do baterista, de "vanguardistas" como Steve Swallow (baixo elétrico), Wayne Horwitz (piano), Curtis Fowlkes (trombone) e Marty Ehrlich (sax tenor), não resultou em nada mais que uma impostura criativa como há muito aqui não se via.

Achar que sob o manto "permissivo" do avant-garde, qualquer combinação ritmo-melódica acaba virando "música", é um engano antigo, já desfeito há mais de quarenta anos.

Pior ainda, é tentar acrescer uma atmosfera "rock", à paisagem desértica daquele absoluto non-sense harmônico.

Barulho e palmas (e bocejos, muitos), foram tudo o que restou da apresentação de Previte, que tentou respirar, no bis (?), em vã tentativa de articular um blues redentor.

Bobby Previte e seus colegas bem poderiam ter atendido à magnífica aula de (verdadeiro) jazz "free" ministrada um dia antes por Andrew Hill. Preferiram não fazer a lição de casa.

RayNaldo estréia no CJUB com o pé direito

Preparem seus passaportes, o Clube está pronto!

19 maio 2004

Transcrevo aqui, em livre tradução, artigo publicado no New York Times sobre o que será o maior templo do mundo para se ouvir, ver, dançar, comer, beber, enfim, provar de uma das maiores sensações que a mente humana pode desfrutar através de todos os seus sentidos: o jazz.

N. do E.: A organização chamada de Jazz at Lincoln Center, mencionada diversas vezes neste artigo, é a maior entidade artística não-lucrativa dedicada ao jazz, do mundo.

SÓ PARA JAZZ: UM LUGAR ÚNICO
por Jon Pareles, do NYT

Nova Iorque - Só mesmo um visionário teria a idéia de comprar uma casa nova com janelas do teto até o chão com vista para o Central Park. Essas janelas, no centro do quinto e sexto andares do Time Warner Center, no Columbus Circle, serão ao mesmo tempo a face pública e o mais sério desafio acústico para o novo lar do Jazz at Lincoln Center, a Sala Frederick P. Rose.

Como o primeiro centro de apresentações construído especificamente para jazz no mundo, a sala representa um marco para o jazz como forma de arte americana. "Todos sabiam que estavamos preparando algo histórico", disse Wynton Marsalis, diretor artístico do Jazz at Lincoln Center, que chama a nova sede da organização de "the House of Swing". A obra deve terminar no final de julho, e a estréia, depois de um verão inteiro de concertos fechados "para afinação e ajustes", está marcada para 18 de outubro.

O projeto comprometeu 128 milhões de dólares e uma área imobiliária "top", para reconhecer a duradoura importância da música que nasceu das ruas. "Não há precedente para isto," disse Rafael Vinoly, o arquiteto do projeto. "Não é facil e não está testado ainda".

Jazz é luxo

Situada bem no centro do Time Warner Center, acima das lojas sofisticadas e restaurantes refinados, a Sala poderia ser considerada como um símbolo de que o jazz é um luxo. Marsalis rejeita essa noção. "Desde que começamos, fizemos tudo para alcançar a comunidade e mostrar que aqui haverá música para o povo", disse. "E que essa será uma Sala do povo. Foi contruída com o seu dinheiro".

A cidade de Nova Iorque proveu 28 milhões dos 128 orçados para a Sala Rose, enquanto que o Estado de New York contribuiu com 3,5 milhões e o governo federal com 2,2 milhões. Jazz at Lincoln Center já conseguiu quase todo o saldo - estão faltando ainda 14 milhões finais - de doadores privados. Através de hábil politicagem, Jazz at Lincoln Center conseguiu o espaço com pouco mais de 30 mil m2(!) com o apoio do então prefeito Giuliani e de seu sucessor, o atual prefeito Bloomberg.

Parte da nova institutição dedicada ao jazz ainda será capaz de abrigar óperas completas, mas foi desenvolvida basicamente para o jazz e para a educação jazzística. Diferente da maioria dos centros de artes performáticas, o complexo também será o supra-sumo em termos de gravação e difusão para áudio e vídeo, ligado a todo e qualquer veículo, do rádio à televisão de alta-definição até o ensino à distância via Internet.

Desde 1991, quando passou a ser uma partição do Lincoln Center, Jazz at Lincoln Center vem apresentando a maior parte de seus concertos realizados em Manhattan nas Salas Alice Tully e Avery Fisher. Estes auditórios estão longe do ideal para o jazz porque foram construídos para destacar música clássica não-amplificada. A mesma reverberação que faz ali soar cheio a um naipe de violinos, pode embolar o som afiado de um conjunto de jazz e transformar o mais suave desempenho de um baterista num jogo de ping-pong de ecos indesejáveis.

O jazz necessita de salas que reverberem menos do que as preparadas para a música clássica mas não tão absorventes que se faça perder o calor dos instrumentos. Recintos com boa acústica para grupos de jazz foram, por diversas vezes, descobertos acidentalmente: clubes em subsolos, salões lotados de dançarinos, pequenas salas de ópera européias, etc.. Marsalis, que viajou por todo o mundo com conjuntos grandes e pequenos, sempre manteve os olhos e ouvidos atentos para os locais quem melhor lhe soaram. E esses são os modelos para a "Casa do Swing".

Inspiração italiana

A Sala Rose (Rose Hall) incluirá uma sala de concerto, um salão de dança/cabaré e um pequeno clube onde músicos de jazz se apresentarão todas as noites. A sala de concertos, chamada de Rose Theater, foi inspirada nas pequenas casas de ópera italianas. "As pessoas sentavam-se próximas e havia um forte sensação de comunidade nessas casas", disse Marsalis, completando "e nós sabemos como essa sensação nos ajuda".

O teatro foi desenhado pensando-se em flexibilidade pois também será usado para filmes, dança e óperas. Outros grupos de artes performáticas já estão de olho no espaço, que inclui 11 torres móveis com fileiras de assentos - que Marsalis compara a varandas das casas de New Orleans - para que a audiência possa variar de 1.100 a 1.231 lugares. Para os shows de jazz, parte da audiência poderá ficar atrás dos músicos, o setup preferido por Marsalis. Porém para as produções de óperas e para cinema, as torres poderão ser deixadas atrás do palco enquanto os cenários e telas serão baixados do espaço aéreo de cerca de 25 metros ali existente. Um elaborado sistema de abafadores acústicos móveis e cortinas está sendo construído para permitir a variação da ressonância do recinto para diversos tipos de apresentações. Como numa aconchegante casa de ópera ninguém da audiência estará a mais de 30 metros dos executantes. Diz {o arquiteto] Vinoly que "será muito difícil cometer erros numa sala deste tamanho".

Acusticamente isolada

Diferentemente do Carnegie Hall e seu anexo situado no subsolo, a Sala Zankel, que convive com as vibrações do metrô, o Rose Theater está sendo isolado acusticamente do resto do Time Warner Center (e também da estação de metrô que ronca abaixo do Columbus Circle). O ruído de fundo do teatro ficará abaixo do limiar da audição humana, o que é tecnicamente conhecido como um nível de ruído categoria NC-1. Estúdios de gravação são, tipicamente, muito menos isolados, tendo níveis de ruído nas categorias NC-20 a NC-25. "O que é um simples conceito no campo das idéias, transforma-se em algo muito complicado de construir", disse Paul Logan, o arquiteto que dirige o projeto para a Jazz at Lincoln Center. O som viaja facilmente através de material sólido, assim o Rose Theater será uma caixa dentro de outra caixa, flutuando em montagens complexas de aço e enchimentos de neoprene. Cada conexão estrutural, cada vão de porta e cada duto que leva à Sala tem de ser devidamente isolado. "Fica inacreditavelmente caro,"disse Vinoly.

Ao lado do Rose Theater fica o salão com "a vista". É a Sala Allen, com 310 a 550 lugares, um salão de dança/cabaré com sua enorme janela para o Central Park. Levemente ispirada num anfiteatro grego e no Rainbow Room, tem sete fileiras de assentos que podem ser elevadas alternadamente, por meio hidráulico, para dar lugar a apenas quatro fileiras, com largura suficiente para mesas de banquete e para dançar. Festas e eventos deverão dividir a agenda com as performances jazzísticas.

Mundo do jazz de luto: Morreu Elvin Jones

Excepcional e vigoroso baterista, membro do quarteto de John Coltrane, Elvin Ray Jones Elvin Jones em ação morreu ontem, aos 76 anos, de falência cardíaca depois de uma longa enfermidade, num hospital de New York.

Elvin Jones tocou também com Duke Ellington, Charles Mingus, Charlie Parker e Miles Davis, para citar alguns expoentes a quem emprestou seu talento na bateria, em sua bela carreira como jazzista de ponta.

Irmão do pianista Hank Jones e do trompetista Thad Jones, Elvin tocou enfermo - chegava a levar uma bala de oxigênio para o palco - até pouco tempo atrás. Além de sua participação por 6 anos no quarteto de Coltrane, Jones liderou inúmeros conjuntos jazzísticos dignos de nota, por cerca de trinta anos.

Elvin deixa a esposa Keiko, um filho e uma filha.

RIP

Dada a notícia, deixo os comentários para os Mestres Raf, Goltinho e Luiz Orlando (se este assim desejar).

Histórias do Coutinho: 1 - ELLINGTON & BENNETT

18 maio 2004

Todos sabem do respeito e da mútua admiração entre o cantor e pintor Tony Bennett e o pianista, maestro e compositor Duke Ellington, mas seus encontros em concertos ou festas na badalada New York, em freqüência então crescente, acabaram unindo os dois em torno de uma grande amizade, que só terminou com a morte do grande maestro, em maio de 1974.

Relato aqui uma das muitas histórias que ouvi dessa extraordinária figura humana que é Tony Bennett:

No final do ano de 1969, Tony vivia uma grave crise conjugal. Até que nos primeiros dias de dezembro foi morar em uma suite no Waldorf-Astoria. Com a aproximação do Natal, passou a sentir-se cada vez mais solitário e deprimido por estar distante da familia, antevendo que aquele seria um dos piores Natais de sua vida. No dia 24, véspera da grande festa cristã, Tony não conseguia dormir, a despeito de ter recomendado expressamente ao hotel que não permitisse chamadas para seu apartamento.

Pouco antes da meia-noite, sem ânimo para assitir à TV ou ouvir rádio, Tony, sentindo-se cada vez mais triste, iniciou a sua ceia natalina. Na mesa, apenas uma garrafa de vinho tinto e uma taça, suas únicas companhias. A instantes da meia-noite, o silêncio do apartamento foi quebrado por um coro infantil, entoando músicas natalinas. Tony levantou-se para procurar a origem do som, checou o rádio, a TV, abriu a janela do apartamento (fazia frio e nevava), mas lá de fora não ouviu nada, absolutamente nada. Fechou a janela e procurou identificar com mais cuidado a origem daquele som bonito e afinado. Finalmente, abriu a porta da suite e ali estava Duke Ellington com um belíssimo ramo de rosas vermelhas, à frente de um coral infantil que arregimentara em uma igreja do Harlem. Desnecessário dizer quão emocionado Tony ficou quando Ellington lhe disse: "Se você tinha planos para passar o Natal sozinho, está muito enganado. Feliz Natal, querido amigo!"

Esse foi, sem dúvida, segundo Tony, um dos momentos mais bonitos de sua vida.

Até hoje se pode sentir quão emocionado Tony fica ao contar essa história, da qual tomei conhecimento quando jantávamos em um típico restaurante italiano, em São Paulo, durante uma de suas "tournées" pelo Brasil. Quando, inclusive, fomos interrompidos por dois fans italianos que também jantavam na "trattoria". Foi ali que descobri, pasmo, que Tony não falava italiano!

Depois de despachar "gli paesani", Tony retomou a narrativa, lembrando que nos primeiros dias do mês de janeiro seguinte àquele Natal, enviara a Ellington uma aquarela que pintara do maestro e seu ramo de rosas, e na qual agradeceu o momento mágico daquela noite emocionante, escrevendo na margem: "GOD IS LOVE DUKE ELLINGTON".

Essa aquarela figura à pag. 112 do livro "What My Heart Has Seen", de autoria de Bennett, editado pela Rizzoli em 1996.


Goltinho

CHIVAS JAZZ FESTIVAL 2004 - 6/4/2004 - COTAÇÕES

17 maio 2004

ANDREW HILL TRIO - @@@

Há décadas Andrew Hill vem realizando o que parecia impossível: juntar o free jazz ao cool, numa experiência musical única, porém inegavelmente bem sucedida.

Um piano cristalino, alforriado do establishment tonal, que convida, o tempo todo, o ouvinte, a uma experiência musical diferenciada. É preciso desconstruir a ansiedade natural por consonâncias ou pirotecnias, para entender Hill. Entender não; dividir, comungar com ele uma nova proposta melódica, que, na música clássica, teria paralelo na obra do francês Olivier Messiaen, tão contemporânea quanto, porém absolutamente distinta da Escola de Viena (Serialismo).

Nisto, aliás, há uma ponto curioso: impressiona a insistência de alguns em dizer que jazzistas como Ornette Coleman, Don Cherry, o próprio Andrew Hill e, mais recentemente, Wayne Horvitz (que também esteve neste Chivas), fizeram, ou fazem, música "de vanguarda". Considerando que a chamada música contemporânea - que rompeu, em definitivo, com a harmonia tradicional, data da primeira metade do século XX (Schoemberg, Berg, Webern, Stockhausen, Hindemith, entre outros) e que esta ruptura, na verdade, iniciou-se desde o ocaso do Romantismo (fim do século XIX), quando emergiram compositores como Debussy, Ravel, Satie e Poulenc (Impressionistas), nada há de vanguarda, ao menos sob a perspectiva puramente musical, no free que tanto chocou "puristas", nos anos 60. É claro que Ornette inovou esteticamente ao reinventar a improvisação coletiva - presente no jazz deste o dixieland - só que, agora, sem parâmetros harmônicos aparentes, deixando seguidores, com maior ou menor êxito.

Andrew Hill, porém, prescinde de rótulos como avant-garde ou free.

Os cinco originais oferecidos pelo trio (John Herbert, baixo, e Nasheet Waits, bateria) de modo contemplativo, à platéia surpresa, e de início despreparada, tiveram, entretanto, força suficiente - tal a verdade em que estão apoiados - para encantar e fazer sonhar tivesse o espetáculo recebido uma casa mais apropriada (a Sala Cecília Meireles ou outro palco de câmara), já que a Marina da Glória, lugar agradabilíssimo, mostrou-se dispersiva, todavia, para tão contrita experiência.


SHEILA JORDAN - @@
STEVE KUHN TRIO - @@@@1/2

Sheila Jordan é a cantora mais afortunada do mundo, por ter consigo, nada mais nada menos, que o melhor supporting trio em atividade.

A mesma sorte, contudo, não se pode atribuir a Steve Kuhn, ao menos quanto ao resultado, para o ouvinte, da reunião dos dois nomes, que remonta, aliás, aos anos 60.

Em que pese a enorme simpatia e, admita-se, domínio do estilo, Sheila Jordan está a léguas de distância de figurar entre as referência do jazz vocal.

Um extensão aquém de exígua e o desgaste da idade, algo mascaradas pela inegável categoria, Jordan serviu como dispensável contraponto à superlativa performance do pianista único que é Steve Kuhn.

Daí a decomposição nas cotações: Sheila Jordan com o Steve Kunh trio foi uma apresentação; o trio, sozinho, outra, inteiramente diferente.

A primeira, contemplando jazz originais e standards, como If I Should Loose You, Evything Happens to Me e Slow Boat to China, ressaltou as limitações da cantora, cujo carisma, entretanto, foi o suficiente para agradar boa parte do público.

Já os dois números com que nos presentou Steve Kuhn, estes sim permanecerão na memória do Festival e na de quem a ele teve o privilégio de atender. The Jitterbug Waltz (F. Waller) e Ladies in Mercedes (S. Swallow) formaram iguaria finíssima, preparada com maestria pela espetacular seção rítmica, completado pelo baixista David Finck e por Billy Drummond, na bateria. Não há estilo que Kuhn não sabia ou possa tocar, e, acima de tudo, reinventar com sua arte peculiar e genial.

Voltando ao palco, Sheila Jordan instou o pianista a entoar seu tema emblemático, The Meaning of Love, que arrepiou e fez marejar os olhos, no único momento digno de nota - e que nota - da associação entre a cantora e o trio.

A meia orelhinha a mais deve-se, exatamente, a este mágico instante, enquanto a metade faltante (para a cotação máxima) resume-se à falta de maior espaço só para o trio.

Um noite, afinal, absolutamente particular e distintiva, eco perfeito das intenções dos organizadores.

CHIVAS JAZZ FESTIVAL 2004 - 5/4/2004 - COTAÇÕES

16 maio 2004

BUD SHANK QUARTET - @@@1/2

Para quem pensou deparar-se com o autêntico modelo de west coast, o veterano Bud Shank tratou logo de espantar rótulos de qualquer espécie, com um Bouncing with Bud (B. Powell) de alta histamina, que revelou a forma ainda exuberante de um dos mais profícuos altos de toda a história do jazz, mesmo prestes a completar 78 anos.

À frente do trio estelar formado por Bill Mays (piano), Bob Magnusson (baixo) e Joe LaBarbera (bateria), Shank evoluia em set vigoroso, que, infelizmente, “amornou” com a vinda ao palco de João Donato, numa celebração da pioneira associação do jazz à bossa nova, em 1962.

Ótimos originais (Big Mo, Carousels) associados a clássicos como Nature Boy (E. Ahbez), Theme For Jobim (G. Mulligan) e Yarbird Suite (C. Parker) garantiram a excelência da apresentação, com destaque, além do absoluto desembaraço do líder, para o bom gosto de Mays, fortemente influenciado pela música clássica, os solos melodiosos do coringa Magnusson, e a maestria de LaBarbera notadamente nos pratos.

LOUIS HAYES QUINTET - @@@@@

Fez a diferença no festival. Jazzistas de verdade entregando jazz de verdade. Uma apresentação histórica, que encarnou, com a mais absoluta fidelidade, o espírito de um dos combos mais importantes dos anos 60/70, o quinteto/sexteto do saxofonista Julian Cannonball Adderley.

Após a morte de Billy Higgins e a notícia do precário estado de saúde de Elvin Jones, Louis Hayes assumiu, de vez, o posto de lenda viva, na bateria, do hard bop, tocando como nunca e absoluto em qualquer ritmo ou andamento.

Para sua Cannonball Legacy Band, convocou jovens músicos de extraordinário talento, incrivelmente afinados, individual e coletivamente, com o som do grupo dos irmãos Adderley, a começar do front line impressionante, formado pelo sax alto de Vincent Herring e pelo trompetista revelação Jeremy Pelt.

A cada década, surgem no máximo dois ou três altoists a quem se pode conferir o título maximo de nobreza no jazz, ou seja, neles reconhecer a legítima filiação musical a Charlie Parker. Foi assim, p.e., com Jackie Maclean e o próprio Cannonball, com Phil Woods, com Bobby Watson e o nosso Victor Assis Brasil, e sem dúvida, nos últimos anos, com Vincent Herring.

A velocidade de seu raciocínio aliada ao perfeito concatenamento de idéias, sem jamais deixar cair o elevado estágio de inspiração, o tranformou na escolha ideal - e natural - inclusive para assumir a direção musical deste quinteto, não por acaso por haver trabalhado, anos a fio, com o próprio Nat Adderley.

Jeremy Pelt, em que pese a afinação e domínio técnico superiores, nos mesmos moldes de W. Marsalis e Nicholas Payton, parece não ter mostrado tudo o que sabe, embora deixando, com suas precisas intervenções, a certeza de seu imenso potencial.

De Rick Germanson bastaria dizer que conseguiu criar a simbiose perfeita dos estilos dos três principais pianistas que tocaram com Adderley, soando principalmente como Victor Feldman, mas trazendo, também, o incrível soul de Bobby Timmons e, embora em menor porção, até mesmo o fraseado menos expansivo - mas altamente criativo - de Joe Zawinul.

No baixo, Vincent Archer completou a seção rítmica, o tempo todo dobrando na mão direita, na busca - nada fácil - de reproduzir o peso sonoro de Sam Jones, peça fundamental na unit de Cannonball. Archer é dono de uma “pegada” vigorosa, compartilhada, entre outros, por mestres como Cecil Mcbee e David Williams.

Deles ouvimos - à exceção, talvez, de Mercy, Mercy, Mercy (J. Zawinul) e Bohemia After Dark (O. Pettiford) - praticamente todos os temas consagrados pelo homenageado: Del Sasser (S. Jones), Never Say Yes (Adderley), Sack O' Woe (Addeley), Dat Dere (B. Timmons), Fiddler on the Roof (Bock/Harnick), culminando com as obras-primas do irmão Nat, Work Song, e, no bis antológico, Jive Samba (primeiro batizada Bossa Nova Nemo).

Pena que a eloquência da primeira noite - memorável sob vários aspectos e que, por si só, já valeria por um festival inteiro - nem de longe foi lembrada nos dias seguintes desta última edição do Chivas Jazz.

RARIDADES EM "PUROS" CUBANOS

Entre os aficionados e colecionadores, existe uma autêntica febre para conseguir determinadas marcas e formatos de edições limitadas, antigos ("vintage") ou simplesmente difíceis de serem encontrados, ou então esgotados.
Eis aqui os mais procurados:

MONTECRISTO : ROBUSTO EDICION LIMITADA;
B;
n. 3 COMPAY SEGUNDO;

LA CORONA : QUALQUER FORMATO

H. UPMANN : SIR WINSTON;
AMATISTAS.

COHIBA : PIRAMIDE

ROBAINA : EDICIÓN LIMITADA (SEGUNDA ANILHA PRETA)

DAVIDOFF CUBANO : HÁ MAIS DE 10 ANOS QUE NÃO SÃO FABRICADOS.

É isso aí,

Zé Henrique

CHIVAS JAZZ FESTIVAL 2004 – UMA REFLEXÃO

15 maio 2004

Como nenhum outro festival, talvez, aqui ocorrido nos últimos quinze anos, o Chivas Jazz de 2004 provou que, se, de um lado, permanece inabalável a renovação de instrumentistas fora-de-série, aptos a garantir a vitalidade do gênero no novo milênio, o jazz, de outro, aparenta sofrer um inegável e persistente impasse estético.

Entre repetir fórmulas do passado (tributos e songbooks) e buscar caminhos supostamente “novos”, a crua verdade é que “nada há de realmente ‘novo’ no front”.

O mesmo dilema já enfrentaram outros gêneros, como a música clássica e o rock, geralmente se resolvendo em simplificações cheias de “atitude”.

Na chamada música de concerto, a partir do que se convencionou chamar de esgotamento melódico-harmônico do século XIX, floresceu, na 1ª metade do século passado, o Dodecafonismo dos serialistas Schoemberg, Berg e Webern, com a pretensão de redescobrir uma nova “lógica” musical, livre das "amarras" da harmonia tradicional. O resultado ? 1) Não ocupa nem 1% da programação das salas e rádios especializadas do mundo; 2) Quem quis compor para orquestra no século XX - e ter como sobreviver da profissão - teve de buscar o caminho das trilhas incidentais, para cinema e teatro.

No rock - que, em si, já representa uma banalização do blues (ao contrário do jazz, seu desenvolvimento máximo), e que, segundo J. Berendt (“Jazz, do Rag ao Rock”), nunca passou de paródia branca do Rythmn & Blues inventado pelos negros (não confundir com seu fraudulento homônimo dos anos 90, o tal R&B - "arenbi" - das “expoentes” Beyoncé e Laurin Hill) - prevaleceu o lado “atitude”, quando o punk da virada dos anos 80 (Sex Pistols e companhia) não precisou de mais de 4 acordes e algumas toneladas de decibéis analfabetos para defenestrar o progressivo e suas intermináveis “suítes” e capas de disco "viajantes". Não admiram os clichês sobre o punk: “correção de rumo”, “volta às origens”, “resgate das verdadeiras raízes” do rock. Para falar dessas "raízes", sem dúvida, obras-primas como Nefertiti (Shorter), Maiden Voyage (Hancock) e Tokio Blues (Silver) jamais sonharam rivalizar, nas paradas dos anos 60, com tratados de complexidade harmonica do quilate de ... She Loves You e Can´t Buy Me Love (Lennon/McCartney).

O verdadeiro jazz, entretanto, ao revés de seus pares, nunca simpatizou com simplificações; ao contrário, desde quando Armstrong inaugurou o conceito de solista moderno e Parker cunhou a caligrafia da improvisação moderna, inovar sempre foi a bandeira de todos quantos quisessem ver seus nomes escritos na história do gênero.

Seja no modo de compor, improvisar ou arranjar, são e serão lembrados os que, rompendo com a tradição e, por isso mesmo, ampliando-a e, a um só tempo, ajudando a consolidá-la, empurraram adiante o movimento, influenciando os talentos vindouros.

Foi assim com o swing, com o bebop, o cool, o soul/funk jazz, e, finalmente, o free, passando pelas “ondas” do afro-cuban e bossa, fortemente presentes, ainda hoje, no discurso do jazzista contemporâneo.

Acontece que o "free jazz" remonta aos anos 60 !

De lá pra cá (são quarenta anos !), nenhuma nova dimensão estética, de significado, foi revelada, inobstante o brilho de compositores como Cyrus Chestnut, Eric Reed e Tom Harrel; arranjadores, como Maria Schneider, Walt Weiskopf e Dave Douglas; e solistas como Roy Hargrove, Stefon Harris e Hélio Alves, apenas para citar três nomes de destaque – de dezenas, em todos os instrumentos – em cada uma daquelas “especialidades”.

Assim, ficaram frente a frente, no Chivas Jazz Festival: a música inconsequente e estéril de quem se acha “à frente”, mas, de tão perdido, só faz atirar aleatoriamente em todas as direções; e, em canto oposto, o pleno exercício jazzístico, pelos native speakers do idioma, que já nasceram diplomados no swing sem o qual, ensina o maior de todos, Ellington, “it don´t mean a thing”.

10 DISCOS PARA UMA ILHA DESERTA (a.k.a. "Aleluia ...")

11 maio 2004

Com a indefectível mora, lá vai:

Kind of Blue (Miles Davis, Columbia)
You Must Believe in Spring (Bill Evans, Warner)
Tokyo Blues (Horace Silver, Blue Note)
Santa Monica Civic ´72 (Ella Fitzgerald, Count Basie, Oscar Peterson, JATP, Pablo)
Miles Davis and the Modern Jazz Giants (Miles Davis, Prestige)
A Swingin´ Affair (Dexter Gordon, Blue Note)
Damn (Jimmy Smith, Verve)
Maiden Voyage (Herbie Hancock, Blue Note)
Indigos (Duke Ellington, Columbia)

Claro que não são, necessariamente, os "meus" melhores, ou os que mais escuto hoje em dia, nem tem, a lista, qualquer aspiração didática (faltam vários dos principais gênios do Jazz).

Na verdade, o critério foi bastante simples: como ilha deserta geralmente cheira a naufrágio e não sei quando uma bola de vôlei Wilson irá avistar um navio salvador, melhor levar alguns discos que, de tão bons, merecem ser guardados em duplicata em casa, para minha filha (pelo menos para ela começar a ouvir)... Just in case ...

(Duro vai ser o CD player conseguir chegar vivo na praia)

10o. CHIVAS JAZZ LOUNGE, 29/4/2004, WIDOR SANTIAGO–PAULINHO TROMPETE QUINTETO - @@@

10 maio 2004

A velha Estocolmo, quem diria, caiu no samba. E aí nasceu, orgulhosa, a terceira “orelhinha” da manchete.

Orgulhosa porque, modéstia à parte, de samba-jazz entende o músico brasileiro, território ambicionado - porém nunca conquistado - mesmo por consagrados jazzmen, como, aliás, demonstrou a recém finda edição do Chivas Jazz Festival.

Tinha, portanto, absoluta razão, Paulinho Trompete (trompete, flugelhorn) - co-liderando com Widor Santiago (saxes tenor e soprano) o quinteto que prestou tributos a Chet Baker e Sonny Rollins na 10ª edição da série CJL - ao rasgar em samba a já rara Dear Old Stockholm (traditional sueco), confessadamente a sua melhor maneira de homenagear o “James Dean do trompete”.

Ficou evidente, aliás, a entrega de todos os músicos (Hamleto Stamato, piano; Rodrigo Villa, contrabaixo; e Erivelton Ribeiro, bateria, compondo a seção rítmica), entusiasmados com a platéia qualificada e a oportunidade solene de poder - e querer - dar o melhor de si, marcas registradas dos espetáculos CJUB.

E nem a equivocada opção de trazer, primeiro, a homenagem a Chet Baker, atacando, só no 2º set, o songbook de Rollins (com temas bem menos conhecidos do grande público), foi capaz de descredenciar o brilhante esforço de oferecer um panorama vivo da obra daqueles que se tornaram ícones do Jazz e referências em seus instrumentos.

Milestones, em andamento lancinante e coesão justíssima, descortinou um set list precioso e atraente do início ao fim do concerto. Pecado, contudo, tenha simplesmente estacionado no tema, em arranjo frustrante que, não se sabe porque, resolveu suprimir os solos.

Eternizada por Dinah Washington, What a Difference a Day Makes, desvelou o trompete natural de Paulinho, tão pródigo em suas soberbas habilidades que, não raro, cai na armadilha dos "fogos de artifício" (respiração circular, glissandos, efeitos de embocadura, etc.), em detrimento da verdadeira arte que, sem dúvida, nele é congênita.

Outra balada, Moonlight in Vermont (soberanamente gravada por Stan Getz, em 1966, com arranjo de Claus Ogerman), confrontou, de um lado, a personalidade do jovem baixista Rodrigo Villa, de promissora carreira, e, de outro, o baterista Herivelton Ribeiro, bastante mais eficiente nos andamentos ligeiros.

A partir de Love for Sale, com bridge "funkeada" e Errol Garner lado a lado com Hamleto Stamato, viu-se logo que o aquecimento terminara e o jogo era para valer.

Aliás, qualquer tributo a Chet Baker só vale após recitados – isto mesmo, Paulinho “declamou” musicalmente – os versos de My Funny Valentine, tal o lirismo e o modo direito, como deve ser, com que abordou a melodia, com o auxílio da surdina.

A primeira versão da citada Dear Old Stockholm comportou bom solo de Santiago, sem dúvida um dos saxofonistas brasileiros com maior fluência na difícil linguagem modal.

Mas foi mesmo a improvável reprise sincopada da canção, “quem” tomou de assalto o Mistura, impregnando-o de brasilidade irresistível, a ponto de, sozinha, repito, desenhar uma nova “orelhinha” no papel.

No 2º set, como era de esperar, brilhou a estrela de Widor Santiago, a que não ficara indiferente nada mais nada menos que Jorginho Guinle, ao vê-lo em ação – e anotar os maiores elogios - quando do concerto “Jazz Panorama” (CJL VII, nov/03).

Santiago acertou em cheio ao construir seu tributo a Sonny Rollins só com temas deste ou a ele atribuídos, caso de St. Thomas, que sucedeu o blues confesso Doxy.

Dali em diante, só petardos certeiros como Pent'Up House, jóia mais reluzente do homenageado, pontuada pelo dedilhado liso de Stamato, qual Hank Jones; Valse Hot, cuja coda arrepiante, no tenor, conduziu a um Airegin febril, com solos de tirar o fôlego vindos do front line e do piano, mantida a chama do grupo até o final, com Oleo.

Tento notável lavrou o produtor da noite, Jose Henrique Felzenszwalb: o tempero brasileiro deu paladar especial às infalíveis receitas de sucesso de Chet Baker e Sonny Rollins.

Hoje é o Segundo Aniversário do CJUB

Há exatos dois anos demarquei um sítio na vastidão da internet com o nome de Charutos em Riste, Jazz ao Fundo, Uísque no Copo. Era o início de uma experiência digital que, sob a forma de um blog, serviria para anotar, divulgar e preservar algumas opiniões, comentários e informações preciosas que vinham sendo trocadas muito freqüentemente com uns amigos, entusiasmados amantes das boas coisas da vida, dentre as quais, com destaque absoluto, estava o jazz. Como acontece até hoje, os charutos e o uísque eram para nós perfeitos coadjuvantes para as audições jazzísticas, numa questão de cumulação de prazeres. Que, quantos mais e concomitantemente, melhor.

Ao longo desses dois anos deixamos o título inicial, em nome da simplificação e do bom gosto, para adotar o de CJUB, para Charutos, Jazz, Uísque e Blog, cujo logotipo remete imediatamente a "club". E de três ou quatro aficionados iniciais chegamos a uma confraria que, hoje, conta com 16 ou 17 membros - há convites a co-editores no ar, dependendo apenas de aceitação cibernética para se efetivarem - das mais variadas qualificações profissionais, porém ligados, na essencia, pelo jazz.

O ecumenismo e a liberdade de expressão atingidas nesse grupo são raro exemplo de democracia plena. As divergências são todas elas positivas, gente querendo mostrar que determinado evento jazzístico, em qualquer mídia de seu conhecimento, é superior a algum outro em algum quesito. E todos recebem a categorização de "imperdíveis". Isso funciona muito bem no enriquecimento cultural jazzístico do grupo, pois desperta a vontade de ouvir ou ver o que ainda não se viu, para que se possa opinar adequadamente. Além do que reina uma generosa troca de discos e DVDs, até ontem "inimprestáveis", mas que hoje entram na roda em vista do espírito de aculturação jazzística que permeia a confraria.

Ainda no primeiro ano tivemos o prazer de ver juntarem-se a nós dois grandes repositórios de conhecimento, experiências e vivências junto ao universo do jazz, com sua histórias saborosas, os mestres Raffaelli (José Domingos) e Coutinho (Arlindo). Hoje, estamos namorando firme um terceiro guru que, por falta absoluta de tempo livre ainda não pôde declarar-se disponível para escrever aqui, mas que sentimos já ser, de coração, um Mestre-CJUB.

Digna de menção especial é nossa musa-honorária, categoria "hors-computer", que participou lá dos primeiros encontros dominicais que abriram as portas para a camaradagem entre os participantes, musa das opiniões embasadas na experiência e na sensibilidade, com a luz própria da estrêla que é, Wanda Sá, que preferimos chamar internamente de Wandaça.

Falando de moças, neste ano de 2004 saímos de uma para quatro aficionadas. Capturamos três sabinas de roldão, numa conquista que nos deu uma bela renovada de opiniões e de modos.

Quanto ao jazz em si mesmo, vimos nosso sonho ir tomando forma, o gosto musical e padrão de qualidade cejubianos irem sendo reconhecidos, não só pelas opiniões expressas no blog, mas pelas produções mensais de concertos do mais alto nível aos quais nos dedicamos ao longo do ano passado e deste, como as pessoas que nos lêem já tem conhecimento. Estamos preparando nosso décimo primeiro concerto mensal, sem contar aí a jam-session de dezembro e o primeiro internacional, em janeiro último.

Vamos continuar buscando melhorar todos os aspectos de nossa atuação nesses segmentos, para que a fruição dos cejubianos e do crescente público que nos vem prestigiando seja plena.

O CJUB não descansa e a despeito de todos terem suas vidas profissionais para tocar, já que ninguém está dedicado exclusivamente a ele, trabalha em silêncio visando viabilizar mais novidades para o divertimento do grupo. E por decorrência, de todos os demais amantes do jazz.

Continuem aparecendo por aqui, prestigiando-nos com seus comentários. É muito importante que recebamos esse fidibéque.

E aguardem as boas novidades de 2004.

CHIVAS JAZZ FESTIVAL - IMPRESSÕES DA SEGUNDA NOITE

07 maio 2004

como escrito pelo Sazz e por motivos técnicos, postada por mim

Lembro que foi na noite de um domingo no final do ano passado que recebi um telefonema, em casa, do mestre e guru Raffaelli, me dando em primeiríssima mão e de forma secreta, na promessa de não divulgar nem mesmo para minha mulher, a confirmação da vinda do Steve Kuhn, com seu trio, para o Chivas Jazz, o qual tinha ido por mim indicado, e por saber da minha admiração por esse que considero o pianista substituto do Bill Evans, no meu entender o número 1 de todos os tempos.

Sim, este mesmo Steve Kuhn, que conheci em N.York em 2001, ao assisti-lo no Knickerbocker, um bar-restaurante da Rua 10 esquina com University, quando homenageou os brasileiros presentes naquela noite (imaginem quantos: minha mulher e eu), iniciando o 2o. set quase à 01:00 da manhã e tocando 2 temas de musicos considerados por ele tão importantes quanto Porter e Gershwin, a saber Tom Jobim e Ivan Lins, com as musicas Luísa e "The Island" (Começar de Novo).
Bem, não preciso dizer que além de ter autografado alguns CDs, deixou no ar a promessa de quem sabe vir um dia ao Brasil, o que aliás, tentei em vão com o Pedro Paulo do M. F., que perdeu a oportunidade de ter sido o apresentador no Brasil deste maravilhoso pianista, arranjador e compositor ao mercado brasileiro, alegando ser o mesmo pouco conhecido e não ter apelo comercial.

Verdade é que, com mais de 50 anos de carreira, tendo tocado com monstros como
John Coltrane, Gary McFarland (outro pouco conhecido e divulgado, que devo falar a respeito proximamente) e Stan Getz, Kuhn ficou mais conhecido como o músico dos músicos, talvez até pela sua humildade e simplicidade, muito embora sua discografia seja gigante (sou possuidor de quase toda), tendo passado por distintas gravadoras como Concord, Impulse, Evidence, Venus, até a grande ECM, onde recém lançou seu último trabalho, "Promises Kept", todo autoral, só com cordas e contrabaixo.

Enfim o dia D foi ontem. Mesmo acompanhando uma cantora, o que por si só já demonstra uma dignidade e respeito acima de qualquer vaidade pessoal, Steve Kuhn comprovou ainda mais sua simplicidade e elegância, além de uma técnica ímpar principalmente e sobretudo nos dois números que fez apenas com seus pares, Drumond e Finck, com quem vem tocando há mais de 10 anos.

Registro também a sua participação vocal em tema próprio e em duo com Sheila Jordan, em um momento de total descontração e carinho, que aliás foi o ponto alto da Sheila com o publico que, cada vez mais, vai se distanciando e perdendo esses valores frente ao stress e a insegurança em que vivemos hoje, nós cariocas.

Acho que por alguns momentos esqueci disto tudo e fui parar em outro planeta, mesmo com a algazarra (no bom sentido, é claro) dos meus parceiros de mesa Coutinho e Fraga, também eufóricos pela noite iluminada que nos proporcionaram Andrew Hill e Steve Kuhn.

E hoje tem mais. Até lá e aleluia, a alma está lavada...

CHIVAS JAZZ FESTIVAL - RIO, ALTÍSSIMO NÍVEL NA NOITE DE ABERTURA

06 maio 2004

A noite de estréia da 5a. edição do CJF, ontem, na Marina da Glória, foi um precioso presente dado aos cerca de 1.600 presentes. Ótima organização, horários cumpridos à risca, público educado e atento fizeram um ambiente perfeito para a apresentação de Bud Shank e seu impecável trio, que lhe deu não apenas o mais valioso suporte mas fez com que sua performance fosse bastante realçada e recebesse aplausos merecidos e entusiasmados. Louis Hayes e seu quinteto, em seguida no palco, conseguiram não apenas manter a qualidade bastante elevada como, ao escolher temas de conhecimento mais geral, aumentaram a temperatura do espetáculo a um nível arrasador.
Sem dúvida, um começo requintado para essa tão longamente aguardada maratona jazzística. Parabéns aos produtores, em especial ao Toy Lima, pela escolha dos grupos que compuseram a noite de estréia, deixando em todos uma expectativa muito positiva para o resto do Festival.

DREAMER ELIANE

05 maio 2004

Lançado oficialmente nesta segunda-feira (04/05) pela Bluebird/Arista, “Dreamer” é o 15º CD da pianista e agora mais do que nunca cantora brasileira Eliane Elias. Em recente entrevista, teria feito severas críticas à concorrente Diana Krall, que não considera uma jazzista. E que “Dreamer” seria um forte argumento como prova de sua superioridade sobre a rival canadense. O CD, por incrível que pareça, segue a mesma estratégia usada por Krall para “When I look In Your Eyes” e “The Look Of Love”, arranjados respectivamente por Johnny Mandel e Claus Ogerman. O ambiente musical é praticamente idêntico. Se Krall, segundo ela, não é jazzista, muito menos a própria Eliane pelo que se ouve em “Dreamer”. Como cantora, pelo menos, Krall livra vários corpos de vantagem. Como pianista, talvez Eliane seja superior. Mas, esquecendo-se as comparações, o CD não deixa de ser agradável, elegante e bem cuidado, com standards escolhidos a dedo.
Nascida em São Paulo (19/03/60), Eliane Elias teve carreira curta e inexpressiva no Brasil. Em 1981, mudou-se para os EUA (New York). Ano seguinte já integrava o grupo “Steps Ahead”, conhecendo o trumpetista Randy Brecker, com quem acabaria se casando . Até 89, seus CDs eram exclusivamente instrumentais. A partir daí passou a cantar algumas faixas. Sua reputação aumentou ao gravar em duo com Herbie Hancock. Com a popularidade crescente da Bossa-Nova em todo o mundo, ela ressurge como uma importante intérprete do gênero.
Dreamer” é um CD elegante do inicio ao fim, com arranjos sofisticados, lembrando – e muito – Claus Ogerman.
Participam das gravações o saxofonista Michael Brecker, o baterista brasileiro Paulinho Braga, o violonista brasileiro Oscar Castro Neves, o vibrafonista Michael Manieri, Jr, o contrabaixista – e aqui também produtor – Marc Johnson e Rob Mathes, responsável pelos arranjos. O CD começa com um clássico da era Chris Montez, “Call Me”(Hatch), passa por “Baubles. Bangles & Beads” (Forrest/Wright) – na mesma levada de Ogerman para o antológico disco Sinatra & Jobim -, o clássico jobiniano “Photograph”, “So Nice” (Samba De Verão, Marcos Valle), “That’s All” (Brant/Haymes), “Vivo Sonhando” (Dreamer, Jobim), além de outros standards menos cotados, para culminar com uma versão no mínimo simpática para “Doralice”, do nosso grande mestre Caymmi. Esse, portanto, o cardápio. Cardápio, aliás, sem a presença de Randy Brecker – estariam casados ainda?
Aqueles que degustaram com prazer os dois CDs acima citados da Diana Krall, por supuesto se encantarão com “Dreamer”. A semelhança de clima é nítida. Goste ou não a Eliane que, às vezes, parece sonhar na maionese.

PS. As más linguas comentam que Mrs. Elias, tal como DKrall, pretende promover-se mundialmente como nova sex-symbol do jazz. Em tempo, "Dreamer" recebeu 3 estrelas na AllMusic Guide.

Concurso para alegrar (e enfeitar) o CJUB

04 maio 2004

Por sugestão de nosso embaixador para a região situada (no Brasil, n. b.) abaixo do Trópico de Capricórnio, o plenipotenciário JoFlavio, fica aqui instituída uma votação que nada tem a ver com jazz, exceto a preferência nas gravações de temas pelas candidatas.

Seguem-se, na foto abaixo, quatro jovens expoentes - todas americanas, por coincidência - da cantoria jazzística atual, estando listadas da esquerda para a direita, Jane Monheit, Diana Krall, Tierney Sutton e Eden Atwood, para que façamos uma eleição democrática quanto ao quesito beleza. Que não se perca tempo analisando suas demais qualidades ou falta delas pois não é esse o espírito da coisa.
Nada impede que as freqüentadoras e leitoras deste painel também o façam pois suas opiniões certamente nos farão aprender com elas e até mesmo repensar as nossas. Os rapazes, por seu turno, poderiam, para facilitar as coisas, escolher qual delas gostariam de ver compondo a paisagem da suas próprias ilhas desertas, para ficar no espírito do blog.
E olha, não é "ranking", é voto. Único.

JOHN PIZZARELLI - " BOSSA NOVA " (TELARC - ABRIL 2004 )

Recém lançado nos E.U.A., o último CD deste novaiorquino nascido em New Jersey, só serve para comprovar mais uma vez que a Bossa Nova esta mais viva do que nunca no mercado internacional (só as nossas rádios e grandes gravadoras não conseguem ou não querem enxergar esse verdadeiro "Eldorado" ).

Este trabalho do Pizzarelli, quase todo pautado em clássicos do nosso principal movimento musical, segundo o Tom Jobim, um apêndice do Jazz e que por isso mesmo impossível acabar: abre com "One Note Samba", passando pela velha conhecida de guerra "Girl From Ipanema", acompanhado no vocal pelo Daniel Jobim, que aliás nunca foi canário; "Estate", que vai deixar o João Gilberto roxo, sem falar na conterranea Shirley Horn, dona a meu ver da mais sensível e emocionada versão, reconhecida assim pelo próprio João, seguindo-se "Desafinado", "Love Dance" (Ivan Lins não poderia ficar de fora ), "Só Danço Samba" em um macarrônico e dispensável português e para fechar (ufa, ufa, que sacrifício), "Soares Samba" (???) Não entendi...

Em resumo, um disco fraco, @, muito mais para "Smooth Jazz" (termo cultuado e adorado pelos americanos "Big Mac") do que para Bossa Nova propriamente dita, sem qualquer criatividade, mesmo nos arranjos de Don Sebesky - para quem a Bossa não é nenhuma desconhecida, pelo contrário - e que nem as presenças de Cesar Camargo Mariano e do Paulinho Braga conseguem salvar, nessa incursão dos irmãos Pizzarelli pela B. N., que certamente vai lhes garantir mais uma temporada de sucesso no Mistura Fina, onde não estarei.

"As Charuteiras" estão de volta: Maria Grazia Cucinotta

01 maio 2004

Depois de insistentes pedidos, retomamos a série "Charuteiras" do CJUB. Está cada dia mais difícil encontrar-se fotos dignas de publicar num blog de alto nível. Isso porque no geral não há muitas fumadoras de charutos por aí, são minoria entre as pessoas que fumam, e estes, um grupo que cada vez fica menor. E fumantes de charutos bonitas, ainda as há em muito menos quantidade.


Quando se encontra uma foto como esta, da bela italiana Cucinotta, motivada por um ensaio para uma grande publicação, efetuado quando de sua participação na pele da personagem "Cigar Girl", no filme de James Bond, "The World is Not Enough", de 1999, não se pode perder a oportunidade.


Aproveitem a visão, rapazes. A última grande foto do tipo aqui, que deixou boas lembranças em todos, foi a da ex-membro, nossa saudosa Conchita, que deixou o blog definitivamente por conta de suas constantes viagens acompanhando o noivo.

Moças, aceitem posar empunhando um charuto. O CJUB agradece.