Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

MUSEU DE CERA # 52 - BLUES

22 janeiro 2009








O BLUES foi o segmento musical mais importante na formação do JAZZ chegando mesmo, na década de 20, a se confundir com o próprio, principalmente em sua forma instrumental. Surgiu do canto folclórico dos afro-americanos dos EUA, o mais provável, em meados do século XIX, sendo notado após 1870. A palavra em inglês coloquial é usada para exprimir um estado de espírito melancólico, de tristeza, de "baixo astral" que refletia os sentimentos do negro escravo e de seus anseios de libertação.
O BLUES passou a ser uma manifestação musical individual e profana a partir do canto spiritual de caráter coletivo e religioso.
Possui uma estrutura poética de 3 versos com 4 compassos cada, sendo o 1º e o 2º versos iguais e o 3º uma conclusão do tema abordado nos dois primeiros (da forma AAB). Esta é a estrutura clássica do blues de 12 compassos, porém existem outras como a de 8, 16 ou 32 compassos. Emprega-se também as chamadas blue notes ou sejam o 3º e 7º graus diminuídos de meio-tom ou ditas abemoladas e que na escala de dó-maior representam as notas mi bemol e si bemol, uma herança da fusão da escala européia com a escala pentatônica africana que veio formar o que se conhece como escala blues clássica.
Depois, seguiu sua auto-evolução como gênero musical, notadamente em sua expressão vocal, localizando-se em importantes centros e tendo desenvolvido estilos próprios como o do Vale do Mississippi, Tennesse, Texas, Delta Blues, South Side Chicago, Harlem e outros... A primeira vez que a palavra BLUES apareceu escrita em uma partitura foi na canção - Baby Seals Blues composta por Arthur "Baby" Seales e editada em St. Louis a 3 /agosto/1912, depois surgiu a bem conhecida Memphis Blues de W.C.Handy editada a 28/setembro/1912 estabelecendo assim a identidade como um gênero musical.
Uma curiosidade está no diário de Charlotte Forten (A Free Negro In The Slave Era, editora MacMillan, N.York, 1961) onde aparece pela primeira vez o significado do termo BLUES. Charlotte era uma negra nascida livre no norte e que estudou até se tornar professora, indo então, lecionar para escravos na Carolina do Sul. Ela manteve um relatório quase que diário desses anos e em 14/dez/1863, um domingo, talvez transtornada pelas dificuldades de toda ordem que encontrava escreveu: —" Voltei da igreja com o blues. Joguei-me sobre meu leito e pela primeira vez, desde que aqui cheguei, me senti muito triste e miserável." Esses sentimentos obtiveram na música sua mais alta forma de expressão a - CANÇÃO BLUES e esta, como parte da cultura de um povo desprezado e sofrido tornou-se conhecida e amada, adicionando estimável riqueza e representatividade à música norte-americana e contribuindo como uma das principais fontes para a formação do JAZZ.
BREAK – este procedimento teve origem no BLUES onde corresponde a um compasso e meio de pausa do cantor em cada verso de 4 compassos. Esta pausa ou BREAK era, então, preenchida pelo instrumento que acompanhava o cantor e aí o músico colocava toda sua inspiração e talento e o BREAK veio a se constituir na semente do que seria o espírito do JAZZ - a improvisação, a liberdade de criação na execução de um tema. Nas gravações do BLUES CLÁSSICO, quando várias cantoras foram acompanhadas por jazzmen, encontram-se os maiores exemplos dos BREAKS.
BLUES CLÁSSICO - apesar de sua designação imprópria refere-se ao período em que o BLUES e o JAZZ se confundiram, uma vez que era interpretado por cantores acompanhados por músicos de JAZZ. Alan Lomax (*1915 †2002) — musicólogo e folclorista norte-americano relata que o cantar o BLUES era considerado uma incumbência masculina até sua comercialização como gênero musical e a mulher negra não era encontrada em parte alguma cantando. No entanto, o primeiro sucesso comercial foi de uma cantora — Mamie Smith (*1883 †1946) com o Crazy Blues (Okeh 4169A) gravado a 10/agosto/1920. O autor da canção era o pianista Perry Bradford e também autor da proeza de convencer os produtores da OKeh Records em New York a gravarem uma negra cantando o BLUES o que até aquela época era tido nas grandes cidades como música chula dos negros e sem nenhum potencial comercial. Ledo engano os que assim pensaram, pois o disco foi comprado por quase todo o Harlem transformando não só a canção, mas todo o gênero em fantástico sucesso. Interessante que a partir da precursora Mamie Smith uma grande quantidade de outras cantoras se sobressaíram, algumas das quais serão focalizadas a partir do próximo Museu de Cera.


9 comentários:

APÓSTOLO disse...

Prezado MÁRIO:

O máximo de informação correta no mínimo de espaço. Parece até verbete do "Glossário".

John Lester disse...

Realmente Apóstolo, é sempre agradável ler as pequenas notas do Mário, sempre repletas de informação precisa. Ele vai na ferida.

Grande abraço, JL.

Tenencio disse...

Parabens ,Mario.
Um acrescimo para melhor informar:
escalas são series de intervalos fixos a partir de um centro(na escala diatonica o centro chama-se tonalidade).
Os teoricos e pesquisadores criam as escalas a partir de musicas.Eles percebem uma incidencia de certas notas em melodias( recolhidas do folclore, por exemplo)e organizam uma escala.Escalas ,portanto ,são uma criação teorica e didatica.
A escala de blues é exatamente esse caso.No inicio do seculo XX musicologos ouvindo varios exemplos de musicas dos negros norte americanos perceberam uma incidencia de notas que mantinham uma relação intervalar fixa com um centro e "criaram" a escala de blues.Ela nada tem a ver com a escala diatonica,europeia. A escala diatonica é um modo a escala de blues é outro modo.
A escala de blues é uma adaptação ao sistema temperado da musica que os negros trouxeram da Africa onde este não existia.
É formada assim: 1,b3,4 ,b5,5, b7,1.
Tomando dó como centro ou tonalidade: do,mi bemol,fa ,sol bemol,sol,si bemol ,do.
Espero ter ajudado. Aguardo a continuação dessa serie que promete muitos conhecimentos interessantes sobre essa forma musical fundamental para o jazz que é o blues.
Abraço

John Lester disse...

É verdade Tandeta. Vale lembrar, inclusive, que a escala de blues original, mais antiga e rudimentar, não apresentava o quinto grau blue (sol bemol), que surgiu em função do hábito dos músicos de jazz recorrerem ao abaixamento da quinta.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

e o trítono, muito usado nas estruturas de blues; daí dado o nome de "intervalo do demo" o que caracterizava o estilo como amaldiçoado

nos anos 20, por esta influência, o jazz era citado não como sintoma mas como causa da decadência moral

e som na caixa !!

Abs,

Salsa disse...

Diabos, então é isso... Esse sentimento avassalador que toma conta da gente quando rola o tal do blues é coisa do demo? Putz! Haja exorcismo!

Tenencio disse...

Por partes;
Mr. Lester ,bom ve-lo aqui . Perfeito seu comentario. E acrescentando a ele podemos dizer que o quinto grau abaixado é uma das caracteristicas dos estilos de jazz a partir de Lester Young e Coleman Hawkins,por exemplo, ha outros pioneiros com certeza no uso desse recurso. Seria decada de trinta talvez.Por favor quem souber com precisão nos diga acho que é uma importante informação historica.
Grande Guzz:
a presença do tritono se da nos acordes ,todos com setima como se fossem dominantes. Uma das principais caracteristicas dos acordes de setima da dominante é a presença do tritono ,intervalo de quarta aumentadas entre a terça do acorde e a setima.
Esse intervalo de quarta aumentada era chamado na Renascença de "diabolus in musici"(não sei se escrevi certo) .
Mais blues ,Mario. Otima ideia e post muito bem escrito,como sempre.
Abraço

figbatera disse...

Caramba! Uma verdadeira aula de blues bem complementada aqui nos comentários!
Parabéns a todos os "mestres"...

LeoPontes disse...

Esse tema é um arrepio só.Tive o prazer de conhecer musicalmente o "mestre" Eduardo Ponti - Guitarra e o computo como um dos grandes Blueseiros nacionais assim como Big Joe Manfra e ele me ensinou o seguinte: independente dos modais que nos ajudam a criar as nossas proprias blibiotecas sonoras o que manda mesmo nas performances do Blue são as colocações da sétima (+/- e #). Grande aula de todos !!

Abçs