Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

BARBARA PEDALADA

28 setembro 2009

O jazz também tem seu Robinho pedalada feminino. Puristas, olhem só o detalhe do pé da moça no baixo e as mãos delicadas no teclado do B3.
Não adianta criticar, ela é atualmente a maior expressão feminina do jazz no Hammond.
Essa é Barbara Dennerlein.
Ganhe 10 minutos do seu dia com esse tributo a Jimmy Smith.

E SE A DISCUSSÃO FOR INEVITÁVEL ...

I LOVE JAZZ


Sem que nós percebessemos, o amigo Cezar Vasconcellos clicou o momento em que atendíamos o apelo da repórter para que disséssemos "I love Jazz" diante da câmera. Flagrante que nos encheu de alegria, assim como os demias que enviou quando conversávamos com os músicos. Um grande abraço ao amigo Cezar e naturalmente I LOVE JAZ>

llulla

MUSEU DE CERA # 63 - SÉRIE VINIL (1)

27 setembro 2009


Estamos criando uma nova série de apresentações no Museu de Cera, dedicada às matérias editadas nos magníficos long plays - LP. Naturalmente que em sua maioria já foram reeditados nos compact disc – CD, porém a matéria é vasta e claro não possuímos todos os CD. Contudo, muitos LPs estavam guardados e agora com as novas tecnologias conseguimos muito facilmente digitalizá-los diretamente para o computador. Assim resolvemos publicar algumas de tais maravilhas aqui no Museu.
ÁLBUM: HISTORY OF CLASSIC JAZZ – RIVERSIDE (RLP 12-113- 1956)
Quando adquirimos o livro de Jorge Guinle ― Jazz Panorama, lá pelos idos de 1960, em sua discografia havia a indicação desse álbum com 5 discos divididos nos volumes:
I. Backgrounds
II. Ragtime
III. The Blues
IV. New Orleans Style
V. Boogie Woogie
VI. South Side of Chicago
VII. Chicago Style
VIII. Harlem
IX. New York Style
X. New Orleans Revival
Imaginem a expectativa em adquirir tal álbum, a própria História do Jazz! mas ao mesmo tempo adveio enorme dificuldade. Sem os recursos atuais de procura pela Internet, tentamos amigos e nós mesmo que fomos aos EUA, mas em vão. Quis o bom destino que Jorginho ao colocar à venda grande parte de sua discografia em 1990, lá se encontrava o álbum tão desejado e mais que tudo, lá à nossa frente, era só pegar, e assim foi feito.
Selecionamos do volume Backgrounds:
Shuckin' Sugar – (Paramount 12454 – mx 3077) composição e vocal por Blind Lemon Jefferson – 1926 – Chicago. Lemon era um cantor itinerante do Texas se acompanhando à guitarra e seu repertório era composto por típicos blues rural com entonações semelhantes às canções de trabalho, grandes influências do pré-jazz. (um pouquinho de chiado faz parte).
Do volume Ragtime:
Perfect Rag (Gennett 5486A, mx 11917) – composição e piano solo por Jelly Roll Morton – 9/jun/1924 – Richmond, Indiana. Notável exemplo de ligação entre o jazz e o ragtime baseado no trabalho de Jelly Roll cujo estilo era claramente influenciado pelos rags ouvidos em New Orleans em sua juventude.




PALESTINO 41 x VAI NASCER, ZERO

Ainda esta para nascer uma figura que possa rivalizar, em polemica, com o nosso Minor-Master Bene-X, rebento rebelde, como todos sabem, da Benedita da Silva com o celebérrimo criador de encrencas Malcolm-X. Não à toa cognominado de "Palestino", por sua aparencia de conspirador radical - se deixar de fazer a barba por dois dias, vai em cana na primeira blitz da Lei Seca e será deportado para a Faixa de Gaza sem direito nem a telefonar pro Tarso Genro - mas pela sua atração pelo desafio de instigar permanentemente seus amigos e inimigos pelo prazer absoluto da boa e instrutiva discussão, nosso combativo co-fundador completa hoje suas 41 primaverinhas (postei 45 por senilidade pura e tomei um educado torpedo a meia nau, em plena caminhada atlética no Leblon, hehe), e bem provavelmente tomando um muito bom vinho em companhia de sua bela familia.

Não sem antes perguntar ao assistente de garçon sobre qual a temperatura media da adega do estabelecimento, qual a procedencia das taças, se o sommelier fez curso no exterior, tudo o necessário, enfim, para uma completa experiencia enogastronomica. No entanto, como nem tudo é perfeito, fará toda essa parada na churrascaria de sua preferencia, no Leblon (nao vou dar o nome, ou não terá paz, por conta das fãs ensandecidas), concessão feita aos dois filhos, Giovanna e Andrá (ambos capazes de distinguir, em casa e no silencio do lar, e ao terceiro acorde, se o baixista naquela faixa é Milt Hinton, Paul Chambers ou Ron Carter) e ao fato de que a trilha sonora da casa de carnes ser fortemente programada com sucessos da banda Só Pra Contrariar, que não por nada, nosso querido amigo elegeu como "trilha sonora de sua vida". Bem provavel, por causa do nome... Ninguem é perfeito.

Todas as bricadeiras a parte, segue daqui um grande e afetuoso abraco a um amigo como poucos, de espirito elevado e humor afiado, e o desejo de que desfrute de muita SAUDE e das FELICIDADES merecidas pelos anos vindouros, alegrando-nos e irritando-nos alternadamente, o que faz como nenhum outro.

PARABENS, DAVID BENECHIS!!!

TUDO É JAZZ 08 : UM FESTIVAL EM ÉPOCA DE CRISE

26 setembro 2009

Por causa da “marolulinha”, o TEJ 08 saiu do maravilhoso ambiente do Parque Metalúrgico e ganhou as ruas de Ouro Preto, de forma democrática e definitiva para uns, porém impondo a outros o desprazer de ter que assistir a porção “Nem Tudo É Jazz” do festival.

Até o pacto com São Pedro foi rompido pois o dilúvio de sábado impediu-me de assistir aos shows de Leonardo Cioglia e Duduka da Fonseca.
Na 6ª feira os trabalhos começaram com a Kate “Schatta” e seu trio. Cantorinha de voz monocórdica e guitarrista com poucos recursos, navega numa linha tipo Pop/Folk de qualidade duvidosa até para a garotada.

Acompanhada pelo Sax Tenor John Ellis, que tentou passar o mais despercebido possível e pela ótima baterista Terri Lyne Carrington.

O melhor do show foram 2 solos livres de Terri Lyne e o pior do show foi ver a mesma Terri lendo as partituras para tentar tocar aquela musiquinha “Schatta.”

Cotação : @

Depois, tivemos o melhor do festival. Avishai Cohen e seu grupo tocando, principalmente, o disco After The Big Rain, com Omer Avital no baixo, Daniel Friedman na bateria e Lionel Loueke, guitarrista africano do Benin.

Assisti o show ao lado do Mestre LOC que, como eu, ficou impressionado com o mais velho dos irmãos Cohen.

Como diria Nelson Rodrigues, Avishai melhora a cada 15 minutos, tirando de seu trumpete um som claro, límpido, fortíssimo quando necessário e profundamente lírico nas passagens em tom menor.

Compositor inspirado, percebe-se em seus temas a origem oriental, algo “klezmer”, difícil de expressar apenas com palavras.

Lionel Loueke com sua guitarra percussiva, dá um toque “heavy” ao grupo além de alguns poucos vocais em sua língua natal que não comprometem. Sobre Avital e Friedman não preciso dizer que são de 1ª classe.

Cotação : @@@@3/4 – Perdeu 1/4@ por causa de uma eletrônica estridente aos meus ouvidos em 2 ou 3 temas.

PS : Comprei o cd após o show (gravado em 2006) e pude constatar a enorme evolução do som de Avishai de lá para cá.


Sábado devido ao dilúvio que se abateu sobre Ouro Preto, não pude assistir ao show do Cioglia e só peguei as 2 últimas músicas do Duduka. Leiam o post do Guzz.

De pé junto ao palco, entre estudantes, cigarros “diversos” e bebidas, eu, minha heróica mulher, Guzz e Salsa, assistimos ao tributo a Billie Holiday.

Dirigidos pelo jovem arranjador israelense Oded Lev-Ari ( ainda vamos ouvir falar desse cara! ), um septeto de cobras chamado de “Lady Day All Star Band” entrou no palco e tocou o tema de abertura sem a incômoda presença das cantoras.

A Banda : Anat Cohen - clarinete, Ingrid Jensen - trumpete e flugel, Marcus Strickland - tenor, Bucky Pizzarelli - guitarra, Mulgrew Miller - piano, Ron Carter - baixo e Antonio Sanchez - bateria.


Aí começou o drama. Entrou no palco uma insegura cantora e CONFIRMADO : Madeleine Peyroux DESAFINA MUITO. Nos registros mais graves então é um horror! Ela canta On The Sunny Side Of The Street e Swing Brother Swing.

Porém, os arranjos de Lev-Ari, abriram enormes espaços para Anat voar em Swing Brother Swing, os 3 sopros trocarem solos em No Regrets, Ingrid arrasar no flugel em Don’t Explain.


Depois, Miss Peyroux chama ao palco a bizarra figura de Martinalia, que “interpreta” God Bless the Child. Foi a 1ª vez em 70 anos que alguém cantou esta linda e triste canção aos RISOS !!

Durante Nice Work IF You Can Get It, ela importunou Miller e principalmente Carter que ficou tenso com as brincadeiras de Miss Martinalia.


A seguir, Marcus Strickland abre com um solo inspiradíssimo à capela, Body and Soul, destruída na seqüência pela RISONHA Martinalia.


Mas nosso Oded é sábio e sem as “Ladys”, ouvimos 2 duetos simplesmente espetaculares : Anat com Bucky em After You’ve Gone e Ingrid com trumpete surdina e Sanchez em Love For Sale.

Em seguida, Miller tocou em piano solo um maravilhoso These Foolish Things, seguido do quarteto sem os sopros onde o destaque foi o brilhante Bucky Pizzarelli, talvez o último representante da “Rhythm Guitar”.


O mix Peyroux e Martinalia voltou ao palco, mas eu já estava satisfeito com a porção Jazz do espetáculo. Foi uma pena o desperdício, pois poderíamos ter o dobro de prazer ouvindo a banda sem a obrigação de ouvir “As Estranhas no Ninho”.

A idéia de juntar a tímida Madeleine com a escrachada Martinalia foi tão estapafúrdia que beirou o nonsense. Foi um “sucesso popular”, mas este tipo de mistura matou Montreux.

Cotação : @@@@@ para músicos e maestro e ½@ para cantoras e produção.


No domingo, novo aperto no show de Richard Galliano e Hamilton de Holanda, um grande sucesso entre a garotada, com choro, forró etc... De onde estava, podia ouvir, mas não ver o show. Sem cotação.

Ao final, com a debandada dos estudantes, pude sentar confortavelmente junto ao palco e curtir a última atração, a Paris Jazz Big Band.

Da banda original, veio apenas um tenteto (3 saxes, 2 trumpetes, 2 trombones e piano, baixo elétrico e bateria.).

Os franceses liderados pelo trumpetista Nicolas Folmer e pelo sax tenor Pierre Bertrand tocaram quase 2 horas um repertório próprio, com um som pesado, bons arranjos, muitos riffs, e solos bem elaborados de todos os sopros, com destaque para Bertrand, arranjador e principal compositor do grupo.

Pelo que ouvimos e pelos cds Paris 24 horas e Mediterrâneo, diria que seu som está muito mais para “Jazz Orchestra” do que para “Big Band”.

Cotação : @@@@1/2

Esta maratona ao ar livre e gratuita, torna-se cansativa demais. Ou chega-se cedo para sentar, sem direito a levantar, ou assiste-se de pé com total desconforto.

Ficamos sem conversar com os amigos, sem comida, bebida e finalmente sem saco.

Sei das dificuldades impostas pela crise financeira, mas espero que o formato desse ano não se repita. Caso contrário, tô fora..


THE TOWN HALL – EDDIE CONDON CONCERTS – (3)

25 setembro 2009

Fats Waller ............................................................................................................................ James P Johnson









Esta série apresenta trechos de concertos de Dixieland Jazz produzidos por Ernest Anderson e dirigidos por Eddie Condon, diretamente do Town Hall na cidade de New York em transmissões pela National Broadcasting Corporation Radio.
Estas apresentações gravadas no Town Hall eram também distribuídas para a AFRS - ARMED FORCES RADIO SERVICE –– organização militar para irradiação broadcast de rádio, criada em 1942 para operar nas bases norte-americanas da 2a Guerra Mundial tanto na Europa quanto no Pacífico.
O programa que foi ao ar em 17/junho/1944 foi dedicado à memória de Fats Waller falecido em 15/dez/1943. Eddie Condon apresentou várias composições do inusitado pianista e vocalista ― Thomas Wright Waller, apelidado de "fats" dado à sua compleição bastante avantajada.
Fats Waller além de excelente pianista da escola STRIDE do Harlem ganhou grande notoriedade como cantor dando sempre um cunho irônico às interpretações.
Notável compositor criou magníficas melodias, a maioria associadas ao grande letrista Andy Razaf.
No podcast postado abaixo o primeiro número é I'M CRAZY 'BOUT MY BABY um piano solo por James Price Johnson grande pianista também da escola stride convidado por Condon e que apresentou 3 peças neste concerto.
Seguem-se dois dos maiores sucessos de Waller - AIN'T MISBEHAVIN' e HONEYSUCKLE ROSE peças sempre lembradas pelos grupos dixieland e do jazz mainstream. Eddie Condon anuncia.
Encerra nosso podcast ― BUY BONDS BLUES com vocal de Hot Lips e também o concerto é finalizado pelo "announcer" oficial Fred Robbins.
O grupo que atua é formado por: Eddie Condon (gt e lider), Bobby Hacket (cornet), Oran "Hot Lips" Page (tp e vo), Bill Harris (tb), Ernie Caceres (sax bar), Pee Wee Russel (cl), Eugene Schroeder (pi), Bob Haggart (bx) e Joe Garuso (bat).
Fonte: CD Jazzology – JCE1003 -1998 – EUA

TOM SUR TOM

Tom Jobim morreu sem avisar em 1994 – precisamente dia 8 de dezembro, Hospital Mount Sinai, Nova Iorque. Como se houvesse um acordo entre as partes, geográficas inclusive, sua obra musical rejuvenesceu. E assim se mantém, adolescente. No Brasil e no mundo o songbook do maestro foi explorado, revisitado, relido. Também pelos jazzistas, que sempre sugaram essa fonte generosa. Lee Ritenour (A Twist Of Jobim), Joe Henderson (Double Rain), Stefano Bollani (Falando de Amor), European Jazz Trio (Saudade- parcialmente), Brian Bromberg (In The Spirit Of Jobim), Eliane Elias (Plays & Sings Jobim) e Fred Hersch (Plays Jobim), entre outros, reconstruíram como bem entenderam os clássicos jobinianos. Pelas bandas de cá não foi diferente. Toninho Horta (From Ton To Tom), Toninho Horta & Joyce (Sem Você), Ivan Lins (Jobiniando - parcialmente), Fátima Guedes (Outros Tons), Marcos Resende (About Jobim And Other Masters – parcialmente) são alguns casos. Poderia ser mais. Se não fosse pela dificuldade e desafio que a música de Jobim requer. Não basta ser apenas mais um disco de bossa-nova. Há que se acrescentar alguma coisa, um novo condimento, adubo, nem que seja para mudar a cor original, ou, no mínimo, como dizem os franceses, um ton sur ton.
No pipocar da revolução, 1964, Wanda Sá e Roberto Menescal fizeram um disco marcante da bossa-nova, Vagamente – o tratamento acústico natural de um estúdio impediu que o barulho das ruas fosse registrado nas gravações. Ainda nesse clima, em dezembro, o país recebeu um garoto de Buenos Aires, que, ato contínuo, se apaixonou pela nossa música – a outra paixão, o Botafogo, seria óbvia. Victor Biglione se transformou num dos grandes e mais originais guitarristas brasileiros. Detalhar sua trajetória não há porque, é desnecessário aqui. A não ser o fato de ter participado de uma das produções do CJUB, no antigo Mistura Fina, via David Benechis. O que vem ao caso é o seu último CD, Uma Guitarra No Tom (Delira Música, 2009). Ao lado de Sérgio Barrozo (baixo) e André Tandeta (bateria), Biglione retoca – dar retoques em – a música de Jobim.
Quando Nat Cole em 1937, com Oscar Moore e Wesley Prince, quase que oficializou a formação de trio, o jazz agradeceu. De lá para cá, piano, baixo e bateria marcam o formato. A substituição eventual do piano pela guitarra não é tão comum. E foi por aí a idéia inicial de Biglione. “Mudei certas harmonias e realcei alguns elementos melódicos, mas sem cair naquela coisa exagerada da desconstrução”. Houve também a intenção de não se remeter aos álbuns antigos dos trios brasileiros. “A levada da bateria, por exemplo, não poderia ser nem Édison Machado, nem Milton Banana, nem Dom Um Romão”. E nem poderia. A atmosfera do trabalho traz um tempero claramente jazzístico. Esse foi o diferencial nas performances de Biglione, Barrozo e Tandeta. “Só posso desejar que o trabalho de escutar seja tão prazeroso prá você quanto foi para nós gravar esse disco”, diz Tandeta. A simples audição de Ligia, que abre o CD, é mais que suficiente para perceber que os objetivos da difícil missão foram integralmente alcançados. Tandeta é um baterista correto, sensível, preciso, que deixa os parceiros à vontade, seguros. O mesmo em relação ao Barrozo – “Sergio foi fundamental na bossa nova, gravou com todo mundo. É um âncora, importante para conseguir um resultado meio beco, mas que não caísse naquela coisa de resgate de sonoridade antiga”, diz Biglione.
Uma Guitarra No Tom é agradável e criativo do inicio ao fim. Tem todos os ingredientes que fazem um disco definitivo, obrigatório. Não é por acaso que Biglione se emocionou com a inigualável crítica do nosso LOC. Não é por acaso que o show de lançamento na Sala Baden Powell foi gravado e logo será exibido pela TV Brasil. Não é por acaso que a Delira está analisando propostas para a edição em praças internacionais. Não é por acaso que o nosso Sazz confessa: “Considero uma das melhores ou a melhor homenagem ao nosso maestro soberano na forma de trio”. An passant, Pat Martino, na minha opinião uma das boas influências de Biglione, assinaria esse CD com louvor. A música brasileira agradece.
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Uma Guitarra No Tom (Delira Música 2009)
Victor Biglione – guitarra, arranjos
Sergio Barrozo – contrabaixo
André Tandeta – bateria

01. Ligia
02. Mojave
03. Vivo Sonhando
04. Fotografia
05. Água De Beber
06. Chovendo Na Roseira
07. Samba De Uma Nota Só
08. Look To The Sky – Olha Pro Céu
09. Só Danço Samba
10. Tema De Amor De Gabriela

Som na caixa: Ligia


“I LOVE JAZZ FESTIVAL” – ÚLTIMA NOITE


A noite de encerramento do festival trouxe de volta a pianista Judy Carmichael, desta vez na companhia do guitarrista James Chirillo e do magnífico saxofonista Harry Allen. Muito comunicativa, Judy falou em português, repetiu antigas “gags” e tocou muito bem, arriscando a voz em dois números. Muito bom o guitarrista , quer nos solos quer no acompanhamento a la Freddie Greene e o destaque foi para Harry Allen, cujo sax-tenor empolgou a platéia que o aplaudia em meio aos solos. Escola Lester Young/Stan Getz, não deixou de mostrar que também ouviu mestres como Ben Webster e Coleman Hawkins. Foi o grande destaque da noite.
Na sequência tivemos os “New Orleans Joymakers”, chefiados pelo clarinetista Orange Kellin , que aqui já estivera integrando o “New York Jazz Trio” em apresentação única no falecido “Mistura Fina”. O grupo é fielmente ligado ao Jazz de raiz, o “New Orleans” puro , que se percebe facilmente pela marcação da bateria, sempre próxima a batida de marcha. Excelentes músicos, cada qual desempenhando o seu papel com rara eficiência. Linha de frente com Orange, Mark Brand(tp) e Fred Lonzo (Tb), esse o animador do show, fazendo do seu trombone tailgate uma das atrações do grupo. O ótimo trompetista Mark Brand mostrou categoria cantando “Kiss me sweet” quando exibiu uma bela voz. O pianista Steve Pistorius é uma raridade. Conhece tudo de Jelly Roll Morton, mostrando em seus solos pleno conhecimento do estilo. Walter Payton executa o seu contrabaixo sem nenhum esforço e quando solou mostrou competência. Já o baterista Bernard Johnson, que chamara a minha atenção desde o início, confirmou as minhas expectativas quando teve o seu número de solo. Espetacular, técnica apurada e um extraordinário bom gosto nos desenhos rítmicos. Foi uma magnífica noite de encerramento.
Para minha surpresa, fui entrevistado pelo Canal 14 de Belo Horizonte, quando a apresentadora (muito bonita por sinal) Sandra Coelho me pediu as impressões do festival e que eu falasse sobre o Jazz em geral. Contei-lhe, entre outras coisas, sobre o programa “O Assunto é Jazz” que teve 29 anos de duração e a coisa animou. Terminada a entrevista pegou minha mão e disse que ia me apresentar ao curador do festival. Nesse momento ele não estava no local e a coisa ficou para depois. Nova surpresa. Outra repórter, também muito bonita ,solicitou entrevista para um outro canal de TV de Minas. Acedí e ela ao saber da minha ligação com a arte disse para o câmera, “acertamos na mosca”. Fui em seguida apresentado ao curador do festival que ao saber das minhas impressões ficou agradecido e confortado. Na saída, mais uma vez a segunda repórter perguntou se eu podia dizer “I Love Jazz” para a câmera. Concordei e mais uma vez ela agradeceu dizendo ter “acertado na mosca”. Assim fui promovido a mosca. Esperamos que tanto o “I Love Jazz” como o “Jazz Festival Brasil” tenham vida longa, mostrando a todos a autêntica arte negroamericana.

COMO FOI O “I LOVE JAZZ FESTIVAL”


Foi de fato surpreendente a qualidade desse novo festival. À exemplo do “Jazz Festival Brasil”, focaliza os antigos estilos de Jazz, aqueles que pelo menos no Rio de Janeiro não se ouve mais. Comparecemos às duas últimas noites já que a estréia não nos entusiasmou. Nem Catherine Russell, filha do maestro Louis Russell, nem o grupo francês “Pink Turtle” (nomesinho suspeito) animaram. Tínhamos razão. Pelo vídeo exposto, antes dos shows, vimos que não perdemos grande coisa. Na segunda noite um show único da “Benny Goodman Centennial Band”, dirigida pelo clarinetista Allen Vaché, irmão de Warren que também faz parte da orquestra. Que banda ! Nós já assistimos a algumas orquestras organizadas após a morte de seus líderes como a “Tommy Dorsey Orchestra”, a “Glenn Miller Orchestra” e a “Count Basie Orchestra”. Essas a meu juízo, simplesmente tocavam os arranjos originais sem muita empolgação . Mas, essa “Benny Goodman Centennial Band” ultrapassou toda e qualquer expectativa em matéria de qualidade. Com a formação de três trompetes, dois trombones e quatro saxofones e mais a seção rítmica com piano, baixo e bateria executou os clássicos do repertório de Benny Goodman com extrema fidelidade. Arranjos de Fletcher Henderson e do pianista John Sheridan muito bem executados. E tem mais, todos os músicos da orquestra são solistas com destaque naturalmente para o trumpete de Warren Vaché e do pianista John Sheridan, exímios em seus improvisos, tudo dentro da escola swing tão bem divulgada por Benny Goodman. É aquele Jazz em que as pessoas marcam os compassos com os pés ou estalam os dedos. Empolgante quando no final de “Don’t be that way” os músicos ,nos últimos compassos ,levantam e terminam o tema sob ovação da platéia, também de pé. O final do show apresentou espetacular versão de “Sing,sing,sing”, quando o baterista da orquestra cujo nome não conseguimos captar, produz um solo maravilhoso, apresentando uma técnica fantástica e bem diferente da que Gene Krupa apresentou com Benny Goodman. Final do show com a orquestra agradecendo os aplausos da platéia que de pé agradecia a bela noite musical e lá em cima certamente Benny Goodman estaria dando o seu sorriso de aprovação.

DRINK CAFÉ - 22 e 23 SETEMBRO

24 setembro 2009

Alertado em cima do lance por um amigo que só dá bizus interessantes, postei aqui uma chamada para essa novíssima casa a abrigar música de qualidade no Rio, talvez a derradeira parada no panorama desolador do grande deserto musical carioca. E fui lá por duas noites seguidas para constatar que, se prestigiada e frequentada pelos interessados(nós), tem como se firmar como bom reduto para o jazz, a bossa e demais manifestações onde a utilização acústica predomine sobre a amplificada.

Trata-se de um casarão em Botafogo que sua proprietária, a Ana, vem preparando para se firmar como um templo de devoção ao seu próprio amor pelo jazz, sem o qual diz não poder viver. No segundo andar há diversas saletas que convergem para uma, central, onde ficam o piano e os músicos. Há paredes demais no caminho? Sim. Uma obra futura se encarregará de eliminá-las, em prol de uma visão mais privilegiada? Talvez. O som é bom? Inacreditavelmente, graças à não amplificação dos instrumentos, sim! Dá para conversar/namorar/beber/comer durante as apresentações? Sim, sem que isso incomode a ninguém. Ou seja, vai depender da programação e de nós, irmos prestigiá-la.

Ou seja, temos um lugar que poderá se firmar como um clube de jazz, a despeito da limitação de horário. Por conta da vizinhança, tudo acaba, musicalmente falando, às 22 hrs. Uma questão de manutenção da licença, observa Ana, cuja "experiência" no ramo vem de seu quiosque na orla da Lagoa, onde por muito tempo houve música tocada por ótimos músicos, e predominancia do jazz que lhe é tão caro.

Foi assim que fomos ver o grupo liderado pelo contrabaixista mineiro radicado em Nova Iorque, Leonardo Cioglia (que toca no quinteto do Duduka da Fonseca ali presente na segunda noite para conferir os trabalhos). Cioglia apresentava seu ultimo CD, "Cantos" na companhia de um belo time de músicos radicados e atuantes em NYC. Assim, abriu os trabalhos com um sensacional Aaron Golberg no piano (instrumento, infelizmente, de muito baixa qualidade, sendo ponto ao qual se deva dedicar alguma atenção no futuro), um jovem e muito competente Mike Moreno na guitarra de timbre sutil, o saxofonista - completo, com 8 airbags - John Ellis no tenor, e o criativo baterista Daniel Freedman garantindo o pulso. Na primeira noite, ainda se apresentaram um fabuloso Gabriel Grossi na gaita e o surpreendente - para mim, pois nunca o ouvira tocar antes - Joca Perpignan na percussão, com muito boas intervenções.

Se os temas de Cioglia não fogem das raízes e tradições mineiras, trazem linhas melódicas interessantes que, uma vez expostas, permitem boas vertentes de improviso sobre elas, principalmente por músicos da qualidade técnica e inventividade dos que ali estavam, em ambas as noites. Destaque para Golberg, um pianista que encanta a própria tribo quando toca, tal sua técnica e sua verve, a banda passando a acompanhar sua performance com interesse redobrado, como a apreender cada nota das maravilhosas sequencias por ele engendradas, principalmente nos temas de andamento mais rápido, onde se transforma num percussionista adicional, fazendo o piano - e a platéia - vibrarem com seu entusiasmo e suas idéias. Toca de olho em Freedman, com quem gosta de interagir, sendo correspondido com idéias estimulantes pelo baterista. Este passa de climas amenos a trovoadas controladas, com total domínio dos variados beats, surpreendendo a todos por sua desenvoltura nos ritmos brasileiros, que executa quase sem sotaque.
O tenorista Ellis é um craque, sabe tudo de sax tenor, domina o instrumento e improvisa fácil demais, faltando-lhe apenas um pouco de "calor humano". Como estende suas participações para além do "ponto de entendimento médio" do povão, viaja para o interior de sua ampla competência, dificultando o acompanhamento do tema central, fazendo música para os outros músicos, na minha humilde opinião. Já Moreno usa a guitarra com maestria, como se fosse parte do seu corpo, tamanha a facilidade e a fluidez com que se expressa. Talvez pelas características dos temas de Cioglia, mais para "trilha sonora" (tema aqui recorrente, depois dos posts sobre Blanchard) do que outra coisa, não percebi em sua atuação os chops & chords que tanto me encantam nas guitarras jazzísticas, achei que faltou-lhe uma melhor divisão do tempo, seus solos um infinito encadeamento de notas com nítida influência (na afinação, inclusive)de Metheny, mas sem a concatenação deste. Foi bom, mas podia ter sido melhor (como Biglione, se ali presente, faria).
A grande surpresa para mim, na primeira noite, foi o nível atingido na gaita, por Gabriel Grossi. Se seu mestre Maurício Einhorn improvisa a metro, e se, comparativamente, Toots Thielemans improvisa dois metros, Grossi está tão afiado que é possível dizer que sua capacidade técnica e musical no instrumento permitem-lhe, hoje, improvisar usando a velocidade, a respiração, a entonação e na mistura de notas curtas e sopros longos, tudo isso sem perder de vista a capacidade do público "entender" suas linhas, o equivalente a uns cinco metros. O menino que pudemos conhecer numa noite de terça chuvosa no Centro do Rio há coisa de uns seis anos, e que já se mostrara "abusado" numa incrível "Stella By Starlight" que marcou a todos os cjubianos presentes, evoluiu amplamente e posso dizer-lhes que é, hoje, jazzista top, podendo apresentar-se, sem susto, em qualquer palco do mundo. Valeu o ingresso, com folga.

O que nos leva à força da natureza que é a Anat Cohen, atração extra, junto com o pandeirista Scott Feiner, na segunda noite. Que fabulosa intérprete e que simpatia de pessoa! Pilotou seu clarinete com uma competência e uma alegria que somaram tanto à banda, que a fez ficar ainda melhor. Perfeitamente à vontade com o grupo, brincou de tocar e em temas mais animados de Cioglia, demonstrou toda a sua afinação e a sua imensa capacidade (e que facilidade!) de improvisar. É, realmente, tudo o que se diz dela e mais um pouco.

Com a presença de inúmeros músicos na platéia a prestigiar a casa - contei lá Ricardo Silveira, David Feldman, Wilson das Neves, a cantora Ana Carolina, o Duduka já mencionado e até a cantora e compositora italiana Chiara Civello, radicada em NY mas em temporada no Brasil, e pedindo desculpas a outros não mencionados -, Ana sentia-se, ao final da segunda apresentação, feliz com o resultado daquela experiência "de grande porte" da casa. Sorria fácil, o coração enfunado pelos ventos da boa música ali produzida.

Que possamos contar com esse "refúgio" por longo tempo, para lá ouvirmos jazz de primeira, tal como a "banda do Cioglia" nos proporcionou nas duas noites. E que muitos outros craques venham nos apaziguar a existência com mais música de qualidade.

Para a experiência toda, dou @@@@. Como incentivo, e com a esperança de que se perpetue.

As fotos são do BraGil, exceto a montagem dos autógrafos, deste narrador.

MORREU O BATERISTA EDDIE LOCKE

22 setembro 2009

Mestre Raffa me informa e eu divulgo para os cejubianos. Foi em 9 de setembro que faleceu o baterista Eddie Locke, aos 79 anos de idade. Seu trabalho está bem representado pois protegido de Jo Jones, foi aos poucos tocando com gente importante como a dupla Coleman Hawkins e Roy Eldridge. Atuou e gravou também com Roland Hanna, Ray Bryant, Teddy Wilson , Earl Hines, Tyree Glenn, Kenny Burrell e Warren Vaché. Um excelente currículo para um baterista não muito focalizado pela mídia. Pneumonia foi a “causa mortis”.
RIP

SLOW BOLLANI

Algumas gravadores são tão marcantes que conseguem impor uma linguagem musical acima do seu próprio cast. A ECM - entenda-se o alemão Manfred Eicher - é caso típico. Sempre foi assim. São discos sonoramente delicados, quase artesanais. Geralmente intimistas, perto da introspecção. Nem mesmo os músicos mais rebeldes, criativos, escapam desse carimbo. Nem mesmo um pianista inquieto e genial como o italiano Stefano Bollani (36, Milão). Sim, ele acaba lançar, dessa vez em trio, o seu segundo CD pela ECM.
Bollani foi ouvinte passivo dos pianistas mais populares da década de 50, como Brubeck e Peterson. O pai tinha uma discoteca enorme e adorava jazz. Mas se houve influência, hoje desapareceu. Bollani é Bollani. E o que impressiona é a sua produtividade. Eleito o melhor músico europeu em 2007, ele grava sem parar e mantém uma agenda anual que inclui mais de 300 apresentações. Lotou a Sala Cecília Meirelles ano passado em show solo – pelo que sei nenhum cejubiano esteve lá, mancada irreparável. O repertório, como ele, é imprevisível. Vai de um Tico-Tico no Fubá até Parker, Gershwin, Jobim, Legrand, Nelson Cavaquinho, etc. A estratégia da ECM para “domar” o leão não deve ter sido nada fácil.
Stone In The Water é o título do CD. Bollani reaparece com o trio dinamarquês – o mesmo de Mi Ritorni In Mente (2004) –, com Jesper Bodilsen no contrabaixo e Morten Lund na bateria. Prá variar, um set-list ousado e algumas notáveis reconstruções, ao estilo ECM. Dom de Iludir (Caetano) e Brigas Nunca Mais (Jobim), exemplos, receberam uma dose fortíssima de ilusionismo. No resto, composições de Bodilsen, Francis Poulenc e do próprio Bollani.
Raramente se ouviu um Bollani tão comportado – no bom sentido, claro. Aquela atmosfera de um Jarrett ou Evans. Sem prejuízo para a conhecida e invejável concepção harmônica desse super talentoso italiano. Nem parece o mesmo pianista que no Umbria Jazz 2009, em dueto com Chick Corea, assombrou o mundo do jazz com um arrojo delirante. E que fez o próprio Corea, aliás em belíssima forma, se render: “É uma honra tocar ao lado de um gênio como o Stefano."
PS. Se o Monk estivesse vivo e visse o que o Corea e o Bollani fizeram com Blue Monk, jamais encostaria um dedo no piano. Só para compor.
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Stefano Bollani Trio – Stone In The Water (ECM 2009)
Stefano Bollani – piano
Jesper Bodilsen – bass
Morten Lund – drums

01. Dom De Iludir
02. Orvieto
03. Edith
04. Brigas Nunca Mais
05. Il Cervello Del Pavone
06. Um Sasso Nello Stagno
07. Improvisation 13 En La Mineur
08. Asuda
09. Jocker In The Village
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Som na caixa: Brigas Nunca Mais (uma indireta velada a todos os integrantes do CJUB)
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IMPRESSÕES DE OURO PRETO

21 setembro 2009

Este ano resolvi presenciar o Tudo é Jazz, afinal já era sua oitava edição e deixei de ver muita gente boa que apareceu por lá. Mas esse ano peguei a estrada e tomei rumo para a pequena e simpática Ouro Preto, palco interessante para a promoção do festival que este ano foi ao ar livre e os shows gratuitos, tudo muito bem organizado, cadeirinhas para o público e espaço adequado ao redor para suportar os visitantes que gostam da boa música.
Oportunidade também para encontrar nossos amigos cjubianos Gilberto, Ivan e Luiz Orlando Carneiro e os outros blogueiros Salsa (jazzbacyard), Olney Batera (melobatera) e Wilson Garzon (clube de jazz).













Noite de sexta
, aos primeiros acordes as preferências de cada um presente começam a se manifestar e logo na abertura do festival a menina guitarrista Kate Schutt parece não agradar a quem estava esperando ouvir jazz. É verdade, ela náo toca jazz mas faz muito bem o som que ela se propõem a apresentar, um som mais pop e recheado da mistura de Joni Mitchell, Joan Armatrading e Erika Baddu (pra quem gosta!), ela ouve essas moças; voz de menina mas com presença no palco apesar de não ser uma virtuose no instrumento, abraçada na maioria do show a uma Gibson Les Paul com um registro limpo e bonito mas sem tempero nos solos. A banda não compromete, o sax tenor Jason Ellis não desenvolveu seus solos mas não comprometeu; e o grande destaque foi a excelente baterista Terri Lyne Carrington que deu seu show a parte, ainda bem que com muito espaço para seus improvisos em diversas passagens e em quase a totalidade do show sempre atenta às escritas partituras como se não habituada ao som de Kate.
O melhor momento do show foi um releitura bem moderna do tema de What's Love Got To Do With It (Tina Turner) dando até espaço para uma citação de Summertime.
Não foi uma apresentação jazz, mas também não precisava !














O público se chega mais para o show do trompetista Avishai Cohen.
Simplesmente espetacular ! Acompanhado por Omer Avital contrabaixo, Daniel Friedman bateria e Lionel Loueke violão. Confesso, tenho uma certa aversão ao som de Lionel Loueke, não gosto do timbre do seu violão nylon; mas ele conquistou seu espaço (Viva Hancock !). Fez uma excelente base para o grupo de Avishai, mérito para ele, respondeu a todas as chamadas e provocações melódicas de Avishai mas não é nem de longe um improvisador, seu vocalise africano (nisso ele é bom, mas o Richard Bona faz isso e muito mais !) deu o tempero para a proposta dos temas do último ábum de Avishai After the Big Rain e do grupo Third World Love.
Avishai é um show, uma tremenda energia que ele coloca em seu trompete e apesar do uso em alguns momentos dos efeitos de delay, chorus e waw waw soube dosar moderadamente sem deixar a eletrônica tomar a frente. Espaço para improvisação de todos, Omer Avital brilhante, preciso, melódico; Daniel Friedman com uma pulsação vibrante do início ao fim e um solo sensacional; Lionel Loueke, bom, deixa pra lá, o importante é que contagiou o público e eu também, era festa ! Um bis apoteótico com Nature`s Dance (Third Word Love) !
Salve Avishai, fiquei fã !

Sábado pela manhã e estão na passagem de som os all-star do festival; e lá estou eu na oportunidade de ver Bucky Pizzarelli aos 83 anos bem a vontade abraçado a sua archtop de 7 cordas sentado numa cadeirinha e com uma simpatia ímpar. Lógico que fiz o meu papel e tirei uma foto com ele para a posteridade.










Já na passagem de som, uma palhinha do que seria a noite ... Oportunidade rara, pelo menos pra mim, de ver esses caras juntos no palco.














E com o solzinho escondido nas nuvens e a cerveja gelada no início da tarde de Ouro Preto fui com nossos amigos Ivan e Nelson para a canja dos mineiros.
Pois é, a mineirada quebrando tudo no bar Bené da Flauta, perto da praça principal – Chico Amaral sopros, Magno Alexandre guitarra, Eneias Xavier contrabaixo, Ricardo Fiuza teclados, Limão bateria e com direito as canjas do guitarrista Juarez Moreira e o pianista Marcio Hallack; jazz, bossa e muito som a tarde toda e já tinha a promessa para o final da noite da presença do Ron Carter. Saindo dali a chuva chegou e atrapalhou a intenção de comecar a ver os show que comecariam às 17hs. Nãi vi o sexteto do contrabaixista Leonardo Cioglia que trazia o baterista Antonio Sanchez, sideman do Pat Metheny e o nome da bateria na atualidade.
Só cheguei no palco principal por volta das 20hs com o encerramento do show deles que já tinha começado atrasado. Enfim, perdi !

Realmente o público começava a chegar em peso e o local já estava intransitável, mas achei meu lugarzinho na frente do palco e por lá fiquei, até porquê se saisse não voltava mais.














Sobe ao palco o Duduka da Fonseca e quinteto abrindo com o tema Terrestris (Tom Harrel), seguiu com Pro Zeca (Assis Brasil) e manteve o ritmo e pegada do repertório até o final; o momento mais cool foi com Passarim (Jobim) com destaque para o exótico trompete de Claudio Roditi – tocou muito; Chorinho pra Ele (Hermeto ?) onde a protagonista foi a clarineta de Ana Cohen; e mesmo com o reinício da garoa que insistia em cair, Duduka agradeceu a presença animada do público e chamou Dona Maria (Trio da Paz) e fechou arrasador com Vera Cruz (Milton) com um belo solo introdutório do contrabaixista Leonardo Cioglia. Bom, Helio Alves nem preciso dizer, tocou demais, engoliu o piano; e que alegria dessa menina mulher Anat Cohen, ela não para no palco, sempre se mexendo, dançando, sorrindo, abraça o tenor, o soprano, a clarineta e toca uma barbaridade ... nem precisava ! Showzão.













Volta a garoa e a expectativa em relação a principal atração da noite. Ron Carter, Mulgrew Miller, Bucky, Antonio Sanchez, Marcus Strickland, Ingrid Jansen, Anat Cohen no palco ... precisa dizer mais dessa banda ? Pois é, chega junto Madeleine Peyroux abrindo com Lady be Good e On the Sunny Side of the Street; e a galera já tava gostando quando ela convida Mart´Nália ao palco e se retira. O público gostou do convite ... e a convidada com seu jeito malandro logo diz - “hoje sou do jazz” !
E eu vou te dizer, mesmo lendo as letras das músicas fez o seu show e logo mandou a balada God Bless the Child, pegou o pandeiro, deu-lhe umas palmadas e em ritmo de samba-morro-bossa-jazz mandou Nice Work If You Can Get It, que eu gostei do jeito que ficou; e mandou mais um baladão Body & Soul ... Pois é meus amigos, Baba Baby !!
Também com uma banda dessas dando suporte tudo é festa, tudo é jazz ... e como ela mesmo se descreveu sobre a apresentação – “to enrolada, mas rolou” ! E rolou mesmo, a galera gostou e temos que admitir que foi muito ousado.

Domingo cedo parti de volta pro RJ, não fiquei pra ver a Paris Jazz Band que deve ter sido tudo de bom.
É isso. Ano que vem tem mais !

TEATRO SÃO PEDRO EM NOITE DE GALA

Sábado 19/setembro/2009 foi noite de gala no Teatro São Pedro (magnífica sala de espetáculos localizada na Barra Funda, São Paulo / capital), com sua platéia e galerias inteiramente lotadas.
Os "45 Anos da Traditional Jazz Band Brasil" foram regiamente comemorados, com lançamento do CD comemorativo ("Historic Route 45") e apresentação dos "meninos" (Austin Roberts/trumpete, Marcos Mônaco/clarinete e sax-tenor, "Willie" Anderson/trombone, Edo Callia/piano, "Dudu" Bugni/guitarra e banjo, Carlos Chaim/baixo e "Cidão" Lima/bateria).
Como músicos convidados e que também participaram da gravação do CD, Zeca Maluf/sax-tenor, Zeca Araujo/baixo, Paulo "Sorriso" Lima/bateria, Luchin Montoya/piano, Fernando Seifarth/guitarra e a vocalista Ida Muhlemann, todos com alto astral e dando seu recado.
Foram executados temas constantes do CD e, também, sucessos anteriores da banda.
Antes do espetáculo foi servido para um grupo de convidados um magnífico cocktail, com doces, salgados, vinho e alentado "chá escocês".
A abertura do espetáculo foi feita com locução sobre a carreira da banda, seguindo-se a entrada em cena dos "meninos", todos em traje a rigor.
Como vem ocorrendo desde o início do projeto "Vamos ao Jazz" (início da década de 90 do século passado), a banda segue ampliando seu repertório, buscando outras vertentes da "Arte Popular Maior" para vestí-las com sua linguagem própria. Assim, tanto no CD dos "45 Anos" quanto na noite de gala no Teatro São Pedro, apresentaram sua versão de "Blue Monk" (do gigante Thelonius Sphere Monk) e "Nostalgia In Times Square" (do também gigante Charles Mingus).
No final do espetáculo e como "bis", foi executado o hino internacional do Jazz, "When The Saints...., com o público acompanhando e aplaudindo de pé.
Após o espetáculo os integrantes da banda autografaram CD's (venda superior à centena), com sua habitual integração com o público.
Para mim foi grande satisfação estar presente ao evento em que uma banda nacional, de JAZZ, de JAZZ tradicional, completa 45 anos.

URGENTE: HOJE E AMANHÃ, PROGRAMAÇÃO DE PRIMEIRA CATEGORIA

Nosso sempre atento amigo e aficionado pelo melhor jazz(além de parceiro da turma em vários festivais), Pedro Wahmann nos manda a informação abaixo, para uma data que considera absolutamente digna da presença dos jazzófilos de qualquer vertente. Eu é que eu marquei bobeira e, tendo viajado para fora no fim de semana, só agora pude rever o material e me dei conta da data premente: HOJE (e amanhã).

Leonardo Cioglia Group

O contrabaixista brasileiro radicado nos Estados Unidos desde 1991 é reconhecido em Nova Iorque como uma das mais brilhantes revelações da cena musical ligada ao jazz brasileiro e seus inúmeros sotaques.

Aproveitando a passagem pelo Festival Tudo é Jazz de Ouro Preto, como uma das atrações internacionais, Leonardo Cioglia Group se apresenta excepcionalmente esta segunda e terça feira, 21 e 22 de Setembro no novo DRINK CAFÉ HUMAITÁ.

Leonardo Cioglia Group:

John Ellis - Saxofones;

Mike Moreno - Guitarra

Aaron Goldberg - Piano

Leonardo Cioglia - Contrabaixo acústico

Daniel Freedman - Bateria

Participações especiais:

21set - Gabriel Grossi e Joca Perpignan

22set - Anat Cohen, Joca Perpignan e Scott Feiner

O Repertório inclui as músicas do disco CONTOS e possivelmente alguns temas do cancioneiro instrumental brasileiro.

Serviço:

Couvert artístico: R$20,00

Rua General Dionísio, 11 – Humaitá

Reservas: 2527 2697

O JAZZ E O FUTEBOL

20 setembro 2009

Em todas as reuniões do CJUB onde os apaixonados por jazz discutiam e conversavam sobre recentes audições, músicos, shows e festivais, sempre havia um momento onde o assunto era o futebol. Acho que entre diversos frequentadores de nosso almoço apenas um não participava das discussões futebolísticas.

Aqui no Rio tudo vai mal, muito mal. Apenas para um registro cronológico, nosso Vasco está na segundona, o Flu e o Bota estão na iminencia de serem rebaixados e o Fla não sobe nem desce. Os cariocas não tem muito o que falar de futebol, então vamos falar de jazz e bossa, onde as coisas tem acontecido (mais em Sampa do que no Rio).

Que o jazz seja eterno e que o futebol do Rio possa dar mais alegria aos cariocas.

Bom Domingo!

OUTRO FESTIVAL DE JAZZ

18 setembro 2009

A revista "Rio Show" de hoje, anuncia quase de surpresa a realização de mais um festival de Jazz no Rio de Janeiro. Trata-se do "I love Jazz" que será realizado nos dias 21,22 e 23 do corrente no Teatro Casa Grande. Entre as atrações estão a ótima pianista Judy Carmichael,o saxofonista Harry Allen, o quarteto da vocalista Catherine Rusell e o grtupo francês "Pink Turtle".
Vamos lá conferir.

TERENCE BLANCHARD - SALA CECÍLIA MEIRELLES - 14/09/09

17 setembro 2009

Cheguei à castigada sala de concertos no Rio para ver o quinteto de Terence Blanchard tendo deixado para trás um maravilhoso embate - a final do US Open de Tênis, entre o veterano recordista e multi-campeão Roger Federer e o jovem argentino Juan Martin Del Potro, força em ascensão no panorama atual. Como não sou um grande apreciador do estilo musical de Blanchard, a quem já vira em diversas oportunidades anteriores, compareci muito mais pela abstinência forçada de jazz ao vivo no Rio, associado ao empenho dos confrades do CJUB em estarem juntos, para ouvir e depois comentar o concerto, prática histórica e sempre muito agradável de convivência entre nós.

Logo ao entrar, a alegria de encontrar com Mestre Llulla - o bom - e poder abraçá-lo depois de tanto tempo. Sua presença era como uma chancela ao que estava por vir, em termos musicais, um certificado de garantia quanto à qualidade do jazz a iniciar-se em poucos minutos.

E bastou o concerto ter início, civilizadamente às 21:00 hrs em ponto, com a intervenção em solo do jovem baixista africano (Olatuja) por alguns vários minutos, seguido do também jovem pianista cubano (Almazan) e do baterista afrodescendente norte-americano (Scott), para que eu percebesse, mesmo antes da entrada dos sopros - o líder Blanchard no trompete e o arizoniano Winston no tenor - que presenciaríamos mais uma noite de muitas idéias, climas, virtuosismo e técnica mas, provavelmente, de escasso prazer, para não dizer algum "sofrimento".

Explico: para um interessado por jazz como eu, que iniciei muito jovem, antes dos 12 anos, minhas audições ouvindo majoritariamente a Dave Brubeck, a Bud Powell, aos Heath Brothers, a Gerry Mulligan, a Gene Ammons, a Stan Getz, ao Nat King Cole Trio, a Sir Roland Hanna, a Erroll Garner, a Billie Holiday e Ella Fitzgerald, a Chet Baker, a Sonny Rollins e a Bill Evans e fui me acostumando a essa vertente do jazz mais "macio", inflacionado de lirismo (em contraponto a fraseados tão mirabolantes quanto agudos e até certo ponto agressivos ao ouvido mediano), o que se prenunciava ali já se poderia considerar como a uma experiência "esotérica".

Pois que os compositores da atualidade, já tendo estudado todo o passado dos grandes mestres do jazz de trás pra frente e de cabeça para baixo, acham que tem de compor e executar "suites" tão geniais e intrincadas que deixem a todos - neófitos, velhófitos e bestófilos - embasbacados. Tanto por sua maestria na composição quanto na execução.

Na verdade, ficamos entalados com tantas idéias e notas e com o interplay em altíssima velocidade, que nem mesmo conseguimos perceber o swing, o beat. O quais, pelo menos, nos levariam a participar da alegria das interpretações que nos acostumamos a ouvir e a chamar de jazz. Algo com a exposição do tema central, sobre o qual os músicos apoiavam suas razões momentaneas, improvisadas, mas que podíamos, no mais das vezes, acompanhar - ao menos no ritmo - sacando que ia pelo meio e nos preparando para o fim. Jazz mesmo, tinha pé e cabeça.

O que se viu na noite de segunda feira - sem entrar no mérito da reprodução de vozes/depoimentos impertinentes, aos quais fomos obrigados, por educação, a aturar -, foi um desfiar de idéias musicais de vanguarda, em uma sequencia de climas mais apropriados a trilhas sonoras - o que parece ser, majoritariamente, o métier principal de Terence Blanchard nos últimos anos - todas muito bem executadas pelo quinteto, porém com arranjos bem distintos do que se poderia desejar para um concerto de jazz.

Mudou o conceito ou teríamos, Mestre Llulla e eu estacionado no tempo? É uma questão de gosto pessaol, mais uma vez.

Gostei de ter estado lá, ouvi belas passagens construídas com esmero e técnica mas que não me empolgaram como jazz, necessariamente. Faltou swing, balanço, malemolência, sensualidade, malandragem, contraponto. Pode ter sido até rotulado como jazz, mas para o jazz que eu aprecio, mesmo, como o tipo de música que mais me dá prazer em ouvir, faltou molho.

Enquanto isso, em Flushing Meadows, a potencia, a velocidade, a juventude e a impetuosidade de Del Potro arrasaram com a classe e o estilo clássico de Roger Federer.

Minha cotação: @@@

TERENCE BLANCHARD QUINTET - SALA CECÍLIA MEIRELES - 14/9/2009 - @@@@@

Sou, aqui, talvez, o maior detrator do pseudo-jazz tão em voga nos dias de hoje, desses Mehl(r)daus e Svenssons incensados pela atual "crítica". Gente que despreza o blues e o swing, que se acha "beyond" jazz, e, assim, não passa mesmo de sub-música.

E, nisto, tenho convergido - para minha ventura - com os Mestres do blog, os que testemunharam, em pessoa, o verdadeiro jazz e sua evolução, dele podendo testificar e pontificando, glória do CJUB, sem rival no cenário da resenha musical brasileira.

Dessa vez, todavia, vou pedir vênia ao relator, meu querido Mestre Llula, para respeitosamente divergir.

Só na aparência, penso, a música apresentada por Blanchard careceu de "perceptíveis" ingredientes ligados ao drive de costume.

A intenção jazzística, para mim ao menos, esteve todo o tempo presente, trazendo, para além da "intenção", aliás, uma autêntica verdade musical, sim, e de puro jazz.

É comovente e arrebatador ver units que, com o tempo, vão forjando simbiótica relação entre os músicos e com isso, escrevendo, com diccão própria, a poesia distintiva que faz toda a diferença em relação aos demais grupos. É o caso, p. e., no passado, dos chamados 1o. e 2o. quintetos de Miles Davis, do quarteto clássico de Brubeck, dos trios de Bill Evans, do trio/quarteto de Peterson, do quinteto/sexteto de Cannonball, do quinteto clássico de Horace Silver, do quarteto clássico de Benny Goodman, dos Jazz Messengers da 2a. geração, e os da antepenúltima e penúltima, enfim de alguns small combos especialmente tight, justos, em seu telepático discurso. Isto sem falar no som diferenciado de cada big band, entre os negros Basie e Ellington despontando e aprimorando-o por décadas, e, de algumas ensembles de brancos, em especial da swing era, cada qual unique, a seu modo, e, porque não dizer, também a moderníssima orquestra de Thad Jones-Mel Lewis.

O tempo, como nos bons vinhos tintos e nos brancos da Borgonha, pode trazer resultados divinos para grupos que "não mexem no time", ou pouco mexem. Disto são exemplo, hoje, as longevas associações do quinteto de Dave Holland, do trio de Mccoy com Sharpe e Scott (que durou quase duas décadas), do impressionante embora relativamente jovem SFJC, e, afinal, entre outros, do quinteto de Terence Blanchard.

A longa cumplicidade do líder com o tenorista Bryce Winston e o dínamo (apud Raffaelli) Kendrick Scott (ladeados pelo new comers Fabian Almazan, pianista cubano, e o baixista nigeriano-londrino Michael Olatuja) permite um interplay que, IMHO, eclodiu numa quintessência belissimamente entregue ao público carioca, na noite de 2a. passada.

Para mim, era jazz, sim, jazz de primeira categoria, perpassando por cada poro o complexo genoma musical norte-americano que nossos Mestres, como ninguém, tão bem conhecem.

Terence
combinou, em seu cadinho, especial e requintada receita do jambalaia sulista com a atitude novaiorquina, mas sob uma ótica autenticamente, e com todo trocadilho, "New" Orleans e "New" York.

Que o jazz, de há muito, é um blend, e nisto se transfigurou, ninguém discute. Mas eu, de outra parte, sou, como sempre, radical, achando que o jazz é, sim, um gênero autônomo, e não, como se costuma dizer, "uma forma de tocar". Nunca me convenceu esse jargão de que o jazz não é "o que" se toca, mas "como" se toca.

Jazz é coisa séria. E não me venham com essa história, conquanto verdadeira, de que ele começou com fanfarronices nos guetos do Sul ou lamentos nos campos de algodão, que Armstrong começou tocando em bordéis, ou que, no início, "se dançava jazz". Isto todo mundo sabe e é conversa pra Jim Crow dormir, até porque alegria, beat e swing são facetas da mesmíssima música que, no bonde da história, sofreu a necessidade de produziu as racionalíssimas revoluções do bebop de Parker/Gilespie, do cool de Miles/Bill Evans e do free de Coltrane/Ornette.

Aliás, Schubert morreu de sífilis e Mozart, dizem, era contumaz mulherengo e beberrão, enquanto, de outro lado, Bach ostentava uma austeridade pessoal e familiar, refletida numa obra marcadamente voltada para o religioso, mas que guarda pérolas profanas de idêntica ou talvez ainda maior magnitude. Detalhe: todos três são gênios absolutos, tanto quanto Armstrong e Gillespie (com sua "alegria para brancos", reclamava Miles), Parker, Bill, Coltrane, Ornette, etc. .

Digredi de propósito, para mostrar que o que se ouviu na 2a. era não apenas para ser "curtido", "saboreado", porém investigado com esmerada e bem maior atenção da que normalmente dispensamos.

As inserções de falas gravadas pelo intelectual americano, Cornel West, acerca da umbilical relação do negro com a cultura do jazz e a própria cultura americana em geral, soaram e calaram fundo, junto a composições que a mim deveras impactaram pela riqueza e maestria no emprego de indisputáveis recursos do jazz de ontem, de hoje e, cada vez mais, amanhã.

Começar com três baladas modais, a terceira em estrutura harmônica cíclica - mas ainda assim modal - realmente não seria usual e talvez nem tenha sido a melhor escolha "para o público". A idéia, no entanto, era convidar o ouvinte para uma viagem musical aos meandros sociais e culturais mais intrincados da negritude norte-americana. Aceita, porém, o convite, quem quer, claro.

Uma linda valsa "apressada", em 6/8, mais um ostinato que pavimentou a estrada para o invejável fôlego - físico e inventivo - de Winston, além do arrebatador original que fechou o set, em explícita homenagem a Louis Hayes (possivelmente a maior influência do refinadíssimo Scott, que marcou o tempo tal e qual "Jive Samba", de Nat Adderley), com direito a linda e inusitada citação, no final, de "Noturna" (Ivan Lins, com quem Terence dividiu o álbum "The Heart Speaks"), formaram set list para mim admirável e quase todo derivado do novo álbum do pistonista - ele próprio especialmente inspirado, anteontem - "Choices" (Concord).

E o bis, então ? Uma balada singela, solene e cortante, resumiu o Requiem que o trágico Katrina precipitou, vertido em álbum com toda justiça aclamado, sem dissenso, por público e critica mundiais, recentemente.

Terence Blanchard evoluiu de modo impressionante como músico e, muito acima disto, como pessoa. Certamente para tanto contribuiu dividir-se entre seu quinteto regular de jazz e o ofício, um tanto mais amplo, de compor para o Cinema. Mas o irresistível feeling do young lion nerd de bigodinho/buço adolescente (que teve a responsabilidade - dando conta, com sobras - de substituir ninguém menos que Marsalis nos Messengers de Blakey dos anos 80 - continua o mesmo, agora no artista consagrado que já superou os quarenta, mas persiste instigando e aquecendo a alma carente do bom, velho ou novo, verdadeiro jazz.