Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

CHIVAS JAZZ FESTIVAL 2004 - 6/4/2004 - COTAÇÕES

17 maio 2004

ANDREW HILL TRIO - @@@

Há décadas Andrew Hill vem realizando o que parecia impossível: juntar o free jazz ao cool, numa experiência musical única, porém inegavelmente bem sucedida.

Um piano cristalino, alforriado do establishment tonal, que convida, o tempo todo, o ouvinte, a uma experiência musical diferenciada. É preciso desconstruir a ansiedade natural por consonâncias ou pirotecnias, para entender Hill. Entender não; dividir, comungar com ele uma nova proposta melódica, que, na música clássica, teria paralelo na obra do francês Olivier Messiaen, tão contemporânea quanto, porém absolutamente distinta da Escola de Viena (Serialismo).

Nisto, aliás, há uma ponto curioso: impressiona a insistência de alguns em dizer que jazzistas como Ornette Coleman, Don Cherry, o próprio Andrew Hill e, mais recentemente, Wayne Horvitz (que também esteve neste Chivas), fizeram, ou fazem, música "de vanguarda". Considerando que a chamada música contemporânea - que rompeu, em definitivo, com a harmonia tradicional, data da primeira metade do século XX (Schoemberg, Berg, Webern, Stockhausen, Hindemith, entre outros) e que esta ruptura, na verdade, iniciou-se desde o ocaso do Romantismo (fim do século XIX), quando emergiram compositores como Debussy, Ravel, Satie e Poulenc (Impressionistas), nada há de vanguarda, ao menos sob a perspectiva puramente musical, no free que tanto chocou "puristas", nos anos 60. É claro que Ornette inovou esteticamente ao reinventar a improvisação coletiva - presente no jazz deste o dixieland - só que, agora, sem parâmetros harmônicos aparentes, deixando seguidores, com maior ou menor êxito.

Andrew Hill, porém, prescinde de rótulos como avant-garde ou free.

Os cinco originais oferecidos pelo trio (John Herbert, baixo, e Nasheet Waits, bateria) de modo contemplativo, à platéia surpresa, e de início despreparada, tiveram, entretanto, força suficiente - tal a verdade em que estão apoiados - para encantar e fazer sonhar tivesse o espetáculo recebido uma casa mais apropriada (a Sala Cecília Meireles ou outro palco de câmara), já que a Marina da Glória, lugar agradabilíssimo, mostrou-se dispersiva, todavia, para tão contrita experiência.


SHEILA JORDAN - @@
STEVE KUHN TRIO - @@@@1/2

Sheila Jordan é a cantora mais afortunada do mundo, por ter consigo, nada mais nada menos, que o melhor supporting trio em atividade.

A mesma sorte, contudo, não se pode atribuir a Steve Kuhn, ao menos quanto ao resultado, para o ouvinte, da reunião dos dois nomes, que remonta, aliás, aos anos 60.

Em que pese a enorme simpatia e, admita-se, domínio do estilo, Sheila Jordan está a léguas de distância de figurar entre as referência do jazz vocal.

Um extensão aquém de exígua e o desgaste da idade, algo mascaradas pela inegável categoria, Jordan serviu como dispensável contraponto à superlativa performance do pianista único que é Steve Kuhn.

Daí a decomposição nas cotações: Sheila Jordan com o Steve Kunh trio foi uma apresentação; o trio, sozinho, outra, inteiramente diferente.

A primeira, contemplando jazz originais e standards, como If I Should Loose You, Evything Happens to Me e Slow Boat to China, ressaltou as limitações da cantora, cujo carisma, entretanto, foi o suficiente para agradar boa parte do público.

Já os dois números com que nos presentou Steve Kuhn, estes sim permanecerão na memória do Festival e na de quem a ele teve o privilégio de atender. The Jitterbug Waltz (F. Waller) e Ladies in Mercedes (S. Swallow) formaram iguaria finíssima, preparada com maestria pela espetacular seção rítmica, completado pelo baixista David Finck e por Billy Drummond, na bateria. Não há estilo que Kuhn não sabia ou possa tocar, e, acima de tudo, reinventar com sua arte peculiar e genial.

Voltando ao palco, Sheila Jordan instou o pianista a entoar seu tema emblemático, The Meaning of Love, que arrepiou e fez marejar os olhos, no único momento digno de nota - e que nota - da associação entre a cantora e o trio.

A meia orelhinha a mais deve-se, exatamente, a este mágico instante, enquanto a metade faltante (para a cotação máxima) resume-se à falta de maior espaço só para o trio.

Um noite, afinal, absolutamente particular e distintiva, eco perfeito das intenções dos organizadores.

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