Série: Histórias do
Jazz
DO OUTRO LADO DO JAZZ # 18
A DANÇA E O JAZZ (Final)
Talvez a primeira manifestação de dança
afro-americana tenha sido o CONGO ― não confundir com a conga cubana de origem
mais recente ― era uma dança negra das Antilhas de caráter dramático encontrada
também na Louisiana.
CONGO SQUARE foi uma designação popular e
oficiosa de um campo vizinho da Rampart Street em New Orleans onde se reuniam
os escravos aos domingos com permissão para dançar suas tradições e ritos
africanos como o congo e o voodoo.
Empregavam tambores improvisados de
todos os tipos e curiosos objetos como a queixada de burro. Dançavam também a bamboula, dança de movimentos eróticos
acompanhada por um tambor primitivo de mesmo nome muito usado pelos negros da Louisiana.
Em 1885 existiam descrições de afros de
Nova Orleans dançando tão lascivos quanto possível, as mulheres rodando sem
tirar os pés do chão enquanto os homens pulavam no ar. Não se deve presumir que
damas e cavalheiros das antigas Virginia e Louisiana dançassem de maneira tão
desenvolta e desinibida. Acontece que existem episódios na história da dança em
sociedade em que uma mesma maneira ou tipo de dança existe simultaneamente em
dois níveis, assumindo uma forma polida e decorosa na sociedade refinada e
manifestando caráter grotesco e licencioso no seio popularesco.
A música saltitante, sincopada, passou a ser um enorme sucesso em todos os níveis sociais sendo criados inúmeros passos de dança calcados em formas rítmicas e coreográficas, imitando certas danças de origem européia como as quadrilhas, polcas, schottisch, cotillons, lanciers, mazurcas e outras e que foram modificadas denschottischtro da mais pura tradição negróide.
As canções e as danças dos negros das
fazendas constituíram, a princípio, um entretenimento também para os
proprietários rurais e suas famílias. Mais tarde, imitações feita por brancos
que pintavam os rostos de preto levaram as
coon songs e os cakewalks
a divertir todo os EUA através dos imensamente populares minstrel shows. Em
tempos idos encontrava-se além do cakewalk,
também o schottisch que reporta-se a antiga dança de salão talvez
proveniente da Hungria, em compasso binário e, portanto, semelhante à marcha e
cujos passos se aproximam dos da polca (no Brasil era conhecida como a
escocesa).
Estas músicas junto com as do minueto e
da quadrilha francesa, todas cultivadas no sul da América do Norte no século
XVIII, formaram o elo europeu da criação do Ragtime.
Depois vieram as variações como o one-step
, two-step , o charleston e surgiram ainda as danças que acompanhavam o
swing tais como o shimmy, lindy-hop,
black bottom, jitterburg e outras...
Talvez a mais marcante tenha sido mesmo
o fox-trot, muito popular desde o final dos anos 1910 e até os anos
20 e 30 e que se utilizava também de música de Jazz.
Sua popularidade foi tal que passou a
assinalar até os anos 50 a música em tempo rápido (hot e sincopada) tocada
pelas orquestras para dançar, fosse ou não exatamente Jazz. Assim eram as
etiquetas dos discos ― fox trot. Quando o tempo era lento, uma balada
por exemplo, chamava-se de slow-fox
.
O fox-trot , literalmente o trote da
raposa, possuiu inúmeras variações também relacionadas com animais como o buzzard-lope (galope de urubu), turkey-trot
(trote do peru), grizzly
bear (urso pardo), camel walk
(passo do camelo),
horse-trot (trote do cavalo) e
outros tantos passos “zoológicos” .
O camel-walk por exemplo refere-se a uma dança derivada do fox-trot com música de Jazz bastante popular entre 1917
a 1927, empregando movimentos de ombros e um vai e vem com as costas que
imitava o andar do camelo.
Charleston era o nome de
uma dança inicialmente negra com origem na cidade de mesmo nome, na Carolina do
Sul e popularizada a partir de 1923, após o grande sucesso da composição de
nome Charleston South Caroline do pianista James Price Johnson que foi usada
no musical intitulado Runnin’ Wild. Foi um sucesso universal, até mais comercial
do que jazzístico, tendo sido adotada imediatamente pelos brancos em seus
salões.
A característica da dança eram os
passos rápidos com cruzamento dos pés e joelhos para dentro e para fora. O charleston foi praticado em todo o
mundo contribuindo sobremodo para difundir o rítmo sincopado da música de Jazz,
particularmente das bandas dixieland. Esta dança marcou predominantemente a Era do Jazz.
Ressalte-se, de passagem, que o Jazz
chegou a New York por várias vias, mas no ano de 1917 uma banda branca de New
Orleans, The Original Dixieland Jass Band, se apresentou no sofisticado
Restaurante e Café Reisenweber com entusiástica aceitação, tendo sido inclusive
a primeira banda que gravou um disco sob a chancela de música de Jazz neste
mesmo ano.
Apesar de constituída por bons músicos,
não possuía o feeling negróide,
executando um Jazz algo mecânico sem as características marcantes da música
negra, contudo e por serem brancos tiveram a oportunidade de se apresentar
junto a um público mais refinado, melhor dotado financeiramente e assim
implantar em meio à sociedade o “vírus” do Jazz, através de uma música extremamente
dançante que foi, e ainda é, o dixieland
e que mais tarde contaminou o mundo
todo.


2 comentários:
Major ótimas informações realmente muitas coisas referentes indiretamente ao jazz são interessante e muito bem levantadas nestes excelentes artigos.
Carlos Lima
Agora é só pegar o par e sair dançando!
Abraços,
Edison
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