Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 4

17 janeiro 2007


DA CERA AO RAIO LASER (1)

Os processos de gravação em áudio surgiram e se desenvolveram em épocas aproximadamente contemporâneas com o próprio nascimento e formação do Jazz. Os primeiros registros de sons em cilindros foram feitos em 1877 por Thomas Edison, contudo só por volta de 1890 apareceram as gravações de música em quantidade comercial e o maior desenvolvimento surgiu em 1902 com as companhias fonográficas Columbia e Victor.
O processo de gravação teve uma importância inestimável para o desenvolvimento, divulgação e refinamento do Jazz.
Um gênero musical com inteira liberdade de criação só poderia ser preservado através de seus registros sonoros.
Assim, o disco fonográfico representou muito mais que uma simples gravação da música, certamente foi também um imperioso motivo para que grande parte dela fosse executada.
Outro aspecto é que os estúdios de gravação proporcionaram aos músicos um local descontraído que não era encontrado nas coxias dos teatros e casas de espetáculos. Quantos e quantos músicos se conheceram ou se falaram apenas em um estúdio de gravadora?
A primeira gravação envolvendo a música de Jazz foi oferecida ao cornetista negro Freddie Keppard (*1890 †1933), entretanto ficou receoso que outros instrumentistas viessem a copiar-lhe o estilo, dado que com tal novidade tecnológica poderia-se repetir sua atuação, o quanto se quisesse, isto foi em 1916. Perdeu assim a música de Jazz a grande oportunidade de ser representada por um autêntico jazzman em sua certidão de nascimento firmada pelo primeiro disco editado sob a chancela de música de Jazz.
Em fins de janeiro de 1917 a Original Dixieland Jass Band foi convidada pela Columbia Gramophone Company para fazer uma gravação no estúdio que se localizava na Broadway em Manhattan. Este grupo formado por rapazes brancos oriundos de New Orleans desde 19 de janeiro de 1916 atuavam com enorme sucesso em Nova York, precisamente no luxuoso Restaurante e Café Reisenweber. Tudo levava a crer em novo grande sucesso agora em disco.
Aconteceu que os técnicos da Colúmbia se espantaram com o tipo de música “hot”, barulhenta até em seus conceitos, acostumados que estavam com suaves conjuntos de cordas e deste modo, não souberam interpretar e avaliar corretamente o que ali fora gravado e as ceras não foram aproveitadas para lançamento comercial, pelo menos na época.
A sessão histórica para o Jazz aconteceu, então, nos estúdios da Victor Talking Machine Company em New York City na tarde de uma segunda-feira a 26 de fevereiro de 1917 sob a responsabilidade técnica de Charles Soy. As músicas eram Livery Stable Blues (Ray Lopez/Yellow Nuñez ) e do outro lado Dixieland Jass Band One Step (J. Russel Robinson/Nick LaRocca/Joe Jordan). O disco foi editado comercialmente a 15 de março com o n° 18.255 vendido ao preço de 75 cents. O sucesso desta música saltitante, ótima para dança foi enorme e as demais companhias seguiram os passos da Victor, como a Edison, Aeolian, Pathé, Okeh, Emerson, Paramount, Gennett e mesmo a Columbia que se recuperou rapidamente do mal passo dado anteriormente.
Contudo, muita coisa passou a ser gravada como Jazz, mas ou de qualidade inferior ou ainda sem a autenticidade requerida, afinal nem todos os músicos possuíam o talento ou mesmo compreendiam o que seria de fato aquela novidade musical.
O destino e desenvolvimento do Jazz a partir das gravações tornou-se inseparável da evolução técnica e comercial da indústria do disco fonográfico.
Entretanto, antes mesmo da popularização do gramofone reproduzindo os sons da voz e dos instrumentos o Jazz teve a chance de se apresentar através do invento da pianola, ou seja um piano que toca sozinho. Tal processo mecânico, patenteado em 1897, é bastante engenhoso e baseia-se nas teclas empurradas por pressão de ar controlada por orifícios em uma bobina de papel à medida que esta se desenrola sobre uma barra como eixo, sendo que, tais orifícios correspondem às notas tocadas no piano.
Pode-se imaginar que uma música assim reproduzida não teria nenhuma dinâmica, seria literalmente mecânica, linear. Ledo engano já que, aperfeiçoamentos posteriores permitiram que glissandos, trêmulos e figuras acentuadas de baixo (mão esquerda) pudessem enriquecer a reprodução dos rolos de pianola. Praticamente todos os pianistas de nome à época gravaram “piano rolls”, (como se chamavam tais bobinas) assim existem ótimos rolos de Eubie Black, Jelly Roll Morton, Fats Waller, James P. Johnson, Clarence Williams, Lucky Roberts, Charles Davenport dentre outros..
Através de edições masterizadas em LP pode-se ainda ter acesso a este fantástico acervo, notadamente os da Biograph Records em sua “piano roll series” editada nos anos 70. Algumas das famosas companhias de “piano rolls” foram a QRS Music Rolls, Vocalstyle Song Roll, Wurlitzer, Mel-O-Dee, Duo Art e Imperial Roll Co.
Com a pianola muitas canções blues, ragtimes e stomps foram apreciadas em salões dos mais refinados difundindo assim, não só os fundamentos da música negra como o próprio piano Jazz. Podemos ouvir um dos criadores da escola stride de piano - Luckey Roberts em rolo gravado em 1913 e a composição do próprio Luckey intitula-se Mo’Lasses uma dança "one step" muito em voga à época.

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