Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

10o. CHIVAS JAZZ LOUNGE, 29/4/2004, WIDOR SANTIAGO–PAULINHO TROMPETE QUINTETO - @@@

10 maio 2004

A velha Estocolmo, quem diria, caiu no samba. E aí nasceu, orgulhosa, a terceira “orelhinha” da manchete.

Orgulhosa porque, modéstia à parte, de samba-jazz entende o músico brasileiro, território ambicionado - porém nunca conquistado - mesmo por consagrados jazzmen, como, aliás, demonstrou a recém finda edição do Chivas Jazz Festival.

Tinha, portanto, absoluta razão, Paulinho Trompete (trompete, flugelhorn) - co-liderando com Widor Santiago (saxes tenor e soprano) o quinteto que prestou tributos a Chet Baker e Sonny Rollins na 10ª edição da série CJL - ao rasgar em samba a já rara Dear Old Stockholm (traditional sueco), confessadamente a sua melhor maneira de homenagear o “James Dean do trompete”.

Ficou evidente, aliás, a entrega de todos os músicos (Hamleto Stamato, piano; Rodrigo Villa, contrabaixo; e Erivelton Ribeiro, bateria, compondo a seção rítmica), entusiasmados com a platéia qualificada e a oportunidade solene de poder - e querer - dar o melhor de si, marcas registradas dos espetáculos CJUB.

E nem a equivocada opção de trazer, primeiro, a homenagem a Chet Baker, atacando, só no 2º set, o songbook de Rollins (com temas bem menos conhecidos do grande público), foi capaz de descredenciar o brilhante esforço de oferecer um panorama vivo da obra daqueles que se tornaram ícones do Jazz e referências em seus instrumentos.

Milestones, em andamento lancinante e coesão justíssima, descortinou um set list precioso e atraente do início ao fim do concerto. Pecado, contudo, tenha simplesmente estacionado no tema, em arranjo frustrante que, não se sabe porque, resolveu suprimir os solos.

Eternizada por Dinah Washington, What a Difference a Day Makes, desvelou o trompete natural de Paulinho, tão pródigo em suas soberbas habilidades que, não raro, cai na armadilha dos "fogos de artifício" (respiração circular, glissandos, efeitos de embocadura, etc.), em detrimento da verdadeira arte que, sem dúvida, nele é congênita.

Outra balada, Moonlight in Vermont (soberanamente gravada por Stan Getz, em 1966, com arranjo de Claus Ogerman), confrontou, de um lado, a personalidade do jovem baixista Rodrigo Villa, de promissora carreira, e, de outro, o baterista Herivelton Ribeiro, bastante mais eficiente nos andamentos ligeiros.

A partir de Love for Sale, com bridge "funkeada" e Errol Garner lado a lado com Hamleto Stamato, viu-se logo que o aquecimento terminara e o jogo era para valer.

Aliás, qualquer tributo a Chet Baker só vale após recitados – isto mesmo, Paulinho “declamou” musicalmente – os versos de My Funny Valentine, tal o lirismo e o modo direito, como deve ser, com que abordou a melodia, com o auxílio da surdina.

A primeira versão da citada Dear Old Stockholm comportou bom solo de Santiago, sem dúvida um dos saxofonistas brasileiros com maior fluência na difícil linguagem modal.

Mas foi mesmo a improvável reprise sincopada da canção, “quem” tomou de assalto o Mistura, impregnando-o de brasilidade irresistível, a ponto de, sozinha, repito, desenhar uma nova “orelhinha” no papel.

No 2º set, como era de esperar, brilhou a estrela de Widor Santiago, a que não ficara indiferente nada mais nada menos que Jorginho Guinle, ao vê-lo em ação – e anotar os maiores elogios - quando do concerto “Jazz Panorama” (CJL VII, nov/03).

Santiago acertou em cheio ao construir seu tributo a Sonny Rollins só com temas deste ou a ele atribuídos, caso de St. Thomas, que sucedeu o blues confesso Doxy.

Dali em diante, só petardos certeiros como Pent'Up House, jóia mais reluzente do homenageado, pontuada pelo dedilhado liso de Stamato, qual Hank Jones; Valse Hot, cuja coda arrepiante, no tenor, conduziu a um Airegin febril, com solos de tirar o fôlego vindos do front line e do piano, mantida a chama do grupo até o final, com Oleo.

Tento notável lavrou o produtor da noite, Jose Henrique Felzenszwalb: o tempero brasileiro deu paladar especial às infalíveis receitas de sucesso de Chet Baker e Sonny Rollins.

Nenhum comentário: