Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

OUTRO ARTIGO DO MESTRE RAF

13 abril 2012

THELONIOUS MONK - O ALTO SACERDOTE DO JAZZ EM “PIANO SOLOS”

O desenvolvimento do jazz ocorreu de modo vertiginoso. Em sua evolução, cada etapa de 10/15 anos marca a chegada de um novo estilo. São tantos os caminhos percorridos pelo jazz que um historiador tem sérias dificuldades em reconstituir sua árvore genealógica. Desde suas origens a evolução ocorreu graças ao talento de músicos criativos de estilos que acrescentaram novos caminhos às realizações precedentes.

O pianista Thelonious Monk fez parte do restrito círculo dos inovadores do jazz, contribuindo em muito para a renovação melódica-harmônica-rítmica dos anos 40 que originou o bebop. Suas composições e novas idéias foram vitais para a renovação do jazz moderno ao lado de Charlie Christian, Dizzy Gillespie, Kenny Clarke e outros pioneiros. Usando barba e chapéus extravagantes, Monk era considerado uma figura exótica, misteriosa e enigmática, mesmo num mundo em que a excentricidade era regra geral. Homem de poucas palavras, solitário, taciturno e com poucos amigos, seu comportamento contribuiu para criar uma cortina de mistério em sua personalidade. Sem outras fontes de influência além do jazz e da música americana em geral, forjou um estilo absolutamente original. Insensível às influências externas, declarou: “Ninguém inspirou minhas idéias, tudo que toco é diferente em melodia, harmonia e estrutura”.

Suas execuções ao piano contrariam a técnica ensinada nos conservatórios, alterando a digitação e a posição das mãos em relação ao teclado utilizando formas mais econômicas, modulações únicas e emitindo subestruturas harmônicas. Em seu fraseado com acordes originais de sonoridade exclusiva, está presente o elemento surpresa, indissolúvel do clima “monkeano”.

Como compositor, tinha o dom de criar melodias de rara beleza e conteúdo. Possuindo intenso senso dramático, ele foi um dos raros compositores, ao lado de Billy Strayhorn, Duke Ellington e Tadd Dameron, em cujas composições as segundas partes (ou bridges) são seqüências das melodias principais, realçadas nas obras primas “Round About Midnight”, “Ask Me Now”, “Crepesculle with Nellie”, “Reflections”, “Eronel” e “Monk’s Mood”.

Em 1954, Thelonious Monk gravou em Paris o disco “Piano Solos”. Era uma época difícil para ele, pois fora cancelada sua licença para tocar em clubes noturnos e, devido a isso, foi providencial a gravação desse disco, tendo total liberdade para escolher seu repertório. O resultado dessa gravação foram oito performances absolutamente inimitáveis, cuja beleza é acentuada em cada passagem por movimentos fluentes, ricas tessituras, contrastes de tempo e construção, alterações rítmicas e demais elementos que formavam o conglomerado de surpresas que Monk proporcionou em suas interpretações. A melodia de “Round About Midnight|” é de uma beleza exótica sombria, incomum; sua força melódica é tão marcante que, apesar de bastante executada, o improvisador raramente se afasta da sua melodia. “Evidence”, de surpreendentes linhas assimétricas, é baseada nas harmonias de “Just You, Just Me”, e o solo de Monk explora todas suas possibilidades harmônicas. Desde a exposição do clássico “Smoke Gets in Your Eyes”, ele estabelece o clima “monkeano”, fazendo uma recomposição da melodia, alterando alguns acordes e desenvolvendo paralelamente outro tema. Em “Well, You Needn’t”, tema famoso de Monk que marcou época, seu solo repleto de frases angulares aborda aspectos temáticos que poderiam ser desenvolvidos em novas composições. Seu humor é evidenciado pela forma como executa uma longa frase descendente após a citação de “Salt Peanuts”. “Reflections” é uma bela melodia simples que Monk executa com rara sensibilidade. “We See” é uma composição com engenhoso emprego de um truque na segunda parte na qual Monk desenvolve diversos motivos rítmicos. “Eronel” possui conteúdo lírico marcante que Monk transforma numa peça dramática e imprevisível com intervalos que aumentam gradativamente até o final, quando ocorre uma variação rítmica de grande efeito.

“Off Minor”, uma peça provocantemente percussiva, intrigou sobremaneira os pianistas dos anos 40. É um tema que somente Monk poderia ter criado.

“PIANO SOLOS” é um recital da música provocante e surpreendente de Thelonious Monk, um dos autênticos renovadores da linguagem do jazz.

Um comentário:

MARIO JORGE JACQUES disse...

Amigos sou fan de carteirinha do Monk, do pianista e compositor. Se alguem não tem o documentário em vídeo STRAIGHT, NO CHASER, procure ter é sensacional.
Grande Raffa ótimo artigo e valeu MauNah
Abraços