Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels)*in memoriam*,, Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DE UMA NOITE MÁGICA

26 fevereiro 2019



Sábado último, à noite, em um notável ambiente lotado do Blue Note Rio assistimos a um emocionante concerto ─ LEGRAND PAR IDRISS ─ em memória de Michel Legrand, recentemente falecido a 26 de janeiro de 2019. Foi um pianista, arranjador e compositor francês. Construiu sua carreira compondo para o cinema. São dele as trilhas sonoras de Lola, Les Misérables, Prêt-à-Porter, Les Demoiselles de Rochefort, Les Parapluies de Cherbourg, Summer of '42, The Thomas Crown Affair, Une Femme Est Une Femme, La Piscine, entre outras.
O jazz também é marcante em sua carreira, desde 1958 liderou bandas que contavam com alguns dos maiores nomes do segmento, como Miles Davis, John Coltrane, Bill Evans e Herbie Mann. Compôs para álbuns de Stan Getz (1971), Sarah Vaughan (1972) e Phil Woods em várias ocasiões. Vários músicos de jazz regravaram canções de Legrand.
O musical da noite esteve por conta de outro francês de nascimento e já brasileiro de coração, o saxofonista Idriss Boudrioua com seu quinteto.
Foi, portanto, um tratamento especial revisitar o material de Legrand, especialmente revigorante, revivido pelo Idriss, cujo trabalho é bastante conhecido do público, principalmente dos jazzófilos que o acompanham há muito desde sua chegada ao Brasil em 1982, atuando sob a batuta do Maestro Cipó, integrando a banda da casa noturna Da Vinci Bar, juntamente com o trompetista Claudio Roditi, outro ícone do jazz, brasileiro radicado nos EUA.
Para um desempenho de apenas uma noite, a quantidade de trabalho dedicada ao projeto foi surpreendente. Muitos elogios aos membros fundadores do CJUB (um blog e hoje uma confraria) – Mauro Nahoum e sobretudo David Benechis, que, de volta à produção de espetáculos musicais de jazz e, que com tal propósito espetacular abriu o show, além de agradecer a presença de todos, ao grupo de membros do CJUB, aos dirigentes do Blue Note e, particularmente, ao Idriss por concretizar a ideia.
Em seguida, fez, então, a apresentação dos músicos: Sérgio Barrozo, contrabaixo, Émile Saubole, bateria; Altair Martins, flugelhorn, Eduardo Farias, piano e Idriss Boudrioua, saxofone alto.
A noite foi inspirada pela integração total dos músicos ligados numa comunhão perfeita, belíssimos momentos de musicalidade.
Idriss pela descontração, chegando à irreverência humorística, contando passagens de sua vida principalmente com o homenageado Michel Legrand, brincando com os companheiros passou um clima de simpatia inerente a sua personalidade e de como estava muito feliz ali.
Em 2004, integrou o quarteto de Legrand, com quem atuou em apresentações no Mistura Fina (RJ).
Iniciado o show, logo se percebeu que Idriss encheria o salão com seu sax lírico mas também poderoso e tocante - para o deleite do público jazzófilo, por vezes nos fazendo recordar o grande Phil Woods. O elenco de músicos também dava o tom do que iriamos ouvir dali por diante. A música tem tudo a ver com amor e paixão, assim se contemplam melodia, harmonia, sonoridade e ritmo, irresistíveis!
O flugelhorn do Altair suave como característica própria do instrumento mas com o vigor necessário em brilhante passagens. O piano de Eduardo Farias, acho que surpreendeu a muitos que não o conheciam (inclusive a mim), fez solos de grande habilidade técnica e magnífico sentimento jazzístico, ponto alto sem dúvida.
Não há um bom jazz sem uma boa percussão, a cargo do consagrado contrabaixista Sérgio Barrozo, preciso com toque delicado e ótima sonoridade, o que evidenciou em um belíssimo solo. À bateria, o também francês Émile Saubole perfeito nos sutis acompanhamentos exigidos pela maioria dos temas, porém categórico no solo executado com acuradas e interessantes figuras rítmicas.
Uma surpresa ─ Idriss chamou seu filho Jamal, como vocalista que se juntou ao grupo. Uma boa voz tenor-barítonado, deu seu recado marcando mais uma presença em pról de Legrand.
Ao final, Idriss elogiou o público pela total atenção, respeitoso silêncio (não muito comum em casas noturnas) e então disse que se sentiu tão confortável, inspirado e que por isso estava naquela noite tocando tão bem! (virou de costas fingindo se encabular do que disse) - risos e aplausos da plateia, para uma grande verdade, êle e seu grupo se superaram; depois, fiel ao seu senso de humor, se considerou ─ “O rei da cocada”.
Beleza, encantamento e sedução que arrebataram a todos. Uma noite prazerosa e intensa.
Uma noite mágica para LEGRAND PAR IDRISS.

COMPOSIÇÕES EXECUTADAS:
Marins, Amis, Amants Ou Maris - (do filme Les Demoiselles de Rochefort)
Watch What Happens - (do filme Les Parapluies de Cherbourg)
La Chanson Des Jumelles - (do filme Les Demoiselles de Rochefort)
His Eyes, Her Eyes - (do filme The Thomas Crown Affair);
You Must Believe In Spring - (do filme The Young Girls of Rochefort)
The Summer Knows - (do filme Summer of ‘42)
What Are You Doing The Rest Of Your Life - [com vocal de Jamal Boudrioua] - (do filme The Happy Ending)
Once Upon A Summertime - (La Valse Des Lilas) – [com vocal de Jamal Boudrioua] -  (composta para o álbum de Blossom Dearie 1966)
How Do You Keep The Music Playing? - (do filme “Best Friends)
Les Moulins De Mon Coeur - [com vocal de Idriss] – (do filme The Thomas Crown Affair).

Mario Jorge Jacques

6 comentários:

MauNah disse...

Mestre MaJor, só quem lá esteve pode entender a inteireza de suas palavras que refletem muito acuradamente o que aconteceu! Mas o “clima” mesmo, a magia, ficaram restritos aos presentes. Que possamos testemunhar outras produções com uma qualidade e um profissionalismo semelhantes. Parabéns ao BenéX e ao tão qualificado repórter! Abraço!

Ivan Monteiro disse...

Parabéns pela excelente crítica Mestre Major.
Parabéns ao CJUB na figura do Bene-X pela esmerada produção.

I-Vans

pedrocardoso@grupolet.com disse...

Verdadeiro "gol de placa" ! ! !

Bene-X disse...

👏👏👏👏👏, excepcional resenha, Mestre MaJor, nossa autêntica enciclopédia, mas, acima de tudo, a generosidade em pessoa. Muito obrigado pela gentileza, pelo carinho, enfim, pelo prestígio que emprestou ao nosso evento.

Beto Kessel disse...

Sempre bom termos uma grande resenha para descrever uma noite grandiosa.

Parabéns pelo texto querido Mario Jorge

pedrocardoso@grupolet.com disse...

Prezados CJUBIANOS:

Há exatamente 32 anos (08/março/1987) nosso estimado IDRISS BOUDRIOUA apresentava-se com seu novo grupo, "JADE" (ele ao alto, Dario Galanti no piano, Jorginho Elder no baixo e André Tandeta à bateria), em "Jam" no programa de nosso confrade ARLINDO COUTINHO ("JAZZ + JAZZ", Globo-FM).
Na ocasião o grupo de IDRISS executou o tema dele, "Badete" (do seu 1º LP, "Esperança"), em que IDRISS e Dario solam à perfeição, com técnica, "feeling, bom gosto e entusiasmo incomuns.
Felizmente gravei essa "Jam", que agora ouço com enorme prazer e deleite, apreciando a obra de IDRISS, um músico extraordinário ! ! !