Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 6

30 janeiro 2007

DA CERA AO RAIO LASER (3)

Pode-se até imaginar que após o advento do microfone e dos amplificadores como parte do processo elétrico de gravação do som, tudo tenha se tornado muito simples do dia para a noite, mas ledo engano! Inicialmente havia só um microfone, um canal de gravação apenas e os problemas de captação mudaram um pouco mas se mantiveram de certa forma.
De início o microfone ficava em um pedestal e os músicos a sua volta no mesmo nível, depois criaram plataformas em níveis diferentes, mais tarde o microfone foi pendurado no teto, enfim várias foram as maquinações objetivando uma melhor distribuição do som a ser captado pelo solene microfone.
Uma dessas resultou em hilariante episódio, quando Bessie Smith foi fazer uma gravação com sete rapazes da banda de Fletcher Henderson e o engenheiro da Columbia inventou que o som seria melhor captado pelo microfone ainda a carvão se os espaços sonoros fossem os mais reduzidos possíveis. Naturalmente lidava com o problema da reverberação acústica do estúdio ainda não devidamente tratada. Foram então armadas uma série de tendas com cortinas de pano e cada músico embaixo de uma, mas eis que Bessie no meio de tudo teve um ataque de claustrofobia e ao procurar se livrar daqueles panos foi balançando a geringonça, caindo tudo por cima de todos parecendo um monte de fantasmas gesticulando, alguns ainda tocando! Deve ter sido cena digna de um filme dos irmãos Marx ou dos 3 Patetas (no caso 8).

Outro episódio curioso ocorreu dado que a bateria sempre terrivelmente discriminada nos estúdios, aliás a gente não faz a menor idéia porque fosse, mas foi Gene Krupa talvez o 1º a enfrentar tal implicância e a montar todo seu aparato dentro de um estúdio de gravação e o fato se deu exatamente a 8/dez/1927. O produtor Tommy Rockwell da Okeh Records convidara alguns jovens de Chicago reunidos em torno do banjoista Eddie Condon e lá estava Krupa com seus apenas 18 aninhos. Ao entrar no estúdio Rockwell assustou-se com a bateria toda montada e perguntou: -“O que é isto aqui? O que pretende com tudo isto?” e Krupa respondeu simplesmente... -“tocar”. Rockwell desesperou-se, porém Krupa talvez pela inocência de sua juventude ou atrevimento mesmo, fincou pé, forçou a barra até que depois de muitas idas e vindas em torno do engenheiro de gravação, Rockwell acabou permitindo que pelo menos aquilo fosse experimentado e assim pela primeria vez pode-se ouvir tarol, tantãs, pratos e bumbo juntos numa gravação, ou seja uma bateria completa. No entanto, Krupa foi bastante parcimonioso em sua execução para não por tudo a perder, é claro.
O disco (Okeh 41011) editado tinha a canção Sugar (Edna Alexander/Sidney D. Mitchell/Maceo Pinkard) de um lado e China Boy (Dick Winfree/Phil Boutelje) do outro com os McKenzie and Condon’s Chicagoans que formavam com: Eddie Condon banjo e líder, Bud Freeman (st), Jim Lannigan (bx), Jimmy McPartland (cornet), Frank Teschemacher (cl), Joe Sullivan (pi) e GENE KRUPA à bateria.
Como a gravação deu certo e até foi um sucesso, Krupa voltou entusiasmado ao estúdio com o Eddie Condon Quartet (mesmo grupo acima sem McPartland, Freeman e Lanning), em julho de 1928 e ai sim, Krupa "deita e rola" com seus pratos, bumbos e demais apetrechos em Indiana (James F. Hanley), o vocal é de Condon.
Como se trata de 2 clássicos do dixieland de Chicago selecionamos ambos - China Boy e Indiana para audição – é só clicar.

CÉSPEDES & RUBALCABA

Cantor e compositor, Francisco Céspedes sempre esteve envolvido com os projetos musicais mais representativos de Cuba, onde nasceu (Santa Clara). Fez parte do grupo de Pucho Lopez, com quem se apresentou na Espanha. Mais tarde integrou a Orquestra Cubana de Música Moderna - desenvolvia na época um gênero que mesclava o bolero ao jazz. Com ela, “Pancho” Céspedes fez temporada no México, onde, em 1992, ganhou a cidadania daquele país através do seu próprio presidente, Vicente Fox Quezada. Alguns CDs de sucesso foram lançados, um deles com participação de Milton Nascimento. Mas a afinidade com o jazz só agora é finalmente revelada, uma homenagem ao folclórico pianista e cantor Ignacio Villa, também cubano, apelidado de “Bola de Nieve” pela vocalista Rita Montaner. Villa igualmente se exilou no México, compondo temas que marcaram época. São com esses temas que Céspedes presta a "homage". Outro cubano, Gonzalo Rubalcaba, ficou encarregado de lembrar o lado do pianista, trazendo ao CD todo o sabor jazzístico, acompanhado pelo baterista Ignacio Berroa e pelo contrabaixista Carlos Del Puerto. Ou seja, uma formação clássica de trio. “Con El Permiso De Bola”, lançamento recente da Warner, é, em razão de tudo isso, um CD dos mais interessantes. Não fere os ouvidos dos jazzófilos e agrada aos eternos amantes de um bom bolero.


01 - Adios Felicidad
02 - Vete De Mi
03 - Ay Amor
04 - La Flor De La Canela
05 - No Dejes Que Te Olvide
06 - Alma Mia
07 - Drume Negrita
08 - Tu Me Has De Querer
09 - No Puedo Ser Feliz
10 - Ausencia
11 - Si Me Pudieras Querer
12 - Bola De Nieve
13 - Drume Negrita (con Bola De Nieve)

Warner (2007)
francisco céspedes – vocals
gonzalo rubalcaba – piano
ignacio berroa – drums
carlos del puerto - bass

ME ENGANA QUE EU GOSTO !!!

29 janeiro 2007

Coisa interessante. Basta remexer na pasta de recortes para sempre encontrar algo que mostre o comportamento de uns e outros, que com a mediocridade que sempre os caracteriza procuram iludir leitores, “plantando” notícias criadas no seu torpe imaginário.

Esse, por exemplo, do “Jornal do Brasil” de 7-1-1977, mostra a ingenuidade do escriba, que certamente foi emprenhado pelos ouvidos por artes e manhas do “Jazz Educator”.

Para ele, na época, o prato do dia era Flora Purim, a quem queria outorgar o título de melhor cantora de Jazz do mundo etc. etc. Então, ardilosamente “plantava” notícias, como se a legião de leitores não passasse de um bando de idiotas e acreditasse no besteirol ali escrito. Se um décimo desse noticiário fosse verdade, a Purim estaria consagrada mas, “o tempo é o senhor da verdade” e então...
llulla

HISTÓRIAS DO JAZZ N° 20

“O Acorde Mágico”

Corria o ano de 1974 que nos premiaria em agosto com o chamado “Jazz Piano Solo”. Apenas um concerto no Municipal no dia 10. No programa, Marian McPartland, Ellis Larkins, Teddy Wilson e Earl Hines.
Claro que naquela época ainda não havia os “festivais”. Então, o Jazz era apresentado em récita de gala, tendo como palco o Teatro Municipal. Foi lá que assistimos Sarah, Ella, Carmen, Errol Garner, Duke Ellington, M.J.Q., Bill Evans, Charles Tolliver, Horace Silver e muitos outros.

E foi realmente uma noite mágica. O espetáculo foi aberto por Marian McPartland interpretando um “Saint Louis Blues” em boogie-woogie (homenagem a Hines ?) surpreendente. Seguiu com “All the Things You Are” explorando todas as possibilidades harmônicas do clássico de Jerome Kern. Executou mais uns dois ou três “standards” e mergulhou num “Gershwin Medley” desenvolvido em vários andamentos (“A Foggy Day”, “I Loves You Porgy” e “Fascinatin’ Rhythm”). E fechou com um clássico do dixieland, o famoso “Royal Garden Blues” talvez relembrando o passado com o marido Jimmy McPartland.

Seguiu-se Ellis Larkins, um habilidoso pesquisador de harmonias mas, um amante dos andamentos bem lentos. Sua melhor performance foi em “What’s New ?”.

Teddy Wilson, para nós era a grande atração e realmente não decepcionou. Seu número de abertura foi “Sophisticated Lady” e prosseguiu na jornada ellingtoniana emendando "Satin Doll”, “Prelude to a Kiss” e “Take the “A” Train”. Gershwin também teve um medley executado com a finesse de Wilson : “It Ain’t Necessarily So”,”The Man I Love”, “Liza” e “Someone to Watch Over Me”. Clássicos como “Stompin at the Savoy”, “Flying Home” e “Body and Soul” deslumbraram a platéia. E o fecho em andamento ultra rápido foi “Love”.

Earl “Fatha” Hines daria a palavra final ao grande espetáculo. Começou com “Sweet Lorraine”, um dos clássicos de seu repertório e homenageou a platéia com um “Garota de Ipanema”. “Bluesette”, de Toots Thielemans veio em seguida, para arrematar com o seu cavalo de batalha “Tea for two”.

Todo o mundo feliz, sorrindo e comentando o que viram e ouviram. Nós ,com Nelson Reis, fomos para os camarins em busca dos autógrafos. Hines ocupou sózinho um camarim e já sem peruca mandou que entrassem todos. Distribuiu sua foto para os admiradores e, respondendo pergunta de um fã sobre se tocava música clássica respondeu “Nasci com o Jazz, cresci com o Jazz e vou morrer com o Jazz. Só toco Jazz!"

Fomos em seguida procurar os outros pianistas. Por sorte, estavam todos num mesmo camarim onde tinha um piano armário. Wilson e Marian sentados lado a lado, procuravam um acorde de passagem para o tema “By the Time I Get to Phoenix”. Várias tentativas foram feitas, sem resultado. De repente, a mão de Ellis Larkins desceu entre os dois e feriu o teclado com incrível precisão. O acorde se encaixou como uma luva, como diriam os antigos. Wilson levantou-se rápido e tirando uma nota de dez cruzeiros do bolso da calça estendeu-a para Larkins. Entre risadas dos presentes este recusou, dizendo: “Passa lá em casa que eu tenho mais para te ensinar.”

Que noite!

VICTOR ASSIS BRASIL NA TV

Para que passar por aqui em tempo, hoje, na madrugada desta segunda para terça-feira vai ao ar na TV Cultura - 1:15 - um show do Victor Assis Brasil gravado durante o Festival Internacional de Jazz de São Paulo em 1978.
Neste show ele tem ao lado Paulo Russo no contrabaixo, Fernando Martins no piano e Ted Moore na bateria.

Para quem quiser assistir a TV Cultura, em São Paulo na TV aberta, na Net TV a Cabo canal 17 e para quem não está em SP nem tem TV a cabo sintonize o canal 32 UHF.

Vale conferir !

MESTRE MAJOR NA JAZZ+

26 janeiro 2007

O número 14 da revista Jazz + comenta o livro de Mestre Major, o "Glossário do Jazz". Comentários bem feitos, como se espera de um bom crítico, que anexamos para a apreciação dos confrades.

COLUNA DO LOC


Coluna do Luiz Orlando Carneiro no Caderno B, JB, em 26/01.
Em pauta, John Patitucci.

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HOMENAGEM A TOM JOBIM

25 janeiro 2007

Pois é, hoje estaria comerando 80 anos ...
E para não deixar passar a data em branco, fica a homenagem com uma apresentação no Carnegie Hall no ano de sua morte, 1994.

Jobim começa em piano solo interpretando Garota de Ipanema, convida o guitarrista Pat Metheny para uma apresentação em duo para o tema Insensatez e encerra com Desafinado em quinteto com as presenças de Joe Henderson, Charlie Haden e Al Foster.






HISTÓRIAS DO JAZZ N° 19

23 janeiro 2007

Uma de mestre MaJor

Corria o ano de 1989 quando o Hotel Intercontinental e a Pan American Airways, por intermédio de Norma Ilner,enviaram convite para os eventos que integravam um festival de New Orleans que abrangia música e gastronomia. Esse era o terceiro que acontecia e claro, participamos de tudo.
Primeiro o almoço de apresentação à imprensa realizado no Restaurante Monseigneur do próprio Hotel. Assim que chegamos, uma das cantoras, Sadie Black, veio falar comigo para dizer que estava me reconhecendo, pois no festival anterior o jornal “Última Hora” ocupou meia pagina do segundo caderno com uma foto em que eu aparecia no palco ao lado da cantora Wanda Rouzan. Aliás, essa jam session, acontecida na beira da piscina, contou com a participação de músicos brasileiros como Alex Andrade e Juarez Araújo. Conversamos um pouco e ficamos de nos reencontrar dia seguinte, no show que aconteceria depois do jantar.
Ocupamos uma grande mesa redonda com quatro ou cinco casais amigos, entre os quais Arlindo Coutinho e o cidadão Mário Jorge Nascimento Jacques. Jantar de primeiríssima ordem, pontificando um lombinho de porco ao molho de ostras, regado naturalmente por alguns Jambalayas. Começa o show e a cantora Sadie vem à nossa mesa, me cumprimenta e logo depois vem me tirar para dançar “When the Saints Go Marchin'in”. Entrei no cordão, demos as mãos e acabei dando um ósculo na simpática cantora.
Veio o intervalo, voltei para a mesa e fui surpreendido com o “groom” do hotel, batendo um sininho e chamando por Luiz Carlos Antunes. Numa bandeja um cartão com os seguintes dizeres: “Lula, I wait for you in my apartment after the show. No more words by now. Sadie”
De saída pensei que fosse brincadeira mas, tendo em vista o carinho com que fui tratado por ela, fui mudando de opinião. Na mesa ninguém se pronunciava mas, surge Sadie para se despedir. Me cumprimenta e eu logo me prontifico a levá-la ao elevador. Aí foram os amigos que ficaram embaraçados pensando “Lula se deu bem”, a brincadeira não vingou. Na porta do elevador nos despedimos mais uma vez e voltei para o restaurante.
A mesa estava ansiosa querendo saber o desfecho do romance, até que Mário Jorge, autor do bilhete, informou que era uma brincadeira. Na verdade, não chegou a haver a gozação pois confirmaram que ficaram receosos que eu me desse bem no final das contas. E ficou nisso.

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 5

DA CERA AO RAIO LASER (2)

As gravações em disco foram editadas no que se apelidou de “bolachas pretas” inicialmente de 10 polegadas a 78 rotações por minuto e cuja característica intrínseca eram os fatídicos 3 minutos e meio de duração máxima de cada lado. Ora, dissemos fatídicos porque os músicos e arranjadores tinham que se virar para conseguirem se expressar naquele tempo exíguo e pior ainda para os de Jazz com inteira liberdade de criação, porém limitados, mesmo assim, maravilhas foram perpetuadas.
A companhia Blue Note Records usou por vezes os discos com 12pol ampliando o tempo para cerca de 6 minutos. Muitas gravações foram feitas usando os dois lados de um disco como Empty Bed Blues (1928) de Bessie Smith, Anvil Chorus I e II (1940) de Glenn Miller, Reminiscin’ In Tempo I, II, III e IV (1935) de Ellington em 4 faces! e muitas outras... Mas a quebra da emoção no processo de interrupção para a troca de lado por vezes era fatal.
Outro fato que toliu bastante o músico foi o processo de gravação que até 1925 era inteiramente acústico, não havia microfones nem amplificação elétrica e a captação do som se fazia através de uma enorme corneta cônica e o registro se dava por meio de uma agulha acoplada a um diafragma no final do funil da corneta. As ondas sonoras captadas pela tal corneta faziam vibrar o diafragma que por sua vez vibrava a agulha metálica que riscava um disco de cera girando na velocidade de 78 rpm. Após o que, era recoberto com laca para endurecer e depois fundida uma matriz de metal para posterior prensagem a quente das “bolachas” fabricadas com goma laca na cor preta.
Percebe-se logo que existiam enormes problemas de captação dos instrumentos, já que os sons emitidos além de possuírem uma vasta gama de frequências que o processo limitava a uma faixa de apenas 250 a 2.500Hz, (atualmente a faixa é de 20 a 20.000Hz). Lidava-se ainda com diferentes intensidades e, muito importante, com o volume sonoro relacionado à quantidade de massa de ar deslocada pelo instrumento, uma vez que o fluxo de ar é que iria mover a agulha. Assim, por exemplo: o contrabaixo de cordas tem alguma intensidade e volume de ar muito pequeno; a tuba possui intensidade pequena e grande volume; o clarinete de som agudo de grande intensidade mas pouca massa sonora e de características semelhantes também o cornetim, já o trombone talvez fosse o de melhor compromisso entre intensidade e massa de ar. O piano era de difícil captação pela forma como emite o som e se prestarmos atenção às gravações verificamos que se limitam a 2 oitavas apenas já que as frequências mais altas e mais baixas não eram captadas (só para lembrar o piano possui 7 oitavas). A bateria era grandemente sacrificada e usavam-se os pratos apesar do som ser reproduzido muito seco devido à limitação das frequências altas, empregava-se também o woodblock (bloco de madeira) de boa reprodução e o bumbo por vezes parecia um tiro de canhão.
Babby Dodds, um baterista dos pioneiros somente após a gravação elétrica teve reconhecido seu potencial com o instrumento.
Uma sessão de gravação era bastante complicada e geralmente eram feitos vários testes com a banda, marcando-se no chão a posição dos músicos de acordo com os instrumentos que participavam, com o arranjo e solos, e assim fazía-se a distribuição em relação à distância da corneta e se tal ordem não fosse estabelecida o som poderia embaralhar, algum instrumento sumir ou ainda, devido a um maior volume de som a agulha saltar na cera estragando tudo.
Finalmente a tecnologia deu um enorme salto com a gravação por processo elétrico criado pelos inventores Henry C. Harrison e Joseph P. Maxfield da Western Electric, ampliando-se a faixa de frequências para 50 a 6.000Hz. O primeiro disco gravado por este processo e editado comercialmente foi lançado em fevereiro de 1925 pela Columbia, com a canção You May Be Lonesome (Col-328-D) com o cantor e pianista Art Gillham (*1895 †1961) que atuava nos teatros de vaudeville sendo conhecido como The Whispering Pianist, antes de gravar para a Columbia possuía uma pequena banda de Jazz a Art Gillham's Southland Syncopators. Gillham convidado para testar o uso de microfone recebeu um "bonus" de US$1,000 da Columbia, também muito interessada nas transmissões de rádio. Não obstante, em janeiro do mesmo ano houve o lançamento pela Gennett (#5592) da cantora de blues Kitty Irvin em uma versão de Copenhagen que talvez tenha sido gravada também pelo novo processo. Dissemos talvez, porque várias companhias fonográficas pagaram a patente e iniciaram as gravações elétricas e os lançamentos comerciais ficaram meio confusos de se saber de quem ou quando era editado um novo produto, já que uns escreviam no selo outros não. Havia um certo receio quanto à
divulgação da nova tecnologia já que o fonógrafo elétrico, também uma novidade, só se popularizaria em 1926 e a maioria dos discos gravados eletricamente ainda eram reproduzidos em gramofones acústicos e uma vez que a diferença era quase imperceptível o resultado não era dos melhores o que poderia prejudicar o crédito no novo processo e conseqüentemente as vendas.
Para ilustrar esta promissora era tecnológica que se iniciava podemos ouvir trechos das gravações de Kitty Irvin da Gennett e de Art Gillham da Columbia.


MUSEU DE CERA # 13 – BENNIE MOTEN

21 janeiro 2007


Benjamin "Bennie" Moten nasceu em Kansas City, a 13 novembro de 1893, aprendeu piano com sua mãe, mas ainda criança tocava trombone de válvula em uma banda juvenil.
Em 1918, Moten formou a B. B. & D. Orchestra com o baterista Dude Langford e o vocalista Bailey Hancock. Apesar das letras significarem as iniciais dos fundadores Beenie, Bailey and Dude foi ironicamente conhecida como “big, black and dirty”.
De qualquer forma a banda era um sucesso tocando no Labor Temple um dos principais locais de Kansas.
Em 1922, Moten forma a primeira banda com seu nome, apenas um sexteto e no ano seguinte grava para a Okeh Records acompanhando as vocalistas Ada Brown e Mary Bradford e ainda 2 instrumentais: “Crawdad Blues” e “Elephant’s Wobble” considerados os primeiros registros da escola Kansas City Jazz.
Em 1926 a então Bennie Moten's Kansas City Orchestra ampliada para 10 músicos inicia seus trabalhos para a Victor com vários integrantes do grupo dirigido pelo tubista Walter Page - The Blue Devils. Em 1929 Count Basie deixa os Blue Devils seguido pelo vocalista Jimmy Rushing, do trompetista Hot Lips Page, do saxofonista Ben Webster e do trombonista e guitarrista Eddie Durham, ícones que formariam o núcleo da futura Count Basie Orchestra, após a trágica morte de Moten em abril de 1935 devido a uma extração de amígdalas.
Em pouco tempo de existência a Bennie Moten's Kansas City Orchestra passou a ser a referência do Jazz do meio-oeste norte americano caracterizando-se pela grande influência harmônica dos blues, perpetuando a utilização dos riffs e a flexibilização do ritmo onde os 4 tempos do compasso são expressos de maneira levemente acentuada o que produz um enorme equilíbrio, ou seja o balanço da execução contrastando com a acentuação "two beats" empregada em New Orleans e Chicago. Inegavelmente foi a evolução para o que se chamou de ESCOLA SWING adotada pelas big bands das décadas de 30 e 40 como sendo um Jazz muito dançante.
Em 1928 a banda cria no estúdio da Victor uma de suas grandes execuções reeditando uma gravação de 1924 da canção South que escolhemos para ilustrar esta seção do Museu. Destacam-se Washington ao barítono e Hayes ao trombone com surdina "plunger".

South (Bennie Moten / Thamon Hayes) - Bennie Moten (piano, líder e arranjo), Booker Washington (tp), Ed Lewis (cornet), Harlan Leonard (cl, sa), Laforet Dent (sa), Woodie Walder (cl, st), Jack Washington (sax barítono), Thamon Hayes (tb), Leroy Berry (banjo), Walter Page (tuba) e Willie McWashington (bat).
Gravação original: Victor V-38021-A (mx 42935) – 7/set/1928 - Camden, New Jersey
Fonte: CD - Bennie Moten's Kansas City Orch – 1927–1929 - Classics Jazz (France) – 1994


COLUNA DO LOC

19 janeiro 2007


No JB de hoje, em pauta, o pianista Matt Savage.

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MARATONA LEMBRA ANTÔNIO CARLOS JOBIM

18 janeiro 2007

Habitualmente ouvimos dizer que o povo brasileiro não tem memória. Confesso que esta frase não se aplica a todo mundo, pois nós do CJUB estamos sempre lembrando de músicas e músicos, tendo inclusive como nosso Patrono o grande pianista, compositor e cantor Dick Farney.

Por exemplo, amanhã (19.01.2007) completamos 25 anos sem a presença de Elis Regina, na minha opinião a melhor intérprete brasileira que já ouvi cantar, e que dentre os inúmeros albuns, gravou um com o gaitista belga Jean Toots Thielemans, músico de Jazz que sempre buscou estar em contato com a música brasileira.

Não sei se os jornais irão lembrar a data, contudo em poucos dias estaremos próximos de outra momento importante, que é o dia 25.01.2007 (quinta feira), dia em que Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim estaria completando 80 anos...

Não sei se ocorrerão eventos que lembrem o fato, mas desde já gostaria de divulgar uma maratona musical que ocorrerá no quiosque drink, na Lagoa Rodrigo de Freitas, à partir das 20:00, sem horário previsto de término.

Um trio composto por pelos irmãos Kiko e Alberto Continentino (piano e baixo) e Renato Massa na bateria estará buscando um desafio de tocar 80 temas compostos por Tom, com reforço de ilustres convidados, entre os quais músicos e cantores que merecem destaque, sendo que alguns deles inclusive com diversas participações nos Concertos produzidos pelo CJUB como os baixistas Paulo Russo e Sérgio Barroso.

Além dos baixistas, deveremos ter também a presença do grupo vocal "Os Cariocas", do cantor Peri Ribeiro, e de outros músicos como os bateristas Pascoal Meirelles, Cláuton "Neguinho" Salles e Erivelton Silva, o percussionista e baterista Chico Batera, o guitarrista Nelson Angelo, o trompetista Paulinho Trumpete, e outros músicos que lá poderão aparecer, e que com certeza tranformarão a noite numa autêntica Jam Session.

Como admirador da extensa obra de Tom Jobim e de sua Bossa, dos músicos que nos trazem as emoções e da beleza do Rio de Janeiro, conclamo os admiradores da boa música a estarem na Lagoa na noite de 25.01.2007 (quinta feira) para participarem de uma celebração à boa música, e prestigiarem a idéia do pianista, compositor e arranjador Kiko Continentino.

Beto Kessel

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 4

17 janeiro 2007


DA CERA AO RAIO LASER (1)

Os processos de gravação em áudio surgiram e se desenvolveram em épocas aproximadamente contemporâneas com o próprio nascimento e formação do Jazz. Os primeiros registros de sons em cilindros foram feitos em 1877 por Thomas Edison, contudo só por volta de 1890 apareceram as gravações de música em quantidade comercial e o maior desenvolvimento surgiu em 1902 com as companhias fonográficas Columbia e Victor.
O processo de gravação teve uma importância inestimável para o desenvolvimento, divulgação e refinamento do Jazz.
Um gênero musical com inteira liberdade de criação só poderia ser preservado através de seus registros sonoros.
Assim, o disco fonográfico representou muito mais que uma simples gravação da música, certamente foi também um imperioso motivo para que grande parte dela fosse executada.
Outro aspecto é que os estúdios de gravação proporcionaram aos músicos um local descontraído que não era encontrado nas coxias dos teatros e casas de espetáculos. Quantos e quantos músicos se conheceram ou se falaram apenas em um estúdio de gravadora?
A primeira gravação envolvendo a música de Jazz foi oferecida ao cornetista negro Freddie Keppard (*1890 †1933), entretanto ficou receoso que outros instrumentistas viessem a copiar-lhe o estilo, dado que com tal novidade tecnológica poderia-se repetir sua atuação, o quanto se quisesse, isto foi em 1916. Perdeu assim a música de Jazz a grande oportunidade de ser representada por um autêntico jazzman em sua certidão de nascimento firmada pelo primeiro disco editado sob a chancela de música de Jazz.
Em fins de janeiro de 1917 a Original Dixieland Jass Band foi convidada pela Columbia Gramophone Company para fazer uma gravação no estúdio que se localizava na Broadway em Manhattan. Este grupo formado por rapazes brancos oriundos de New Orleans desde 19 de janeiro de 1916 atuavam com enorme sucesso em Nova York, precisamente no luxuoso Restaurante e Café Reisenweber. Tudo levava a crer em novo grande sucesso agora em disco.
Aconteceu que os técnicos da Colúmbia se espantaram com o tipo de música “hot”, barulhenta até em seus conceitos, acostumados que estavam com suaves conjuntos de cordas e deste modo, não souberam interpretar e avaliar corretamente o que ali fora gravado e as ceras não foram aproveitadas para lançamento comercial, pelo menos na época.
A sessão histórica para o Jazz aconteceu, então, nos estúdios da Victor Talking Machine Company em New York City na tarde de uma segunda-feira a 26 de fevereiro de 1917 sob a responsabilidade técnica de Charles Soy. As músicas eram Livery Stable Blues (Ray Lopez/Yellow Nuñez ) e do outro lado Dixieland Jass Band One Step (J. Russel Robinson/Nick LaRocca/Joe Jordan). O disco foi editado comercialmente a 15 de março com o n° 18.255 vendido ao preço de 75 cents. O sucesso desta música saltitante, ótima para dança foi enorme e as demais companhias seguiram os passos da Victor, como a Edison, Aeolian, Pathé, Okeh, Emerson, Paramount, Gennett e mesmo a Columbia que se recuperou rapidamente do mal passo dado anteriormente.
Contudo, muita coisa passou a ser gravada como Jazz, mas ou de qualidade inferior ou ainda sem a autenticidade requerida, afinal nem todos os músicos possuíam o talento ou mesmo compreendiam o que seria de fato aquela novidade musical.
O destino e desenvolvimento do Jazz a partir das gravações tornou-se inseparável da evolução técnica e comercial da indústria do disco fonográfico.
Entretanto, antes mesmo da popularização do gramofone reproduzindo os sons da voz e dos instrumentos o Jazz teve a chance de se apresentar através do invento da pianola, ou seja um piano que toca sozinho. Tal processo mecânico, patenteado em 1897, é bastante engenhoso e baseia-se nas teclas empurradas por pressão de ar controlada por orifícios em uma bobina de papel à medida que esta se desenrola sobre uma barra como eixo, sendo que, tais orifícios correspondem às notas tocadas no piano.
Pode-se imaginar que uma música assim reproduzida não teria nenhuma dinâmica, seria literalmente mecânica, linear. Ledo engano já que, aperfeiçoamentos posteriores permitiram que glissandos, trêmulos e figuras acentuadas de baixo (mão esquerda) pudessem enriquecer a reprodução dos rolos de pianola. Praticamente todos os pianistas de nome à época gravaram “piano rolls”, (como se chamavam tais bobinas) assim existem ótimos rolos de Eubie Black, Jelly Roll Morton, Fats Waller, James P. Johnson, Clarence Williams, Lucky Roberts, Charles Davenport dentre outros..
Através de edições masterizadas em LP pode-se ainda ter acesso a este fantástico acervo, notadamente os da Biograph Records em sua “piano roll series” editada nos anos 70. Algumas das famosas companhias de “piano rolls” foram a QRS Music Rolls, Vocalstyle Song Roll, Wurlitzer, Mel-O-Dee, Duo Art e Imperial Roll Co.
Com a pianola muitas canções blues, ragtimes e stomps foram apreciadas em salões dos mais refinados difundindo assim, não só os fundamentos da música negra como o próprio piano Jazz. Podemos ouvir um dos criadores da escola stride de piano - Luckey Roberts em rolo gravado em 1913 e a composição do próprio Luckey intitula-se Mo’Lasses uma dança "one step" muito em voga à época.

14/1 - ANIVERSÁRIO DO GUZZ

15 janeiro 2007

Pertinho do Pres. (12/1), nosso mais novo enfant terrible, ma non troppo, o "quietinho" Guzz - responsável por boa parte das novidades tecnológicas do blog, nos últimos tempos - também aniversariou ontem, 14/1.

Parabéns ao nosso editor jr., muito jazz, gsm, e paz ... e que conosco continue por muitos e muitos anos ...

Abs.,

SOM NA CAIXA

Radiola atualizada !

Michael Brecker Quintet com Metheny, Calderazzo, Dave Holland e Johnnete com Cabin Fever;
Keith Jarret at the Blue Note com a versão mais extasiante de Autumn Leaves e seus 26 minutos;
Andrea Pozza meets Enrico Rava numa versão linda de Stormy Weather;
o muito louco Anthony Braxton em seu Charlie Parker's Project com o tema Bebop;
Roy Hargrove em 22 minutos de Roy's Blues, Suiça, abril de 2006, com um
estonteante solo do pianista Orrin Evans;
Brian Bromberg e trio interpretando Bolivia;
no instrumental brasileiro, um momento CJUB com Gilson Peranzzetta no concerto "Peterson por Peranzzetta" interpretando Easy to Love, em 31/05/2005 acompanhado por Paulo Russo e Joao Cortez.

Bom som !

MORRE MICHAEL BRECKER

13 janeiro 2007

Morreu hoje, 13 de janeiro, em Nova York aos 57 anos o saxofonista Michael Brecker, vítima de leucemia.

Brecker vinha lutando muito contra a doença, apesar de mostrar sinais de recuperação ao longo do ano passado.
Lamentável notícia de seu falecimento, uma perda irreparável.

Fez parte da boa geração dos saxofonistas surgidos em meados dos 70' ao lado do irmão trompetista Randy Brecker, fez parte do grupo Steps Ahead, esteve ao lado de grandes nomes como Horace Silver, Herbie Hancock, Chick Corea, Pat Metheny, entre muitos outros, ganhou Grammy, enfim, foi um gigante.

Descanse em paz !

Michael Brecker Solo
Concert for Ray Brown, Jazzbaltica, 2003 e, em seguida, "Tribute do Michael Brecker











JAZZ NO MUNICIPAL


O jornal "O Globo" está lembrando em sua coluna "Há 50 Anos" a realização do "Concêrto de Jazz 1957" no Teatro Municipal. Foi a primeira vez que o Jazz ilngressou naquela casa de espetáculos, graças a Paulo Santos, produtor e apresentador do programa "Em tempo de Jazz", então na Rádio Globo. O evento serviu também para premiar os "Melhores Músicos de 1956" que foram os seguintes : Casé (sa)- Hélio Marino(st)- Aurino(sb)- Maciel(tb)- Julio Barbosa(tp)-
DICK FARNEY (p)- Nestor Campos (g)- Waldir marinho (b)- Rubinho(dm)- DICK FARNEY
(trio)- Hélio Marinho(orq.)- Chuca Chuca (misc.)- DICK FARNEY (O músico do ano).
Estávamos lá e podemos atestar que nosso patrono foi a melhor coisa daquele concêrto, em nível muito acima do que foi apresentado.
llulla

PARABÉNS PRES. - ANIVERSÁRIO DO MAUNAH

12 janeiro 2007

Poderia começar a postagem falando do pouco que ouvimos na última semana do piano de Dom Salvador na Modern Sound (acho que foram apenas 03 temas), ou então do belo espaço concedido ao mesmo Dom Salvador na matéria de Antônio Carlos Miguel, na edição de hoje do Globo...

Enquanto esperamos o lançamento do novo album que trará Sérgio Barroso e Duduka da Fonseca completando o trio com Salvador, aproveito para ratificar (agora por escrito)o Parabéns ao Mau Nah, aniversariante do dia, desejando aquelas coisas boas de sempre...Saúde, Harmonia, Paz e muito JAZZ...

MUSEU DE CERA # 12 – EARL HINES

11 janeiro 2007


Earl Kenneth Hines considerado o primeiro pianista moderno do Jazz. Seu estilo difere daqueles da década de 20 notadamente pelo emprego de ritmos e acentos não usuais até então. Jelly Roll Morton havia definido a direção do Jazz piano no início dos anos 20, mas Hines seguiu outro caminho, aliás um genial caminho.
Nasceu a 28/dez/1903 em Duquesne na Pensilvania herdando a musicalidade da família, mãe organista, pai cornetista e irmã pianista. Começou profissionalmente em 1918 com os Deppe's Seranaders do cantor Louis Deppe, já mostrando ser um vanguardista da "hot music". Em 1923 vai para a meca do Jazz à época Chicago onde trabalha na Erskine Tate's Vendome Orchestra e ainda com Carroll Dickerson. Em 1926 encontra Louis Armstong, se tornam amigos chegando a formarem um trio com o baterista Zutty Singleton.
1928 foi um ano muito produtivo para Hines quando grava seus primeiros 10 solos e ainda passa a formar na Jimmie Noone's Apex Club Orchestra, depois junta-se aos Hot Five e Hot Seven gravando sessões memoráveis de West End Blues, Fireworks, Basin Street Blues e outras. Ainda neste ano monta sua big band estreando no dia de seu aniversário no Grand Terrace de Chicago onde permanece como residente até 1947.
O Museu focaliza nesta seção apenas o grande pianista aquele que se libertou do estilo stride que dominava os tecladistas nos anos 20 e início dos 30. Não que o stride fosse indesejável, pelo contrário, contudo Earl "Fatha" Hines criou algo de novo no horizonte jazzístico, algo chamado de "trumpet-style", assim denominado pela forma melódica semelhante ao trompete, ou seja não baseada em acordes empregando uma nota por vez sustentadas pela mão esquerda em acordes sincopados. Empregava tremolos à guisa de imitar os vibratos do instrumento de sopro. Claro que foi inspirado pelo seu amigo o também genial Armstrong quando atuaram juntos, somando- se a isto o estudo de cornetim quando criança com seu pai.
Acrescente-se que Hines era um excelente e profícuo compositor.
Hines adquiriu o apelido "fatha" dado por um locutor de rádio, sendo uma corruptela da palavra "father", talvez como vínculo de ser acatado o "pai do piano moderno".
Selecionamos um de seus temas em cuja execução podemos notar a fluidez de seu fraseado e o ataque pronunciado, observando também a grande vitalidade na emissão das notas, as divisões e métricas inusitadas dos tempos, inteiramente imprevisíveis.


Stowaway (Earl Hines) solo de piano por Earl Hines – Gravação original: QRS - R-7038 - 8/dez/1928 - Long Island City – New York
Fonte: CD - Piano Man! - Asv / Living Era 5131 – fev/1995 - USA


PRIMEIRÍSSIMA GRAVAÇÃO ORIGINAL PRODUZIDA E LANÇADA PELA MOSAIC RECORDS

Extraído da mais recente newsletter da Mosaic Records, o aguardado lançamento do primeiro álbum NOVO E ORIGINAL por ela produzido, aqui em conjunto com a Blue Note.

Todos sabem do esmero de Michael Cuscuna no tratamento de material jazzístico, sendo ele figura de proa na preservação e desenvolvimento da "música dos músicos", tanto como responsável por relançamentos de álbuns pretéritos quanto produzindo novos trabalhos.

Sua Mosaic Records tem sido o nirvana dos colecionadores de todo o mundo, pelos preciosos boxed sets que compilam a obra (na maioria das vezes completas, para uma ou outra gravadora) tanto dos mais emblemáticos ícones quanto, por vezes, de inúmeros underrated jazzmen. Tudo após espetacular revisão acústica dos masters, sem jamais deles retirar a atmosfera sonora original.

Pois agora é a vez de a Mosaic lançar o primeiro disco sob seu selo próprio. E o feito, claro, não só deve merecer ampla repercussão entre nós, jazzófilos, como, certamente, será um marco na indústria, artística e tecnologicamente, em se tratando de Cuscuna.

O escolhido foi o trompetista Charles Tolliver, músico cuja importância está definida, p. e., por sua simbiótica associação com Andrew Hill, um dos favoritos absolutos do produtor.

Que venham centenas de outros originais da Mosaic e que ela perpetue, a partir deste novo século, sem concessões, os legados de co-irmãs como as inesquecíveis Savoy, Dial, Clef/Norgran/Verve, Blue Note, Impulse, Atlantic, Prestige, Riverside, Contemporary, Columbia e tantas outras, muitas, infelizmente, já desaparecidas.

Eis a reprodução do mail, pulverizado para os que assinam a lista da Mosaic:

"A Mosaic Records First!
New Recording for the Mosaic Records/Blue Note jazz label.

Charles Tolliver Big Band - With Love

Since the inception of Mosaic, we've longed to get involved in recording new music. When we heard Charles Tolliver's newly reformed big band at the Jazz Standard in New York two years ago, something had to be done. And the debut album by this remarkable orchestra is the first album on the jointly produced Mosaic/Blue Note label.

More than 30 years after its two classic Strata-East albums by Tolliver under the banner Music Inc. Orchestra, the Charles Tolliver Big Band has regrouped. Fueled by Tolliver's intricate, original writing and driven by the rhythm team of Cecil McBee and Victor Lewis, the band's soloists include Billy Harper, Craig Handy, Howard Johnson, Stanley Cowell and Robert Glasper among its soloists.

The seven extraordinary Tolliver charts include six originals and an ingenious reworking of Thelonious Monk's "'Round Midnight." This highly unique and exciting music balances intricate lines and harmonies with solid hard bop grooves. The Charles Tolliver Big Band represents the first fresh voice for this instrumentation in a long while and we are delighted to offer this as the first Mosaic Records/Blue Note label release.

TOLLC03 CD Regularly $17.98 - Sale Price for $15.98 (Available Jan. 16th).
"

NEW YORK " THE JAZZ CORNER OF THE WORLD "

10 janeiro 2007

Realmente essa frase do Charlie Parker estampada acima do palco do "Birdland" tem tudo a ver e expressa a mais pura verdade, pois para se ter uma idéia só em Manhattan existem + de 20 "Jazz Club's" ( nós aqui brigando pelo M. Fina !!! ) para citar alguns como; Blue Note, Big Apple, Birdland, Cecil's, Dizzy's Club Coca Cola, Fat Cat, Iridium, Jazz Gallery, Standard, Kitano, Smoke e Village Vanguard, sem falar nos bares, restaurantes e cafes ( 55, Dakar, Joe's, Cornelia, Lenox e Zinc ) ou nos grandes teatros e hotéis como Carnegie Hall, Radio City, Lincoln Center, Carlyle, Alconguim, Rainbow Room e Tribeca Performing Arts etc,etc,etc é uma covardia, poderia ficar aqui apenas listando palcos dessa super cidade onde se toca a melhor musica do mundo e com programação diária e horário diversos, que vão de 12:30 a.m. até as chamadas "late sessions" as 12:00 p.m.
Assim passo agora a relatar minha programação durante esses últimos dias que aí vão :
Comecei no dia 29/12/06, pelo Village Vanguard no encerramento da temporada do CEDAR WALTON TRIO ( foram 2 semanas ) com David Williams ( b ) e Lewis Nash ( ds ) tendo como convidados especiais Vincent Herring ( s ) e Steve Turre ( tb ), sem dúvida uma grande abertura e só para dar inveja ao Maunah, digo que o último tema com direito a bis foi "Ugetsu" @@@@@
Noite seguinte 30/12, fui ao Birdland onde se apresentava GEORGE COLEMAN acompanhado por Harold Mabern ( p ), Ray Drummond ( b ) e Billie Higgins ( ds ) e creio não precisar falar dessa excepcional cosinha, que fizeram " Wave " com quase 20 minutos para fechar em seguida com "New York, New York" uma bem festiva noite.
@@@@
Dia 31 como também não sou de ferro fui ao Times Square romper o ano junto com a tal bola e 1 milhão de pessoas na maior festa de rua dos E.U.A.
Voltando ao jazz e como em toda segunda feira e mesmo no primeiro dia do ano é noite de LES PAUL TRIO no Iridium e sempre com um convidado especial, que foi em 01/01/07 o saxofonista Sadao Watanabe. O que posso dizer é que descobri o pai musical do quase brasileiro John Pizzarelli com uma importante diferença, Les Paul não canta só toca e seu trio composto por John Colliani ( p ) e uma baixista/cantora B. Whitaker que dá de fato um ar diferente e inusitado ao palco, onde praticamente só apresentam standards inclusive alguns temas do nosso cancioneiro como "Aquarela" e "Chovendo na Roseira".
@@@1/2 pois Sadao não merece cotação menor, muito embora tenha tocado não mais que 15 minutos.
Dia 02/01/07 no mais bonito espaço de jazz que conheci o Dizzy's Club Coca Cola, no novo Jazz At Lincoln Center ( Frederic Rose Hall ) , para umas 250 pessoas em mesas ou no amplo bar debruçado sobre o Central Park com 3 janelões de vidro do teto ao piso de táboa corrida e mesmo assim com uma sonoridade e acústica impressionante,pude curtir para mim o verdadeiro sucessor de Parker, qual seja; BOBBY WATSON & HORIZON composto por Ed Simon ( p ) , Essiet Essiet ( b ) , Terell Stafford ( tp ) e Victor Lewis ( ds ), que deram uma verdadeira aula do mais puro "hard bop",com grandes solos e improvisos de total liberdade e muita interação em temas do próprio Watson incluindo "Love Remains" que deixou toda a sala frenética e de pé ao seu final.
@@@@@ com louvor
03/01/07, após a apresentação da noite anterior que por si só valeria a ida a Big Apple, fui ao tradicional Blue Note assistir aos irmãos Marsalis ( Delfeayo e Jason ) sendo DELFEAYO MARSALIS GROUP em tributo ao Elvin Jones, falecido ao término das gravações do último cd do Delfeayo, de que participou chamado "Minions Dominion", a banda formada além de Delfeayo por Jason Marsalis ( ds ), Junior Mance ( p ), Dave Liebman ( ts, ss ) e Edwin Livingston ( b ) , fez um belo concerto com destaques para a interpretação de "What a Wonderfull World" e no encerramento com "Don't Mean a Thing".
@@@@
Para fechar a temporada Nova Iorquina descolei um "Highlights In Jazz" no Tribeca Performing Of Arts Center ( onde se apresentará no mesmo esquema 3 por 1, mes que vem o Trio Da Paz ), que foi aberto as 20:00h "sharp" pelo ERIC ALEXANDER QUINTET, com Mike LeDonne ( p ), Joe Farnsworth ( ds ), Peter Bernstein ( b ) e Grant Stewart ( ts ) , que fez uma honesta e bem aplicada apresentação de um dos mais considerados "young lions" da atualidade.
@@@@
Em seguida também pontualmente e sem intervalo adentrou ao palco as 21:00h, o cada vez mais gordo CYRUS CHESTNUT, com uma soberba aula de piano iniciando de forma solo com "Love Me Tender" para após na compania de George Mraz ( b ) e Lewis Nash ( ds ) encher o teatro com uma musica rica, tensa e de total emoção.
@@@@@
Ao final após o intervalo de 15 minutos o grande homenageado da noite LOU DONALDSON com seu quarteto mágico segundo o próprio, Dr. Lonnie Smith ( org ), John Abercrombie ( g ) e Fukushi Tanaka ( ds ) .
O velho Donaldson antes da apresentação de seus musicos declarou no melhor ingles possível " No Fusion Or Confusion", "No Kenny G Or Najee" , Let's Play Jazz eassim foi desde "Blues Walk", passando por "Alligator Boogaloo" e no bis com "Ornithology" essa junto com Eric Alexander e Grant Stewart, coroando uma grande temporada jazzística, nessa ilha maravilhosa onde até o tempo conspirou a favor.

E VIVA O JAZZ E VIVA NEW YORK !!!

P.S.: Fim do ano tem mais e espero adesões principalmente dos cejubianos.

BOAS NOVAS NO ANO NOVO - "BOSSA NA PRESSÃO", DE HAROLDO MAURO JR., ENTRE OS 10 MELHORES DO ALL ABOUT JAZZ, EM 2006

09 janeiro 2007

Olá amigos,

De volta de curtas férias, recebo uma notícia maravilhosa. Nosso querido Haroldo Mauro Jr. teve seu "Bossa na Pressão", lançamento do selo Delira Música, selecionado entre os 10 melhores CDs de jazz de 2006 pelo renomado site norte americano AllAboutJazz. Haroldo faz bela figura na lista que inclui Chick Corea, Ornette Coleman e Brad Mehldau.

"O disco de Haroldo Mauro Jr. é o mais bonito lançamento de trio do ano..." nas palavras do crítico Dan McClenaghan, que faz também um elogio à qualidade da gravação.

A lista dos "top 10" foi publicada no endereço: http://www.allaboutjazz.com/php/article.php?id=24225

! 2007 promete !

Abraços,

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 3


LINGUAGEM E GRAMÁTICA

A esta simples palavra Jazz deve-se incorporar seu real significado musical e afinal do que se trata? O que é Jazz?
Acontece que há uma verdadeira lenda toda vez que historiadores, críticos e até mesmo músicos se põem a escrever algo que comece por tentar definir ou explicar o que seja Jazz, uma série de divagações até filosóficas...
Existe uma célebre citação que é atribuída ao pianista Fats Waller que ao ter sido interpelado, talvez por uma senhora já idosa sobre o que seria realmente Jazz, Fats teria dito: - “Ora, se a senhora até hoje não sabe será muito difícil que vá compreender agora!”.
Se tal episódio possuir o mais leve fundo de verdade, entende-se que Fats quis dizer ser o Jazz uma arte que sensibiliza, que emociona independente de qualquer significado ou explicação didática ou filosófica. É possível que essa seja a melhor definição, nada acadêmica mas sentimental.
Mesmo sem uma definição formal pode-se avaliar e sentir que o Jazz prima por uma linguagem particular, uma gramática própria que apesar de estar sempre em evolução ou apenas em mutação não se permite que seja atribuída como Jazz qualquer interpretação mesmo que apresente alguma forma de improvisação ou levada apenas em um ritmo suingado.
Assim, já encontramos de tudo quanto se possa imaginar titulado como sendo Jazz e talvez os maiores culpados sejam os próprios produtores principalmente dos festivais que impõem uma série de apresentações, mas que nada têm de Jazz apenas como justificativa de que há improvisação visando exclusivamente o apelo comercial.
Ah... improvisou? bem, então é Jazz e mesmo assim, são bastante questionáveis as ditas improvisações, porque baseado neste conceito, já nos foram impostas coisas do tipo: violoncelo imitando cuíca depois com ajuda de bateria de escola de samba, grupo de lambada e axé, sanfoneiro, conjunto de chorinho que aliás insistem em dizer que é o Jazz brasileiro, enfim manifestações boas ou ruins mas que devem ser postas cada uma em seu devido lugar.
De qualquer forma, não fugindo ao academicismo, o certo é que Jazz designa um gênero de música criado pelos negros dos EUA, a partir do início do século XX, tendo como raízes as tradições musicais do africano ocidental, seguindo-se um processo de aculturação afro-euro-americana que durou todo o período da escravatura, cerca de 200 anos e no qual importantes transformações ocorreram na música negra religiosa e profana. Tais modificações incluem fusões com a cultura musical de origem européia surgindo, então, três segmentos cujas principais características antecederam o Jazz quais sejam: o spiritual, o blues e o ragtime.
Estes elementos amalgamados convergiram para uma forma ou maneira de expressão e criação musical a que se denominou de Jazz. Sua linguagem artística, assim, se traduz por um intenso espírito negróide, personificado pela gramática que inclui suingue, beat, drive, feeling, sonoridade, ataque, enfim elementos que vêm caracterizar o vigor, a garra e a força impulsiva na maneira de tocar, notadamente sua intensidade rítmica, porém referindo-se sempre ao emprego do emocional em uma interpretação. Aliado a isto tudo vem a improvisação característica fundamental da música de Jazz sendo comumente mal interpretada pelo público leigo e, até mesmo por aficionados, no sentido de que todo solo seja uma execução improvisada.
Improvisar na música não é uma invenção momentânea, repentista, seu sentido é muito mais amplo e vem significar a liberdade de criação do músico solista quando usa seu talento para se expressar livremente, melódica e harmonicamente sobre uma base pré-definida em uma composição dele próprio ou não. Improvisa choruses dentro de sua concepção expontânea e que podem até ser criados no momento, mas de uma forma geral são organizados, trabalhados "a priori". Por vezes apenas algumas ornamentações e clichés são introduzidos. Naturalmente, este talento para desenvolver um solo improvisado com maior criatividade musical é que denota um grande músico de Jazz.
Modernamente é costume se titular de Jazz qualquer coisa, principalmente para se auferir de um certo "status" que o gênero musical é possuidor, enfim é um "must" intelectual gostar de Jazz, tocar Jazz, frequentar locais em que se executa Jazz (mesmo sem ouví-lo) ou ainda formas de pseudo Jazz. Também há de se notar que outros gêneros musicais que possuem algum tipo de liberdade ou mesmo de improvisação não são obrigatoriamente Jazz, ou mesmo nada têm a haver como é o caso do nosso chorinho.
E a Bossa Nova? Bem... foi sem dúvida a maior contribuição estrangeira à linguagem do Jazz. Praticamente todos os grandes músicos do Jazz tocaram, em algum momento Bossa Nova com diferentes níveis de interpretação. Alguns, incorporaram definitivamente o estilo ao seu repertório, outros flertaram por algum tempo e a levada brasileira, sincopada e sutil deixa marcas indeléveis na história do Jazz num interessante efeito "boomerang" já que, na verdade, fechava-se um circuito em que o samba original, alimentado por harmonias e instrumentação jazzísticas, gera ou influe grandemente na Bossa Nova, que por sua vez passa a influenciar fortemente o Jazz dos anos 60 até hoje.

BOAS NOVAS ANTIGAS

Na caixa postal, hoje, uma mensagem do sempre gentil e competente Maestro Vittor Santos, dando conta de suas atividades e dizendo que entrou em estúdio ontem para ultimar sua participação no CD "Standards", cuja mixagem já se inicia amanhã. Teve como companheiros um timaço de feras composto por Vitor Gonçalves, Cristina Bhering, Daniel Santiago, Gabriel Improta, Fernando Clark, Ricardo Silveira, Rodrigo Villa, Márcio Bahia e Cássio Cunha, e disse também que a interação de todos com as cordas e outros instrumentos virtuais funcionou muito bem. E, ainda, que vai gravar com Hamilton de Holanda uma versão de "My Funny Valentine" na próxima semana.

Nem precisa dizer, é um disco para se deixar reservadas tanto a cópia quanto a grana para pagá-la, desde já. Vittor, Primeirão!

Modesto, como é característica dos grandes, envia link para um artigo de Jim Santella, no site All About Jazz, sobre seu CD Renewed Impressions. Mais elogioso e justo com Vittor, alçado à categoria de outros papas do instrumento, impossível.

Que Vittor é um craque, já sabíamos. A repercussão de seu talento no exterior, nos termos vazados, é que foi a boa novidade.

Leiam vocês mesmos clicando na imagem ao lado.

UM SOLO PARA STELLA

08 janeiro 2007

Diego Figueiredo é paulista, tem 26 anos e já mostrou que tem talento de sobra e, o mais importante, uma grande afinidade com a linguagem do jazz.
Conheci sua música no Festival Visa de Música Instrumental de 2001 quando levou o segundo lugar interpretando Jobim Brigas Nunca Mais. (Naquele ano quem levou o prêmio foi Yamandu Costa com Brejeiro)

Em um concerto solo exibido pela TV Camara em junho de 2006, Diego interpretou de forma brilhante um standard que, particularmente, acho belíssimo - Stella By Starlight.
Uma interpretação digna de um grande guitarrista, recheada de chord melody, walking bass e arpejos arrematados por improvisos pontuais muito bem aplicados.

Vale conferir !



HISTÓRIAS DO JAZZ – Nº 18

O “enterro” de Helen Merrill

A principal figura dessa história é Helio “Saturday”, que ostenta esse apelido em razão de um clube que teve em sua casa, que funcionava todos os sábados reunindo rapazes e moças para ouvir e dançar a boa música. Era organizado e segundo soube até eleições para “Rainha do Saturday” foram realizadas . Infelizmente, com o falecimento do pai de Hélio, o clube fechou suas portas. Nessa época é que o conheci na casa de Mr. Jones, um pouco antes de fundarmos o “Clube dos Saúvas”.

Hélio tinha algumas convicções diferentes do normal. Não tinha discoteca. Os discos que comprava ficavam em seu poder no máximo quinze dias, prazo para ele passá-los adiante. Gabava-se também de ser um farejador de sucessos e nisso, em parte, tinha razão.
Comprei dele um 78” que tinha o “Port of Rico” com Illinois Jacquet acompanhado por Count Basie ao órgão e que até a chegada do CD correspondente, mantive como relíquia.

A primeira vez que ouvi “Everyday” com Joe Williams e a orquestra de Basie foi através de outro 78”, mostrado por ele, cuja música ocupava os dois lados do disco. Conforme suas convicções, aquilo seria um “sucesso”, o que realmente aconteceu.

Certa ocasião estávamos reunidos na casa de Mr. Jones quando ele chegou sorrindo, dizendo que trazia o “disco de ouro”, um autêntico “cinco estrelas”. Fez uma “mise en scene” digna de um Hitchcock. Abriu o envelope lentamente, colocou a capa do disco sobre um móvel e deslocou um foco de luz do abajur sobre a mesma. Só então vimos o LP da Emarcy, da cantora Helen Merrill, até então desconhecida por nós. Pediu atenção para o que iríamos ouvir, fez-se silêncio e o “What’s New?” penetrou nos ouvidos de todos nós. No solo de Clifford Brown surgiram os primeiros comentários elogiosos. Todos concordaram, o disco era realmente sensacional e eu logo ocupei o primeiro lugar na fila esperando a “desova” quinzenal de Hélio. Foi então que Paulo Santos comunicava pelo seu “Em tempo de Jazz” da rádio MEC que realizaria um concurso entre os ouvintes, premiando aqueles que levassem as melhores gravações de vocal feminino. O concurso seria apreciado por um juri integrado por críticos e jornalistas especializados.
Hélio não titubeou. Precisava se preparar para o evento com pompa e circunstância. Foi a uma marcenaria e mandou fazer uma caixa de madeira que serviria como estojo para o LP de Helen Merrill. Pronta, exibiu-a com orgulho para todos. Pintada de preto com fecho e dobradiças douradas, realmente fazia vista.
Chegou o dia do concurso, um sábado a tarde e lá fomos nós incorporados para a radio MEC, participar e assistir aquela novidade absoluta. A convicção da maioria é que Helen Merrill ganharia fácil. O juri foi integrado por Sylvio Tullio Cardoso (O Globo), Ary Vasconcellos (revista O Cruzeiro) e Eduardo Silveira (Tribuna da Imprensa).
Curiosamente, surgiram mais torcedores de Helen Merrill, entre eles, Jo Soares.
As gravações se sucediam e os comentários continuavam favoráveis a Helen Merrill cujo disco foi o único aplaudido depois de tocado.
Terminada a última gravação concorrente, o júri reunido apresentou a lista dos vencedores. Em primeiro lugar, “Tenderly” por Billie Holiday (nosso disco); segundo lugar, “Come Rain or Come Shine” por Sarah Vaughan (um 78” levado por um ouvinte chamado Fernando); em terceiro, “Lullaby of Birdland” por Ella Fitzgerald (do ouvinte Henrique Fernando); em quarto, “After You’ve Gone” por Dinah Washington (do ouvinte José Carlos); em quinto, “I’ll Remember April” por June Christy (ouvinte não identificado) e finalmente “What’s New” por Helen Merrill (do nosso Saturday), seguindo-se outros menos votados.
Confraternização, entrega de prêmios ( o meu foi um litro de Ron Merino) e a volta para Niterói. Para tanto pegamos o velho 66 (Tijuca), rumo à Praça Quinze. No trajeto, Hélio se queixou comigo: “Poxa Lula, o sexto lugar foi uma tremenda injustiça. O chato é que até estojo eu mandei fazer para levar o disco.”
Ao que respondi: Ora, Hélio, estojo preto com fecho e dobradiças douradas foi o caixão que você levou para o enterro da Helen Merrill. E arrematei : Mas, compro o disco!
Cortou relações ...

JAZZ – COMO ENTENDER ?

São freqüentes as discussões sobre a arte do Jazz.
Participei de alguns grupos e observei a ansiedade de muitos em querer “saber tudo “ sobre a matéria. Entretanto, nem sempre o que “sabiam” tinha interesse maior para aqueles que realmente apreciam a arte. E isso o saudoso Henrique Pongetti mostrou com sabedoria em sua coluna “O show da cidade” que “O Globo” publicava na saudosa década de cinqüenta. À sua apreciação:

HISTÓRIAS DO JAZZ – N° 17

03 janeiro 2007


Encontros com Stan Getz

Foram três as ocasiões em que estive com Stan Getz, procurando as chamadas “informações importantes” que nem sempre constam dos livros.

Primeiro Encontro
A primeira foi em 23 de setembro de 1976, quando se apresentou no Teatro João Caetano acompanhado por Joanne Brackeen (p)-Clint Houston (b) e Billy Hart (dm). Como convidado teve o percussionista Ray Armando e como “bicão” o seu filho Steve Getz, canhoto e mau baterista. Nosso diálogo foi curto e grosso sublinhado com a frase “I hate the past”. Autografou a “Jazz Encyclopedia” com manifesta má vontade e sumiu nos bastidores. Nossa conversa aconteceu com a pianista Joanne Brackeen já com a carreira deslanchando e alguns discos gravados. Tive a sorte de também conhecer Norman Granz que não se opôs a autografar nossa enciclopédia. E ficamos nisso.

Segundo Encontro
Nosso segundo encontro ocorreu em 1980, durante a realização de segundo Festival Internacional de Jazz São Paulo/Montreux”. Nem me lembro com quem tocou e confesso que não me interessei muito pela sua apresentação. Entretanto, a CBS por intermédio de Arlindo Coutinho preparou uma “press conference” na beira da piscina, pela manhã, com as mordomias oferecidas pelo Hotel Eldorado/Higienópolis: sucos, frutas da estação, chá e café.
Chegaram alguns jornalistas e o que mais me chamou a atenção foi um “robusto” rapaz, vestido com uma túnica branca como se fosse um árabe que , com trejeitos anunciava o que iria perguntar. Dizia que ia “arrasar” indagando sobre o relacionamento de Getz com Astrud, ao mesmo tempo em que afirmava que se não fosse a Bossa Nova, Getz estaria encalhado. Falava e gesticulava revirando os olhos e se algum maranhense o visse certamente o chamaria de “qualira”. Após as primeiras perguntas Getz pediu licença, foi para a piscina, mergulhou, nadou e voltou para a mesa com expressa má vontade. Fiz então a minha primeira pergunta. Se lembrava de uma gravação que fizera para a Prestige com o pseudônimo de Sven Coolson ao lado de Jimmy Raney, Hall Overton, Red Mitchell e Frank Isola. E mencionei as quatro faixas : “Motion”, “Lee”, “Signal” e “Round about midnight”. Arregalou os olhos e delicadamente começou a dialogar, explicando que o pseudônimo fora usado em razão de contrato com outra gravadora. Perguntei qual o disco que mais gostava entre as suas gravações e a resposta me impactou : “FOCUS” . Ia questionar sobre a qualidade jazzística do álbum mas, além do meu péssimo inglês seria uma idiotice discutir com o “mestre”.
Na medida em que a conversa se estendia ,Getz me pegou pelo braço e vagarosamente deixamos a mesa, transformando a “press conference” em diálogo. Reclamava muito das perguntas que os jornalistas lhe faziam, sempre abordando “bossa nova”, João Gilberto, Astrud etc. Sobre sua carreira nada. Ao saber que eu estivera na véspera com Jimmy Rowles perguntou preocupado se ele bebera. “Jimmy não pode botar uma gota de álcool na boca.”. Informei que o pianista bebera apenas uma cerveja. Engrenei então a pergunta que mais agradou ao saxofonista:
O que achara do álbum “The Peacocks”, gravado com Rowles, récem lançado no Brasil ?
Mais uma vez exaltou a arte de Rowles como pianista e compositor e aproveitou a oportunidade para saber se a CBS poderia lhe ceder uns dez exemplares. Coutinho, ciente da solicitação providenciou com urgência .Tiramos uma foto e no dia seguinte nos despedimos, não sem antes Getz agradecer os discos que recebera e autografar um dos exemplares para nós.

Terceiro Encontro
Aconteceu meses depois quando o jornal anunciou apresentações do quinteto de Getz no Caesar Park Hotel nos dias 11,12,13 e 14 de setembro. Cláudia Fialho, gentil como sempre, nos enviou convite para a “press conference” e obviamente para a estréia na noite seguinte. A entrevista coletiva foi um desastre pois as perguntas se repetiam “ad nausean”. Getz levantou-se mau humorado e ia se retirar quando foi abordado por alguém que, tendo ao lado uma “cantora” , pediu um particular. Getz acedeu mas, em poucos minutos, aos berros ,expulsava do recinto o famoso alguém, o “ tribuno,” o “jazz educator”, que saiu com o rabo entre as pernas levando a reboque a “cantora”.Disseram que queria colocar a mesma no show ..
A estréia no dia seguinte foi excelente. O grupo de Getz era integrado por jovens músicos,Michel Forman(p)- Chuck Loeb(g)- Todd Coolman(b) e Mike Hynn(dm). Ficamos em mesa privilegiada junto ao palco eu, o casal Arlindo Coutinho e Monica, esposa de Getz, que inclusive identificou alguns temas para nós. A surpresa foi a chegada de Wayne Shorter que deu uma canja, meio desajeitada, usando o soprano de Getz. Terminado o show Getz veio para a mesa onde começou a desarmar seu sax. Tirou a palheta, autografou e deu de presente para Coutinho.
E então declarou: Há muito tempo eu não toco em um lugar tão agradável. Um som perfeito, uma platéia atenta e uma formidável integração. Tocar em festival é ótimo pois ganhamos dinheiro, gozamos férias , conhecemos novos lugares, mas, tocamos profissionalmente, sem muita preocupação. E nada mais foi dito nem perguntado.

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 2

02 janeiro 2007

JOTA, A, ÉSSE, ÉSSE

A origem da palavra jazz, inicialmente escrita com "s" - da forma JASS, possui várias versões, umas até bem fantasiosas, contudo das mais plausíveis, de acordo com muitos pesquisadores, é a de que tenha se originado do verbo em francês-creole JASER que possuía 2 significados: um como apressar, acelerar e outro com conotação sexual e, talvez como gíria, sendo usado pelas prostitutas de New Orleans da maneira - allez-vous jaser? algo como - vamos transar? Parece que a expressão foi aplicada à música "hot" que passou a ser tocada nos bordéis e cabarés do mal afamado distrito de Storyville, sendo referida em certa época como “musique pour jaser”. Por sucessivas transformações chegou ao inglês como “jass music” que soaria melhor para os norte-americanos se fosse escrita com a letra "z", já que o som era “djazi”. Bem ... o certo é que esta suposta versão da origem do termo jazz é até certo ponto corroborada pela declaração do pianista Eubie Black (1863-1963) de que jamais pronunciara a palavra jazz na frente de senhoras, dizia: - “a música que toco é o ragtime, stomp e blues”
Outra teoria plausível para a etimologia da palavra jazz é de que tenha se originado do termo JASBO. No início dos minstrel shows por volta de 1840 havia um Mr. Jasbo exímio dançarino especialista no cakewalk e seu nome teria designado também a música sincopada que empregava em suas apresentações. Como aconteceu com muitas palavras a sílaba final teria sido eliminada (apócope) passando a ser conhecida por jas depois jass e finalmente jazz.
Há também uma corrente etimológica que tenta atribuir a origem de jass ao vocábulo irlandês teas o qual seria pronunciado em inglês-americano como - t'as, chas ou jass, significando calor, excitação, alto espírito, entusiasmo e por associação teria passado à música sincopada.
Disto tudo, a realidade é que jamais saberemos a verdade!
Tom Brown, trombonista e líder de uma orquestra branca de New Orleans, afirma ter sido quem usou pela primeira vez a palavra jass, com referência ao tipo de música que apresentou em 1916 no Lamb's Cale de Chicago, entretanto no jornal de São Francisco The Bulletin de 6/março/1913 a palavra jazz (assim mesmo com "z") aparece várias vezes com referência não só à música sincopada mas também com sentido de entusiasmo, seria uma jass music ou "música de bordel" ? Tudo indica ter sido esta a primeira vez que a palavra foi usada com conotação à música.
A primeira notícia que se tem da palavra ter aparecido escrita em algo com maior significado musical foi em 1916 quando um grupo de rapazes brancos de New Orleans formaram um quinteto e o nome escolhido foi Original Dixieland Jass Band. O que podemos supor é que usaram jass em vez de jazz talvez de uma maneira jocosa já que desde 1913 jazz era escrito com "z".
A palavra jazz não designou logo a música criada pelos negros norte-americanos. O gênero sincopado e saltitante – "hot" - oriundo do sul foi por muito tempo designado por STOMP - em inglês “to stomp” significando marchar cadenceado ou dançar com passos duros, passou curiosamente a ser empregado o seu substantivo como referência próxima ao swing. O termo stomp nos anos 20 designava simplesmente uma música sincopada, sendo ou não especificamente Jazz. É muito comum encontrar em anúncios de espetáculos da época que determinado músico iria executar ragtimes, blues e stomps.
A expressão FOX-TROT também foi largamente empregada, principalmente na Era do Jazz (década de 20), inicialmente designando os passos de uma dança, a quase totalidade dos discos de música de Jazz vinham estampados no selo a classificação fox-trot e, em se tratando de baladas, lia-se slow-fox.
Uma expressão também criada na década de 20 procurava traduzir os novos costumes e as idéias em moda a partir da 1ª Guerra Mundial, época de grande transição social dado aos efeitos da guerra e assim o posicionamento da sociedade era tido como NOVELTY tanto nas artes como no comportamento social do povo norte-americano e europeu.
A Era do Jazz não fugiu às NOVELTIES e várias etiquetas de discos como das bandas de Fletcher Henderson, King Oliver, Clarence Williams, Paul Whiteman e outros... classificavam a música como sendo NOVELTY. Muitas bandas incluíram o vocábulo em seu título como a Jimmy Durante's Jazz and Novelty, Billy Arnold's American Novelty Jazz, Supreme Novelty Orchestra do banjoista Jim Coker, The International Novelty Orchestra do cantor Billy Murray e outras...

ANO NOVO, RADIOLA ATUALIZADA

01 janeiro 2007

E para iniciarmos o ano, um tema belíssimo de Mancini - Moon River - aqui interpretada pelo então menino Sergio Salvatore, acompanhado por John Pattitucci e Peter Erskine;

o contrabaixista Curtis Counce em uma balada de quebrar gelo, La Rue - com Gerald Wilson trumpete, Harold Land tenor, Carl Perkins piano e Frank Butler bateria;

Michel Legrand arrasador em The Grand Brown Man, 1968, ao lado de Ray Brown contrabaixo e Shelly Mane bateria;

apesar de seus últimos trabalhos estarem no mundo do rap-hip-fusion-seiláoque Joshua Redman sabe das coisas, aqui ao vivo no Village Vanguard, 1995, o tema Herbs and Roots ao lado de Peter Martin piano, Christopher Thomas contrabaixo e Brian Blade bateria;

o guitarrista Richie Hart em seu tributo a Wes e o tema Bebop Revisited, ao lado de Ron Carter contrabaixo, Lonnie Smith piano e Kenny Washington bateria;

WDR Big Band em tributo ao pianista Francy Boland, Alemanha, 1995 - No Sax End;

no instrumental brasileiro, o último trabalho do trombonista Raul de Souza, o tema é St Remy.

Bom som !