Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

17 fevereiro 2021

 

Série: Histórias do Jazz

 

JAZZ ON THE RIVER

NEW ORLEANS - cidade portuária localizada no delta do Mississippi fundada por colonos franceses em 1718, sob o nome de La Nouvelle-Orléans, os colonos eram liderados por Jean-Baptiste Le Moyne de Bienville (*1680 †1767).

Importante porto fluvial que através do rio Mississipi, banhava os Estados de Minnesota, Wisconsin, Iowa, Illinois, Missouri, Kentucky, Tennessee, Arkansas, Mississippi e Louisiana. De sua fonte original - Lago Itasca no norte de Minnesota, flui para o sul por 3.730 km até o Delta do Rio Mississippi no Golfo do México. Com seus muitos afluentes, a bacia hidrográfica do Mississippi drena todos ou partes de 32 estados dos EUA e duas províncias canadenses entre as montanhas rochosas e apalaches.

O distrito de Storyville em New Orleans abrigava quarteirões reservados para agrupar todas as casas de bebidas (barrellhouse / speak easy), dança (saloons), prostituição (sporting house) e jogos, e que funcionou até 12/nov/1917 quando foi interdidado por solicitação do Departamento Naval dos EUA.  Inúmeros músicos principalmente os negros recém libertos encontravam trabalho em Storyville e onde se formou o núcleo principal das atividades musicais que originaram o Jazz. A interdição do distrito com o fechamento das casas ocasionou o êxodo de músicos para o norte, principalmente para as cidades de Kansas City, Memphis, St. Louis e Chicago.

Anteriormente em 1907 JOHN STRECKFUS, filho de um emigrante alemão, teve a ideia de atrair passageiros e mesmo turistas convidando pequenas bandas e pianistas para atuarem a bordo dos vapores de sua companhia a STRECKFUS LINE, bonitos barcos de roda de pás que podiam operar em águas com menos de dois metros de profundidade. Não só portavam cargas como passageiros em viagem ou mesmo apenas turistas, incluindo unidades de luxo construídas para empreendimentos de entretenimento. Um pouco mais tarde em 1917 com o desenvolvimento do Jazz a "hot-music" de excepcional rítmo para a dança tomou conta dos salões dos RIVERBOATS. Naturalmente muito facilitado pela grande quantidade de músicos que ali arrumavam emprego ou mesmo pagavam sua passagem para outras cidades ao norte apenas atuando nos barcos.

A atuação desses músicos no que se denominou de ― JAZZ ON THE RIVER introduziu mudanças fundamentais já que nos barcos o repertório mais voltado para a dança e no estilo dos pequenos grupos tornando de certa forma mais acessível ao público o novo tipo de música, naturalmente Jazz.

Os barcos de excursão e sua música tornaram-se um verdadeiro oásis para os músicos de New Orleans, principalmente no conturbado ano de 1919 em que surgiu o movimento sulino Red Summer de uma violência sem precedentes contra os afro-americanos, quando eram perseguidos, linchados e até assassinados por estremadas organizações religiosas. Foi quando um jovem negro cornetista de New Orleans com 17 anos - Daniel Louis Armstrong se agregou ao JAZZ ON THE RIVER sendo arauto da música original de New Orleans pelas cidades do vale do Mississippi River.

Seguindo Armstrong inúmeros músicos deixaram as áreas rurais do sul em um movimento chamado Great Migration, onde mais ao norte podiam encontrar maior liberdade, respeito, oportunidades de trabalho e ampliavam sua experiência de vida.

Assim embarcaram nos RIVERBOATS centenas de músicos e abaixo listamos alguns dos mais importantes com a orquestra que atuaram:

Alphonse Picou

clarinete

Papa Celestin

Bill Mattews

trombone

Papa Celestin

Bix Beiderbecke

cornet, piano

Plantation Jazz Orch

Danny Barker

banjo, guitarra

Fate Marable

Eugene Sedric

saxes, clarinete

Fate Marable

Freddie Keppard

trompete

Fate Marable

George "Pops" Foster

tuba, contrabaixo

Fate Marable

Henry "Red" Allen

trompete

Fate Marable

Honore Dutrey

trombone

Fate Marable

James Blanton

contrabaixo

Fate Marable

Jelly Roll Morton

piano

Morton

Jimmy Blanton

contrabaixo

Kentucky Jazz Band

John Saint Cyr 

banjo

Fate Marable

Johnny Dodds

clarinete

Fate Marable / Kentucky Jazz Band

Louis Armstrong

cornet

Fate Marable

Louis Nelson

trombone

Desvignes Band

Manuel Perez

trompete

Fate Marable

Sam Morgan

trompete

Morgan Band

Sidney Desvignes

trompete

Fate Marable e J.Piron Band

Teddy Purnell

sax alto

Jeter, Pillars

Walter Pichon

piano

Pichon Band

Warren "Baby" Dodds

bateria

Fate Marable

Welman Braud

contrabaixo

Fate Marable

Willie Humphey

clarinete

Fate Marable

Zutty Singleton

bateria

Fate Marable

Nota-se a predominância da banda de FATE MARABLE (⁕1890 †1947) um pianista, mas como lider foi uma das mais importantes figuras do início da história do jazz com as bandas que formou e dirigiu nos barcos da Strekfus Line.

Marable nasceu em Paducah, Kentucky, filho de Elizabeth Lillian Marable, uma professora de piano conhecida como "Lizzie", deu aulas de música a seu filho, tanto na leitura de música quanto na técnica de piano.

Aos 17 anos, Marable começou a tocar nos barcos a vapor que navegavam no rio Mississippi. John e Joseph Streckfus o contrataram para substituir seu pianista, Charles Mills, que havia aceitado um contrato na cidade de Nova York. Havia contudo um problema: as responsabilidades de Marable incluiriam tocar um grande calliope a vapor uma espécie de órgão. O vapor fluía pelos canos de latão, as teclas estavam quentes e eram difíceis de segurar. O calliope foi projetado para ser ouvido claramente nas margens do rio, então o volume era opressor para o músico que o estava manipulando. Para se preparar para tocar a máquina barulhenta que cuspia vapor e água, Marable usou luvas, encheu as orelhas com algodão e vestiu uma roupa de chuva.

Mais tarde, em 1907, ele se tornou líder de banda na Streckfus Line uma posição que manteve por 33 anos. Marable passou muitas noites nos clubes de Nova Orleans em busca de talentos e tocando em jam sessions. Lá ele descobriu Louis Armstrong soprando o cornet e o recrutou para tocar com sua banda em excursões noturnas de barco pelo rio, cruzando a Crescent City como era conhecida New Orleans, Louis ficou por três anos com a banda de Fate Marable a bordo do vapor S.S. Capitol.

Como líder de banda, Marable compartilhou as lições de sua mãe com seus músicos. Muitos dos músicos que ele contratou tocavam de ouvido, e ele aumentou suas habilidades ensinando-os a ler música, e esperava que todos aprendessem a tocar partituras à primeira vista. Como seu ex-baterista, Zutty Singleton disse: ― "Havia um ditado em Nova Orleans: quando algum músico conseguia um emprego em barcos fluviais com Fate Marable, eles diziam: Bem, você está indo para o conservatório!”. Enquanto estava treinando esses músicos para melhor executar os arranjos de dança para os passageiros do barco, ele também impulsionou muitas de suas carreiras quando estavam prontos para seguir em frente. Os ex-alunos de Marable passaram a tocar com bandas e líderes de banda notáveis ​​como Cab Calloway, Count Basie, Duke Ellington, Jimmie Lunceford, Mills Blue Rhythm Band, Fats Waller e Chick Webb.

Muitos escritores e historiadores não dão a devida importância ao período do JAZZ ON THE RIVER, mas foi alí que primeiro se iniciou o fascínio dos norte-americanos brancos pela música afro-americana concomitante com a difusão do novo gênero pelo meio-oeste dos EUA, antes mesmo de chegar plenamente em Chicago e depois a consagração em New York.

De 1910 em diante, o Ragtime e o Jazz como dança foram disseminados ao longo do rio Mississipi e seus afluentes Ohio, Tennesse, Arkansas, Illinois e Missouri em importantes cidades tais como, Vicksburg, Helena, Memphis, Paducah, Cairo, St. Louis, Kansas City, Peoria, Davenport, LaCrosse, Minneapolis e St. Paul.

CALLIOPE - trata-se de um orgão mecânico feito de apitos ativados por vapor e operado por um teclado e bastante popular nas embarcações do rio Mississippi. O legendário pianista Fate Marable o empregava nos barcos da Streckfus Line onde era diretor de entretenimento. O instrumento ficava no convés ao ar livre e não se tem a menor ideia do tipo de música executada no calliope. O tom variava com a pressão do vapor, então havia o desafio de tocar afinado. A característica intrínsica na emissão das notas no órgão apresentava um retardo entre o teclado e a audição do som não se prestando para a música "swingada" tal como a de Jazz no entanto, alguns blues e baladas podiam ser executadas. O maior objetivo do órgão era uma certa propaganda dos barcos para o povo das cidades marginais que corriam para a margem do rio para ouvirem a música dos riverboats. 

CALLIOPE

Infelizmente tais bandas dos riverboats na grande maioria se limitavam aos barcos e em época ainda incipiente das companhias fonográficas não despertas para registrá-las, devemos lembrar que a primeira gravação de Jazz ocorreu em março de 1917 com a Original Dixieland Jass Band de músicos brancos! Desta forma foram apenas feitos dois registros pela banda de Fate Marable: Pianoflage e Frankie and Johnny.

Fate Marable's Society Orchestra: Sidney Desvignes, Amos White (tp), Harvey Lankford (tb), Norman Mason, Bert Bailey (cl,sa), Walter "Foots" Thomas (st, sbar), Fate Marable (pi), Willie Foster (bj), Henry Kimball (tu) e Zutty Singleton (bat).

FRANKIE AND JOHNNY (Tradicional) também conhecida como Frankie and Albert é uma canção americana tradicional. Conta a história de uma mulher, Frankie, que encontra seu marido Johnny fazendo amor com outra mulher e o mata a tiros. Frankie é então presa e em algumas versões da canção ela também é executada. 

Gravação: New Orleans, 16/março/1924 – Okeh Records


Até os dias atuais modernos barcos com capacidade de mais de 200 pessoas circulam no Mississipi, a grande maioria somente para turismo oferecendo jantares ao por do sol, “brunch” aos domingos, cruzeiros completos e sempre animados por uma banda dixieland em um revival dos velhos e bons tempos.

                              

          

FATE MARABLE
Fate Marable's Society Orchestra








2 comentários:

Anônimo disse...

Mais uma formidavel aula Major! ouvia falar nos Riverboats mas não conhecia os preciosos detalhes. Então uma época muito importante na formação do jazz.
Carlos Lima

Edison Waetge Jr disse...

Mais uma grande aula! Não conhecia todos esses detalhes, muito legal.