Série: Histórias do Jazz
Devido
a um desentendimento financeiro, Snowden lider do grupo foi forçado a sair da
banda e DUKE ELLINGTON foi eleito o novo líder.
Ellington
e a banda continuaram a tocar no clube até janeiro de 1925, quando o local foi
fechado para reparos. O trompetista Bubber Miley foi a atração principal no
grupo e lhe deu seu som único, com o uso da surdina plunger. O estilo growl[2]
de Miley foi o grande destaque ao empregar o efeito wah-wah e foi chamado de som "jungle".
Tal
estilo criado por Duke Ellington para sua orquestra por volta de 1926 se
baseava em efeitos expressionistas, pseudo-africanos produzindo sons e
imitações de vozes animais onde usavam e abusavam das sonoridades dirty[3]
e growl nos instrumentos de sopro e de efeitos nos tom-tons e címbalos na
bateria. Na verdade fruto da colaboração do trompetista Bubber Miley e do
trombonista Joe "Tricky Sam" Nanton, ao utilizarem a surdina com
finalidades um tanto dramáticas.
Execuções
clássicas no estilo pela orquestra de Ellington são: Black and Tan Fantasy (1927), The Mooche (1928), Jungle Nights In
Harlem (1930), Echoes Of The Jungle (1931), Ko-Ko (1940) e outras... Este
som chegou a ser chamado de "Jungle Sound", e foi o grande
responsável pelo sucesso precoce de Ellington.
Quando
o clube de Hollywood foi reaberto na primavera de 1925 foi renomeado como Kentucky
Club. A banda então tornou-se conhecida como Duke Ellington and his Orchestra, embora tenha continuado a gravar
como ― WASHINGTONIANS até 1929.
Duke
Ellington trouxe um nível de estilo e sofisticação para o Jazz, que não tinha sido
visto antes. Embora fosse um pianista talentoso, sua orquestra foi seu
instrumento principal. Como Jelly Roll Morton, antes, ele se considerava um
compositor e arranjador, em vez de apenas um músico.
Duke
começou a executar música profissionalmente, em Washington, DC em 1917. Sua
técnica de piano foi influenciada pelos executores do stride piano como James P. Johnson e Willie "The Lion"
Smith.
Duke
primeiro visitou Nova York em 1922, tocando com Wilbur Sweatman, mas a viagem
foi infrutífera. Retornou a Nova York mais de uma vez em 1923, mas desta vez
com um grupo de amigos de Washington.
Após
Ellington passar a dirigir a banda foi chamado a Nova York e trabalhou no ― The
Club Hollywood em Manhattan (que mais tarde foi apelidado de Kentucky Club).
Durante esse tempo, Sidney Bechet participou brevemente da banda (infelizmente
nunca gravou com eles).
A
canção East St. Louis Toodle-Oo é um
bom exemplo deste estilo inusitado de tocar. O grupo gravou seu primeiro disco
em 1924 - Choo Choo (Gotta Hurry Home)
e Rainy Nights, Rainy Days, mas a
banda não atingiu o grande momento até que Irving Mills tornou-se seu
empresário e editor em 1926.
Em
1927 a banda fez versões regravadas de East
St.Louis Toodle-Oo, estreou Black and
Tan Fantasy e Creole Love Call,
canções que estariam associadas com Ellington para o resto de sua carreira, mas
o que realmente levou a Orchestra Ellington para cima foi se tornar a banda residente
do Cotton Club, depois que King Oliver imprudentemente recusou o
trabalho.
As
transmissões de rádio feitas diretamente do clube, uma grande novidade, fez
Ellington famoso em toda a América e também lhe deu a segurança financeira para
montar uma banda de primeira qualidade de tal forma que passou a escrever algumas
músicas especificamente para cada músico fazer seu grande solo. Os músicos permaneciam
com a banda durante longos períodos de tempo. Por exemplo, o saxofonista Harry
Carney permaneceria com Duke a partir de 1927 até 1974.
Em
1928, o clarinetista Barney Bigard deixou King Oliver e entrou para a banda e,
mais tarde, co-escreveu uma das peças de assinatura da orquestra Mood Indigo, em 1930 uma de suas mais
importantes canções desse período.
Em
1929 Bubber Miley, foi despedido da banda por causa de seu já alto grau de alcoolismo
e substituído por Cootie Williams. Ellington também apareceu em seu primeiro
filme Black and Tan no final daquele
ano.
A
Duke Ellington Orchestra deixou o Cotton Club, em 1931 (apesar de que ele
voltaria a título ocasional por todo o resto dos anos trinta) e excursionou pelos
EUA e Europa. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, a Ellington
Orchestra foi capaz de fazer a mudança do Jazz Hot de 1920 para a música Swing
da década de 1930.
A canção It Don't Mean a Thing (If It Ain't Got That Swing) chegou mesmo a
definir tal época. Esta capacidade de se
adaptar e crescer com o tempo manteve a Ellington Orchestra como uma grande
força no Jazz até a morte de Duke em 1974.
Apenas
Louis Armstrong conseguiu manter uma carreira de tal porte, mas Armstrong não
estava mais na vanguarda artística após a década de 1940. Ao longo dos anos 40
e 50 a fama e influência de Ellington no Jazz continuou a crescer. A banda permaneceu
produzindo standards de Jazz, como as insuperáveis: ― Take The "A" Train, Perdido,
C Jam Blues e Satin Doll. Em 1960 Duke escreveu várias peças religiosas.
Ellington
se dedicou a compôr suítes – em música refere-se a uma série de composições
instrumentais escritas no mesmo tom e com características de dança que formam
uma peça única. No Jazz o grande adepto foi Duke Ellington, dando sequência as
suas experiências com composições de maior "folêgo" como ― Creole Rhapsody (1931) e Reminiscing in Tempo (1935) e estreou
em 1943 no Carnegie Hall sua Black, Brown
and Beige. Depois compôs uma grande quantidade destacando-se: Harlem Suíte, Such Sweet Thunder, Perfume
Suite, The Queen’s Suite, Liberian Suite, Concert of Sacred Music, Newport
Suite, La Plus Belle Africaine e muitas outras. Algumas das suites tiveram
como parceiro Billy Straythorn extraordinário compositor e arranjador. Apesar
de grandes compositores e de fantásticos músicos da orquestra de Ellington este
gênero se afasta das principais características da música de Jazz por serem
obras de caráter sinfônico, extensas e que apesar de férteis momentos e com
alguns clarões de genialidade, de uma forma geral se perdem em desigualdades de
conteúdo e em pretenciosa erudição, tornando-as, ao final, em apresentações
jazzisticamente decepcionantes, no entanto não se pode desprezar o talento
musical concernente a todos.
Ellington
também colaborou com um grupo muito diversificado de músicos cujos estilos marcaram
a história do Jazz, tocou em trio com Charles Mingus e Max Roach, sentou-se com
o Louis Armstrong All-Stars e com o Quarteto de John Coltrane, e teve o famoso
encontro com a big-band de Count Basie. Na década de 1970 os membros originais da
banda de Ellington há muito tempo tinham morrido, mas a banda continuou a
atrair músicos de excepcional talento. Mesmo depois da morte de Ellington, seu
filho Mercer assumiu as rédeas da banda preservando a identidade dos
WASHINGTONIANS.
Entrando na era moderna, não mais simplesmente música
para dançar, através da experimentação e criatividade de Duke Ellington, o jazz
havia se tornado música artística.
Podemos ouvir uma das melhores
criações com a:
Duke Ellington & His
Washingtonian's: Bubber Miley, Louis Metcalf (tp), Joe Nanton (tb), Edgar Sampson (sa),
Otto Hardwick (sbar), dsconhecido (st), Duke Ellington (pi), Fred Guy (bj),
Mack Shaw (tu) e Sonny Greer (bat)
EAST ST. LOUIS TOODLE-OO (Duke Ellington /
Bubber Miley)
New York, 29/novembro/1926
[1] Gig - gíria inglesa (pronuncia-se
"guigue") usada para caracterizar o trabalho esporádico, eventual de
um músico. Em português costuma-se referir como sendo "bico" ou "biscate".
[2] Growl
- diz-se de uma sonoridade áspera, rude, um tanto rouca, quase um grunhido
animal tirada pelos instrumentos de sopro, em geral através de surdinas como a
"wah-wah" nos metais procurando
imitar os tons também utilizados por alguns cantores de blues e gospel como
parte característica do canto negro.
[3] Dirty - em inglês literalmente sujo,
porém significando na música uma sonoridade cheia de efeitos expressionistas
usada pelos músicos de Jazz em alguns instrumentos de sopro, como o saxofone, clarinete,
trompete e trombone. Produzidos diretamente da embocadura ou através de
acessórios do tipo surdinas.
2 comentários:
Duke Ellington é realmente extraordinário. Cada vez melhor essa viagem pela história do Jazz!
Mestre MaJor, fazendo o que entende e com mapa para o entendimento das coisas menos conhecidas. Post muito bacana e com auxílio de termos retirados do seu fantástico GLOSSÁRIO DO JAZZ!. Parabéns, Mestre!
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