Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

Artigo do Luis Orlando Carneiro, JB, 4/4/03 - KEITH JARRET

04 fevereiro 2003

Para quem não compra ou não assina o JB, transcrevo o ótimo artigo de hoje do craque Luis Orlando sobre Keith e o Prêmio POLAR. Esse combalido porém valoroso jornal é o último bastião carioca da crônica de jazz, vez que o O Globo, desde a saída de nosso prezado JDR, não consegue produzir sequer uma linha a respeito do assunto, preferindo, como espelho da personalidade e visão microscópicas, quiçá amebianas de seu editor Arthur Xexéo, usar a página de crítica musical das terças feiras para resenhar discos de pagode, de rap, de rock, música sertaneja, enfim, coisas muito mais importantes para a cultura brasileira do que essa droga de jazz. Enfim, deleitem-se com o artigo do LOC.

P.S.: Não tenho nenhuma afinidade cultural com o sr. Gerald Thomas por desconhecer sua obra. Mas a partir desta data torno-me um admirador seu, tão somente porque em artigo também desta data no mesmo Caderno B do JB, desanca como pode ao mesmo Sr. Xexéu aqui mencionado. Sei lá, a briga é deles, mas se me chamassem para defender um lado, perfilar-me-ia nas fileiras Thomasianas, no escuro.


Mestre do improviso sem limites
Ganhador do Polar Music Prize deste ano, o pianista Keith Jarrett se consagra como um dos maiores nomes do jazz contemporâneo

Luiz Orlando Carneiro

"O pianista e compositor Keith Jarrett, 57 anos, uma das maiores expressões do jazz contemporâneo, foi escolhido pela Real Academia de Música da Suécia para receber, em maio, o Polar Music Prize 2003. Trata-se de um cobiçado prêmio internacional que corresponde, desde 1992, a um cheque de um milhão de coroas suecas (cerca de US$ 115 mil, pouco mais de R$ 400 mil no câmbio de hoje). O prêmio é destinado a músicos das áreas erudita e popular. Em anos anteriores, foram homenanegados, entre outros, Pierre Boulez, Stockhausen, Isaac Stern e o celista Mstislav Rostropovich, no campo da chamada música séria. Paul McCartney, Stevie Wonder, Miriam Makeba e Quincy Jones já ganharam o prêmio na categoria de música popular. Nesta divisão, só um gigante do jazz havia sido contemplado até hoje: Dizzy Gillespie (1917-1993).
O caso de Keith Jarrett é especial. Não se levou em conta a divisão do prêmio por áreas. De acordo com a Real Academia de Música sueca, o Polar Music Prize deste ano foi concedido ''ao músico americano Keith Jarrett, pianista, compositor e mestre no campo da música improvisada''. O comunicado acrescenta: ''O elevado grau da arte musical de Jarrett é caracterizado por sua habilidade em cruzar, sem esforço, fronteiras no mundo da música''.

O Polar Prize chega para Jarett no mesmo ano em que o seu trio Standards, com Jack DeJohnette (bateria) e Gary Peacock (baixo), está comemorando seu 20º aniversário. Esses 20 anos estão documentados em 15 álbuns da ECM, além da caixa de seis CDs intitulada At the Blue Note - The complete recordings (Três noites de gravações ao vivo, em 1994, no clube de Nova York).

O trio de Jarrett é, sem dúvida, o mais extraordinário pequeno conjunto de jazz em atividade, em termos de fluência, criatividade e interação com improvisação. Até bem recentemente, desde o primeiro volume de 1983, o grupo desconstruía e reconstruía apenas standards do cancioneiro norte-americano (All the things you are, The meaning of the blues, I'll remember april etc.). Jarrett, De Johnette e Peacock chegavam ao estúdio, ao clube ou à sala de concerto sem nenhuma idéia dos temas que desenvolveriam. A improvisação começava com a lembrança, no palco, de uma melodia ou passagem do rico American song book.

Nos dois últimos anos, a partir de Inside out, Jarrett modificou a concepção de seu trio. Deixou de partir de temas mais ou menos reconhecíveis (mesmo que só ao fim de algumas interpretações), para embarcar logo em improvisações livres cada vez mais audaciosas. Seu último CD (duplo), Always let me go - Live in Tokyo, é puro free jazz (sem dissonâncias agressivas que espantam os ouvidos mais comportados), e foi selecionado, pela maioria da crítica especializada, como um dos dez melhores discos lançados em 2002.

Virtuose do piano, Jarrett já era brilhante como sideman do saxofonista Charles Lloyd, aos 21 anos, em 1966. Mas ganhou notoriedade nos anos 70, quando passou a se apresentar, solo, em longos concertos totalmente improvisados. A obra-prima desse período foi o Köln concert (1975), carro-chefe do selo ECM, que vendeu mais de dois milhões de cópias.

Os gemidos e exclamações do pianista costumam acompanhar suas improvisações de grande intensidade emocional, mesmo nos tempos lentos. A técnica soberba de Jarrett e seu amor pela música erudita levaram-no a gravar, com grande sucesso crítico, os dois volumes do Cravo bem temperado e as Variações Goldberg, de J. S. Bach, além de três concertos para piano e orquestra de Mozart (os K.271, 453 e 466), mais os prelúdios e fugas de Shostakovitch.

Entre 1997 e início de 1999, Keith Jarrett esteve afastado do teclado em virtude de uma síndrome de fadiga crônica. Seu CD de retorno foi The melody, at night, with you - um disco plácido e intimista - contendo belíssimas versões de standards clássicos, como I loves you Porgy e Someone to watch over me."

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