Série:
Histórias do Jazz
RAGTIME
É
considerado o primeiro gênero musical autenticamente norte-americano. Suas
raízes remontam às canções das plantações (plantations songs), aos spirituals,
marchas e música para dança de meados no século 19, tais como as quadrilhas, a
polca, o two-step, o cakewalk e a própria valsa. Notemos que há uma
"simbiose" entre as culturas ocidentais europeias e africanas.
É
muito comum e difundido o conceito de que o blues é o fundamento do Jazz, ou seja
seu maior componente, contudo o Ragtime influiu sobremaneira, embora sua
contribuição esteja ligada mais à parte do ritmo.
Obtendo-se
maior conhecimento das origens do Jazz e dos seus músicos lá nos primórdios o Ragtime
se posiciona como um dos maiores elementos que marcaram o ritmo e deram principalmente
"vida" ao Jazz.
O
Ragtime foi muito popular desde por volta de 1890 até 1920 caracterizando-se
como oriundo das tradições afro-americanas.
Inicialmente
como música para piano mais tarde manifestou-se em canções com arranjos para
grupos culminando com uma ópera Tremonisha
escrita pelo maior compositor do Ragtime ― Scott Joplin (⁕Texarkana, Texas 24 de novembro de
1868 – † Nova Iorque, 1 de abril de 1917).
O
Ragtime se iniciou como uma música improvisacional, contudo não há evidência
desta prática nos anos em que se popularizou por canções concebidas escritas e editadas.
Que eram compradas para serem executadas por membros de famílias que dominavam
o piano em seus caracteríscos saraus.
Ragtime é caracterizado por formas multi-temáticas com base em
anteriores estilos de música de dança, constituído por três ou mais choruses de 16-compassos, não é necessariamente
música de tempo rápido, é música mais suave com emprego da sincopação (acentos
inesperados ou falta deles). As síncopas lhes dão sentimentos irregulares de
tempo, o que veio gerar o termo "raggeg time" (tempo fragmentado ou roto).
Algumas composições antigas para piano nesse estilo são
intituladas como marchas "jig" usadas em meados da década de 1890 e o
Ragtime foi também precedido pela música de dança denominada cakewalk, uma
forma pré-Ragtime, aproximadamente até 1904.
Podemos ouvir um exemplo de Ragtime que passou a ser
executo por bandas por um trecho da gravação original de SOUTHERN BEAUTIES
RAG (Charles L. Johnson) com Arthur
Pryor's Band – músicos desconhecidos e Arthur Pryor era trombonista - New York,
21/setembro/1908 (Victor 16073)
Em 1895, o animador Ernest Hogan publicou duas das mais
antigas partituras de rag, uma delas ― All Coons Look Alike to Me chegou a vender
milhões de cópias. Enquanto o sucesso da canção ajudou à introdução dos ritmos Ragtime
no país seu uso como insulto racial criou um número de imitações depreciativas
das músicas, conhecidas como "coon songs” (1) um estilo
vocal pré-Ragtime popular até em torno de 1901. A música com letras cruéis e
racistas frequentemente cantadas por cantores com o rosto maquiados de negro
nos espetáculos de menestréis procuravam denegrir a raça negra, uma das razões
que chegou a dar ao gênero uma certa má reputação. Gradualmente deixou de
existir em favor da canção autêntica, fortemente associada com o verdadeiro
gênero Ragtime.
Algumas
obras representativas de importante artistas do Ragtime e precoces ao Jazz foram
as compostas entre 1897 e 1914 por Joseph Lamb, James Scott, Charles L.
Johnson, Tom Turpin, May Aufderheide, George Botsford, Ben Harney, Luckey
Roberts, Paul Sarebresole e Wilbur Sweatman, dentre outros, as quais
exemplificam o estilo clássico do Ragtime difundidas em gravações feitas entre
1917 e 1925 pela Original Dixieland Jazz Band, por King Oliver, Bennie Moten,
Clarence Williams e Jelly Roll Morton.
O
Ragtime e o Jazz se sobrepuseram na década dos anos 1910 a 20 o rag iniciando
seu declínio e o Jazz sua ascenção.
O Ragtime foi uma das principais influências no
desenvolvimento inicial do Jazz, juntamente
com o Blues. O magistral músico e pianista Jelly Roll Morton fez apresentações
tanto nos estilos Ragtime quanto no Jazz, durante o período em que os dois
gêneros se sobrepuseram. Um notável exemplo de Ragtime já beirando para o JAZZ
é a interpretação dada por Jelly Roll Morton ao PERFECT RAG em gravação
feita em 9/jun/1924.
O Jazz transcendeu amplamente o Ragtime no gosto popular
no início da década de 1920, entretanto as composições de Ragtime continuam até
hoje e há sempre um renascimento com interesse popular como ocorreu nas décadas
de 1950 e 1970.
A música Ragtime foi muito difundida sendo distribuída inicialmente
através do rolo para pianolas.
Sedalia, no estado de Missouri, EUA foi a capital do
Ragtime, lá habitava Scott Joplin, pianista e compositor, considerado o maior
nome do gênero, cuja música não contava com a improvisação, mas possuía um swing
característico. O Maple Leaf Rag, escrito por Scott Joplin em
1899, tornou-se a composição mais popular e fortemente representante do estilo
e podemos ouvir o próprio Scott Joplin executando em rolo para pianola gravado
em 16/abril/1916.
O Ragtime também serviu como raiz para o estilo stride
piano (2), voltado para o improviso nas décadas de 1920 e
1930. Elementos do Ragtime foram se incorporando em boa parte da música popular
norte-americana do início do século XX.
A maioria dos temas Ragtime foram escritos para piano, porém transcrições para outros instrumentos e grupos são comuns, notadamente incluindo os arranjos de Gunther Schuller dos rags de Joplin. Tom Turpin escreveu o primeiro rag publicado por um compositor afro-americano em 1897.
A
Original Dixieland Jazz Band (O.D.J.B.) fez suas primeiras gravações inovadoras
em 1917 ― a textura, excitação e sensação de improvisação da música sugerem Jazz,
mas ao analisarmos bem suas estruturas são claramente ligadas ao Ragtime.
No
início da década de 1940 muitas bandas de Jazz começaram a incluir o Ragtime no
seu repertório adicionando às gravações. Músicas antigas escritas para piano
tiveram novos arranjos, para instrumentos de Jazz por músicos de Jazz, o que
deu ao estilo um novo som. Uma variedade maior de estilos de Ragtime do passado
se tornaram disponíveis em gravações e novos rags foram compostos, publicados e
gravados.
Três
eventos trouxeram à tona diferentes tipos de reavivamentos do Ragtime na década
de 1970. Primeiro, o pianista Joshua Rifkin montou uma compilação de trabalhos
de Scott Joplin na gravadora Nonesuch Records, a qual foi nomeada ao Grammy na
categoria de Melhor Performance Clássica - Instrumento Solo Sem Orquestra em
1971. Essas gravações reintroduziram a música de Joplin ao público na maneira
que o compositor tinha desejado, não de forma estereotipada nostálgica, mas
séria, como música respeitável.
A
New York Public University lançou um livro de 2 volumes da coletânea das
composições de Scott Joplin ― Collected Works
of Scott Joplin, que renovou o interesse entre os músicos e preparou inclusive
novas encenações da ópera Treemonisha.
Finalmente,
com o lançamento do filme ― The Sting (Golpe de
Mestre) – 1973. Um filme de George Roy Hill com Paul Newman, Robert Redford,
Robert Shaw, com a trilha sonora adaptada por Marvin Hamlisch das músicas de
Joplin, assim o Ragtime foi trazido para uma grande audiência. Hamlisch trouxe
o rag de Joplin - The Entertainer do ano de 1902, para o "top-hit" do
ano de 1974.
(1) Coon - Gíria: Extremamente depreciativa e
ofensiva. um termo desdenhoso usado para se referir a uma pessoa negra.
(2) Stride Piano - nome
dado a uma escola de Jazz essencialmente pianística criada no Harlem entre os
anos 1920 e 30, que refletia uma modernização do ragtime e tecnicamente
consistia em fazer alternar uma nota baixa (grave) sobre um tempo forte (3º) e
um acorde sobre os dois tempos fracos (2º e 4º). Os principais criadores da
escola foram os pianistas James P. Johnson (⁕1894 †1955), Luckey Roberts (⁕1887 †1968) e Eubie Blake (⁕1883 †1993).
3 comentários:
Mais um texto sensacional Major!! Excelentes estas series.
Carlos Lima
Estimado MÁRIO JORGE:
Assim vai crescendo o livro "A História do JAZZ", com exemplos musicais perfeitamente incluidos. A obra vai decifrando a música no seu tempo e nos seus ícones, autores e intérpretes, com um enredo perfeito.
Mais uma vez e como sempre muito grato e PARABÉNS,
APOSTOLO JAZZ
Mais um grande trabalho em desenvolvimento pelo Major. Começo a ler já ansioso pelo próximo.
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