Série:
Histórias do Jazz
Prezados seguidores do CJUB, iniciamos uma série de artigos vinculados à
história do Jazz de alguma forma.
São artigos que foram publicados ou no site do HOT CLUB DE PIRACICABA há
cerca de 10 anos, ou na REVISTA MENSAL DO JAZZ do site da TRADITIONAL JAZZ BAND
(Editada pelo companheiro cjubiano Pedro Cardoso), ou em palestras proferidas
no CLUBE DE JAZZ DE NITERÓI, na UNIVERCIDADE DO RIO ou no FESTIVAL DE JAZZ DE
ITAIPAVA, e em outros locais.
Espero que apreciem
Mario Jorge Jacques
A Creole Jass Band do baixista Bill
Johnson é considerada a primeira banda de New Orleans a tocar esse estilo de
música fora do Sul dos EUA, se integrando e viajando pelo circuito de teatro
vaudeville de 1914 a 1918.
O bandleader Bert Kelly de San
Francisco afirmava ter tocado Jazz em 1914 e depois em Chicago em 1915. Ambos
os grupos Brown's Dixieland Jass Band e Stein's Dixieland Jass Band atuaram em
espetáculos e “vendiam” o estilo de Jass
Band em Chicago em 1916. Contudo, nenhuma dessas bandas gravou discos até
1917 e muitas jamais deixariam registros fonográficos.
A história padrão do Jazz considera a
primeira gravação aquela feita pela Original
Dixieland Jass Band (ODJB) com os temas ― Dixie Jass Band One Step (J.
Russel Robinson / Nick LaRocca)
e Livery Stable Blues (Ray Lopez / Yellow Nuñez). Esta gravação foi feita no selo
Victor (Talking Machine Co.) na data de 26 de fevereiro de 1917 em New York. O
lançamento ocorreu em março do mesmo ano tendo obtido um sucesso imediato, de
tal forma que se tornou a centelha que inflamou a novidade JAZZ espalhando-o
por todo o mundo, durante e após a 1ª Guerra Mundial.
Os membros da ODJB eram músicos
brancos naturais de New Orleans que atuaram na Papa Jack Laine's Reliance Brass
Band antes de deixarem a cidade em 1916 para formar a ODJB, competentes mas não propriamente
representativos do gênero, liderados pelo cornetista Dominic James La Rocca e
mais Larry Shields (cl), Henry Ragas (pi), Edwin Eddie Edwards (tb) e Tony
Sbarbaro (bat). Inicialmente
foram para o norte tocar em Chicago sob o nome de Stein's Dixieland Jass Band no
Schiller's Cafe na 31st street.
Após uma desavença com o lider baterista Johnny Stein o resto da banda arranjou
trabalho no Del' Abe Cafe do Hotel Normandy localizado na Clark & Randolph
Street, empregando então o título de Original
Dixieland Jass Band adicionando o
baterista Tony Sbarbaro. Depois foram para o Casino Gardens na North
Clark com a Kinzie Street, ainda em Chicago. O local era um ponto de reunião
popular do pessoal envolvido com o show business. Foi ali que o famoso cantor
de vaudeville Al Jolson ouviu a banda e a recomendou para um agente
teatral Max Hart de New York que fechou temporada do grupo no sofisticado Reisenweber's
Restaurant situado na Columbus Circle uma região da Broadway, estreando a
15/janeiro/1917, de início como uma atração menor das segundas-feiras.
Entretanto o sucesso foi enorme advindo logo a primeira gravação e depois
várias outras. Esta é a versão padrão da primeira gravação sob a chancela de música
de Jazz.
Freddie
Keppard um soberbo cornetista afro-americano de New Orleans em 1916 foi
convidado por 2 companhias fonográficas, contudo recusou receoso de que tendo
seu estilo perpetuado em disco fosse muito copiado. Keppard só entrou no
estúdio em 1918 com a Creole
Jass Band. O Jazz perdeu assim a oportunidade de ter sua certidão de nascimento
fonográfico assinada por um afro-americano! Afinal a música era deles!
O primeiro disco 78rpm de 10 polegadas
gravado pela ODJB, editado comercialmente a 15 de março daquele ano com o n°
18.255 e vendido ao preço de 75 cents, na verdade não foi a primeira gravação
fonográfica publicada que se referia à música como Jazz na canção título, mesmo
a banda sendo denominada de JASS BAND.
Existem convincentes argumentos de que
a edição do cilindro pela Edison Blue Amberol da
canção ― That Funny Jas Band From
Dixieland (música por Henry L. Marshall e letras por Gus Kahn) interpretada em vocal pela dupla
de cômicos Arthur Collins & Byron Harlan tenha sido de fato a primeira
gravação supostamente de “Jazz” ocorrida em 8 de dezembro de 1916, contudo os
instrumentistas são desconhecidos. Esta é a primeira gravação conhecida a usar
o termo Jas, mais tarde conhecido como Jass e Jazz.
A melodia só foi publicada em Tin Pan Alley (*) pelo editor Edison Blue Amberol em abril de 1917.
Como curiosidade
transcrevemos abaixo um trecho da gravação em cilindro ― Edison Wax Cylinder
#3140.
A dupla Arthur Collins & Byron Harlan regravou outra versão do tema em janeiro de 1917 publicada pela Victor um mês após da gravação da ODJB. As partes instrumentais, fraseado, breaks, etc dessa versão de That Funny Jas Band From Dixieland são mais adequadas ao estilo Jazz do que as executadas pelos rapazes da ODJB, contudo não obtiveram a mesma oportunidade da ODJB e o consequente maior sucesso. O artista menestrel George H. O'Connor gravou uma canção chamada Ephraham's Jazbo Band a 10/fevereiro/1917 para piano e vocal, porém foi tida como Ragtime. O'Connor era branco mas atuava com o rosto pintado de preto o que influenciou mais tarde Al Jolson a fazer o mesmo no filme O Cantor de Jazz de 1925. A Borbee's Jass Orchestra gravou 2 canções ― It's A Long, Long Time e Just The Kind Of Girl You'd Love To Make Your Wife a 14/fevereiro/1917, porém o disco só foi publicado em julho após o sucesso da ODJB. Em princípio a banda teria o nome de Borbee's Tango Orchestra, contudo o Tango foi mudado para Jass na esteira do sucesso comercial da ODJB. Outro tema a ser gravado com a palavra Jass no título foi ― Everybody Loves A Jass Band original de Arthur Fields. A gravação ocorreu a 15/março/1917 e editada em julho do mesmo ano. O encarte deste disco da Edison Records vinha com os dizeres: ― "Do you love a 'Jass' band?" seguido da frase ― "Indubitavelmente gostaria, se soubesse o que é, mas ao ouvir esta canção você passará a saber o que é uma Jass Band !".
(*) - TIN PAN ALLEY - expressão que designou um local ao sul da ilha de Manhattan em New York, próximo a Union Square (entorno da rua 28), onde a partir do início do século XX concentraram-se as casas editoras de música e que passaram a dominar inteiramente o mercado de música popular.
Abaixo a reprodução de Dixie Jass Band One Step – pela ODJB (note-se a qualidade da gravação em se tratando de processo inteiramente acústico em 1917)
Um comentário:
MARAVILHA MAJOR EXCELENTE SEMPRE BOM CONHECERMOS A HISTORIA DESSA MÚSICA APAIXONANTE PROGRAMA MUITO BEM DETALHADO E ADOREI OUVIR UM CILINDRO DE EDISON NUNCA TINHA VISTO!! ESPERAMOS MUITO MAIS DESTA SÉRIE E PARABENIZA-LO AQUI NO BLOG PELOS SEUS TRABALHOS JÁ É REDUNDÂNCIA. OBRIGADO POR TUDO E GRANDE ABRAÇO
CARLOS LIMA
Postar um comentário