Assim como o Mistura Fina está para o Rio, o Bourbon St. está para São Paulo. Há sempre um intercâmbio mensal entre artistas internacionais - recentemente o New York Voices, e no próximo dia 23 o quarteto do vibrafonista Stefon Harris. O clima da casa tenta ao máximo recriar o ambiente descontraído e típico da famosa rua de New Orleans, até mesmo na gastronomia ou bebidas. Vários posters espalhados, com personalidades do jazz, como Nat King Cole, Louis Armstrong, Bille Holiday e etc.
A música rola a partir das 22 horas. Fora do palco, quase escondido - por não ser a atração principal - o Bourbon Street Jazz Trio ataca por 2 horas. Ary Holland (piano), Nilton Leonardi ( baixo) e Sergio Della Monica (bateria) formam um trio, no mínimo, afiado e contagiante. Holland é um "self made" com tempero à moda Corea, Jarrett e Hancock. Os solos são sempre inteligentes, com soluções harmônicas agradáveis. Leonardi mostra nas primeiras notas - baixo elétrico - que pelo menos para ele o Jaco não morreu. Já Della Monica, quando parte para os ritmos brasileiros, deixa no ar um "swing" diferente dos parceiros paulistanos. Carioca - foi vizinho do craque Pascoal Meirelles - tocou com Gal Costa, Ney Matogrosso & cia. Todos os temas abordados são praticamente "standards" do jazz, como All Blues, On Green Dolphin Street, So What, este parte de um medley que desagua com habilidade em Casa Forte (Edu Lobo). O trio quase só recebe aplausos dos que já se habituaram com ele nas noites da casa. Merecia mais. E teve ainda a canja final do saxofonista mineiro Marcelo "Bambam" Coelho, um coltraneano de carteirinha esquentando o sopro para o espetáculo principal.
Pouco mais da meia-noite, "the main event". Há vazios em frente ao palco, como um espaço para se dançar. Como a aventura é "soul-funk", a alternativa é bem provável. Pela banda, a coisa promete. Os cariocas Claudinho Costa (guitarra), Jorge Aylton (baixo elétrico) e Digão (bateria) - todos do gênero - juntam-se ao tal Bambam e ao tecladista Mauricio Piassarolo, cuja maior referencia é ser filho do ótimo guitarrista Ary, que inclusive esteve tocando no exterior. Victor Brooks, um negro de sorriso aberto e bastante comunicativo, abre o encontro com uma homenagem a Marvin Gaye - isso seria óbvio. A voz, potente, é própria dos cantores de "soul", e a versão do clássico "What's Goin' On" , irretocável. E a intenção "funk" de muito balanço ativa os bailarinos de plantão. Entre temas de Stevie Wonder, misturados aos genéricos brasileiros de Tim Maia, Sandra de Sá e etc, Brooks e Zé Ricardo agitam a casa. Os saudosistas dos anos 60 & 70 vibram.
Para um programa sem burocracia, básico, o Bourbon St. se presta com sobras. A qualidade de som garante uma interação quase obrigatória. E presume-se, pela mostra desse dia 12, que os frequentadores são do ramo.
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