Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HISTÓRIAS DO JAZZ – Nº 18

08 janeiro 2007

O “enterro” de Helen Merrill

A principal figura dessa história é Helio “Saturday”, que ostenta esse apelido em razão de um clube que teve em sua casa, que funcionava todos os sábados reunindo rapazes e moças para ouvir e dançar a boa música. Era organizado e segundo soube até eleições para “Rainha do Saturday” foram realizadas . Infelizmente, com o falecimento do pai de Hélio, o clube fechou suas portas. Nessa época é que o conheci na casa de Mr. Jones, um pouco antes de fundarmos o “Clube dos Saúvas”.

Hélio tinha algumas convicções diferentes do normal. Não tinha discoteca. Os discos que comprava ficavam em seu poder no máximo quinze dias, prazo para ele passá-los adiante. Gabava-se também de ser um farejador de sucessos e nisso, em parte, tinha razão.
Comprei dele um 78” que tinha o “Port of Rico” com Illinois Jacquet acompanhado por Count Basie ao órgão e que até a chegada do CD correspondente, mantive como relíquia.

A primeira vez que ouvi “Everyday” com Joe Williams e a orquestra de Basie foi através de outro 78”, mostrado por ele, cuja música ocupava os dois lados do disco. Conforme suas convicções, aquilo seria um “sucesso”, o que realmente aconteceu.

Certa ocasião estávamos reunidos na casa de Mr. Jones quando ele chegou sorrindo, dizendo que trazia o “disco de ouro”, um autêntico “cinco estrelas”. Fez uma “mise en scene” digna de um Hitchcock. Abriu o envelope lentamente, colocou a capa do disco sobre um móvel e deslocou um foco de luz do abajur sobre a mesma. Só então vimos o LP da Emarcy, da cantora Helen Merrill, até então desconhecida por nós. Pediu atenção para o que iríamos ouvir, fez-se silêncio e o “What’s New?” penetrou nos ouvidos de todos nós. No solo de Clifford Brown surgiram os primeiros comentários elogiosos. Todos concordaram, o disco era realmente sensacional e eu logo ocupei o primeiro lugar na fila esperando a “desova” quinzenal de Hélio. Foi então que Paulo Santos comunicava pelo seu “Em tempo de Jazz” da rádio MEC que realizaria um concurso entre os ouvintes, premiando aqueles que levassem as melhores gravações de vocal feminino. O concurso seria apreciado por um juri integrado por críticos e jornalistas especializados.
Hélio não titubeou. Precisava se preparar para o evento com pompa e circunstância. Foi a uma marcenaria e mandou fazer uma caixa de madeira que serviria como estojo para o LP de Helen Merrill. Pronta, exibiu-a com orgulho para todos. Pintada de preto com fecho e dobradiças douradas, realmente fazia vista.
Chegou o dia do concurso, um sábado a tarde e lá fomos nós incorporados para a radio MEC, participar e assistir aquela novidade absoluta. A convicção da maioria é que Helen Merrill ganharia fácil. O juri foi integrado por Sylvio Tullio Cardoso (O Globo), Ary Vasconcellos (revista O Cruzeiro) e Eduardo Silveira (Tribuna da Imprensa).
Curiosamente, surgiram mais torcedores de Helen Merrill, entre eles, Jo Soares.
As gravações se sucediam e os comentários continuavam favoráveis a Helen Merrill cujo disco foi o único aplaudido depois de tocado.
Terminada a última gravação concorrente, o júri reunido apresentou a lista dos vencedores. Em primeiro lugar, “Tenderly” por Billie Holiday (nosso disco); segundo lugar, “Come Rain or Come Shine” por Sarah Vaughan (um 78” levado por um ouvinte chamado Fernando); em terceiro, “Lullaby of Birdland” por Ella Fitzgerald (do ouvinte Henrique Fernando); em quarto, “After You’ve Gone” por Dinah Washington (do ouvinte José Carlos); em quinto, “I’ll Remember April” por June Christy (ouvinte não identificado) e finalmente “What’s New” por Helen Merrill (do nosso Saturday), seguindo-se outros menos votados.
Confraternização, entrega de prêmios ( o meu foi um litro de Ron Merino) e a volta para Niterói. Para tanto pegamos o velho 66 (Tijuca), rumo à Praça Quinze. No trajeto, Hélio se queixou comigo: “Poxa Lula, o sexto lugar foi uma tremenda injustiça. O chato é que até estojo eu mandei fazer para levar o disco.”
Ao que respondi: Ora, Hélio, estojo preto com fecho e dobradiças douradas foi o caixão que você levou para o enterro da Helen Merrill. E arrematei : Mas, compro o disco!
Cortou relações ...

Nenhum comentário: