Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho)*in memoriam*; David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels)*in memoriam*,, Pedro Cardoso (o Apóstolo)*in memoriam*, Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge), Geraldo Guimarães (Gerry).e Clerio SantAnna

CHIVAS JAZZ FESTIVAL 2004 – UMA REFLEXÃO

15 maio 2004

Como nenhum outro festival, talvez, aqui ocorrido nos últimos quinze anos, o Chivas Jazz de 2004 provou que, se, de um lado, permanece inabalável a renovação de instrumentistas fora-de-série, aptos a garantir a vitalidade do gênero no novo milênio, o jazz, de outro, aparenta sofrer um inegável e persistente impasse estético.

Entre repetir fórmulas do passado (tributos e songbooks) e buscar caminhos supostamente “novos”, a crua verdade é que “nada há de realmente ‘novo’ no front”.

O mesmo dilema já enfrentaram outros gêneros, como a música clássica e o rock, geralmente se resolvendo em simplificações cheias de “atitude”.

Na chamada música de concerto, a partir do que se convencionou chamar de esgotamento melódico-harmônico do século XIX, floresceu, na 1ª metade do século passado, o Dodecafonismo dos serialistas Schoemberg, Berg e Webern, com a pretensão de redescobrir uma nova “lógica” musical, livre das "amarras" da harmonia tradicional. O resultado ? 1) Não ocupa nem 1% da programação das salas e rádios especializadas do mundo; 2) Quem quis compor para orquestra no século XX - e ter como sobreviver da profissão - teve de buscar o caminho das trilhas incidentais, para cinema e teatro.

No rock - que, em si, já representa uma banalização do blues (ao contrário do jazz, seu desenvolvimento máximo), e que, segundo J. Berendt (“Jazz, do Rag ao Rock”), nunca passou de paródia branca do Rythmn & Blues inventado pelos negros (não confundir com seu fraudulento homônimo dos anos 90, o tal R&B - "arenbi" - das “expoentes” Beyoncé e Laurin Hill) - prevaleceu o lado “atitude”, quando o punk da virada dos anos 80 (Sex Pistols e companhia) não precisou de mais de 4 acordes e algumas toneladas de decibéis analfabetos para defenestrar o progressivo e suas intermináveis “suítes” e capas de disco "viajantes". Não admiram os clichês sobre o punk: “correção de rumo”, “volta às origens”, “resgate das verdadeiras raízes” do rock. Para falar dessas "raízes", sem dúvida, obras-primas como Nefertiti (Shorter), Maiden Voyage (Hancock) e Tokio Blues (Silver) jamais sonharam rivalizar, nas paradas dos anos 60, com tratados de complexidade harmonica do quilate de ... She Loves You e Can´t Buy Me Love (Lennon/McCartney).

O verdadeiro jazz, entretanto, ao revés de seus pares, nunca simpatizou com simplificações; ao contrário, desde quando Armstrong inaugurou o conceito de solista moderno e Parker cunhou a caligrafia da improvisação moderna, inovar sempre foi a bandeira de todos quantos quisessem ver seus nomes escritos na história do gênero.

Seja no modo de compor, improvisar ou arranjar, são e serão lembrados os que, rompendo com a tradição e, por isso mesmo, ampliando-a e, a um só tempo, ajudando a consolidá-la, empurraram adiante o movimento, influenciando os talentos vindouros.

Foi assim com o swing, com o bebop, o cool, o soul/funk jazz, e, finalmente, o free, passando pelas “ondas” do afro-cuban e bossa, fortemente presentes, ainda hoje, no discurso do jazzista contemporâneo.

Acontece que o "free jazz" remonta aos anos 60 !

De lá pra cá (são quarenta anos !), nenhuma nova dimensão estética, de significado, foi revelada, inobstante o brilho de compositores como Cyrus Chestnut, Eric Reed e Tom Harrel; arranjadores, como Maria Schneider, Walt Weiskopf e Dave Douglas; e solistas como Roy Hargrove, Stefon Harris e Hélio Alves, apenas para citar três nomes de destaque – de dezenas, em todos os instrumentos – em cada uma daquelas “especialidades”.

Assim, ficaram frente a frente, no Chivas Jazz Festival: a música inconsequente e estéril de quem se acha “à frente”, mas, de tão perdido, só faz atirar aleatoriamente em todas as direções; e, em canto oposto, o pleno exercício jazzístico, pelos native speakers do idioma, que já nasceram diplomados no swing sem o qual, ensina o maior de todos, Ellington, “it don´t mean a thing”.

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