Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

Histórias do Coutinho: 1 - ELLINGTON & BENNETT

18 maio 2004

Todos sabem do respeito e da mútua admiração entre o cantor e pintor Tony Bennett e o pianista, maestro e compositor Duke Ellington, mas seus encontros em concertos ou festas na badalada New York, em freqüência então crescente, acabaram unindo os dois em torno de uma grande amizade, que só terminou com a morte do grande maestro, em maio de 1974.

Relato aqui uma das muitas histórias que ouvi dessa extraordinária figura humana que é Tony Bennett:

No final do ano de 1969, Tony vivia uma grave crise conjugal. Até que nos primeiros dias de dezembro foi morar em uma suite no Waldorf-Astoria. Com a aproximação do Natal, passou a sentir-se cada vez mais solitário e deprimido por estar distante da familia, antevendo que aquele seria um dos piores Natais de sua vida. No dia 24, véspera da grande festa cristã, Tony não conseguia dormir, a despeito de ter recomendado expressamente ao hotel que não permitisse chamadas para seu apartamento.

Pouco antes da meia-noite, sem ânimo para assitir à TV ou ouvir rádio, Tony, sentindo-se cada vez mais triste, iniciou a sua ceia natalina. Na mesa, apenas uma garrafa de vinho tinto e uma taça, suas únicas companhias. A instantes da meia-noite, o silêncio do apartamento foi quebrado por um coro infantil, entoando músicas natalinas. Tony levantou-se para procurar a origem do som, checou o rádio, a TV, abriu a janela do apartamento (fazia frio e nevava), mas lá de fora não ouviu nada, absolutamente nada. Fechou a janela e procurou identificar com mais cuidado a origem daquele som bonito e afinado. Finalmente, abriu a porta da suite e ali estava Duke Ellington com um belíssimo ramo de rosas vermelhas, à frente de um coral infantil que arregimentara em uma igreja do Harlem. Desnecessário dizer quão emocionado Tony ficou quando Ellington lhe disse: "Se você tinha planos para passar o Natal sozinho, está muito enganado. Feliz Natal, querido amigo!"

Esse foi, sem dúvida, segundo Tony, um dos momentos mais bonitos de sua vida.

Até hoje se pode sentir quão emocionado Tony fica ao contar essa história, da qual tomei conhecimento quando jantávamos em um típico restaurante italiano, em São Paulo, durante uma de suas "tournées" pelo Brasil. Quando, inclusive, fomos interrompidos por dois fans italianos que também jantavam na "trattoria". Foi ali que descobri, pasmo, que Tony não falava italiano!

Depois de despachar "gli paesani", Tony retomou a narrativa, lembrando que nos primeiros dias do mês de janeiro seguinte àquele Natal, enviara a Ellington uma aquarela que pintara do maestro e seu ramo de rosas, e na qual agradeceu o momento mágico daquela noite emocionante, escrevendo na margem: "GOD IS LOVE DUKE ELLINGTON".

Essa aquarela figura à pag. 112 do livro "What My Heart Has Seen", de autoria de Bennett, editado pela Rizzoli em 1996.


Goltinho

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