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22 setembro 2021

 

Série: Histórias do Jazz (final)

Após 38 capítulos desta série procurando passar informações sobre a música de Jazz, como parte de sua história, estamos encerrando e desejando que tenha sido útil de alguma forma aos seguidores deste blog.


OUTRO LADO DO JAZZ # 20

CORPO E ALMA 

Não é frequente que uma gravação de música de Jazz se torne grande sucesso comercial. Algumas notórias exceções ocorreram como no caso a seguir relatado.

Talvez a mais relevante delas foi a de ― Body And Soul interpretada pelo saxofonista tenor ― Coleman Hawkins em gravação de 11 de outubro de 1939 no estúdio da RCA Victor em New York. Era uma balada até bastante banal assinada por 04 compositores: Edward Heyman, Robert Sour, Frank Eyton e Johnny Green.

Aconteceu quando Hawkins participava de uma gravação e ao final executou a canção sem maiores pretensões, apenas para completar a sessão. Editado o disco pelo selo Bluebird subsidiário “econômico” da RCA, Body And Soul aconteceu no momento certo para as pessoas certas e a execução tornou-se um enorme sucesso.

Surpreendeu o próprio Hawkins que estranhou e chegou a comentar: ― “Não sei o que viram nesta peça, é uma balada e faço isto há anos e centenas de vezes!”.

Em 1958 o crítico e produtor Leonard Feather calculava que Hawkins teria executado pelo menos umas 6.600 vezes Body And Soul, nos 6.800 dias passados desde a data da gravação.

Body and Soul foi escrita para a atriz e cantora inglesa Gertrude Lawrence, sendo interpretada pela primeira vez por ela, ainda na Inglaterra. Libby Holman (*) foi a responsável pelo lançamento da canção nos Estados Unidos. A primeira regravação da canção foi feita ainda em 1930 pelo Louis Armstrong, que após o seu lançamento alcançou o número 12 na parada de “singles” norte-americana. Até o final da década, a canção havia sido regravada por 11 grupos.

Body and Soul continua a ser um padrão de jazz, com centenas de versões cantadas e gravadas por dezenas de artistas. Clássicas gravações vocais incluem as de: Ella Fitzgerald , Hanshaw Annette , Billie Holiday , Billy Eckstine , Etta James , Sarah Vaughan e Frank Sinatra, e músicos como Benny Goodman , Lee Konitz , John Coltrane , Charles Mingus , Dexter Gordon , Sonny Stitt e Lester Young.

O disco fonográfico exerceu uma espécie de ditadura sobre o mundo do Jazz. O sucesso imprevisto que uma gravação podia proporcionar tinha às vezes consequências inesperadas para o músico. Uma delas é que teria de repetir aquela execução infindavelmente, show após show, e não podia variar muito, ou mesmo nada, pois o público ali estava esperando para ouvir aquele mesmo solo do disco, ao vivo. Hawkins nos primeiros anos repetia praticamente sua interpretação original nota a nota, mas depois de 20 anos já liberto executava a balada de forma diferente e até muito mais charmosa. Enquanto viveu foi seu “Corpo e Alma”.

(*) Elizabeth Lloyd "Libby" Holman (1904-1971) foi uma socialite, atriz e cantora.

 


UM  PIRATA  BEBOPER

Existe uma série de gravações ao vivo de Charlie Parker de qualidade bastante deficiente já que, afinal, já eram os anos 40 e o processo Hi-Fi ainda não possuia razoável eficiência.

Acontece que tais gravações são produto de um gravador pirata, feitas por um tal de Dean Benedetti, um amador que usava uma máquina portátil e seguia os passos de Bird gravando tudo o que podia.

Benedetti era um saxofonista de pouca expressão que desde 1944 acompanhava Charlie Parker de clube em clube, de concerto em concerto, gravando os solos de Parker e praticamente só os solos, em um aparelho amador portátil.

Atuava com conhecimento e permissão do músico já que acreditava que DEAN não usaria os registros de forma comercial, o que realmente foi cumprido.

Vale citar uma passagem com DEAN quando certa noite já preparado com seu gravador em uma mesa em frente ao palco como habitualmente fazia esperando o início da apresentação de Parker, adentra uma turma da fiscalização de direitos autorais e o proíbe de gravar o show.   DEAN naturalmente desarmou tudo e saiu, mas rapidamente retorna pela porta da cozinha do “night club”, vai até os sanitários, suborna o encarregado que leva então o microfone até próximo ao palco e o prende na cortina e escreve um cartaz “INTERDITADO” e o coloca na porta de um "WC", onde sentado em uma privada DEAN passou o show gravando com o aparelho no colo.

De início as grandes marcas de discos só excepcionalmente se interessaram pela aventura de gravar ao vivo um concerto bebop.  Apenas pequenas gravadoras assumiram o risco de gravar o "novo" Jazz.   Se não fosse Benedetti grande parte do início da obra de Parker e demais correligionários teria se perdido para sempre. Mesmo assim foi por pouco porque Benedetti sumiu de repente após a morte de Parker e com ele todas as fitas, só indo aparecer algumas delas pelos anos 60, sem também muita informação e nem sombra do dito pirata, quando finalmente foram editada

A Mosaic Records, editou uma caixa MD7-129 com 7 CDs contendo as gravações de BENEDETTI.



3 comentários:

Edison Waetge Jr disse...

Grande série, MaJor, a qual acompanhei com muita atenção e interesse.
Grato por compartilhar seu conhecimento.
Edison

Anônimo disse...

Trabalho brilhante, tanto extensivo como um verdadeiro intensivo pelo vasto panorama que você abrange nesta série. Qualquer agradecimento é pequeno, diante da grandeza do seu esforço em trazer pra cá seu vasto conhecimento a respeito, e com tanta coisa pra lá de interessante, sem ter a rigidez na escrita dos "catedráticos", o que torna a leitura leve e interessante para qualquer um que escolha aprender por aqui. Parabéns mais uma vez e obrigado por manter este blog vivo e atual. Forte abraço.
Mau Nah

Anônimo disse...

Parabéns pelo constante e excelente trabalho
Sugiro que o site (blog) tenha um bom mecanismo de busca
Seria interessante classificar as matérias em TAGs

Abraços