As gravações em disco foram editadas no que se apelidou de “bolachas pretas” inicialmente de 10 polegadas a 78 rotações por minuto e cuja característica intrínseca eram os fatídicos 3 minutos e meio de duração máxima de cada lado. Ora, dissemos fatídicos porque os músicos e arranjadores tinham que se virar para conseguirem se expressar naquele tempo exíguo e pior ainda para os de Jazz com inteira liberdade de criação, porém limitados, mesmo assim, maravilhas foram perpetuadas.
A companhia Blue Note Records usou por vezes os discos com 12pol ampliando o tempo para cerca de 6 minutos. Muitas gravações foram feitas usando os dois lados de um disco como Empty Bed Blues (1928) de Bessie Smith, Anvil Chorus I e II (1940) de Glenn Miller, Reminiscin’ In Tempo I, II, III e IV (1935) de Ellington em 4 faces! e muitas outras... Mas a quebra da emoção no processo de interrupção para a troca de lado por vezes era fatal.
Outro fato que toliu bastante o músico foi o processo de gravação que até 1925 era inteiramente acústico, não havia microfones nem amplificação elétrica e a captação do som se fazia através de uma enorme corneta cônica e o registro se dava por meio de uma agulha acoplada a um diafragma no final do funil da corneta. As ondas sonoras captadas pela tal corneta faziam vibrar o diafragma que por sua vez vibrava a agulha metálica que riscava um disco de cera girando na velocidade de 78 rpm. Após o que, era recoberto com laca para endurecer e depois fundida uma matriz de metal para posterior prensagem a quente das “bolachas” fabricadas com goma laca na cor preta.
Percebe-se logo que existiam enormes problemas de captação dos instrumentos, já que os sons emitidos além de possuírem uma vasta gama de frequências que o processo limitava a uma faixa de apenas 250 a 2.500Hz, (atualmente a faixa é de 20 a 20.000Hz). Lidava-se ainda com diferentes intensidades e, muito importante, com o volume sonoro relacionado à quantidade de massa de ar deslocada pelo instrumento, uma vez que o fluxo de ar é que iria mover a agulha. Assim, por exemplo: o contrabaixo de cordas tem alguma intensidade e volume de ar muito pequeno; a tuba possui intensidade pequena e grande volume; o clarinete de som agudo de grande intensidade mas pouca massa sonora e de características semelhantes também o cornetim, já o trombone talvez fosse o de melhor compromisso entre intensidade e massa de ar. O piano era de difícil captação pela forma como emite o som e se prestarmos atenção às gravações verificamos que se limitam a 2 oitavas apenas já que as frequências mais altas e mais baixas não eram captadas (só para lembrar o piano possui 7 oitavas). A bateria era grandemente sacrificada e usavam-se os pratos apesar do som ser reproduzido muito seco devido à limitação das frequências altas, empregava-se também o woodblock (bloco de madeira) de boa reprodução e o bumbo por vezes parecia um tiro de canhão.
Babby Dodds, um baterista dos pioneiros somente após a gravação elétrica teve reconhecido seu potencial com o instrumento.
Uma sessão de gravação era bastante complicada e geralmente eram feitos vários testes com a banda, marcando-se no chão a posição dos músicos de acordo com os instrumentos que participavam, com o arranjo e solos, e assim fazía-se a distribuição em relação à distância da corneta e se tal ordem não fosse estabelecida o som poderia embaralhar, algum instrumento sumir ou ainda, devido a um maior volume de som a agulha saltar na cera estragando tudo.
Finalmente a tecnologia deu um enorme salto com a gravação por processo elétrico criado pelos inventores Henry C. Harrison e Joseph P. Maxfield da Western Electric, ampliando-se a faixa de frequências para 50 a 6.000Hz. O primeiro disco gravado por este processo e editado comercialmente foi lançado em fevereiro de 1925 pela Columbia, com a canção You May Be Lonesome (Col-328-D) com o cantor e pianista Art Gillham (*1895 †1961) que atuava nos teatros de vaudeville sendo conhecido como The Whispering Pianist, antes de gravar para a Columbia possuía uma pequena banda de Jazz a Art Gillham's Southland Syncopators. Gillham convidado para testar o uso de microfone recebeu um "bonus" de US$1,000 da Columbia, também muito interessada nas transmissões de rádio. Não obstante, em janeiro do mesmo ano houve o lançamento pela Gennett (#5592) da cantora de blues Kitty Irvin em uma versão de Copenhagen que talvez tenha sido gravada também pelo novo processo. Dissemos talvez, porque várias companhias fonográficas pagaram a patente e iniciaram as gravações elétricas e os lançamentos comerciais ficaram meio confusos de se saber de quem ou quando era editado um novo produto, já que uns escreviam no selo outros não. Havia um certo receio quanto à
divulgação da nova tecnologia já que o fonógrafo elétrico, também uma novidade, só se popularizaria em 1926 e a maioria dos discos gravados eletricamente ainda eram reproduzidos em gramofones acústicos e uma vez que a diferença era quase imperceptível o resultado não era dos melhores o que poderia prejudicar o crédito no novo processo e conseqüentemente as vendas.
Para ilustrar esta promissora era tecnológica que se iniciava podemos ouvir trechos das gravações de Kitty Irvin da Gennett e de Art Gillham da Columbia.
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