Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

05 maio 2021

 

Série: Histórias do Jazz

 WASHINGTONIANS

 Em setembro de 1923 a Washington Black Sox Orquestra do banjoista Elmer Snowden desembarcou em Manhattan para uma gig[1] de seis meses, no clube Hollywood. Após cerca de três meses o nome do grupo foi encurtado para WASHINGTONIANS.

Devido a um desentendimento financeiro, Snowden lider do grupo foi forçado a sair da banda e DUKE ELLINGTON foi eleito o novo líder.

Ellington e a banda continuaram a tocar no clube até janeiro de 1925, quando o local foi fechado para reparos. O trompetista Bubber Miley foi a atração principal no grupo e lhe deu seu som único, com o uso da surdina plunger. O estilo growl[2] de Miley foi o grande destaque ao empregar o efeito wah-wah e foi chamado de som "jungle".

Tal estilo criado por Duke Ellington para sua orquestra por volta de 1926 se baseava em efeitos expressionistas, pseudo-africanos produzindo sons e imitações de vozes animais onde usavam e abusavam das sonoridades dirty[3] e growl nos instrumentos de sopro e de efeitos nos tom-tons e címbalos na bateria. Na verdade fruto da colaboração do trompetista Bubber Miley e do trombonista Joe "Tricky Sam" Nanton, ao utilizarem a surdina com finalidades um tanto dramáticas.

Execuções clássicas no estilo pela orquestra de Ellington são: Black and Tan Fantasy (1927), The Mooche (1928), Jungle Nights In Harlem (1930), Echoes Of The Jungle (1931), Ko-Ko (1940) e outras... Este som chegou a ser chamado de "Jungle Sound", e foi o grande responsável pelo sucesso precoce de Ellington.

Quando o clube de Hollywood foi reaberto na primavera de 1925 foi renomeado como Kentucky Club. A banda então tornou-se conhecida como Duke Ellington and his Orchestra, embora tenha continuado a gravar como ― WASHINGTONIANS até 1929.

Duke Ellington trouxe um nível de estilo e sofisticação para o Jazz, que não tinha sido visto antes. Embora fosse um pianista talentoso, sua orquestra foi seu instrumento principal. Como Jelly Roll Morton, antes, ele se considerava um compositor e arranjador, em vez de apenas um músico.

Duke começou a executar música profissionalmente, em Washington, DC em 1917. Sua técnica de piano foi influenciada pelos executores do stride piano como James P. Johnson e Willie "The Lion" Smith.

Duke primeiro visitou Nova York em 1922, tocando com Wilbur Sweatman, mas a viagem foi infrutífera. Retornou a Nova York mais de uma vez em 1923, mas desta vez com um grupo de amigos de Washington.

Após Ellington passar a dirigir a banda foi chamado a Nova York e trabalhou no ― The Club Hollywood em Manhattan (que mais tarde foi apelidado de Kentucky Club). Durante esse tempo, Sidney Bechet participou brevemente da banda (infelizmente nunca gravou com eles).

A canção East St. Louis Toodle-Oo é um bom exemplo deste estilo inusitado de tocar. O grupo gravou seu primeiro disco em 1924 - Choo Choo (Gotta Hurry Home) e Rainy Nights, Rainy Days, mas a banda não atingiu o grande momento até que Irving Mills tornou-se seu empresário e editor em 1926.

Em 1927 a banda fez versões regravadas de East St.Louis Toodle-Oo, estreou Black and Tan Fantasy e Creole Love Call, canções que estariam associadas com Ellington para o resto de sua carreira, mas o que realmente levou a Orchestra Ellington para cima foi se tornar a banda residente do Cotton Club, depois que King Oliver imprudentemente recusou o trabalho.

As transmissões de rádio feitas diretamente do clube, uma grande novidade, fez Ellington famoso em toda a América e também lhe deu a segurança financeira para montar uma banda de primeira qualidade de tal forma que passou a escrever algumas músicas especificamente para cada músico fazer seu grande solo. Os músicos permaneciam com a banda durante longos períodos de tempo. Por exemplo, o saxofonista Harry Carney permaneceria com Duke a partir de 1927 até 1974.

Em 1928, o clarinetista Barney Bigard deixou King Oliver e entrou para a banda e, mais tarde, co-escreveu uma das peças de assinatura da orquestra Mood Indigo, em 1930 uma de suas mais importantes canções desse período.

Em 1929 Bubber Miley, foi despedido da banda por causa de seu já alto grau de alcoolismo e substituído por Cootie Williams. Ellington também apareceu em seu primeiro filme Black and Tan no final daquele ano.

A Duke Ellington Orchestra deixou o Cotton Club, em 1931 (apesar de que ele voltaria a título ocasional por todo o resto dos anos trinta) e excursionou pelos EUA e Europa. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, a Ellington Orchestra foi capaz de fazer a mudança do Jazz Hot de 1920 para a música Swing da década de 1930.

A canção It Don't Mean a Thing (If It Ain't Got That Swing) chegou mesmo a definir tal época. Esta capacidade de se adaptar e crescer com o tempo manteve a Ellington Orchestra como uma grande força no Jazz até a morte de Duke em 1974.

Apenas Louis Armstrong conseguiu manter uma carreira de tal porte, mas Armstrong não estava mais na vanguarda artística após a década de 1940. Ao longo dos anos 40 e 50 a fama e influência de Ellington no Jazz continuou a crescer. A banda permaneceu produzindo standards de Jazz, como as insuperáveis: ― Take The "A" Train, Perdido, C Jam Blues e Satin Doll. Em 1960 Duke escreveu várias peças religiosas.

Ellington se dedicou a compôr suítes – em música refere-se a uma série de composições instrumentais escritas no mesmo tom e com características de dança que formam uma peça única. No Jazz o grande adepto foi Duke Ellington, dando sequência as suas experiências com composições de maior "folêgo" como ― Creole Rhapsody (1931) e Reminiscing in Tempo (1935) e estreou em 1943 no Carnegie Hall sua Black, Brown and Beige. Depois compôs uma grande quantidade destacando-se: Harlem Suíte, Such Sweet Thunder, Perfume Suite, The Queen’s Suite, Liberian Suite, Concert of Sacred Music, Newport Suite, La Plus Belle Africaine e muitas outras. Algumas das suites tiveram como parceiro Billy Straythorn extraordinário compositor e arranjador. Apesar de grandes compositores e de fantásticos músicos da orquestra de Ellington este gênero se afasta das principais características da música de Jazz por serem obras de caráter sinfônico, extensas e que apesar de férteis momentos e com alguns clarões de genialidade, de uma forma geral se perdem em desigualdades de conteúdo e em pretenciosa erudição, tornando-as, ao final, em apresentações jazzisticamente decepcionantes, no entanto não se pode desprezar o talento musical concernente a todos.

Ellington também colaborou com um grupo muito diversificado de músicos cujos estilos marcaram a história do Jazz, tocou em trio com Charles Mingus e Max Roach, sentou-se com o Louis Armstrong All-Stars e com o Quarteto de John Coltrane, e teve o famoso encontro com a big-band de Count Basie. Na década de 1970 os membros originais da banda de Ellington há muito tempo tinham morrido, mas a banda continuou a atrair músicos de excepcional talento. Mesmo depois da morte de Ellington, seu filho Mercer assumiu as rédeas da banda preservando a identidade dos WASHINGTONIANS.

Entrando na era moderna, não mais simplesmente música para dançar, através da experimentação e criatividade de Duke Ellington, o jazz havia se tornado música artística.

Podemos ouvir uma das melhores criações com a:

Duke Ellington & His Washingtonian's: Bubber Miley, Louis Metcalf (tp), Joe Nanton (tb), Edgar Sampson (sa), Otto Hardwick (sbar), dsconhecido (st), Duke Ellington (pi), Fred Guy (bj), Mack Shaw (tu) e Sonny Greer (bat)

EAST ST. LOUIS TOODLE-OO (Duke Ellington / Bubber Miley)

 New York, 29/novembro/1926



[1] Gig - gíria inglesa (pronuncia-se "guigue") usada para caracterizar o trabalho esporádico, eventual de um músico. Em português costuma-se referir como sendo "bico" ou "biscate".

[2] Growl - diz-se de uma sonoridade áspera, rude, um tanto rouca, quase um grunhido animal tirada pelos instrumentos de sopro, em geral através de surdinas como a "wah-wah" nos metais procurando imitar os tons também utilizados por alguns cantores de blues e gospel como parte característica do canto negro.

[3] Dirty - em inglês literalmente sujo, porém significando na música uma sonoridade cheia de efeitos expressionistas usada pelos músicos de Jazz em alguns instrumentos de sopro, como o saxofone, clarinete, trompete e trombone. Produzidos diretamente da embocadura ou através de acessórios do tipo surdinas.


2 comentários:

Edison Waetge Jr disse...

Duke Ellington é realmente extraordinário. Cada vez melhor essa viagem pela história do Jazz!

MauNah disse...

Mestre MaJor, fazendo o que entende e com mapa para o entendimento das coisas menos conhecidas. Post muito bacana e com auxílio de termos retirados do seu fantástico GLOSSÁRIO DO JAZZ!. Parabéns, Mestre!