Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COLUNA DO LOC

01 março 2009

JB, Caderno B, 1 de março
Luiz Orlando Carneiro
Alquimia de guitarras

A química ensina que, para a precipitação de um sal, são necessários um ácido e uma base. E para que o sal seja palatável é preciso que os dois elementos sejam cuidadosamente dosados e manipulados. É o que ocorre, em matéria de jazz, no CD duplo Hemispheres (disponível no site do selo cooperativo Artistshare, que tem como estrela e sócia-fundadora a compositora-chefe de orquestra Maria Schneider), no qual os celebrados guitarristas Jim Hall, 78 anos, e Bill Frisell, 21 anos mais moço, são, respectivamente, a base e o ácido de uma rara química musical.

Primoroso mestre das seis cordas, Hall rejeita demonstrações gratuitas de técnica, mas é pródigo em harmonias sutis e inspiradas linhas melódicas. Revelou-se na década de 50, nos então "experimentais" quinteto de Chico Hamilton e trio de Jimmy Giuffre; foi o partner perfeito de Sonny Rollins, em 1962, no icônico LP The bridge (RCA); e, no mesmo ano, em dueto com o pianista Bill Evans, gravou o precioso Undercurrent (Blue Note). Nas décadas seguintes, erigiu rica discografia em duos e trios (Power of three, um concerto no Festival de Montreux, de 1986, com o sax de Wayne Shorter e o piano de Michel Petrucciani, é um momento memorável).

Bill Frisell – discípulo de Hall – tornou-se um escultor de sons cujos cinzéis são guitarras de vários tipos, incrementadas com parafernália eletrônica que ele usa para loops e reverberações de precisão cirúrgica, jamais exibicionistas, num estilo em geral pontilhístico e econômico, como se pode ouvir nos seus discos com o baterista Paul Motian (Monk in Motian, selo JMT, 1988, por exemplo). E agora, mais uma vez, neste novo produto lançado pouco depois do vitorioso History, mistery (Nonesuch), um dos cinco indicados para o recente Grammy jazzístico (pequenos conjuntos), afinal concedido ao CD também duplo The new crystal silence (Concord), obra-prima da parceria Chick Corea (piano) – Gary Burton (vibrafone).

O primeiro volume de Hemispheres (em duo) contém 10 faixas, e foi gravado entre julho e dezembro de 2007, no apartamento-estúdio do baixista-guitarrista Tony Scher, sem overdubs. Sua tônica é dada logo na primeira peça, Throughout (4m30), de Frisell, cujos efeitos sônicos em ostinato criam a paisagem excêntrica para o delicado "passeio" melódico-harmônico de Hall. As invenções eletro-acústicas dos dois são bem mais complexas e totalmente livres em Migration (15m13). Os jazzófilos mais "canônicos" vão preferir as versões de Bags’ groove (3m52), de Milt Jackson, bem percussiva; de Masters of war (4m21), de Bob Dylan, contemplativa; e de Bimini (4m40), de Hall, camerística.

No segundo disco do álbum (também com 10 faixas), aderem ao duo os excelentes Joey Baron (bateria) e Scott Colley (baixo). A sessão, gravada no afamado estúdio Sear Sound, Nova York, de uma só vez, em setembro do ano passado, é mais in do que out, com exceção da interação free de Barbaro (2m28) e de Cards tricks (de Baron). Além de refinados, melancólicos e etéreos remakes de Chelsea Bridge (Billy Strayhorn) e In a sentimental mood (Ellington), o quarteto reluz em movimentadas interpretações de I'll remember April, My funny valentine, Owed to Freddie Green (homenagem de Hall ao guitarrista-âncora da orquestra de Count Basie) e Sonnymoon for two (Sonny Rollins). E a melodia de Beija flor, de Nelson Cavaquinho – que foi tema de Hall, na série Ballad essentials, Concord Jazz, 2000 – é revisitada numa nova versão (6m40) em tempo lento-médio, com batida de bossa nova.

4 comentários:

John Lester disse...

Excelente texto, excelente dica. Obrigado Guzz.

Beto Kessel disse...

Cheguei a ter Power of three em vinil.

Dá gosto ouvir Jim Hall

Beto

Andrea Nestrea disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Andrea Nestrea disse...

maravilha!
adoro jim Hall,
conheço pouco é verdade,
tenho 'power of three' em vídeo, ADORO!!
gosto muito do disco com o bill evans e gosto daquele com chet bake e hubert laws!

como diria um amigo meu, e com o perdão da rima, jim hall é pura
"magia musical"!!!!
beijo!