Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho)*in memoriam*; David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels)*in memoriam*,, Pedro Cardoso (o Apóstolo)*in memoriam*, Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge), Geraldo Guimarães (Gerry).e Clerio SantAnna

4 . Ruby My Dear - de Thelonious Monk, por John Coltrane ou Coleman Hawkins

10 fevereiro 2003

Essa música está na minha lista de favoritas simplesmente porque todas as vezes em que a ouço eu, automaticamente, passo a me sentir melhor. Não saberia explicar o motivo, é um fato. E as possibilidades de explicá-lo seriam tão tortuosas e inúteis que acho melhor deixar assim. Só digo aos leitores que ainda não a conhecem, por estarem iniciando-se no jazz agora, que procurem ouví-la na versão dos saxes de John Coltrane ou na de Coleman Hawkins (há centenas de outras boas versões). Apenas para dar uma referência, ela está em inúmeros discos de Coltrane. E no "Hawk Flies", de Coleman Hawkins.

3 - Moanin' (Bobby Timmons)

08 fevereiro 2003

"Ok David, dessa vez eu vou!". Nosso amigo Bene-X nem acreditou quando depois de anos de convite eu aceitei ir à um Free Jazz. Confesso que, apesar de gostar e ouvir, o jazz não fazia parte do meu cotidiano. A não ser é claro pelos solos do Stan Getz nas músicas do João Gilberto. A Bossa Nova sempre foi meu estilo predileto de música e agradeço a ela meu primeiro contato direto com o jazz. Bene-X e Marcelon ficavam horas falando do assunto tentando fazer minha conversão definitiva ao jazz, mas faltava algo que ainda não sabia. Naquele ano de 2001 resolvi assistir o The Benny Golson Sextet num tributo a Art Blackey e os Jazz Messenger. Alguns dias antes o David me emprestou alguns discos do Blakey para eu ir ouvindo. Uma música começou a mudar minha maneira de ouvir uma canção. Era a primeira faixa do disco e ainda tinha uma versão logo em seguida, eu a repetia a exaustão, era a música do encantador de serpentes, era Moanin`...
Eu estava louco para ouvi-la ao vivo. Chegamos ao MAM naquela noite e fomos logo entrando. Como nossa mesa era bem distante o David com sua enorme cara-de-pau foi sentar na mesa 3C que estava vaga naquele instante. Já acomodados, David encontra nosso grande amigo e figuraça Arlindo Coutinho. Ele me apresenta e percebo logo de cara que se tratava de uma ótima pessoa. Quando começou o show do Benny Golson, várias doses de Johnny Walker depois, Coutinho começou a gritar nome por nome de todo o sexteto. Cada solo um berro. E todo mundo vibrando! Duas coisas me chamaram muita atenção naquela noite, além é claro do maravilhoso show em si. A interação da platéia com os músicos era tamanha, naquele momento todos nós sentíamos a música, transpirávamos junto com os músicos, era uma verdadeira união de sentimentos. Mas, o que me conquistou, e que nunca tinha visto em nenhum tipo de show, foi a total cumplicidade entre os músicos, eu só consegui entender isso quando eu li que o "Jazz é a música dos músicos". O show acabou. Eu estava meio sem saber o que tinha sido aquilo. Moanin` não foi tocada, mas dentro de mim ela não parava um segundo. Na volta pra casa de carona com o David, estavam o Coutinho, o Jorginho Guinle e o Estêvão Herman. Imaginem como estava esse carro! Cada um falava mais que o outro contando histórias mil e eu calado, surpreso, encantado... Foi difícil dormir naquela noite.
No dia seguinte, um domingo, tive de acordar cedo. Era a primeira comunhão do meu filho no Colégio Notre Dame. Lá fui eu. Durante a missa me lembrava do show, dos berros do Coutinho, do sorriso dos músicos, dos solos de cada um, no debate musical dentro do carro do David... Mas uma coisa não cessava em minha cabeça, era Moanin`, a música da minha conversão...
Agradeci a Deus pelo momento vivido e percebi que a partir daquele instante tinha me convertido definitivamente ao mundo do Jazz.

Marcelink

2 - What A Wonderful World (George Weiss / Bob Thiele)

07 fevereiro 2003

Em 1993 adquiri meu primeiro CD player. Comprei do Bene-X de segunda mão. Bem, é claro que logo em seguida fui comprar meus primeiros cds. Entrei na Mesbla (lembram-se?) e fui pegando os discos como um garoto em frente a um baleiro. Um do Sting, um do Pink Floyd, alguns do João Gilberto e... me deparo com uma coletânea do Louis Armstrong. Me veio à cabeça a promessa que eu tinha feito a mim mesmo, anos antes, de ser dele o primeiro cd que iria comprar. O motivo? A música "What a Wonderful World" que meu pai gostava muito. Aconteceu , não sei bem porque, que no início dos anos 90 essa música virou hit novamente e tocava em diversas rádios. Neste mesmo período meu pai adoeceu e veio a falecer. Essa música então passou a representar para mim esse período doloroso em minha vida. Passei a evitá-la. Comprei o cd e arquivei-o. O tempo passou, os cds vieram em dezenas, meu gosto pelo jazz aflorou, mas aquele cd continuava ali exilado em minha memória...
Ano passado fui ao show de lançamento do novo CD da Wanda, com minha mulher e com grande parte dos confrades. Um show delicioso, envolvente e emocionante. Já no finalzinho ela me surpreende com uma versão especialíssima de "What a Wonderful World" que me deixou em lágrimas. Foi a redenção desta canção. Percebi que uma música linda como essa e que lembrava uma pessoa tão querida para mim, não podia ser esquecida ou evitada. A dor passou e hoje quando a escuto me sinto feliz por ter meu pai um pouco mais perto de mim.

Marcelink

Convocação aos Mestres

06 fevereiro 2003

Mestres JDR e Arlindo, aguardamos ansiosos as suas listas de melhores músicas, aquelas que os fazem sorrir internamente (e não estariam limitadas só ao jazz, embora eu duvide que assim não sejam)! Obrigado, pela confraria toda.

4. Strange Fruit

A eleição de "Strange Fruit" entre minhas músicas favoritas se deve basicamente a dois motivos: em primeiro lugar, e por óbvio, incluir Billie Holiday; depois, e igualmente importante, pelo contexto histórico da música. Vamos por partes.
Billie Holiday é companhia frequente em minha vida, desde minha infância, quando, me recordo, papai chegava em casa diariamente com um disco e um livro. Naquele dia em que o vi com o "Songs for Distingué Lovers" percebi que ali estava a tradução mais perfeita do que eu poderia considerar como sentimento. Aquela voz rascante, que denunciava a mais sofrida das existências, me conquistou de imediato, e, ainda que o repertório daquela "bolacha" não incluísse a música aqui eleita, as baladas que o recheiam me causam arritmia desde então.
Confesso, ainda, que a música de Lady Day que mais emociona é "The Man I Love", uma canção que agrega, para mim, todas as nuances que a conjugação música/emoção pode oferecer.
Com "Strange Fruit", entretanto, acho que Billie deu a largada na onda de manifestos contra o infinito preconceito racial que havia (?) na sociedade americana. Na histórica noite de 20 de abril de 1939, no Café Society de Nova Iorque, Billie cantou esta balada pela primeira vez, antecipando, em décadas, a marcha que viria ser liderada por Martin Luther King em 1964. Muitos anos se passaram até que a música fosse cantada novamente, dada a repercussão contrária a partir daquela apresentação.
De letra tristíssima, as "frutas estranhas" eram, na verdade, os cadáveres de negros linchados e pendurados em árvores, e traduziam a indignação mais pujante contra a segregação social.
No disco Lady Day (1939-1944), selo Commodore, encontra-se a gravação da histórica noite no Café Society, em gravação que a Columbia se negou a registrar, e, se me fosse dada a capacidade de resumir o significado desta inesquecível canção, faria minhas as palavras de Tony Bennett: "Quando se ouve Billie Holiday cantando Strange Fruit é como ter uma audição de sua própria autobiografia".
Que felicidade ter a companhia de Billie Holiday durante toda uma encarnação...

"Southern trees bear a strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black body swinging in the Southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar tress (...)".

Homenagem

Gostaria de fazer aqui uma homenagem ao Marcelink, nosso querido Marcelinho. Hoje ele está comemorando seu aniversário. Marcelinho é um grande amigo e, tenho certeza, vai comemorar c/ um bom jazz e o velho Jack.
Todo sucesso e vida longa!
Marcelon
FIRE AND RAIN
Em janeiro de 1977, estava c/ mochila às costas e pé nas estradas e ferrovias do cone sul. Após quase 1 mes, partimos p/ Buenos Aires p/ encerrar a viagem. Não era uma boa época p/ visitar a Argentina. No 4º ou 5º dia descobrimos uma pequena loja de música. Imaginem uma Arlequim reduzida, mais no estilo da Arquivo. Estávamos conhecendo a loja e o seu dono(se não me engano, Pablo), quando começou a rolar um som que me paralisou: Fire and Rain num arranjo de jazz e c/ flauta. Era o album CALIFORNIA CONCERT produzido por Creed Taylor gravado no Hollywood Palladium em 1971 c/ os seguintes músicos:
Freddie Hubbard, trumpet
Stanley Turrentine, tenor
Hank Crawford, alto
Hubert Laws, flauta
George Benson, guitarra
Johnny Hammond, teclados
Ron Carter, baixo
Billy Cobham, bateria
Airto Moreira, percussão
O disco é antológico e Fire and Rain ficou sendo marcante, pelo seguinte:
Eu cresci ouvindo muita música na minha casa, de tudo, mas, nos finais de semana, meu pai ouvia jazz acompanhado de um uísque(se estivesse vivo, participaria do blog): Oscar peterson, MJQ, Miles, Dave Brubeck, Sinatra e Ella.Muito Sinatra e muita Ella.
Em 1977, c/ 19 anos, era raro eu estar presente aos finais de semana e o que eu estava ouvindo era rock progressivo.
Quando eu escutei Fire and Rain, minha cabeça girou e posso dizer que esse disco me reencontrou c/ o jazz. Um jazz "novo" p/ mim que ma abriu as portas p/ tudo que estava rolando no jazz.
Foi uma experiência marcante e California Concert é um disco brilhante, sendo que Freddie Hubbard está extraordinário.
Marcelon

3. Les Feuilles Mortes (Autumn Leaves)

05 fevereiro 2003

A refeição tinha sido mais que prazerosa naquela fria tarde parisiense. Acabáramos de almoçar no La Chope D'Alsace, um simpático pouso próximo a St. Germain, onde fomos brindados com uma refeição típicamente alsaciana, seus excelentes Gewürztraminer e a boa seleção de queijos, o que, convenhamos, tornaram obrigatória a degustação de um digestivo de boa estirpe e charuto idem.
Vivo um sofrimento psicológico toda vez que preciso de um digestivo naquela malfadada cidade - onde ir, ao Cafe Flore ou ao Aux Deux Magots? A entrada de Isabelle Adjani no Flore me fez tomar uma decisão mais rápida que a habitual, e o mundo parecia ter parado quando vi aquelas duas pérolas azuis na mesa ao lado.
Pedido o Calvados, passamos ao extraordinário Montecristo nº 2, um pirâmide de insuspeita categoria, e saboreamos aquele fim de tarde em silêncio quase sepulcral.
A vida adquire uma dimensão diferente após uma grande refeição compartilhada com pessoas queridas, e a companhia de um puro sempre traz uma alegria adicional ao espírito. O silêncio, entretanto, tornou-se, naquela tarde, um porta-voz da sensível versão desse grande clássico que é "Les Feuilles Mortes (Autumn Leaves)", cuja execução se iniciava no salão principal. O piano de Legrand, acompanhado do violino de Grapelli, deu outro colorido àqueles olhos tão lindos e fez com que eu nunca mais deixasse de fumar um pirâmide Montecristo nº 2, tudo em homenagem àquela lembrança.
A "bolacha" que abriga esta magnífica versão chama-se "Grapelli Legrand", disco gravado em duo, no dia 20 de abril de 1993, e, apesar da infinita quantidade de gravações existentes para esta obra-prima, não há nenhuma que me sensibilize da mesma forma.

Les Feuilles Mortes (Joseph Kosma / Jacques Prevert / Johnny Mercer)
Polygram. Grapelli Legrand

E mantendo o ritmo das baforadas

E para quem um dia duvidou da Conchita...

04 fevereiro 2003

Recebi de um amigo leitor do CJUB, à guisa de colaboração, a foto seguinte, que apresenta Anthony Braxton durante uma gravação, a bordo(!) de um raro bass sax cuja existência e pilotagem eram para mim desconhecidas, vez que jamais o vira constar da ficha técnica uma gravação sequer. Quem tiver informações sobre esse monstro, estou interessado em conhecer-lhe a sonoridade. Acho que deve ser algo parecido como a de um transatlântico deixando o porto e avisando às pequenas nozes que o circundam: saiam da reta! Iluminem-me, amigos, por favor.
Quanto à Conchita, que enviou faz tempo uma foto semelhante, mas que parecia eventualmente uma montagem bem elaborada, nossos agradecimentos e saudações por ter sido a pioneira nesse calibre. Continue mandando suas ilustrações e comentários, por favor. Um abraço da turma, e não esqueça de enviar as 10 músicas que você mais gosta!

Artigo do Luis Orlando Carneiro, JB, 4/4/03 - KEITH JARRET

Para quem não compra ou não assina o JB, transcrevo o ótimo artigo de hoje do craque Luis Orlando sobre Keith e o Prêmio POLAR. Esse combalido porém valoroso jornal é o último bastião carioca da crônica de jazz, vez que o O Globo, desde a saída de nosso prezado JDR, não consegue produzir sequer uma linha a respeito do assunto, preferindo, como espelho da personalidade e visão microscópicas, quiçá amebianas de seu editor Arthur Xexéo, usar a página de crítica musical das terças feiras para resenhar discos de pagode, de rap, de rock, música sertaneja, enfim, coisas muito mais importantes para a cultura brasileira do que essa droga de jazz. Enfim, deleitem-se com o artigo do LOC.

P.S.: Não tenho nenhuma afinidade cultural com o sr. Gerald Thomas por desconhecer sua obra. Mas a partir desta data torno-me um admirador seu, tão somente porque em artigo também desta data no mesmo Caderno B do JB, desanca como pode ao mesmo Sr. Xexéu aqui mencionado. Sei lá, a briga é deles, mas se me chamassem para defender um lado, perfilar-me-ia nas fileiras Thomasianas, no escuro.


Mestre do improviso sem limites
Ganhador do Polar Music Prize deste ano, o pianista Keith Jarrett se consagra como um dos maiores nomes do jazz contemporâneo

Luiz Orlando Carneiro

"O pianista e compositor Keith Jarrett, 57 anos, uma das maiores expressões do jazz contemporâneo, foi escolhido pela Real Academia de Música da Suécia para receber, em maio, o Polar Music Prize 2003. Trata-se de um cobiçado prêmio internacional que corresponde, desde 1992, a um cheque de um milhão de coroas suecas (cerca de US$ 115 mil, pouco mais de R$ 400 mil no câmbio de hoje). O prêmio é destinado a músicos das áreas erudita e popular. Em anos anteriores, foram homenanegados, entre outros, Pierre Boulez, Stockhausen, Isaac Stern e o celista Mstislav Rostropovich, no campo da chamada música séria. Paul McCartney, Stevie Wonder, Miriam Makeba e Quincy Jones já ganharam o prêmio na categoria de música popular. Nesta divisão, só um gigante do jazz havia sido contemplado até hoje: Dizzy Gillespie (1917-1993).
O caso de Keith Jarrett é especial. Não se levou em conta a divisão do prêmio por áreas. De acordo com a Real Academia de Música sueca, o Polar Music Prize deste ano foi concedido ''ao músico americano Keith Jarrett, pianista, compositor e mestre no campo da música improvisada''. O comunicado acrescenta: ''O elevado grau da arte musical de Jarrett é caracterizado por sua habilidade em cruzar, sem esforço, fronteiras no mundo da música''.

O Polar Prize chega para Jarett no mesmo ano em que o seu trio Standards, com Jack DeJohnette (bateria) e Gary Peacock (baixo), está comemorando seu 20º aniversário. Esses 20 anos estão documentados em 15 álbuns da ECM, além da caixa de seis CDs intitulada At the Blue Note - The complete recordings (Três noites de gravações ao vivo, em 1994, no clube de Nova York).

O trio de Jarrett é, sem dúvida, o mais extraordinário pequeno conjunto de jazz em atividade, em termos de fluência, criatividade e interação com improvisação. Até bem recentemente, desde o primeiro volume de 1983, o grupo desconstruía e reconstruía apenas standards do cancioneiro norte-americano (All the things you are, The meaning of the blues, I'll remember april etc.). Jarrett, De Johnette e Peacock chegavam ao estúdio, ao clube ou à sala de concerto sem nenhuma idéia dos temas que desenvolveriam. A improvisação começava com a lembrança, no palco, de uma melodia ou passagem do rico American song book.

Nos dois últimos anos, a partir de Inside out, Jarrett modificou a concepção de seu trio. Deixou de partir de temas mais ou menos reconhecíveis (mesmo que só ao fim de algumas interpretações), para embarcar logo em improvisações livres cada vez mais audaciosas. Seu último CD (duplo), Always let me go - Live in Tokyo, é puro free jazz (sem dissonâncias agressivas que espantam os ouvidos mais comportados), e foi selecionado, pela maioria da crítica especializada, como um dos dez melhores discos lançados em 2002.

Virtuose do piano, Jarrett já era brilhante como sideman do saxofonista Charles Lloyd, aos 21 anos, em 1966. Mas ganhou notoriedade nos anos 70, quando passou a se apresentar, solo, em longos concertos totalmente improvisados. A obra-prima desse período foi o Köln concert (1975), carro-chefe do selo ECM, que vendeu mais de dois milhões de cópias.

Os gemidos e exclamações do pianista costumam acompanhar suas improvisações de grande intensidade emocional, mesmo nos tempos lentos. A técnica soberba de Jarrett e seu amor pela música erudita levaram-no a gravar, com grande sucesso crítico, os dois volumes do Cravo bem temperado e as Variações Goldberg, de J. S. Bach, além de três concertos para piano e orquestra de Mozart (os K.271, 453 e 466), mais os prelúdios e fugas de Shostakovitch.

Entre 1997 e início de 1999, Keith Jarrett esteve afastado do teclado em virtude de uma síndrome de fadiga crônica. Seu CD de retorno foi The melody, at night, with you - um disco plácido e intimista - contendo belíssimas versões de standards clássicos, como I loves you Porgy e Someone to watch over me."

1 - One World (Not Three) - Sting

Dia 24 de março de 1988. Com meus dezenove anos aquele certamente seria um dos dias mais importantes da minha vida. Estava na Secretaria Municipal de Educação no meio de dezenas e dezenas de garotas, jovens como eu, que lá estam para escolher as escolas que iriam começar sua vida profissional como professoras. Por incrível que pareça eu também estava lá pelo mesmo motivo. Havia passado no concurso público e também no vestibular para História na UFF. Um início de ano promissor... Por ser o único homem no meio de tantas garotas logo a atenção recaiu sobre mim. Enquanto aguardava a minha vez, assustado pelas opções de escolas em Santa Cruz, Campo Grande e Inhoaíba (?), comentei com as garotas que também havia passado no vestibular da UFF, neste momento vira-se em minha direção uma linda garota em forma de sonho, seus lindos olhinhos puxados me fitaram e ela disse que também estudava lá e estudava História! Fiquei alguns segundos sem saber o que dizer e é claro que a imensa sala onde estava desapareceu, só existia eu e a garota dos meus sonhos. Falei alguma coisa que não me lembro e só fui despertar para a realidade quando vi que eu era o 146 e ela a 145. Havíamos passado no concurso com as mesmas notas em todas as matérias, ficando ela na minha frente por ser um ano mais velha. Logo em seguida uma senhora nos chamou para escolher nosso futuro local de trabalho, quando entra uma secretária (ou seria um anjo) e nos disse que acabara de chegar cinco vagas para Paquetá! Antes que eu pensasse alguma coisa ela se vira pra mim e diz: "Quer trabalhar comigo em Paquetá?". A secretária ao ouvir a série de coincidências que nos cercavam profetizou que iríamos ser felizes naquela ilha. Escolhemos a mesma escola e ao sairmos a convidei para irmos até minha casa já que seríamos colegas de trabalho e de universidade. Quando chegamos, eu super nervoso fui até o toca discos e peguei o disco que mais gostava: o álbum duplo Bring On The Night do Sting. Quando começou a tocar a primeira faixa "One World" ela olha pra mim e diz que adorava essa música e que sem dúvida esse seria um momento especial em nossas vidas. Dois anos depois nos casamos, tivemos dois filhos e somos felizes até hoje e o Sting faz parte da nossa trilha sonora. Como esse é um blog jazzístico por excelência é legal destacar que este álbum tem grandes influências do jazz tendo Brandford Marsalis como saxofonista em todas as faixas. Mas sem dúvida essa música é importante para mim pelo momento que representou...

Um Grande Abraço à Todos

Marcelink

2. Laetitia - um dos temas do filme Os Aventureiros, 1966.

03 fevereiro 2003

Inauguradas as reminiscências, volto a 1967, ao Cine Condor Largo do Machado, à sessão histórica -para mim- desse filme estrelado por Alain Delon, Lino Ventura e Joanna Schimkus e dirigido pelo famoso diretor francês Robert Enrico. Além de ser um filme cuja trama era recheada de peripécias aventurescas do trio, do maior interesse para jovens de 15 anos, como eu, grande parte das cenas se dava num barco, filmadas em locais paradisíacos da costa mediterrânea. E trazia ainda a figura encantadora da heroína Laetitia, uma loura canadense (a primeira a ser objeto do meu desejo juvenil; a segunda foi Diana Krall e o desejo, não tão juvenil, virou admiração jazzística) que além de muito bonita, era charmosérrima, apaixonante. Então foi nesse clima de enlêvo que ouvi a música-tema da personagem de Joanna, e fui fisgado para todo o sempre. Saí rindo à tôa, mesmo depois da morte da bela personagem. Há ainda outro tema, chamado "Funeral Submarino", e executado durante a descida de Laetitia ao fundo do mar, que também é maravilhoso, mas a música-tema me remete, de pronto, à belíssima figura de Joanna Schimkus, nome complicado que no entanto nunca mais esqueci. A mágica união das imagens lindas à trilha adequada ficou indelevelmente marcada em minha mente, fazendo-me desejar rever o filme ainda uma vez.

Ficha técnica: Laetitia - Música: François de Rubaix; Letra: Jean Pierre Lang - Disques Pathé Marconi, 1966.

1 - LAURIE

Uma tarde qualquer de 1980, ao chegar da faculdade, recebi o recado p/ telefonar urgente p/ Carlos. Na verdade, era o saudoso Carlinhos da "velha" Moto Discos dizendo que tinha recebido uma jóia e tinha reservado p/ mim. Corri p/ a cidade e peguei a jóia: WE WILL MEET AGAIN, de BILL EVANS, acompanhado de Marc Johnson no baixo, Joe Labarbera na bateria, Larry Schneider, tenor, soprano e flauta e Tom Harrell no trumpete. Na verdade, foi a última gravação do Bill e ele se superou. Só posso dizer que está em qualquer lista de favoritos e a música LAURIE é uma preciosidade. Toda vez que a ouço, me isolo do que acontece em volta e tenho lembranças de momentos e pessoas importantes da minha vida. Por isso Laurie é e sempre será um das minhas favoritas.
Marcelón

2. That's All

01 fevereiro 2003

Chovia muito naquele sábado de janeiro. Sem outra alternativa, parti para a All the Best, um principado da música de bom gosto encravado em plena Ipanema. Era a primeira vez que eu iria à loja de jazz, visto que a loja original era voltada para o pop e o rock. Chegando lá, para minha decepção, a loja estava fechando, e já passava das 14:00, quando o dono, um sujeito engraçado, me perguntou se eu queria beber um scotch com as portas fechadas. Ante a resposta afirmativa, iniciamos, de pronto, os trabalhos vespertinos. Minha idéia era garimpar algum vocalista que fugisse à linha dos monstros consagrados, uma vez que minha coleção já abrigava considerável volume destes.
Pois bem, de uma daquelas prateleiras impecavelmente organizadas foi sacado, como rara preciosidade - que o é -, um disco gravado em Nova Iorque, entre os dias 3 e 5 de abril de 1989, que vem sendo "gasto" ao longo de muitos anos. Chama-se "For Sentimental Reasons", de um multifacetado músico, belo pianista e vocalista, Bobby Scott, dispondo de uma formação impecável: Bucky Pizzarelli (guitarra), Steve La Spina (baixo) e Jimmy Young (bateria).
A primeira audição, macia e gostosamente embalada pelo Black & White ofertado, atingiu seu ápice na faixa 9, That's All, uma balada de rara inspiração, de nos fazer perder a respiração tantas as lembranças por ela evocadas.
Naquele dia mais que querido, além de vir a conhecer o grande Bobby Scott, ganhei um irmão para toda a vida, Mr. Sazz, co-editor deste blog e um dos donos da inesquecível All the Best.

That's All (Bob Haymes / Alan Brandt)
Musicmasters. For Sentimental Reasons