Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

03 fevereiro 2021

 

Série: Histórias do Jazz

 

RAGTIME

É considerado o primeiro gênero musical autenticamente norte-americano. Suas raízes remontam às canções das plantações (plantations songs), aos spirituals, marchas e música para dança de meados no século 19, tais como as quadrilhas, a polca, o two-step, o cakewalk e a própria valsa. Notemos que há uma "simbiose" entre as culturas ocidentais europeias e africanas.

É muito comum e difundido o conceito de que o blues é o fundamento do Jazz, ou seja seu maior componente, contudo o Ragtime influiu sobremaneira, embora sua contribuição esteja ligada mais à parte do ritmo.

Obtendo-se maior conhecimento das origens do Jazz e dos seus músicos lá nos primórdios o Ragtime se posiciona como um dos maiores elementos que marcaram o ritmo e deram principalmente "vida" ao Jazz.

O Ragtime foi muito popular desde por volta de 1890 até 1920 caracterizando-se como oriundo das tradições afro-americanas.

Inicialmente como música para piano mais tarde manifestou-se em canções com arranjos para grupos culminando com uma ópera Tremonisha escrita pelo maior compositor do Ragtime ― Scott Joplin (Texarkana, Texas 24 de novembro de 1868 – Nova Iorque, 1 de abril de 1917).

O Ragtime se iniciou como uma música improvisacional, contudo não há evidência desta prática nos anos em que se popularizou por canções concebidas escritas e editadas. Que eram compradas para serem executadas por membros de famílias que dominavam o piano em seus caracteríscos saraus.

Ragtime é caracterizado por formas multi-temáticas com base em anteriores estilos de música de dança, constituído por três ou mais choruses de 16-compassos, não é necessariamente música de tempo rápido, é música mais suave com emprego da sincopação (acentos inesperados ou falta deles). As síncopas lhes dão sentimentos irregulares de tempo, o que veio gerar o termo "raggeg time" (tempo fragmentado ou  roto).

Algumas composições antigas para piano nesse estilo são intituladas como marchas "jig" usadas em meados da década de 1890 e o Ragtime foi também precedido pela música de dança denominada cakewalk, uma forma pré-Ragtime, aproximadamente até 1904.  

Podemos ouvir um exemplo de Ragtime que passou a ser executo por bandas por um trecho da gravação original de SOUTHERN BEAUTIES RAG (Charles L. Johnson) com  Arthur Pryor's Band – músicos desconhecidos e Arthur Pryor era trombonista - New York, 21/setembro/1908 (Victor 16073)

Em 1895, o animador Ernest Hogan publicou duas das mais antigas partituras de rag, uma delas All Coons Look Alike to Me chegou a vender milhões de cópias. Enquanto o sucesso da canção ajudou à introdução dos ritmos Ragtime no país seu uso como insulto racial criou um número de imitações depreciativas das músicas, conhecidas como "coon songs” (1) um estilo vocal pré-Ragtime popular até em torno de 1901. A música com letras cruéis e racistas frequentemente cantadas por cantores com o rosto maquiados de negro nos espetáculos de menestréis procuravam denegrir a raça negra, uma das razões que chegou a dar ao gênero uma certa má reputação. Gradualmente deixou de existir em favor da canção autêntica, fortemente associada com o verdadeiro gênero Ragtime.

Algumas obras representativas de importante artistas do Ragtime e precoces ao Jazz foram as compostas entre 1897 e 1914 por Joseph Lamb, James Scott, Charles L. Johnson, Tom Turpin, May Aufderheide, George Botsford, Ben Harney, Luckey Roberts, Paul Sarebresole e Wilbur Sweatman, dentre outros, as quais exemplificam o estilo clássico do Ragtime difundidas em gravações feitas entre 1917 e 1925 pela Original Dixieland Jazz Band, por King Oliver, Bennie Moten, Clarence Williams e Jelly Roll Morton.

O Ragtime e o Jazz se sobrepuseram na década dos anos 1910 a 20 o rag iniciando seu declínio e o Jazz sua ascenção.

O Ragtime foi uma das principais influências no desenvolvimento inicial do Jazz,  juntamente com o Blues. O magistral músico e pianista Jelly Roll Morton fez apresentações tanto nos estilos Ragtime quanto no Jazz, durante o período em que os dois gêneros se sobrepuseram. Um notável exemplo de Ragtime já beirando para o JAZZ é a interpretação dada por Jelly Roll Morton ao PERFECT RAG em gravação feita em 9/jun/1924.

O Jazz transcendeu amplamente o Ragtime no gosto popular no início da década de 1920, entretanto as composições de Ragtime continuam até hoje e há sempre um renascimento com interesse popular como ocorreu nas décadas de 1950 e 1970.

A música Ragtime foi muito difundida sendo distribuída inicialmente através do rolo para pianolas.

Sedalia, no estado de Missouri, EUA foi a capital do Ragtime, lá habitava Scott Joplin, pianista e compositor, considerado o maior nome do gênero, cuja música não contava com a improvisação, mas possuía um swing característico. O Maple Leaf Rag, escrito por Scott Joplin em 1899, tornou-se a composição mais popular e fortemente representante do estilo e podemos ouvir o próprio Scott Joplin executando em rolo para pianola gravado em 16/abril/1916.

O Ragtime também serviu como raiz para o estilo stride piano (2), voltado para o improviso nas décadas de 1920 e 1930. Elementos do Ragtime foram se incorporando em boa parte da música popular norte-americana do início do século XX.

A maioria dos temas Ragtime foram escritos para piano, porém transcrições para outros instrumentos e grupos são comuns, notadamente incluindo os arranjos de Gunther Schuller dos rags de Joplin. Tom Turpin escreveu o primeiro rag publicado por um compositor afro-americano em 1897.

A Original Dixieland Jazz Band (O.D.J.B.) fez suas primeiras gravações inovadoras em 1917 ― a textura, excitação e sensação de improvisação da música sugerem Jazz, mas ao analisarmos bem suas estruturas são claramente ligadas ao Ragtime.

No início da década de 1940 muitas bandas de Jazz começaram a incluir o Ragtime no seu repertório adicionando às gravações. Músicas antigas escritas para piano tiveram novos arranjos, para instrumentos de Jazz por músicos de Jazz, o que deu ao estilo um novo som. Uma variedade maior de estilos de Ragtime do passado se tornaram disponíveis em gravações e novos rags foram compostos, publicados e gravados.

Três eventos trouxeram à tona diferentes tipos de reavivamentos do Ragtime na década de 1970. Primeiro, o pianista Joshua Rifkin montou uma compilação de trabalhos de Scott Joplin na gravadora Nonesuch Records, a qual foi nomeada ao Grammy na categoria de Melhor Performance Clássica - Instrumento Solo Sem Orquestra em 1971. Essas gravações reintroduziram a música de Joplin ao público na maneira que o compositor tinha desejado, não de forma estereotipada nostálgica, mas séria, como música respeitável.

A New York Public University lançou um livro de 2 volumes da coletânea das composições de Scott Joplin Collected Works of Scott Joplin, que renovou o interesse entre os músicos e preparou inclusive novas encenações da ópera Treemonisha.

Finalmente, com o lançamento do filme The Sting (Golpe de Mestre) – 1973. Um filme de George Roy Hill com Paul Newman, Robert Redford, Robert Shaw, com a trilha sonora adaptada por Marvin Hamlisch das músicas de Joplin, assim o Ragtime foi trazido para uma grande audiência. Hamlisch trouxe o rag de Joplin - The Entertainer do ano de 1902, para o "top-hit" do ano de 1974.

 

(1)  Coon - Gíria: Extremamente depreciativa e ofensiva. um termo desdenhoso usado para se referir a uma pessoa negra.

(2)  Stride Piano - nome dado a uma escola de Jazz essencialmente pianística criada no Harlem entre os anos 1920 e 30, que refletia uma modernização do ragtime e tecnicamente consistia em fazer alternar uma nota baixa (grave) sobre um tempo forte (3º) e um acorde sobre os dois tempos fracos (2º e 4º). Os principais criadores da escola foram os pianistas James P. Johnson (1894 1955), Luckey Roberts (1887 1968) e Eubie Blake (1883 1993).

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Mais um texto sensacional Major!! Excelentes estas series.
Carlos Lima

Anônimo disse...

Estimado MÁRIO JORGE:

Assim vai crescendo o livro "A História do JAZZ", com exemplos musicais perfeitamente incluidos. A obra vai decifrando a música no seu tempo e nos seus ícones, autores e intérpretes, com um enredo perfeito.
Mais uma vez e como sempre muito grato e PARABÉNS,

APOSTOLO JAZZ

Edison Waetge Jr disse...

Mais um grande trabalho em desenvolvimento pelo Major. Começo a ler já ansioso pelo próximo.