Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 3

09 janeiro 2007


LINGUAGEM E GRAMÁTICA

A esta simples palavra Jazz deve-se incorporar seu real significado musical e afinal do que se trata? O que é Jazz?
Acontece que há uma verdadeira lenda toda vez que historiadores, críticos e até mesmo músicos se põem a escrever algo que comece por tentar definir ou explicar o que seja Jazz, uma série de divagações até filosóficas...
Existe uma célebre citação que é atribuída ao pianista Fats Waller que ao ter sido interpelado, talvez por uma senhora já idosa sobre o que seria realmente Jazz, Fats teria dito: - “Ora, se a senhora até hoje não sabe será muito difícil que vá compreender agora!”.
Se tal episódio possuir o mais leve fundo de verdade, entende-se que Fats quis dizer ser o Jazz uma arte que sensibiliza, que emociona independente de qualquer significado ou explicação didática ou filosófica. É possível que essa seja a melhor definição, nada acadêmica mas sentimental.
Mesmo sem uma definição formal pode-se avaliar e sentir que o Jazz prima por uma linguagem particular, uma gramática própria que apesar de estar sempre em evolução ou apenas em mutação não se permite que seja atribuída como Jazz qualquer interpretação mesmo que apresente alguma forma de improvisação ou levada apenas em um ritmo suingado.
Assim, já encontramos de tudo quanto se possa imaginar titulado como sendo Jazz e talvez os maiores culpados sejam os próprios produtores principalmente dos festivais que impõem uma série de apresentações, mas que nada têm de Jazz apenas como justificativa de que há improvisação visando exclusivamente o apelo comercial.
Ah... improvisou? bem, então é Jazz e mesmo assim, são bastante questionáveis as ditas improvisações, porque baseado neste conceito, já nos foram impostas coisas do tipo: violoncelo imitando cuíca depois com ajuda de bateria de escola de samba, grupo de lambada e axé, sanfoneiro, conjunto de chorinho que aliás insistem em dizer que é o Jazz brasileiro, enfim manifestações boas ou ruins mas que devem ser postas cada uma em seu devido lugar.
De qualquer forma, não fugindo ao academicismo, o certo é que Jazz designa um gênero de música criado pelos negros dos EUA, a partir do início do século XX, tendo como raízes as tradições musicais do africano ocidental, seguindo-se um processo de aculturação afro-euro-americana que durou todo o período da escravatura, cerca de 200 anos e no qual importantes transformações ocorreram na música negra religiosa e profana. Tais modificações incluem fusões com a cultura musical de origem européia surgindo, então, três segmentos cujas principais características antecederam o Jazz quais sejam: o spiritual, o blues e o ragtime.
Estes elementos amalgamados convergiram para uma forma ou maneira de expressão e criação musical a que se denominou de Jazz. Sua linguagem artística, assim, se traduz por um intenso espírito negróide, personificado pela gramática que inclui suingue, beat, drive, feeling, sonoridade, ataque, enfim elementos que vêm caracterizar o vigor, a garra e a força impulsiva na maneira de tocar, notadamente sua intensidade rítmica, porém referindo-se sempre ao emprego do emocional em uma interpretação. Aliado a isto tudo vem a improvisação característica fundamental da música de Jazz sendo comumente mal interpretada pelo público leigo e, até mesmo por aficionados, no sentido de que todo solo seja uma execução improvisada.
Improvisar na música não é uma invenção momentânea, repentista, seu sentido é muito mais amplo e vem significar a liberdade de criação do músico solista quando usa seu talento para se expressar livremente, melódica e harmonicamente sobre uma base pré-definida em uma composição dele próprio ou não. Improvisa choruses dentro de sua concepção expontânea e que podem até ser criados no momento, mas de uma forma geral são organizados, trabalhados "a priori". Por vezes apenas algumas ornamentações e clichés são introduzidos. Naturalmente, este talento para desenvolver um solo improvisado com maior criatividade musical é que denota um grande músico de Jazz.
Modernamente é costume se titular de Jazz qualquer coisa, principalmente para se auferir de um certo "status" que o gênero musical é possuidor, enfim é um "must" intelectual gostar de Jazz, tocar Jazz, frequentar locais em que se executa Jazz (mesmo sem ouví-lo) ou ainda formas de pseudo Jazz. Também há de se notar que outros gêneros musicais que possuem algum tipo de liberdade ou mesmo de improvisação não são obrigatoriamente Jazz, ou mesmo nada têm a haver como é o caso do nosso chorinho.
E a Bossa Nova? Bem... foi sem dúvida a maior contribuição estrangeira à linguagem do Jazz. Praticamente todos os grandes músicos do Jazz tocaram, em algum momento Bossa Nova com diferentes níveis de interpretação. Alguns, incorporaram definitivamente o estilo ao seu repertório, outros flertaram por algum tempo e a levada brasileira, sincopada e sutil deixa marcas indeléveis na história do Jazz num interessante efeito "boomerang" já que, na verdade, fechava-se um circuito em que o samba original, alimentado por harmonias e instrumentação jazzísticas, gera ou influe grandemente na Bossa Nova, que por sua vez passa a influenciar fortemente o Jazz dos anos 60 até hoje.

Nenhum comentário: