Série “PIANISTAS DE
JAZZ”
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
36ª Parte - II (final)
(36)(b) TETE MONTOLIU Da
Catalunha Para O
Mundo (Resenha longa)
Em 1996 TETE foi homenageado a nivel nacional
pela “Sociedad General de Autores” por seus “50 Anos de Jazz”, no “Teatro
Monumental de Madrid”, em um concerto do qual participaram Alvin Queen, Gary Bartz, Pierre Boussaguet e
Tom Harrell. Ainda em 1996 TETE
comemorou seus 63 anos gravando em piano.solo o CD “T’estimo Tant...”.
No ano seguinte os 64 anos de TETE foram
comemorados no “Palau de La Musica Catalana” em Barcelona, com concerto em
piano.solo que foi gravado em CD. Nesse
ano de 1996 e em novembro a grande tragédia pessoal: foi diagnosticado câncer em TETE MONTOLIU.
Em 1997 foram gravados mais 03 CD’s com a apresentação de TETE
MONTOLIU em fevereiro no “Festival de Jazz de Terrasa”. Em março e no “Palau de La Música Catalana”,
Barcelona, também em piano.solo, TETE teve gravado seu último CD.
Faleceu como indicado no início desta sua
“Biografia”, em 24 de março de 1997.
Ao londo de sua carreira TETE MONTOLIU
recebeu muitas homenagens e honrarias, destacando-se entre as muitas a “Creu de
Sant Jordi de La Generalitat de Catalunya”, a “Medalla de Oro del Ayuntamiento
de Barcelona” (bom catalão e fiel à cultura e aos valores de sua terra natal)
e, como fá de futebol, “culê”, barcelonista que sempre foi e cultor do
F.C.Barcelona (“mes que um club”), a insíginia de “Oro Y Brillantes del
Football Club de Barcelona”.
TETE
MONTOLIU sempre foi um ouvinte,
admirador e executante de Charlie Parker, Thelonius Monk e John Coltrane, suas
bases para altos vôos musicais e pianísticos.
Entenda-se que a idade pesou progressivamente mais
para TETE MONTOLIU (cego de nascença) que para outros músicos, peso
agravado a partir do câncer diagnosticado em novembro de 1996 e dado o esforço
necessário para seu pianismo e,
particularmente, quando atuando com outros músicos, o que sempre lhe
trazia mais dificuldades para interação e equilíbrio musical; o que para muitos exigia um simples olhar,
para TETE requeria toda uma sensibilidade e desenvolvimento de sentidos
muito além da visão e, com certeza, bem mais cerebrais.
TETE foi, sem dúvida, bem influenciado pela arte de Bud
Powell e de Al Haig e, de alguma forma por Lennie Tristano, ainda que tivesse
desenvolvido ao longo de sua trajetória um estilo e uma “linguagem” muito
pessoais, com base em uma pulsação percussiva, com nítida articulação e forte
inclinação por toques golpeados com
rapidez; em alguns solos
nota-se certa descontinuidade, acentuadas “escapadas” da estrutura em
desenvolvimento, assim como farto ludismo na
exploração de figuras “bluesy”.
Foi, sempre e isso é perfeitamente ouvido e sentido em suas gravações,
um pianista superior, capaz de imprimir perfeito swing ao seu fraseado e
citações muito bem encaixadas de “blues”.
FILMOGRAFIA
Como
não temos informações sobre produtos (DVD’s, VHS’s) com TETE ao vivo, indicamos a seguir 05(cinco) trechos dele ao vivo via
“YouTube”, em diversos
contextos/formações que nos permitem assistir um músico exponencial.
(1)
Tete Montoliu /
Jackie McLean Quartet, 6’16”
(2)
Joan
Manel Serrat & Tete Montoliu, “Paroules D’Amor”, 3’55”
(3)
Tete Montoliu
& Friends, Playing Jazz, 1’15’
(4)
Tete Montoliu,
“Speak Low”, 4’22”
(5) Tete Montoliu
Trio, “If I Should Lose You”, 9’11” (Kerbie Lews / baixo e Billy
Higgins/bateria)
BIBLIOGRAFIA
As melhores publicações tipo
“Enciclopédia/Dicionário de Jazz” trazem alentados verbetes sobre TETE
MONTOLIU.
Destacamos apenas 02(duas) dessas publicações por
suas concisões e fidelidades históricas, ainda que insuficientes para o todo da
carreira do pianista catalão.
(1ª) Dictionnaire
du Jazz da autoria de Philippe
Carles, André Clergeat e Jean-Louis Comolli, que reuniram cerca de 50
colaboradores para os diversos verbetes (Xavier Prévost redigiu o verbete
dedicado a Tete Montoliu), Editions Robert Laffont S.A., Paris, 1988.
(2ª) Gran
Enciclopédia Del Jazz da Editora SARPE, com Chefia de Redação a cargo
de Gabriela Costarelli, Madrid, 1980.
DISCOGRAFIA
Considerando a imensa discografia de alta qualidade
de TETE MONTOLIU, optamos por indicar as primeira e última gravações,
seguidas de 07(sete) indicações que, pelo menos para nós, exibem um pianista em
plena forma ao longo das várias etapas de seus anos de trabalho.
Primeira Gravação
Entre junho e setembro de 1954, na Holanda e para o
selo Philips Tete Montoliu gravou os temas “Píntame de Colores Pa Que Me Llamen
Superman” e “No, No, No”.
Última
Gravação
Em 21 de março de 1997, no “Palau de La Música
Catalana”, Barcelona, Espanha, TETE apresentou-se em piano.solo, com
temas próprios, de Ellington/Strayhorn, Dexter Gordon, Coltrane e Monk. Essa apresentação foi devidamente registrada
para o selo DiscMedi, com as seguintes faixas:
01 Feelings
02 My
Way
03 Au
Privave
04 Muntaner
83A
05 Jo Vull Que M'Acariciis
06 Pont Aeri-Acuarela
07 T'Estimo
Tant...
08 Come
Sunday
09 It
Don't Mean A Thing
10 In A
Sentimental Mood
11 Take
The "A" Train
12 Sophisticated
Lady
13 Cotton
Tail
14 Come
Sunday
15 Cheese
Cake
16 Society
Red
17 Soul
Sister
18 Naima
19 I
Want To Talk About You (autor Billy Eckstine, “Mr. B”)
20 Lush
Life
21 Giant
Steps
22 Monk's
Dream
23 Ask
Me Now
24 Misterioso
25 Apartment
512
1ª
Indicação
Em 2005 a “Radiotelevisión Española” (RTVE) editou um
primoroso CD duplo sob o título “Jazz Em
España -
Tete Montoliu”. É
o primeiro de uma série de resgates de JAZZ promovidos pela corporação
espanhola, dedicado exatamente a TETE MONTOLIU. Extensas notas de
encarte por José Ramón Rippol, que inicialmente nos remetem ao “Jazz
subterrâneo” na “Espanha franquista”, para logo rememorar a largos traços um
pouco da carreira de TETE MONTOLIU.
Em um dos CDs temos 17 faixas de TETE em
piano.solo, reunindo composições próprias, além de clássicos de Victor Young
(“When I Fall In Love”), Roger “Ram” Ramirez (“Lover Man”), Bill Evans (“Waltz
For Monika”), Cole Porter + Tadd Dameron (“Wht Is This Thing Called Love?” /
“Hot House”), Duke Ellington (“Sophisticated Lady”) e outros. As gravações constantes do gigantesco acervo
da RTVE foram realizadas em 17/fevereiro/1973 e em 24/março/1982.
No outro CD temos 08 faixas com TETE MONTOLIU
em trio (David Thomaz ao baixo e Peer Wyboris à bateria), gravadas em
22/março/1982. A primeira faixa de
autoria de TETE intitula-se “Blues”, levando-nos a todo um perfeito
discurso da linguagem de raiz. Segue-se
um “Days Of Wine And Roses” com claras e sublimes referências ao pianismo de
Bil Evans. Charlie Parker é revisitado
em “Confirmation”, Coltrane em “Giant Steps” e Monk/Cootie Williams em versão
primorosa de “Round About Midnight”.
2ª
Indicação
Com
Pedro Diaz /tumbadoras, Miguel Angel Lizandra/bateria e Alberto Moraleda /
baixo, Tete montoliu gravou em Barcelona (16/agosto/1963) o LP, reeditado em CD
pela “Discos Ensayo”, “Temas Hispano-americanos”. São “medleys” de clássicos do bolero, todos
em linguagem jazzística e repletos da técnica de frases em legato, perfeitas
divisões de fraseados, digitação superior, enfim, um disco para ouvir sempre.
Juntam-se a “Frenesi / Contigo
En La Distancia / Maria Elena”, outros como “Tres Palabras / Amor Mio / Siempre
En Mi Corazón” e “Perfidia / No Me Platiques / Bésame Mucho”.
3ª
Indicação
Ainda
na linha dos “boleros”, mas então com temas individuais tomados dos clássicos
do gênero, Tete gravou em 1975 e também em quarteto (ele mais Rogelio Juarez /
tumbas, Manuel Elias / contrabaixo e Peer Wyboris / bateria), o LP, reeditado
em CD pelo mesmo selo “Discos Ensayo” de Barcelona, sob o título de “Boleros”
e com a linguagem jazzística do anterior, os temas “Somos”, “Sabra Dios”,
“Siboney”, “Somos Novios”, “Sabor a Mi”, “Poinciana” e mais 04 temas que
completam os 10 do álbum.
4ª
Indicação
O
CD “Tete
Montoliu Em El Teatro Real” foi gravado diretamente do “Teatro
Real” de Madrid em 02 de fevereiro de 1988, em piano.solo e constitui-se, em sua
parte inicial, em ode á obra de Thelonius Monk. A 1ª faixa do CD ocupa não menos que 42’30”
sob o título de “Monkiana”, em que a esfinge é totalmente decifrada pela
execução inspirada, decodificada e até com a sonoridade e o fraseado de
Monk: “Straight, No Chaser”,
“Reflections”, “Misterioso”, “Well, You Needn’t” e semi-trechos de outros
clássicos monkianos desfilam para o prazer sensorial da audição. É coisa de “gente grande” para todo o sempre.
Mais
03 faixas completam os 64’22” do CD: “Don’t Smoke Anymore, Please” (seria uma
premonição das leis estaduais futuras ? ? ? . . .), “Jo Vull Que M’acaricis”
e “Apartment 512”.
Excelente
texto do encarte por Paco Montes, com bom retrospecto da carreira de TETE e qualidade superior de gravação,
tornam essa gravação um precioso documento.
5ª
Indicação
“Tete Montoliu
& Orquestra Taller de Músicos de Barcelona” é CD gravado em
25 e 26 de junho de 1988 em Barcelona, reeditado em 2003.
05
trumpetes, 04 trombones, 02 saxes.alto, 02 saxes.tenor, 01 sax.barítono, piano
(TETE MONTOLIU, claro), guitarra, baixo e bateria, sob a
condução de Zé Eduardo (também autor de 02 dos 07 temas do CD), mostram-nos uma
“big.band” alentada, com belos arranjos e temas muito bem escolhidos,
inciando-se pela faixa 1, o clássico “C.T.A.” de Jimmy Heath, incluindo “All Of
Me” (soberbo solo de TETE MONTOLIU),
“Second Race” de Thad Jones com arranjo do próprio, “Recordarme” de Joe
Henderson (arranjo de Ernie Wilkins), enfim, um trabalho de alta qualidade.
6ª
Indicação
O CD “Free Boleros”,
em realidade uma coletânea de boleros clássicos interpretados por um trio em
estado de graça (TETE MONTOLIU elabora discursos pianísticos de pura
beleza, com toques de “blues”), acompanhando Mayte Martins, uma verdadeira
“CANTORA” (dicção, divisão, timbre, extensão, emoção.........), já indicado anteriormente ao
longo da “Biografia” de Tete Montoliu.
É trabalho sério, de muito “feeling” e puro prazer para os ouvidos e a
mente. “Contigo en la Distancia”, “El
Dia que me Quieras”, “El Reloj”, “Somos”, “Sabor a Mi” e mais 08 faixas
integram essa seleção tocada em trio e cantada com uma soberba voz, que merece
todo o interesse, os aplausos e a divulgação do “melhor”.
7ª
Indicação
“Tete Montoliu Interpreta a Serrat Hoy” reúne
12 temas e 01 “medley” da autoria do compositor espanhol Joan Manel Serrat, que
TETE MONTOLIU conheceu em 1965 na
EDGISA, companhia discográfica catalã. À
época Serrat integrava o denominado “Els Setze Jutges”, grupo musical e
cultural.
Em
1969 TETE havia gravado “Tete
Montoliu Interpreta a Serrat”, sendo que nessa nova visita ao compositor, TETE jazzifica toda uma obra.
Temos
nesse CD a reunião de composições belíssimas e uma interpretação de altíssima
qualidade pianística e jazzística: mais
pedir impossível ! ! !
Final.................................... Retornaremos nos próximos dias
Um comentário:
Desse pianista, só vim a conhecer a obra de forma tardia, e incentivado por nosso saudoso Mestre Llulla, que o adorava.
Desde então venho colecionando e ouvindo o que posso de suas interpretações riquíssimas para meus ouvidos, por exatamente mesclarem alguma doçura latina (porém em nada nada melosa)e uma altamente sofisticada construção de riffs jazzísticos e umas precisas, técnicas e inesperadas "entortadas" nas melodias que se tornaram suas marcas próprias. E quanta sofisticação encontro nos seus andamentos.
Belo trabalho, Pedro, longo e substancioso, e sobre um pianista que, até agora, no mundo fora da Espanha, apenas uma restrita parcela de felizardos puderam vir a ter contato.
Na minha humilde opinião, Tete jamais teve uma divulgação internacional de sua obra à altura de seu enorme talento e sensibilidade para o jazz e suas próprias e definitivas influências.
Agora apenas imaginemos se ele enxergasse!
Grande abraço.
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