
Aqui você vai encontrar as novidades sobre o panorama nacional e internacional do Jazz e da Bossa Nova, além de recomendações e críticas sobre o que anda acontecendo, escritas por um time de aficionados por esses estilos musicais. E você também ouve um notável programa de música de jazz e blues através dos PODCASTS.
Apreciando ou discordando, deixem-nos seus comentários.
NOSSO PATRONO: DICK FARNEY (Farnésio Dutra da Silva)
..: ESTE BLOG FOI CRIADO EM 10 DE MAIO DE 2002 :..
Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho)*in memoriam*; David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels)*in memoriam*,, Pedro Cardoso (o Apóstolo)*in memoriam*, Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge), Geraldo Guimarães (Gerry).e Clerio SantAnna
ADIÇÕES À COLUNA FIXA: DOMÍNIO FEMININO E CIGAR CIRCLE
17 novembro 2003
Para contrabalançar, que ninguém é de ferro, vale a visita ao Cigar Circle para ver um site moderno e funcional que disponibiliza algumas fotos de modelos - há até alguns filmetes - de muito bom gosto, mesmo que utilizando as moças em poses mais para sensuais.
Assim fica todo mundo feliz.
ZÉ LUIZ & FÁTIMA GUEDES
TIM FESTIVAL, CLUB, 31/10/2003, MAM
Tão atraente quanto resenhar concertos de unânime aprovação - como os do dia anterior - é debruçar-se sobre aqueles que geraram opiniões divergentes, as vezes radicalmente opostas, caso da apresentação do trompestista Terence Blanchard, à frente de seu sexteto "Bounce".
Blanchard, a quem coube, nos anos 80, a árdua tarefa de substituir Winton Marsalis nos Jazz Messengers de Art Blakey, vem colhendo os frutos de carreira bem sucedida, alternando projetos autorais, em que se incluem até trilhas sonoras (Mo' Better Blues, Malcolm X), a discos mais comerciais, infelizmente beirando, em alguns casos, o easy listening, como o enfastiante Billie Holliday Songbook, com cordas.
Quando se trata, porém, de oferecer jazz de verdade, o trompetista não tem qualquer dificuldade em mostrar que entrou, definitivamente, em sua maturidade artística, seja como arranjador ou solista.
Nas baladas Noturno (Ivan Lins) e I Thought About You (Mercer/VanHeusen), esta última valendo-se das harmonias de Blue in Green (M. Davis/B. Evans), ele desfilou enorme elegância em solos de impacto melódico magnífico, pontuados por pausas que se prestavam a muito mais que simples paradas para respirar. Eram reflexões em pequenas frases, que, interrompidas, seguiam-se em novos ataques, criando tensões e distensões sem nunca digredir e, ao contrário, envolver o tempo todo o ouvinte.
Seus músicos extraordinários demonstram grande aplicação, trafegando os arranjos entre o cool, post-bop e as influências bossa e funk.
Em Azania, tema do líder inspirado no universo coltraneano, com viva exploração do modalismo, a introdução gutural do guitarrista africano Lionel Loueke,
evocou a raiz africana do jazz e sua importância permanente na evolução do gênero, em cuja história certamente já está escrito, com destacado relevo, o nome de Terence Blanchard.
Foi um concerto inspirado, preciso e contagiante, ofertado por um artista na plenitude de seu mister.
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ILLINOIS JACQUET - @
A solitária orelhinha (@) é mérito exclusivo do formidável trompetista Sean Jones (que já trabalhou, entre outros, com o baixista Charles Fambrough), solista devastador na clássica A Night in Tunisia (Gillespie) e salvador do mais absoluto fiasco a desastrosa apresentação da big band de Illinois Jacquet.
A pergunta era: o que um jovem brilhante como Jones estava fazendo ali ?
O vexame do bloco inicial dedicado a Jobim (Corcovado, Chega de Saudade e Garota de Ipanema), com direito a ritmo sonolento e vocais trôpegos do octogenário band leader, anunciou tudo e deu início à debandada de vários aficcionados.
Arranjos surrados, executados sem qualquer motivação, pareciam par perfeito para o cansadíssimo Jacquet, que não convenceu nem ao ressucitar o timbre encorpado, cheio de vibrato, que é a marca registrada da escola de Coleman Hawkins, Ben Webster e Ike Quebec.
Acontece que, nem no auge de sua forma, Illinois Jacquet jamais ensaiou rivalizar com aqueles monstros do sax tenor.
Conquanto louváveis ambos os esforços, primeiro da produção, em trazer uma big band dita "tradicional", e, segundo, do próprio líder, de ainda permanecer atuando, o resultado revelou-se constrangedor a um extremo tal, que culminou com o embaraçoso desconhecimento, por parte de Jacquet, de praticamente todos os nomes de seus músicos. Sequer apresentá-los ele conseguiu.
No fim, malversado o swing e clima de Estudantina instalado, o deslumbramento da incauta platéia, achando-se diante uma "lenda viva", só ajudou a sublinhar a decadência daquele que, sem dúvida, foi um ótimo músico de jazz, mas, perdoem o cliché, definitivamente não soube a hora de parar.
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Deixo de comentar a apresentação de Luiz Avellar, porque não pude assistí-la, na maior parte. Mas não resisto a reproduzir as palavras que ouvi do Mestre Luiz Orlando Carneiro, logo após o show, aludindo à conversa que tivemos no almoço daquele dia:
"V. tinha razão, para acompanhar o Danilo Perez, num duo piano/baixo, só mesmo o Paulo Russo. O que ele está tocando é um absurdo !"
REPETINDO AQUI A NOTA DA HILDEGARD ANGEL NO JB DE HOJE:
A gente reclama, mas vocês viram que mudanças? O Garden Hall reabriu, sem ganhar um nome horrendo de empresa de telefonia! O Jazzmania reabriu! Que booooooom!!!! Será que isso é um sinal de que o carioca voltou a sair de casa pra ouvir música?... "
São essas pequenas notas, em colunas de prestígio como a de Hilde que fazem com que as pessoas que de fato gostam de jazz sejam alertadas e busquem obter mais informações sobre o que acontece de bom - e jazz é muito bom - na cidade.
Nós aqui agradecemos, indiretamente, em nome do setor cultural que se dedica a disseminar essa forma de arte, reputada como a única legitimamente americana.
Os esforços para se produzir espetáculos de qualidade em nossa cidade vem se adensando, felizmente, através do trabalho e da dedicação dos verdadeiros amantes do jazz. A se notar, os da Modern Sound, o do Leblon Lounge Jazz Club (com o Ruy Martinelli à frente), o Jazzmania, citado na nota (em ótima retomada do Paulo Renato Rocha), além do permanente trabalho de qualidade do Mistura Fina, onde o Pedro Paulo continua, incansável, na manutenção da chama jazzística no território carioca. E agora, com a ajuda do CJUB, nas nossas noites mensais.
Tudo isso contribui para ajudar na retomada que se pretende, do Rio como capital cultural, com muita coisa boa para se fazer, em termos musicais, todos os dias. Amém.
Paris Hilton (video)
16 novembro 2003
O DOMÍNIO FEMININO NOS PRESTIGIA...
15 novembro 2003
Então, além do link para que todos possam conhecer o Domínio Feminino, no título deste post, aqui vão os trabalhos de Berta para apreciação de todos. E embelezamento do CJUB.
À Berta, mais uma vez, nosso agradecimento.
TIM FESTIVAL, CLUB, 30/10/2003, MAM
11 novembro 2003
Sem qualquer ingrediente jazzístico - ao contrário do que disse Ed Motta aos jornais - e totalmente dedicado ao tango moderno, o quinteto de Nestor Marconi inaugurou o palco Club do Tim Festival com um trabalho camerístico de notado rigor formal, porém sem perder o apelo ao lirismo caracterísitico daquela música, regida, como nenhuma outra, pelo binômio romance/tragédia.
Combinando composições originais e clássicos do gênero, entre os quais a indefectível Adios Nonino (Piazzolla), a apresentação sofreu com a ambience desfavorável ao clima intimista dos arranjos (a "tenda" Club mais parecia uma "gaiola de plástico"), além de um indesejável "contraponto" tecno vindo da área externa entregue a DJs nada intimistas.
Entre os instrumentistas, destacaram-se, além do líder, a virtuose do pianista e o som limpo, impecável, do violino, pouco usual em formações de música popular.
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CEDAR WALTON - @@@@@
O time espetacular trazido pelo legendário pianista Cedar Walton brindou a platéia com um concerto impactante e mesmo enciclopédico em matéria de jazz moderno, sendo todos, sem exceção, ícones em seus instrumentos e referências na chamada "música dos músicos".
Cedar Walton participou de sessões seminais da história do jazz, e pertence a uma linhagem de pianistas raros, a um só tempo elegantes e fluentes, como, por exemplo, Tommy Flanagan, não sendo coincidência tenham ambos sido escalados por John Coltrane para seu revolucionário Giant Steps.
Walton dedilha o piano quase que todo tempo fitando o teclado, com espantosa placidez, mesmo nos tempos rápidos. Ele toca como uma cigana lê a mão, descortinando, nota por nota, o futuro imediato de sua música, como se o destino do piano já estivesse traçado antes mesmo do início do set.
Suas múltiplas citações em Body and Soul, apresentada em trio apenas e como que vertida para bossa and soul, porque embalada por nosso ritmo nativo, formaram um rio de idéias, num solo devastador que arrebatou o público.
Curtis Fuller, o maior trombonista do Hard Bop de todos os tempos, demonstrou classe invejável e até surpreendente vigor para os problemas de saúde que enfrentou. Em melhor forma do que quando aqui esteve, há poucos anos, com Benny Golson num tributo a Art Blakey, Fuller protoganizou, com o líder e o saxofonista Donald Harrison, nova reunião de ex-messengers.
Harrison não encontra rival, no dias de hoje, para seu instrumento, tal a abrangência de estilos pelos quais trafega com desenvoltura inigualável. Dono de um timbre sublime - fato raro para o saxofone contralto - o músico está bem próximo de alcançar o panteão dos solistas "perfeitos", ou seja, aqueles que não desperdiçam um única nota em suas improvisações, todas mantendo exata coerência entre si e em relação à melodia base.
O baterista Lewis Nash também mostrou estar no ápice da forma, desfilando todos os recursos de uma baterista bopper, numa performance pirotécnica, e, antes de tudo, extremamente musical. Ele foi o swing constante e o drive milimétrico de toda a noite, já que, de um fôlego só - e que fôlego - "emendou" na apresentação seguinte, servindo à big band de Mccoy Tyner, outro concerto "arrasa-quarteirão". Ao fim, só faltou a Nash quebrar o recorde dos 100 metros rasos.
David Williams, com seu som metálico, foi o pulso preciso da formidável gig, sempre com comentários de brilho, alta criatividade tanto na marcação quanto nos sensacionais slaps (estalar das cordas), calando os precipitados (como este penitente repórter), que ensaiaram reclamar da ausência de Ray Drummond, originalmente escalado para a data.
O set list foi um capítulo à parte, verdadeira iguaria para qualquer jazzófilo. A começar pelo original Cedar Blues, passando pela genial Little Sunflower (Freddie Hubbard), Arabia (Curtis Fuller), In a Sentimental Mood (Ellington), a já mencionada Body and Soul (Eyton/Green/Heyman/Sour) e fechando com outra composição do líder, Firm Roots, em intenso uptempo.
A falta do bis, certamente não imputável ao conjunto, foi a única decepção, já que, com música dessa qualidade, o resto da noite seria ainda pouco para os que tiveram a sorte de atender ao melhor concerto do festival.
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McCOY TYNER - @@@@@
Mccoy Tyner também faz parte de grupo seleto de pianistas (Harold Mabern, John Hicks), de estilo sempre vigoroso, toque percussivo, élan irresistível e concepção arrojada.
Toda essa energia, transferida para o "peso" natural de uma big band, só poderia mesmo resultar numa química explosiva, que, logo ao poderoso uníssono inaugural, fez tremer os alicerces do lugar, despertando emoção logo na primeira música, a sensacional Passion Dance, faixa de abetura do clássico album de estréia do artista na Blue Note, "The Real Mccoy" (1967).
Quem conhece a genialidade de Tyner e teve o privilégio de testemunhar sua última e memorável passagem pelo Rio, ainda no tempos do Free Jazz no Hotel Nacional, (naquela que penso ter sido, no conjunto, a maior das noites em todas as edições do Festival), sabia o quão imperdível seria rever o pianista, ainda mais diante de tão bissexta formação.
Dizer que valeu a pena é pouco. Indescritível a sensação de ver um gênio, em forma exuberante e, acima de tudo, mostrando todos os maravilhosos clichês que ele inventou.
Em Update, tema seguinte (do disco Turning Point, gravado exatamente com orquestra, em 1991), estavam todos lá: os arpejos entrelaçados, as oitavas intervaladas, quartas e quintas descendentes, enfim, um verdadeiro banquete para a privilegiada audiência.
A banda, do início ao fim coesa, vibrante e afinada com os arranjos sempre diretos (mas nunca "simplórios"), trouxe destaque para vários de seus integrantes, como o trombonista Steve Turre (sua presença foi saudada, pois não era esperado para o Festival), o saxofonista Javon Jackson (que integrou a formação final dos Jazz Messengers), o enérgico percussionista Ritchie Flores, o trompetista Scott Wendhelt, que pareceu tocar frases impossíveis, tal seu virtuosismo, o tubista Antonio Underwood, e o trompista John Clark, valendo registrar, no entanto, que, além destes, todos os demais, sem exceção, eram, também, excepcionais instrumentistas, a sugerir, portanto, a magnitude do conjunto.
A seção rítmica, contudo, escreveu um capítulo à parte.
Lewis Nash (bateria) manteve, todo o tempo, o inacreditável drive que a todos tinha assombrado já na apresentação de Cedar Walton. Quanto ao irrepreensível Charnett Moffett, se já seria difícil, para qualquer baixista, "segurar" um pianista como Mccoy Tyner sozinho, imaginem uma big band sob seus auspícios e carregando tamanha massa sonora ?
E o "Nirvana" foi atingido precipuamente quando o trio, sob o olhar deslumbrado do restante da banda, atacou Serra do Mar, belíssima composição de Tyner presente em seu último disco (Land of Giants, 2003) e que ratifica a admiração do líder pela música brasileira. Viu-se, então, um clímax digno da santidade, a que poucas vezes chegam mesmo os mais inventivos artistas.
A felicidade daquela noite ficará eternizada na memória, com a imagem dos dois gigantes do piano, domando o velho Steinway à frente de seus sensacionais combos, tomando lugar especial em nossas almas.
PARA QUEM NÃO LEU NO BLOG DO ANTONIO CARLOS MIGUEL
- SOBRE SHIRLEY HORN NO TIM FESTIVAL
Pela ordem, aqui: (1) post do ACM, sobre o que ocorreu na última noite; (2) o email de Paulo Albuquerque; (3) o comentário de ACM a respeito deste; e, (4) a msg de Monique Gardenberg ao ACM.
(1) "... Ainda pretendo fazer um minibalanço do FesTIMval que acabou nessa manhã de domingo. O palco Afterhours começou cerca de 4h da manhã, e quem viu (ou 90% dos que conheço que viram) Peaches disse que é um fenômeno, o grande show dos últimos milênios...
Antes disso, o Club quase foi arrasado pelo temporal que desabou momentos depois de Meirelles e os Copa5 abrirem a programação de sábado, com show que chegou a ser interrompido por um raio que caiu muito perto e causou uma explosão no sistema de som.
Na seqüência, Walter Weiskopf Nonet, num jazz com bons arranjos, temas originais interessantes, clima entre Gil Evans e Miles Davis em "Kind of blue"...
Até o desastroso caso Shirley Horn. Não pela veterana dama do jazz, que entrou, de cadeira de rodas, totalmente vendida nessa história. Sou um entusiasta do festival no Museu de Arte Moderna, mas desde a transferência do finado Free Jazz para lá que o som do palco jazzístico, inicialmente localizado no prédio do museu, depois transferido para uma tenda, é prejudicado pelo vazamento de ruídos externos.
Shirley e seu trio, com uma música, como bem lembrou a cantora Joyce, que explora as pausas, o silêncio, foram massacrados pela potência sonora do Public Enemy, que entrou em cena no palco Stage perto do meio da apresentação da jazz singer. Ela bem que tentou seguir em frente, mas a situação ficou cada vez mais difícil. Atônita, ela perguntava: "What's goin' on?".
Monique Gardenberg, idealizadora e produtora desse evento há 16 anos, e seu diretor técnico, Maurice Hughes, deram convincentes explicações (o atraso no Club devido à chuva, a necessidade de o show no Stage começar, já que aquela tenda abrigaria em seguida a sessão Afterhours, com Peaches e DJ Marlboro), mas o que fica é o estrago. Jazzófilos saíram revoltados.
Os produtores já pensam em duas soluções para a próxima edição do TIM Festival (que como fora anunciado, vai para São Paulo, num rodízio anual): -shows de jazz em outro lugar, provavelmente em algum teatro da cidade; -uma tenda superprotegida acústicamente.
Desastre no Club à parte, o festival foi ótimo: bons shows nos quatro diferentes palcos e um Village (o espaço nos pilotis e nos jardins do MAM com bares, restaurantes, tendas com cinema, DJs, performance), agora com ingresso para o acesso, que concentrou a fauna noturna carioca."
(2) E-MAIL DE PAULO ALBUQUERQUE (curador do palco Club no TIM Festival)
"Meu caro Antonio Carlos,
A propósito de sua nota sobre os problemas de som com a Shirley Horn gostaria de informar-lhe: O episódio relatado por você de que ela "soltou os cachorros" em cima de mim nunca aconteceu, talvez até porque ela não tenha me encontrado. Não sei quem lhe deu essa informação. Isso, entretanto, não invalida a sua crítica ao insuportável vazamento sonoro no palco Club.
Outra coisa que é bom esclarecer: não sou, ao contrário do que você informa, UM DOS RESPONSÁVEIS PELA DESASTROSA PRODUÇÃO DO CLUB. Sou, sim, junto com meus amigos Zuza Homem de Mello e Zé Nogueira o responsável pela curadoria desse palco, isto é, pela escolha do elenco que passou (e sofreu) pelo palco Club.
E tenho bastante orgulho de termos selecionado um elenco de primeira que foi, infelizmente, prejudicado pelos problemas que você relatou.
Pode ficar certo que estou (eu, Zé Nogueira e Zuza) tão indignado quanto você, o público e os artistas com o ocorrido. E quero agradecer-lhe pelas críticas que, espero, ajudem a resolver esse problema para o futuro. Um abraço,
Paulo Albuquerque"
(3) "Caro Paulo,
três diferentes pessoas relataram-me o ocorrido nos bastidores, após a apresentação de Shirley Horn (quando foi literalmente varrida do palco pelo som que vazava do Stage com o Public Enemy), mas se dizes que não foi com você que a cantora soltou os cachorros, aceito. Vale a tua versão. Já o fato de não seres "um dos responsáveis pela desastrosa produção do Club", em parte, já que como um dos curadores, essa preocupação com a qualidade do som, da acústica também deveria ser uma das prioridades. E esse é um problema que se arrasta desde que o antigo Free Jazz mudou para o Museu de Arte Moderna.
De qualquer forma, o meu intuito com aquela crítica era construtivo, torço pelo festival, gosto do formato de diferentes tendas (mesmo que não consiga assistir a todos os shows que gostaria) e, principalmente, o palco Club é o que mais me identifico.
abraços e saiba que a publicação de teu e-mail no blog não elimina a publicação no Segundo Caderno. Continuo aguardando vaga na seção de cartas, que não sai todo o dia.
antonio"
(4) "Idealizadora e produtora do Free Jazz Festival, que este ano renasceu como TIM Festival, Monique Gardenberg envia e-mail sobre os problemas de som ocorridos no palco Club, a tenda que abrigou os artistas de jazz no Museu de Arte Moderna."
"oi antonio,
depois de alguns dias me refazendo da maratona (...), queria te dizer que os curadores do jazz tiveram sim preocupação com o vazamento do som. ficaram no meu pé e encheram a minha paciência e caixa postal durante meses.
a dueto fica bem limitada, pois somente um profissional no mercado tem a capacidade de montar toda aquela estrutura, que envolve não só as tendas, mas os esgotos, banheiros, rede elétrica, pisos, banheiros, bares, etc. a dueto vacilou ao confiar na sorte, ao confiar que todos os shows transcorreriam no horário. veio o diluvio e tudo saiu do controle...
quando algo tão sério acontece, como aconteceu com a shirley horn, é que nos damos conta do tamanho do nosso erro e passamos a considerar novas
possibilidades para a solução deste problema, que, como você bem disse ao paulo, já se arrasta há alguns anos. enfim, era prá te dizer que a produção foi alertada quanto ao perigo e confiou na sorte, achou que tinha tudo bem planejado para dar certo mas não contou com o imponderável.
vamos nos preparar de outra forma. o club terá sua construção, e apenas o tim club, a cargo de empresa especializada estrangeira em acustica e isolamento sonoro, já que a tim preferiu não afastar o club do espaço do festival, do MAM.
enfim, era só para ficar claro de quem foi o vacilo...
não tenho dúvida que você e o globo foram super bacanas e torceram totalmente a favor do evento. o episódio desastroso foi alvo de crítica de todos, imprensa e patrocinador. a mim cabe reconhecer e partir para achar a solução.
um beijão,
monique"
Nós do CJUB, presentes a todas as noites do palco Club, sofremos barbaramente com os problemas aqui relatados. Pessoalmente, avisei ao Zuza Homem de Mello da tragédia que se anunciava, tão logo terminou a apresentação de Nestor Marconi, ou seja, ao final da primeira atração do primeiro dia. Havia ali, sim, uma solução e era muito simples. Bastava tirar um DJ da tomada!
Pois o que mais me irritou foi que o som que estava vazando, ao contrário do que ocorreu na noite de sábado, com as conseqüências acima descritas, não era o de outra atração de outro palco - o que também não se justifica, mas que nossa querida Monique assumiu a responsabilidade de resolver no futuro - mas sim o som de baixa frequência, um inclassificável drum 'n' bass, oriundo de tenda no átrio do MAM cujo único propósito seria o de botar para dançar a alguns trogloditas de mentes vazias, o que não se justifica sob nenhuma ótica, por mais comercialmente benevolente que se queira ser.
E essa mesma tenda estava literalmente a pleno vapor no momento da nossa saída do Club no sábado, depois da desistência a meu ver tardia, de Shirley Horn lutar contra o barulho atordoante. Fotografei os beneficiários locais desse massacre sonoro: meia dúzia de malucos envoltos em fumaça institucional, público de nenhuma, repito, nenhuma importância, se comparado aos seiscentos e tantos amantes de jazz afrontados pela falta de visão - e de audição - da turma que produziu o evento, quem quer que tenha sido. Uma pena.
Resta-nos alertar, em socorro aos valores relevantes destinados às futuras produções, que os sons de baixa freqüência como os ali produzidos não são passíveis de vedação exceto pela distância. Qualquer tratamento resultará em gasto irrazoável, em soluções mirabolantes que, ao final, provar-se-ão ineficazes.
A única solução é que não se permita "raves" em festivais mistos, pelo menos até que as atrações jazzísticas já tenham terminado seu trabalho e que seu público já esteja a quilometros dali.
LEO GANDELMAN NO ESPAÇO ARPOADOR
10 novembro 2003
Uma hora depois do horário previsto foi anunciado o show. Os músicos no palco começaram a tocar e Leo Gandelman surge por entre as mesas tocando seu sax alto numa entrada repleta de aplausos. As primeiras músicas são composições suas (Solar e Castelo de Areia) que estão presentes no DVD recém lançado, aliás o primeiro DVD brasileiro de música instrumental. Confesso que prefiro mais o Leo como intérprete de que como compositor, considero inclusive um dos melhores saxofonistas brasileiros, um músico versátil e que sabe como poucos conduzir de forma inteligente sua carreira. Gostaria muito de ouvi-lo tocando jazz tradicional, o que parece seu filho está fazendo nos Estados Unidos. Depois do sax alto, Leo tocou num sax soprano que possui um formato muito parecido com um sax alto em miniatura e em seguida exclamou sua qualidade musical num sax tenor. O som estava perfeito assim como a iluminação, que foi conduzida de forma segura pelo Paulo Renato.
Um dos grandes momentos da noite foi ouvir “A RÔ de João Donato, tendo ao fundo as ondas do Arpoador como cenário. Aliás, quando Gandelman falou com a platéia pela primeira vez, destacou a beleza e a importância do Jazzmania na música instrumental brasileira e na sua carreira, onde lançou seu primeiro CD. Outro ponto alto foi a belíssima interpretação com seu sax soprano de as “As Rosas Não Falam” de Cartola. Gandelman homenageou também outros ícones da música brasileira como Pixinguinha (Lamento) e Ari Barroso (Na Baixa do Sapateiro).
A platéia, que correspondia a cerca de 60% da capacidade da casa, foi a loucura mesmo no último número. “Maracatu Atômico” foi tocada por um inspirado Leo Gandelman que no meio da platéia parava de mesa em mesa e nos brindava com um show quase particular. Um final apoteótico. O show foi bem parecido ao que eu assisti no Rival, quando do lançamento do DVD e é sem dúvida uma boa pedida para quem gosta de música instrumental.
Fico feliz por constatar o belo trabalho que estão desenvolvendo no Espaço Arpoador. O ponto é maravilhoso, a paisagem deslumbrante e o local emblemático. A visão que temos do palco é muito boa, mesmo estando lá atrás, mas ainda acho que o palco poderia ser um pouco mais alto. O som como já disse estava perfeito, mas o que eu mais gostei tecnicamente foi a iluminação precisa e segura, valorizando a emoção de cada música e não deixando nenhum músico na penumbra. Senti falta de um sistema de exaustão como a que tínhamos no Epitácio o que evitaria a presença incômoda da fumaça para quem não fuma. A casa precisa melhorar também a qualidade dos petiscos que são servidos, pois não condizem com a importância do lugar.
A noite foi muito interessante, com boa música e num local muito agradável. O Coutinho chegou quase no final e quando o Leo Gandelman, já depois do show, o viu foi logo falar com ele. Sabem qual foi o diálogo? Leo: “Quanto foi o jogo do Palmeiras?” Coutinho: “Um a zero pro Palmeiras”, Leo: “Ihhh... Tá ficando difícil pro Fogão...”
Impagável!
Marcelo Siqueira
6º CHIVAS JAZZ LOUNGE - MISTURA FINA, 29/10/2003 - @@@@
05 novembro 2003
Afinal, o 6º CJL, a ele dedicado pelo produtor Luiz Carlos Fraga, disse a que veio, com o excepcional Tributo a Charlie Parker engendrado pelo produtor, que para o desafio escalou o operoso baixista Adriano Giffoni e seu quinteto, formado por Idriss Boudrioua (sax alto), Altair Martins (trompete e flugelhorn), Felipe Poli (guitarra) e Amaro Júnior (bateria).
O grupo, que dispensou o piano em busca de uma proposta harmônica mais ousada, com a guitarra liderando a seção rítmica, passou com louvor na prova maior que representa enfrentar o songbook parkeriano, verdadeira bíblia do jazz moderno.
Um set list com nada mais nada menos que 9 (nove) temas de Parker já valeria o ingresso e dispensaria comentários adicionais, tal a vitalidade das ações de Bird, clássicos para sempre, à altura dos "fundamentos" do passado, Bach, Mozart e Beethoven.
Mas o modus adotado pelo combo, esse sim mereceu atenção ainda mais especial.
A desenvoltura de Adriano Giffoni é por todos os seus colegas conhecida e reconhecida, como dão prova suas atuações ao lado das mais importantes figuras da música popular e instrumental brasileira. Sua inesgotável capacidade de ancorar os mais diferentes arranjos, sempre de modo sólido e competente, repetiu-se, com êxito total, em ambos os sets. O surpreedente, de certa forma, foi constatar que Giffoni é, também, um solista de jazz excepcional.
Se, de um lado, é verdade que a chamada "única arte original dos EUA" revelou dezenas de contrabaixistas geniais no dom de harmonizar e "pulsar" a música americana, não será absurdo dizer, de outra parte, que poucos deles se destacaram no dificílimo ministério dos "solos", até porque estes, em princípio, nasceram, a exceção do piano, para os instrumentos melódicos, e estes para aqueles.
Giffoni, porém, mostrou uma verve de idéias luminosas ao longo de seus chorus e uma "limpeza", quase que "pré-ordenada", na execução destes, que, de fato, causou sólida impressão, ainda mais se confrontadas estas virtudes com a difuldade técnica que impunha àquelas belíssimas frases.
De Idriss Boudrioua pouco resta a falar, já que, desde muito antes do 1º CJL - ao qual também atendeu no quinteto de Dario Galante - o saxofonista vem ratificando musicalmente aquilo que costuma responder aos que dizem-se saudosos de seu sax-tenor: "o alto é meu 3º braço, já nasci com ele". De fato. Boudrioua é o Phil Woods brasileiro, o que não é pouco, diante do estatura do maior discípulo de Parker vivo. Raciocínio supersônico, bom gosto à toda prova, noção exata de como construir as improvisações e domínio total do universo bebop foram alguns de seus predicados em maior evidência naquela noite.
A seu lado, Altair Martins apresentou desenvolvura mais que suficiente para alinhá-lo com os grandes nomes do trompete brasileiro de hoje. Sua compreensão dos arranjos e o modo muitas vezes original como alternou-se ao saxofone em contraponto nas harmonizações, associado a inventivos improvisos, tanto no som aberto quanto usando as surdinas, deram-lhe destaque à parte no concerto.
Felipe Poli é dono de um timbre rico, muitas vezes casado com o som de Kenny Burrell, em especial em ambiente mainstream. Sua competência não deixou qualquer saudade do piano, instrumento ausente no formato escolhido pelo líder. Ao contrário, o guitarrista contribuiu decisivamente para o frescor dos arranjos, cujo grande achado foi o de manter a "pressão" natural dos temas, sem abrir mão da originalidade em sua leitura.
Já por em nada destoar de tão valoroso conjunto, tal, por si só, qualificaria a ótima performance do baterista Amaro Júnior, o que, se considerada sua juventude, multiplica exponencialmente seu potencial como instrumentista, a ser logo percebido, é certo, pelos gigantes de nossa música.
Além das obras do homenageado, que preencheram todo o 1º set e boa parte do 2º, Giffoni mostrou, na sessão seguinte, três composições próprias, a balada "Tema da Tarde", o "sambaião" "Nem Lá, Nem Cá" e a didática "Duo Número Um" (só baixo e bateria), todas com inspiração bastante para arrancar aplausos tão efusivos quanto aqueles dispensados aos temas mais familiares à inflamada platéia.
O Tributo não esqueceu de clássicos da música americana cujas versões de Bird ficaram célebres como All the Things You Are e Laura, esta última oferecida no bis ao produtor da noite, que presente melhor não poderia sonhar em receber. Foi o ápice de uma noite luminosa, que superou todas as expectativas e consolidou no cenário artítisco o papel do CJUB como uma das forças motrizes da boa música na cidade.
Que venha o Jazz Panorama de Marcelink !
JUIZO FINAL
Apareceu no inicio ao lado de John Handy e Joe Henderson. Sua grande escola, no entanto, foi a fase fusion de Miles.
Tanto que no início da década de 70 passou a integrar o sexteto de Herbie Hancock, envolvendo-se de corpo e alma ao estilo híbrido do grupo. A carreira solo posterior seguiu o mesmo tempero de Hancock. Por isso, acabou criticado pelo trabalho quase que direcionado ao lado comercial. Mas - pelo estilo de sopro único - Eddie ultimamente vem resgatando com muita competência o seu lado mais honestamente jazzístico, mesmo dividindo seu tempo com a psiquiatria. O recentíssimo CD, “So What”, talvez seja o melhor de sua carreira, quase uma homenagem a Miles – o repertório induz a essa constatação.
Tanto no trumpete como (e principalmente) no flugelhorn, Eddie Henderson cria novas atmosferas para standards como “On Green Dolphin Street” (Kaper), “Footprints” (Shorter), “Someday My Prince Will Come” (Churchill/Morey) e “’Round Midnight” (Monk), além dos clássicos “So What” e “All Blues”, do próprio Miles. O quinteto, dos mais afinados, completa-se com o criativo sax de Bob Berg, o piano do ótimo Dave Kikoski – contemporâneo de Brandford Marsalis na Berkley -, o contrabaixo de Ed Howard e as baterias de Billy Hart – do antigo sexteto de Hancock – e de Victor Lewis.
O que transborda em “So What” é a concepção arrojada dos arranjos de Eddie, além da performance emocionante do grupo. Se a intenção era uma penitência pelas fases suspeitas do passado, ele já pode se considerar absolvido.
Em tempo: "So What" (Columbia) foi lançado nos EUA em 15/04/2003
CJUB NO TIM FESTIVAL
04 novembro 2003
SÁ
O CJUB e a CJL6 em outras páginas da internet - EJAZZ.COM.BR
03 novembro 2003
FELICITAÇÕES PARA NOSSO PONTA DE LANÇA EM LONDRINA
PARABÉNS PARA O JOFLA
02 novembro 2003
Jazzista de conhecimento extenso, memória prodigiosa e ainda baterista em raras e aplaudidas aparições, juntou-se ao CJUB por obra e aproximação de nossa "diva honorária" Wanda Sá e assumiu a área de "produção independente" (da vontade dos outros), enviando-nos carradas de CDs com suas marcas inconfundíveis no esmero da produção. Um craque.
JoFla, só podemos desejar-lhe que receba em triplo tudo o que tão generosamente dá aos seus amigos chegados, seja em forma de atenção e carinho, seja nos mimos dos mais diversos quilates. O mais importante, no entanto é a maneira gentilíssima com a qual se apodera dos problemas e inquietações dos amigos e as transforma em suas, passando a buscar a saída junto com o gajo que apenas perguntou sua opinião sobre determinado problema. Essa generosidade de sentimentos, acima de qualquer outra, é que o transforma numa figuraça cativante e envolvente, sempre disposta a fazê-lo rir e ajudar.
Então daqui, JoFla, em nome de todos os cejubianos, um baita abração pelo dia de ontem, e nosso desejo de muita saúde para continuarmos, por muitos anos podendo aproveitar sua companhia. PARABÉNS!!!!!
01/11 - ANIVERSÁRIO DO EMBAIXADOR
Abraços,
Marcelink