Série:
Histórias do Jazz
DO
OUTRO LADO DO JAZZ # 14 - O JAZZ VAI À
GUERRA (FINAL)
ATUAÇÃO E PERDA DE GLENN MILLER
A mais reconhecida das big bands militares foi
sem dúvida a de Alton Glenn Miller, comissionado como capitão no US Army
Specialist Corps (não tinha prestado o serviço militar regular por ter uma leve
deficiência visual) com base em Omaha, Nebraska, em junho de 1942, então
contando 38 anos. Seu treinamento básico terminou em dezembro de 1942. Seu
maior desejo era levar sua música para o meio militar, inclusive modernizando o
que já existia, como os arranjos “swing” para as marchas de John Philip
Souza.
Inicialmente foi designado como diretor das
bandas do Exército, quando então elaborou um plano para 30 pequenos conjuntos
de dança.
O ambiente ultra conservador do Exército não
lhe foi muito favorável e os arranjos “swing” de marchas militares não foram
bem aceitos.
Transferiu-se então para a Força Aérea passando
a dirigir a “Army Air Forces Technical Training Command” e lá contou com
o total apoio do Lieutenant Colonel Richard E. Daley.
Miller, convidado a participar do programa de
rádio “I Sustain The Wings” pela CBS, apoiou-se em velhos amigos e
companheiros e montou uma banda com 45 integrantes dentre eles, os irmãos
Dorsey, Ray Noble, o baterista Ray McKinley, o pianista e arranjador Mel
Powell, o baixista Herman Trigger Alpert, o trompetista Zeke Zarchy, o
arranjador Jerry Gray e ainda vários músicos oriundos das sinfônicas de Boston
e New York. Uma senhora banda-orquestra
que possivelmente jamais poderia ser montada e mesmo sobreviver não fossem as
condições oferecidas pelos militares.
Assim foi criada a “718th AAFTC BAND” estacionada em New
Haven em Connecticut e o primeiro programa foi ao ar a 29/maio/1943.
A 06/maio/1944 o Coronel Edward Kirby do
Estado-Maior do General Dwight Eisenhower (Supreme Headquarters Allied
Expeditionary Force - SHAEF) sediado em Londres foi a New York e após o show de
Glen Miller foram jantar, quando o Coronel expôs a ideia de manter uma banda na
Inglaterra onde era preparada a grande invasão da França pelas tropas aliadas
(o famoso “Dia-D”). Miller concordou e foram iniciados os preparativos para a
transferência da orquestra para além mar.
A 18/junho Miller voou para a Inglaterra e os componentes
da orquestra saíram de navio a 23/junho chegando a 28 na Escócia onde Miller já
os esperava. Transferidos para Chelsea, Miller foi se apresentar ao Coronel
David Niven (o ator), membro do SHAEF, encontro este interrompido 3 vezes por
ataques de bombas V-1 dos nazistas.
O grupo de Miller passou a se chamar “American
Band Of The Supreme Allied Command” e estrearam no domingo 09/julho/1944,
nos estúdios da rádio BBC no “Allied Expeditionary Forces Programme”.
Podemos imaginar o impacto fantástico que deve
ter ocorrido nas tropas aliadas: norte-americanas, inglesas, escocesas,
canadenses, australianas e nas francesas, muitas já atuando na França após o
“Dia-D” ocorrido a 06/junho/1944.
A partir de 14/julho a “Glenn Miller
Orchestra” iniciou uma excursão pelas principais bases da Inglaterra e
hospitais da Cruz Vermelha, também realizando muitos shows através das rádios
broadcast direcionadas para a França.
Há notícias de que muitos soldados alemães,
evidentemente escondidos dos mais ferrenhos nazistas, sintonizavam estas rádios,
afinal o “swing” era estimulante até para o inimigo, provavelmente já esgotado
da guerra.
Em menos de um ano a “Glenn Miller Army Air
Force Band” realizou cerca de 800 apresentações das quais 500 foram em
rádio broadcast alcançando milhões de ouvintes. Nos 300 shows ao vivo cerca de
600.000 militares tiveram o privilégio de assisti-la.
O General Doolittle, Comandante do “8th Air
Force” dizia para Miller após uma apresentação: ―"Sua música tornou-se o
maior incentivo ao moral das tropas no teatro de operações na França".
Este concerto, aliás, é retratado no filme “The
Glenn Miller Story” (no Brasil “Música e Lágrimas”) feito em 1954 onde
bombas voadoras alemães caíam próximo enquanto a banda executava o clássico “In
The Mood” e, a um sinal de Miller, tocavam cada vez mais alto e sem
titubear.
A 08/agosto/1944 o SHAEF recomendou uma
promoção ao Capitão Miller efetivando-o como Major.
A 13/novembro Miller desembarca em Paris recém
libertada indo se encontrar com o General Barker e o Major May ambos do SHAEF
no Palácio de Versalhes. O encontro se destinava a tratar da transferência da
orquestra para a França de modo a se apresentar nas comemorações do Natal
próximo e do Ano Novo. Miller retorna a 18/novembro enquanto, ausente da
Inglaterra, a orquestra estava sendo dirigida pelo Sargento Jerry Gray.
A 15/dezembro/1944 o Major Miller vai até o
aeroporto onde um denso nevoeiro cobria todo o local. Miller preocupado com seu
vôo esperava o aparelho que pousou às 13:45h, logo embarcando com destino à
França e nunca mais foi visto!.
Miller deveria voar de Bedford a Paris, a fim
de tomar providências para transferir sua banda inteira para lá em um futuro
próximo. Seu avião, um monomotor UC-64 Norseman, partiu da RAF Twinwood Farm em
Clapham, nos arredores de Bedford, e desapareceu enquanto sobrevoava o Canal da
Mancha.
Ficou para a história sua música, sua atuação
durante a guerra e sua terrível perda.
A orquestra continuou sua campanha agora sob a
direção do Sargento Ray McKinley, atuando pela primeira vez a 21/dezembro/1944
sob intensa emoção.
Sua última apresentação se deu a 13/novembro/1945
no “National Press Club” em um jantar para o presidente Harry Truman em
Washington, onde os Generais Dwight Eisenhower e Hap Arnold homenagearam o
grupo pelo excelente trabalho realizado no período de guerra e agraciaram o Major
Glenn Miller (“Army Serial nº 0505273”), com a comenda póstuma da “World War
II Victory Medal”.
A GLENN MILLER ORCHESTRA foi reconstituída sob a direção de Tex Beneke, saxofonista,
cantor e um dos amigos mais próximos de Miller. Anos depois os músicos de
Miller, tendo seguido caminhos distintos de Beneke, foi contratado Ray McKinley
(baterista da banda da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos liderada por
Miller) para organizar uma nova banda em 1956.
A Glenn Miller Orchestra continuou a gravar e a
se apresentar com vários líderes, e permanece excursionando até os dias de
hoje. O atual trombonista, Larry O'Brien, lidera a banda.
Como um ouvinte já se manifestou no comentário anterior ― “O Jazz ajudou a ganhar a guerra não com canhões mas com suingue”
Um comentário:
Excelente resenha realmente Miller foi uma grande perda humana e musical. Apesar de não ter sido um grande jazzista sua banda sempre muito agradavel de se ouvir. Não sabia que na guerra tinha participado tanto.
Carlos Lima
Postar um comentário