Série: Histórias do
Jazz
JAZZ ON THE RIVER
NEW
ORLEANS - cidade portuária localizada no delta do Mississippi fundada por
colonos franceses em 1718, sob o nome de La Nouvelle-Orléans, os colonos eram
liderados por Jean-Baptiste Le Moyne de Bienville (*1680 †1767).
Importante
porto fluvial que através do rio Mississipi, banhava os Estados de Minnesota,
Wisconsin, Iowa, Illinois, Missouri, Kentucky, Tennessee, Arkansas, Mississippi
e Louisiana. De sua fonte original - Lago Itasca
no norte de Minnesota, flui para o sul por 3.730 km até o Delta do Rio
Mississippi no Golfo do México. Com seus muitos afluentes, a bacia hidrográfica
do Mississippi drena todos ou partes de 32 estados dos EUA e duas províncias
canadenses entre as montanhas rochosas e apalaches.
O
distrito de Storyville em New Orleans abrigava quarteirões reservados para
agrupar todas as casas de bebidas (barrellhouse / speak easy), dança (saloons),
prostituição (sporting house) e jogos, e que funcionou até 12/nov/1917 quando
foi interdidado por solicitação do Departamento Naval dos EUA. Inúmeros músicos principalmente os negros
recém libertos encontravam trabalho em Storyville e onde se formou o núcleo
principal das atividades musicais que originaram o Jazz. A interdição do
distrito com o fechamento das casas ocasionou o êxodo de músicos para o norte,
principalmente para as cidades de Kansas City, Memphis, St. Louis e Chicago.
Anteriormente
em 1907 JOHN STRECKFUS, filho de um emigrante alemão, teve a ideia de atrair
passageiros e mesmo turistas convidando pequenas bandas e pianistas para
atuarem a bordo dos vapores de sua companhia a STRECKFUS LINE, bonitos barcos de roda de pás que podiam operar em águas com menos de dois metros de
profundidade. Não só portavam cargas como passageiros em viagem ou mesmo apenas
turistas, incluindo unidades de luxo construídas para empreendimentos de
entretenimento. Um pouco mais tarde em 1917 com o desenvolvimento do Jazz a "hot-music"
de excepcional rítmo para a dança tomou conta dos salões dos RIVERBOATS.
Naturalmente muito facilitado pela grande quantidade de músicos que ali
arrumavam emprego ou mesmo pagavam sua passagem para outras cidades ao norte
apenas atuando nos barcos.
A
atuação desses músicos no que se denominou de ― JAZZ ON THE RIVER introduziu
mudanças fundamentais já que nos barcos o repertório mais voltado para a dança
e no estilo dos pequenos grupos tornando de certa forma mais acessível ao
público o novo tipo de música, naturalmente Jazz.
Os
barcos de excursão e sua música tornaram-se um verdadeiro oásis para os músicos
de New Orleans, principalmente no conturbado ano de 1919 em que surgiu o
movimento sulino Red Summer de uma violência sem precedentes contra os
afro-americanos, quando eram perseguidos, linchados e até assassinados por
estremadas organizações religiosas. Foi quando um jovem negro cornetista de New
Orleans com 17 anos - Daniel Louis Armstrong se agregou ao JAZZ ON THE RIVER sendo arauto da
música original de New Orleans pelas cidades do vale do Mississippi River.
Seguindo
Armstrong inúmeros músicos deixaram as áreas rurais do sul em um movimento
chamado Great Migration, onde mais ao norte podiam encontrar maior liberdade, respeito,
oportunidades de trabalho e ampliavam sua experiência de vida.
Assim embarcaram nos RIVERBOATS centenas de músicos e abaixo listamos alguns dos mais importantes com a orquestra que atuaram:
Alphonse
Picou |
clarinete |
Papa
Celestin |
Bill
Mattews |
trombone |
Papa
Celestin |
Bix
Beiderbecke |
cornet,
piano |
Plantation
Jazz Orch |
Danny
Barker |
banjo,
guitarra |
Fate
Marable |
Eugene
Sedric |
saxes,
clarinete |
Fate
Marable |
Freddie
Keppard |
trompete |
Fate
Marable |
George
"Pops" Foster |
tuba,
contrabaixo |
Fate
Marable |
Henry
"Red" Allen |
trompete |
Fate
Marable |
Honore
Dutrey |
trombone |
Fate
Marable |
James
Blanton |
contrabaixo |
Fate
Marable |
Jelly
Roll Morton |
piano |
Morton |
Jimmy
Blanton |
contrabaixo |
Kentucky
Jazz Band |
John
Saint Cyr |
banjo |
Fate
Marable |
Johnny
Dodds |
clarinete |
Fate
Marable / Kentucky Jazz Band |
Louis
Armstrong |
cornet |
Fate
Marable |
Louis
Nelson |
trombone |
Desvignes
Band |
Manuel
Perez |
trompete |
Fate
Marable |
Sam
Morgan |
trompete |
Morgan
Band |
Sidney
Desvignes |
trompete |
Fate
Marable e J.Piron Band |
Teddy
Purnell |
sax
alto |
Jeter,
Pillars |
Walter
Pichon |
piano |
Pichon
Band |
Warren
"Baby" Dodds |
bateria |
Fate
Marable |
Welman
Braud |
contrabaixo |
Fate
Marable |
Willie
Humphey |
clarinete |
Fate
Marable |
Zutty
Singleton |
bateria |
Fate
Marable |
Nota-se
a predominância da banda de FATE MARABLE (⁕1890
†1947) um pianista, mas como lider foi
uma das mais importantes figuras do início da história do jazz com as bandas
que formou e dirigiu nos barcos da Strekfus Line.
Marable nasceu em Paducah, Kentucky, filho de
Elizabeth Lillian Marable, uma professora de piano conhecida como
"Lizzie", deu aulas de música a seu filho, tanto na leitura de música
quanto na técnica de piano.
Aos 17 anos, Marable começou a tocar nos barcos a
vapor que navegavam no rio Mississippi. John e Joseph Streckfus o contrataram
para substituir seu pianista, Charles Mills, que havia aceitado um contrato na
cidade de Nova York. Havia contudo um problema: as responsabilidades de Marable
incluiriam tocar um grande calliope a vapor uma espécie de órgão. O
vapor fluía pelos canos de latão, as teclas estavam quentes e eram difíceis de
segurar. O calliope foi projetado para ser ouvido claramente nas margens do rio,
então o volume era opressor para o músico que o estava manipulando. Para se
preparar para tocar a máquina barulhenta que cuspia vapor e água, Marable usou
luvas, encheu as orelhas com algodão e vestiu uma roupa de chuva.
Mais tarde, em 1907, ele se tornou líder de banda na
Streckfus Line uma posição que manteve por 33 anos. Marable passou muitas
noites nos clubes de Nova Orleans em busca de talentos e tocando em jam
sessions. Lá ele descobriu Louis Armstrong soprando o cornet e o recrutou para
tocar com sua banda em excursões noturnas de barco pelo rio, cruzando a Crescent
City como era conhecida New Orleans, Louis ficou por três anos com a banda de Fate
Marable a bordo do vapor S.S. Capitol.
Como líder de
banda, Marable compartilhou as lições de sua mãe com seus músicos. Muitos dos
músicos que ele contratou tocavam de ouvido, e ele aumentou suas habilidades
ensinando-os a ler música, e esperava que todos aprendessem a tocar partituras
à primeira vista. Como seu ex-baterista, Zutty Singleton disse: ― "Havia
um ditado em Nova Orleans: quando algum músico conseguia um emprego em barcos
fluviais com Fate Marable, eles diziam: Bem, você está indo para o
conservatório!”. Enquanto estava treinando esses músicos para melhor executar
os arranjos de dança para os passageiros do barco, ele também impulsionou
muitas de suas carreiras quando estavam prontos para seguir em frente. Os
ex-alunos de Marable passaram a tocar com bandas e líderes de banda
notáveis como Cab Calloway, Count Basie, Duke Ellington, Jimmie
Lunceford, Mills Blue Rhythm Band, Fats Waller e Chick Webb.
Muitos
escritores e historiadores não dão a devida importância ao período do JAZZ ON
THE RIVER, mas foi alí que primeiro se iniciou o fascínio dos norte-americanos brancos
pela música afro-americana concomitante com a difusão do novo gênero pelo
meio-oeste dos EUA, antes mesmo de chegar plenamente em Chicago e depois a
consagração
De
1910 em diante, o Ragtime e o Jazz como dança foram disseminados ao longo do rio
Mississipi e seus afluentes Ohio, Tennesse, Arkansas, Illinois e Missouri em
importantes cidades tais como, Vicksburg, Helena, Memphis, Paducah, Cairo, St.
Louis, Kansas City, Peoria, Davenport, LaCrosse, Minneapolis e St. Paul.
CALLIOPE - trata-se de um orgão mecânico feito de apitos ativados por vapor e operado por um teclado e bastante popular nas embarcações do rio Mississippi. O legendário pianista Fate Marable o empregava nos barcos da Streckfus Line onde era diretor de entretenimento. O instrumento ficava no convés ao ar livre e não se tem a menor ideia do tipo de música executada no calliope. O tom variava com a pressão do vapor, então havia o desafio de tocar afinado. A característica intrínsica na emissão das notas no órgão apresentava um retardo entre o teclado e a audição do som não se prestando para a música "swingada" tal como a de Jazz no entanto, alguns blues e baladas podiam ser executadas. O maior objetivo do órgão era uma certa propaganda dos barcos para o povo das cidades marginais que corriam para a margem do rio para ouvirem a música dos riverboats.
CALLIOPE |
Infelizmente
tais bandas dos riverboats na grande maioria se limitavam aos barcos e em época
ainda incipiente das companhias fonográficas não despertas para registrá-las,
devemos lembrar que a primeira gravação de Jazz ocorreu em março de 1917 com a
Original Dixieland Jass Band de músicos brancos! Desta forma foram apenas feitos
dois registros pela banda de Fate Marable: Pianoflage e Frankie and Johnny.
Fate
Marable's Society Orchestra: Sidney
Desvignes, Amos White (tp), Harvey Lankford (tb), Norman Mason, Bert Bailey
(cl,sa), Walter "Foots" Thomas (st, sbar), Fate Marable (pi), Willie
Foster (bj), Henry Kimball (tu) e Zutty Singleton (bat).
FRANKIE
AND JOHNNY (Tradicional) também conhecida como Frankie and Albert é uma
canção americana tradicional. Conta a história de uma mulher, Frankie, que encontra
seu marido Johnny fazendo amor com outra mulher e o mata a tiros. Frankie é então
presa e em algumas versões da canção ela também é executada.
Gravação: New Orleans, 16/março/1924 – Okeh Records
Até os dias atuais modernos barcos com capacidade de mais de 200 pessoas circulam no Mississipi, a grande maioria somente para turismo oferecendo jantares ao por do sol, “brunch” aos domingos, cruzeiros completos e sempre animados por uma banda dixieland em um revival dos velhos e bons tempos.
FATE MARABLE |
Fate Marable's Society Orchestra |
2 comentários:
Mais uma formidavel aula Major! ouvia falar nos Riverboats mas não conhecia os preciosos detalhes. Então uma época muito importante na formação do jazz.
Carlos Lima
Mais uma grande aula! Não conhecia todos esses detalhes, muito legal.
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