Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COLUNA DO LOC

02 janeiro 2011

Caderno B, JB, 2 de janeiro
por Luiz Orlando Carneiro

Improvisação coletiva que marcou a história do jazz

Há meio século – no dia 21/12/1960 – Ornette Coleman gravou para a Atlantic o álbum-manifesto Free jazz , que é tão marcante para a história do jazz como a Sagração da primavera ( Le sacre du printemps ), de Igor Stravinsky, para a chamada música erudita. Trata-se de uma improvisação coletiva de 37 minutos em que conspiram e interagem dois quartetos sem piano: o do revolucionário saxofonista alto, mais Don Cherry (trompete de bolso), Scott LaFaro (baixo) e Billy Higgins (bateria), e o formado por Eric Dolphy (clarinete baixo), Freddie Hubbard (trompete), Charlie Haden (baixo) e Ed Blackwell (bateria).

Na capa da edição original do LP, a reprodução de uma tela de Jackson Pollock (1912-56), White light , típica da action painting do grande abstracionista americano. No disco, a ac tion playing de Ornette e seus parceiros, assim resumida nas notas de contracapa de Martin Williams: “ Free jazz não é uma peça na base do tema e variação, no sentido usual. As partes escritas são breves introduções para cada solista, destinadas a apresentá-lo e a lhe dar combustível musical. Os solistas não fazem variações; a improvisação deles é a própria música – o tema é o que inventam na hora, no ato da criação”.

Na época, o álbum dividiu a crítica em dois blocos inconciliáveis. Ninguém podia prever que o criador daquele blend ex cêntrico da politonalidade com o shout dos blues , que exacerbava o discurso parkeriano, acabaria por merecer a distinção do Prêmio Pulitzer. Em 2007, a honraria que antigamente só era atribuída a luminares da “música erudita” americana do porte de Copland, Barber e Charles Ives, foi concedida – pe la primeira vez na história – ao autor de um disco. E o registro fonográfico premiado foi o CD Sound grammar , gravado ao vivo em 2005, na Alemanha, num concerto do atual quarteto do saxofonista-compositor, integrado pelo seu filho Denardo (bateria) e dois baixistas (um acústico, o outro elétrico).

O compositor Gunther Schuller – arauto da chamada Third stream music e Pulitzer de 1994, pela peça orquestral Of reminiscences and Reflections – escreveu: “Sem desmerecer a enorme influência de Coltrane, tudo que hoje ouvimos na vanguarda do jazz vem de Ornette. (…) Ele revelou a possibilidade de um novo estilo, de um novo território linguístico além dos extremos da linguagem tonal” ( Downbeat , janeiro de 2002).

Aos 80 anos, completados em março, Ornette Coleman continua a se apresentar em concertos com o quarteto de Sound grammar , recriando – sempre na base do aqui e agora – temas de sua autoria que se tornaram clássicos do jazz contemporâneo, como Turnaround , Lonely woman , The blessing ou Blues connotation . E composições mais recentes, entre as quais Sleep talking (do CD premiado com o Pulitzer), abertamente inspirada na melancólica melodia de abertura do Sacre du printemps de Stravinsky.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse disco é um dos maiores engodos da história do jazz.

Palmeira disse...

Conheço "Free Jazz" e gosto muito. Não, não é (um engodo). Impressiona-me por vezes a facilidade com que os aficcionados alçamos nossas desafeições musicais à categoria de verdade absoluta. Se não estamos habituados a um certo tipo de jazz, ao invés de nos dispormos com mente aberta a conhecer o "estranho" (afinal, jazz é antes de tudo "sound of surprise"), logo sentenciamos "isso não é jazz". Curiosamente, esse tipo de postura é comum tanto da parte daqueles que só entendem como "jazz" o "mainstream", preferindo sempre o porto seguro e confortável de uma interpretação certinha de standard a terrenos nunca dantes navegados por seus ouvidos, quanto da parte daqueles que só entendem como "jazz" aquilo que for novidadeiro, de preferência com cacofonia, e sentenciam como "reacionário" qualquer bela interpretação de standard ou música na tradição de Louis Armstrong. Ficam preplexos ao ouvir/ler Cecil Taylor dizer admirar o Modern Jazz Quartet, e John Lewis dizer que Ornette foi um dos músicos mais importantes de todo o jazz. A coisa "não fecha". Vamos abstrair o nome de Ornette. Freddie Hubbard, Scott LaFaro, Billy Higgins,Eric Dolphy, Don Cherry, Ed Blackwell, Charlie Haden ... Ninguém é obrigado a gostar de uma gravação reunindo tantos importantes músicos, mas lançar-lhe o epíteto de "engodo" me parece um exagero um tanto pretensioso.

"Pretendem os aficcionados entender de imediato um problema sobre o qual os artistas pensaram dias,meses e até mesmo anos?" (Robert Schumann)

Bene-X disse...

Trata-se de álbum seminal do jazz, ápice indicutível do movimento free, mas sem jamais se desconectar do blues, é bom ressaltar. Todo o disco ("Fist Take" e "Free Jazz"), acreditem, é calcado no blues (tem de ouvir - essa coisa do "não ouvi e não gostei" é indigna dos inteligentes), quase sempre marcado em 4/4 por Haden, em um dos quartetos, enquanto, no outro, LaFaro barbariza como nunca antes - ou depois - fez. Espetacular sessão, marcada pela habitual coragem da Atlantic (leia-se irmãos Ertegun), disposta a lançar tamanha ousadia musical, ainda mais para a época. Obra-prima indisputável e álbum certeiro entre os 10 mais importantes de toda a história do jazz. Quase nenhuma das units fixas e de prestígio dos ú;timos 30 anos existiria, sem Ornette. Falo, p.e., do D. Holland Quintet, do atual Quarteto de Shorter, da Liberation de Haden/Bley, dos trios de Pilc/Hoenig, dos grupos de Dave Douglas e de Walt Weinskopf e do quarteto de Brandford, para citar só alguns.