Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

MICHEL LEME TRIO

16 outubro 2017

Michel Leme Trio é o décimo primeiro disco do guitarrista Michel Leme.
Após os dois últimos trabalhos em quarteto, e ainda mais dois CDs e dois DVDs em trio com a base formada por Bruno Migotto e Bruno Tessele, Michel Leme apresenta mais um extraordinário trabalho e com um novo trio formado ao lado do baixista Richard Metairon e o baterista Jônatas Sansão.

Este trabalho traz 6 composições autorais em mais de 1 hora de música, e o trio literalmente "quebra tudo"; e isso não é novidade - todos os discos de Michel Leme prezam pela originalidade, fluidez e liberdade criativa, com muito espaço para todos os músicos que o acompanham.
No repertório, levadas latinas em "Los Perros" e "Porque eu gosto", com pontuações muito interessantes de Jônatas; a atmosfera clássica do jazz retransformada em "Vinho e vida"; uma intensa "Rompa os grilhões", que abre com a bateria de Jônatas e improvisos contagiantes de Richard e Michel; repousa na balada "Ainda é possível", introduzida em guitarra solo por Michel, que ainda desenhou um belíssimo improviso; e o boogaloo "Gosma", que abre com o baixo de Richard e cujo tema se desenvolve com um groove invocado.


"Michel Leme Trio" foi gravado ao vivo no MM Estúdio, em São Paulo.
A arte da capa é uma acrílica sobre tela da artista Cinthia Crelier, feita especialmente para a capa do disco.

Com a palavra, Michel Leme -

"Michel Leme Trio" traz uma nova formação com Richard Metairon e Jônatas Sansão. Como se formou esse time e a proposta de irem para o estúdio?
Este novo trio é muito especial para mim e as apresentações vem mostrando que as pessoas ainda embarcam na viagem da música. Vem sendo muito gratificante.
O Richard passou quatro anos estudando e tocando na França e, logo que ele voltou no final do ano passado, eu já pensei em armar um som autoral com ele. O Jônatas e eu tocamos direto desde 2008 e até já tínhamos gravado um outro album juntos, que se chama "Lady Mistério", de 2015, com o Lucas Macedo (sax) e o Bruno Migotto (baixo)  - em breve concluiremos a burocracia toda e lançaremos. Depois de dois discos com o Quarteto - "9" e "Alma" -, as primeiras pessoas que vieram à minha mente, já que eu senti que deveria formar um novo grupo, foram o Richard e o Jônatas. E rolou tudo muito naturalmente: em novembro de 2016 eu tive a ideia, fiz o convite, os caras aceitaram, eu enviei as parts e áudios dos temas pelo whatsapp e fizemos o primeiro e único ensaio no estúdio do Jônatas. A partir daí, apenas tocamos ao vivo e, depois de umas quatro ou cinco apresentações, gravamos o disco. Eu gosto muito destes dois, porque são muito corretos, honestos, muito claros no que querem dizer e, claro, tocam muito bem, respeitam a música, estão sempre praticando, tocando por aí, e têm uma forte personalidade musical. Neste disco eu voltei a gravar num estúdio por conta de minha parceria com a Music Maker. O Ivan Freitas montou o MM Estudio ao lado da oficina e a parceria, além das guitarras, englobou também o estúdio. Gravamos como gravo sempre, ao vivo, sem correções, e o clima foi extremamente harmônico.

Mais um trabalho totalmente autoral. Fale um pouco sobre as composições.
A única música que eu já tinha pronta quando reuni o trio era "Los perros". As outras cinco eu fiz pensando em tocar especificamente com o Richard e o Jônatas. "Los perros" é um latin com groove mais solto que compus pensando na Pitty, a cachorra que vive com a minha família desde 2009, e os cachorros dos amigos. Tentei passar o que sinto sobre o amor incondicional deles, mas sem ser meloso ou piegas. "Vinho e vida" é um tema sobre os acordes de "The days of wine and roses", de Henry Mancini, só que em 3/4  - na maioria das vezes, o pessoal toca este tema em 4/4. Acho muito interessante esta perspectiva da composição: compor melodias sobre estruturas de temas clássicos. Charlie Parker é um grande exemplo do que se pode realizar desta maneira, e acho que esta "modalidade" de composição traz belas aberturas.
"Porque eu gosto" é um cha-cha-cha, ritmo que adoro tocar, porque abre para muitas possibilidades de climas e ritmos. Tem trechos deste tema que praticamente fui obrigado a escrever pela intuição, como a seção Am | Em | Abm | Ebm. Eu ia tocando a ideia inicial e indo em frente, até aparecerem coisas como essa, e eu só dizia "ok, eu escrevo!". Nenhuma composição exige o mesmo método que a outra; isto é muito importante de se reparar. "Rompa os grilhões" eu compus antes da minha mulher, a cabeleireira visagista Mirian Leme, raspar o cabelo em solidariedade a uma amiga. Isso foi em Registro, e a música saiu bem rápido. Tentei passar esta ideia de realmente agir depois de tomar uma resolução. As pessoas estão muito presas a dogmas, rótulos, encanações, traumas etc. Penso que para viver uma vida plena é preciso romper grilhões (internos ou externos) quase que constantemente.
"Ainda é possível" é uma balada sobre a estrutura de um blues em C menor. O título refere-se à situação em que vivemos: o mundo está cada vez mais boçal, violento, cada vez mais contra a criatividade e a arte, mas, mesmo com esta resistência toda, venho vivendo sons que ficam na alma. Então, isso me faz concluir que, sim, ainda é possível. "Gosma" é um boogaloo, talvez num andamento mais lento do que as pessoas imaginam para este ritmo, e que me faz tocar coisas mais sujas  - não tenho melhor definição para o que este groove provoca em mim. Os caras entenderam muito bem este espírito e gosto muito do take do disco. Alías, cada take foi escolhido em comum acordo, e considero que isso confere uma força diferente ao trabalho.

foto: Taty Catelan
O fato do registro ser em estúdio não significa que há limites para criação, talvez o tempo para encaixar no disco, afinal também é uma sessão ao vivo. Assim deve ser o espirito da música, a arte do improviso nascer da dinâmica de cada momento?
A cada dia eu confirmo que a música e a vida estão totalmente misturadas; uma está na outra. Nós tocamos da maneira que nos sentimos plenos, e gravar é uma continuação disso. Ninguém leu nenhum dos temas depois do primeiro encontro, por exemplo; já estava tudo na mente. Esta é uma medida simples, mas que faz a relação com o material ser cada vez mais profunda, porque, ao não ter um pedaço de papel com códigos na frente, isto nos dá muito mais condições de captar o que cada momento pede, justamente por não dividirmos a energia disponível com algo que não interessa no momento de tocar/criar música. Quanto a gravar no estúdio, o fato de não estarmos numa locação, como gravei desde 2010, não mudou em nada o processo. Pudemos trazer o mesmo espírito de tocar ao ar livre ou no quintal de alguém para o estúdio. E isso não é uma coisa inexplicável, tem uma série de procedimentos, e talvez o principal deles seja: não trabalhar com quem dá chiliques. Só isso já libera o trabalho de coisas absolutamente desnecessárias. Quando o músico está em paz consigo e com o outro, aí é que o trabalho passa a ser possível. A sessão de gravação ocupou seis horas do estúdio, incluindo períodos para descansar, ouvir takes e jantar. Gravamos duas músicas no primeiro take (Ainda é possível e Gosma), "Rompa os grilhões" precisou do terceiro take, e as outras três foram no take 2. Quanto à duração das faixas, por exemplo, preocupo-me com isto só depois, porque no momento de tocar gravando é a música que manda. Se couber, vai tudo; se não couber, a gente escolhe o que vai caber nos 74 minutos do CD. Ainda sobre gravar, eu reparo que uma das razões dos músicos tocarem muito bem ao vivo e, por outro lado, gravarem discos totalmente inexpressivos é justamente ter procedimentos diferentes para cada oportunidade: ao vivo, é solto; no estúdio, os solos são com chorus contados, por exemplo. Este tempo já passou, não vale mais à pena vender-se ou adaptar-se ao mercado; já está mais do que na hora de fazer as coisas de acordo com a nossa voz interior, que é um "equipamento" valiosíssimo que cada um de nós possui, descrito por Carl Jung como "verdade superior". A coisa não vem apenas do racional; ela surge de todas as nossas faculdades harmonizadas.

Nesta sessão você usou uma nova guitarra, uma Music Maker modelo Concept. Fale um pouco sobre o instrumento, a pegada e o que ele trouxe para somar no seu som.
A guitarra Music Maker modelo Concept é uma semi-acústica, com tampo plano, sem aberturas como "f holes", muito confortável ('veste" bem no corpo) e que me trouxe muitas vantagens em comparação às acústicas, que usei direto desde 1998. Uma das vantagens é não ter o feedback indesejável, já que não tem respiros no tampo. Outra: notei que as notas saem mais "cantadas" do que "percussivas", como nas acústicas. Mais uma vantagem: ao perguntar para alguns amigos depois de alguns sons por aí, eles disseram que esta guitarra não tem sobras de frequências graves ou agudas, ela vai direto ao ponto. Outra coisa que me dava bode nas acústicas é que elas são muito delicadas; esta não: é muito resistente, o que é importante para mim, já que uso a guitarra por várias horas todo dia e não sou muito cuidadoso com instrumentos. Os captadores são Music Maker Classic 60, só tem um botão de volume geral - para quem quiser a configuração clássica de quatro botões, é perfeitamente possível -, os trastes são de inox, as cordas que uso são D'Addario Chromes .012 com a primeira E .013 e a G desencapada .022 – para quem usa cordas de outras medidas, tranquilo também, é só uma questão de regulagem. A Concept já está sendo comercializada; é só entrar em contato e combinar tudo com a Music Maker. Enfim, o Ivan Freitas executou este projeto muito em sintonia com o que eu preciso e gosto. Além disso, ele está lutando para aquecer o mercado da guitarra no Brasil, promovendo masterclasses, workshops e aulas no que eu chamo de Centro Cultural Music Maker, no bairro Campo Belo, em São Paulo. Que seja seguido este exemplo e que o empresariado deste ramo abra a mente para a causa cultural, lembrando que tudo o que eles geram em termos de grana é devido ao fato da música existir, em primeiro lugar.

Particularmente, prefiro a mídia física, é muito mais prazeroso ouvir no som grande e sem perdas. O quão desafiador é lançar um CD físico, considerando prensagem, arte, logística de distribuição, entre outros fatores?
Este é o meu décimo primeiro lançamento oficial, e o processo todo vem sendo muito prazeroso, em todas as suas fases. Claro que tem burocracias irritantes no meio, mas depois isso some diante do significado que é publicar uma obra. Ainda vendo CDs, mas na minha super modesta quantidade, dentro da minha "casta" inserida naquilo que chamam "mercado". Faço os discos pelo prazer, por amar o que faço, por curtir o processo, por gostar de aprender, e vejo que algumas pessoas ainda querem ter o CD, ao invés de querer apenas ouvir em streaming  - forma que não ajuda em nada no que se refere à produção artística, pois, se você compra um CD, é uma espécie de "pós-crowd-funding", ou seja, você está ajudando o artista não só a pagar pelo projeto atual, mas a capitalizar alguma coisa para o próximo. Mas, claro, falar nestes termos numa sociedade onde impera a hiper-competição, o “business” acima do Ser Humano e do Planeta, a estupidez acima da gentileza etc., é pedir demais, mas sei que o bom senso ainda habita em alguns poucos. Tenho a boa sorte de ter pessoas que acompanham e apoiam o que faço, e isto é realmente surpreendente e eu fico sem palavras. Por outro lado, é claro que hoje vende-se muito mais lentamente, mas, em compensação, está mais acessível prensar 1.000 cópias do que 500. Então, eu sempre levo CDs onde toco, tem a distribuição física e digital da Tratore e vamos indo, não tenho do que reclamar.
Muito obrigado, muito som e um grande abraço a todos!

Somos nós que agradecemos a oportunidade dessa entrevista.
Sucesso, Michel Leme.



Para adquirir o CD "Michel Leme Trio" e os títulos anteriores com dedicatória, é só escrever para michel@michelleme.com. O CD também está disponível nas lojas Aqualung (Galeria do Rock), Free Note, Pop's Discos, Espaço Sagrada Beleza, Virtuose Escola de Música, Oficina das Cordas e outras lojas dentro da distribuição da Tratore.
Nas plataformas digitais - iTunes, Spotify, Deezer e Google Play.

"Michel Leme Trio" tem apoio cultural da DÁddario, Espaço Cultural Ventos Uivantes, Espaço Sagrada Beleza, Luthieria Oficina das Cordas, MM Estúdio, Music Maker, Play Jazz, Poptical Banana Gourmet, Rotstage, ShoÝou audio e video e Virtuose Escola de Música.

www.michelleme.com/

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