Série: Histórias do
Jazz
DO OUTRO LADO DO JAZZ # 16
A DANÇA E O JAZZ (Parte I)
O Jazz foi criado sobre um tipo
de música extremamente dançante dentro da tradição afro e de seu berço, a
cidade de New Orleans, incrivelmente alegre, festiva até mesmo nos funerais!
Podemos notar que as escolas de
Jazz produziram música com indissociável característica dançante e, mesmo o
“bebop”, cuja essência de complexidades rítmicas desviava-se bastante daquela
que induzia à dança, teve também seus adeptos.
Na era “bebop” (a partir da
primeira metade da década de 40 do século XX) as casas de espetáculos passaram
a ocupar as pistas de dança com mesas para aumentar a audiência, já que o
público passou a se interessar mais em apreciar os grandes solistas em suas
extensas e livres improvisações, do que arriscar passos com tal ritmo.
A esta época iniciou-se a
dissociação do Jazz com a dança e foi quando o Jazz passou a ser executado para
ser “ouvido” realmente. A dança ficou mais associada à música “suingante” das
grandes orquestras (as “big bands”) e à escola “dixieland”.
Tal dissociação se concretizou
com o Free-Jazz onde qualquer tentativa de se dançar, expressa pelo que se pode
designar como tal, deva ser frustrante. (!!!...)
A tradição africana da dança
acompanhou passo a passo todo o processo pelo qual passou a música americana e
suas influências europeias até se formar o Jazz.
Foi no ambiente do “minstrell-show”
que surgiu a “tap-dance”, que conhecemos como sapateado, sendo utilizada
de maneira inteiramente improvisada antecedendo ao próprio Jazz. Tal estilo de
dança, tipicamente afro, acabou por ser vinculada estreitamente à música de
Jazz.
Todos conhecemos o sapateado até
porque os filmes musicais americanos dos anos 30, 40 e 50 o reverenciava nos
pés de exímios dançarinos como Gene Kelly, Fred Astaire e Sammy Davis Jr,
apesar de um tanto abastardados em relação aos grandes “tap-dancers”.
Os verdadeiros exímios foram Bill
"Bojangles" Robinson, John W. Bubbles, Jack Wiggins, Donald
"Baby" Laurence e outros "hoofers".
“Hoofer” é uma gíria aplicada aos
sapateadores que emitem ruídos semelhantes aos cascos (“hoof”) de um
cavalo. Nos anos 30 existiu no Harlem
um “Hoofer’s Club” que reunia dia e noite sapateadores em busca de
“batalhas” ou somente para apresentar seus shows em troca de gorjetas.
Em New Orleans surgia no início dos anos 1900 o “Slow Drag”, música de inspiração afro-latina de rítmo arrastado e acompanhada de uma dança lasciva, muito apreciada pelas prostitutas negras que ficavam dançando para despertar e atrair os fregueses.
O “Slow Drag” era muito comum nas
espeluncas de “Storyville”(*) e o pianista Jelly Roll Morton,
um dos pioneiros do Jazz em New Orleans, era exímio executante do “Slow Drag” (e provavelmente das moças
também!).
Por volta de 1929 o “Slow Drag”
tornou-se a primeira dança social afro-americana, sendo introduzida em
espetáculos da Broadway e escandalizando os críticos de raça branca, os quais
julgavam ameaçar a ordem moral e social pela sensualidade apresentada e,
logicamente, se tornou muito popular também no Harlem.
Um dos mais conhecidos
contrabaixistas de New Orleans, Alcide Pavageau (1888-1969), até 1927 atuava
como guitarrista e tornou-se famoso também como dançarino ganhando o apelido de
“Slow Drag”.
(*) - Storyville foi o distrito
da luz vermelha de Nova Orleans de 1897 a 1917. Criado por decreto municipal sob o Conselho
Municipal de Nova Orleans, para regulamentar a prostituição. Sidney Story, um vereador da cidade, escreveu as
diretrizes e a legislação para controlar a prostituição dentro da cidade. A
portaria designava uma área na qual a prostituição, embora ainda nominalmente
ilegal, era tolerada e regulamentada. A área foi originalmente referida como
"O Distrito", mas seu apelido, "Storyville", logo pegou,
para grande desgosto de Sidney Story seu criador.
Era limitada pelas North
Robertson, Iberville, Basin e St. Louis Streets. Estava localizada próximo a
uma estação ferroviária, tornando-se um destino popular para viajantes que
chegavam à cidade, e se tornou uma atração central no coração de Nova Orleans.
Apenas alguns de seus remanescentes casarões estão agora visíveis. O bairro
fica em Faubourg Tremé e a maior parte do terreno foi reaproveitado para
habitação pública. É bem conhecido por ter sido o lar de músicos de jazz, como
Jelly Roll e principalmente Louis Armstrong como menor de idade viveu em
Storyville.
Um comentário:
Mais uma formidavel resenha realmente o jazz e dança sempre estiveram juntos a menos como vc disse no maldito free. "maldito é meu"
Carlos Lima
Postar um comentário