Série “PIANISTAS DE
JAZZ”
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
34ª Parte - Módulo II
(34)(b) BUD POWELL “O”
Bebop (Resenha
longa, 05 módulos)
A
lista qualitativa do crítico literário Harold Bloom intitulada “Greatest Works
Of Twentieth-Century American Art” inclui as gravações para a Blue Note de “Un
Poco Loco” e “Parisian Thoroughfare” (ambos os temas da autoria de BUD POWELL) nesse rol de preciosidades
artísticas.
“Um
Poco Loco” particularmente e a nosso juízo (secundando as opiniões de Leonard
Feather e de Luiz Orlando Carneiro) é uma autêntica jóia musical, que nos
enleva a cada audição dos 03 “takes” (em ascendência) para a Blue Note.
Em
1950 BUD POWELL é detido por posse
de narcóticos, internado por 17 meses e submetido a eletrochoques. Após liberado BUD segue gravando, se apresentando e conseguindo durante algum
tempo ficar longe das drogas e do álcool, para
estar com sua mãe na Pensilvânia em 1953, onde compõe a obra prima
“Glass Enclosure”.
Há
uma versão segundo a qual o gerente do Birdland à época, Oscar Goldstein (a
quem eram atribuídas ligações com o crime organizado) foi “tutor” legal de BUD POWELL e mantinha-o praticamente
recluso - para
poder vigiá-lo permanentemente, levou-o a casar-se com Audrey Hill e segundo
essa versão foi para essa condição que
BUD compôs “Glass Enclosure”.
Em 1953 tem lugar o famoso concerto no Massey Hall
(Toronto, Canadá), com o quinteto escolhido por votação: Parker, Gillespie, BUD, Mingus e Max
Roach, cujas peripécias podem ser lidas na “Discografia”.
Viajou
para a Europa pela primeira vez em 1956 com o grupo auto-intitulado “”Birdland
56” (Miles Davis, Lester Young e parte dos componentes do MJQ), com turnês por
vários paises, tomando contato com o respeito europeu pela arte e pela cultura
negra; ai iniciou-se sua vontade de
viver no velho continente, o que somente veio a ocorrer em 1959, para ali
permanecer por 05 anos. Nessa ida e
permanência suas companhias foram foi Altevia Edwards (“Buttercup”) que
tornou-se sua esposa nos últimos anos de vida, e seu filho Earl Douglas John
Powell.
Em Paris, onde se radicou, apresentou-se
constantemente no clube “Le Chat Qui Péche” e formou com Pierre Michelot ao
contrabaixo e Kenny Clarke (“Mr Clock”) à bateria, o “The Three Bosses”, que marcou
ponto seguidamente no Blue Note parisiense de 1959 a 1962. Esse trio foi formado após a apresentação de
02/abril/1960 no “Essen Jazz Festival”, Grugahalle,
Essen, Alemanha (Coleman Hawkins no sax.tenor, BUD
POWELL no piano, Oscar Pettiford ao baixo e Kenny Clarke à bateria, conforme a “Discografia”),
onde foi calorosamente aplaudido.
Então teve início uma tuberculose pulmonar bilateral
que progressivamente aprofundou seu já delicado estado de saúde, levando-o à
internação em hospital para tratamento de 1963 até junho/1964 (já então
apresentava outra vez como quadro permanente a incapacidade de livrar-se do
álcool). Todavia teve muito apoio moral
e pessoal daquele que se tornou seu
amigo, Francis Paudras, “designer”, hospedeiro, acompanhante permanente com
quem morou, amante do JAZZ e,
mais tarde, autor da biografia de BUD POWELL (“LA
DANSE DES INFIFÈLES” conforme “Bibliografia”) que, inclusive, o
acompanhou no retorno aos Estados Unidos em 1964, com o acordo de que após
algumas apresentações em sua pátria BUD
POWELL retornaria a Paris com Francis.
Seu
retorno ao “Birdland” de New York foi triunfal, em uma apresentação seguida por
07 minutos de aplausos ininterruptos, mas a doença já não mais o deixou; habituou-se a desaparecer por largos
períodos, sendo que uma noite foi encontrado dormindo numa rua do Brooklin, em
frente a um hotel e ao lado de vagabundos.
A Baronesa Pannonica de
Koenigswarter, “Nica”, convidou BUD
para ficar em sua residência em New Jersey; BUD fugiu uma noite e perambulou sem rumo até ser encontrado em
Greenwich Village.
Aquí
um pequeno parênteses sobre “Nica”, amiga e benfeitora de muitos músicos de
JAZZ, para lembrar que ela foi
homenageada com inúmeros temas - “Pannonica”
foi título de tema de Thelonius Monk, assim como intitulou temas de Doug Watson
e de Donald Byrd, “Cats In My Belfry” foi da autoria de Barry Harris que também
compôs “Inca”, Sonny Rollins foi o autor de “Poor Butterfly”, “Blues For Nica”
é de Kenny Drew, “Nica” é de Sonny
Clark, “Nica’s Day” é de Wayne Horvitz, com
o título de “Nica’s Dream” Horace Silver compôs o magnífico tema para o qual a
cantora Dee Dee Bridgewater fez a letra, “Nica’s Tempo” é de Gigi Grice,
“Nica’s Steps Out” é da autoria de Freddie Redd, “Tonica” é de Kenny Dorham,
“Thelonica” é do grande Tommy Flanagan, “Weehawken Mad Pad” é do baterista Art
Blakey, sendo que Thelonius Monk compôs também em homenagem à Baronesa os temas “Bolivar Blues”, “Comming On The
Hudson” e “Little Butterfly” (com letra de Jon Hendricks): 20 temas que traduzem sua apreciação pelos
músicos de JAZZ ! ! !
Francis
Paudras, seu benfeitor, retornou a Paris sem BUD POWELL e comentava com seus amigos que “BUD POWELL não sentia mais gosto nem mesmo em tocar”.
BUD POWELL
participou do “Charlie Parker Memorial Concert”
(homenagem aos 10 anos do falecimento de “Bird”) no Carnegie Hall, New York,
em 1965, em piano.solo que ficou registrado em disco.
Sua derradeira gravação (BUD
POWELL ao piano, Scotty Holt no baixo e Rashied Ali à bateria), tem como
data 02/janeiro/1966 no “Town Hall” em New York.
Foi hospitalizado (“Kings County Hospital”, Brooklyn) em 17/julho/1966
vindo a falecer de pneumonia no dia 31/julho.
A Prefeitura local estimou em 5.000 a quantidade de pessoas que
saiu às ruas do Harlem para homenageá-lo, enquanto Lee Morgan e o grande
pianista e professor Barry Harris tocavam em sua memória.
Retornaremos nos próximos dias com o “Módulo III”
2 comentários:
Parabéns Pedro,
Por mais uma brilhante resenha de um grande astro do jazz.
Lembro-me de haver dado de presente ao nosso querido Mestre "Lula" Antunes, o LP "The Invisible Cage".
Uma pergunta:
O filme "Round Midnight" teve como "pano de fundo" a vida de Bud Powell ou, do próprio Dexter Gordon que o interpreta ?
Um abraço Mestre.
Obrigado
"Nels"
Estimado NELSON:
Interpretado por DEXTER GORDON (que se tornou candidato ao "Oscar" de melhor ator), o filme é totalmente calcado na saga de BUD POWELL, o que descrevo em próximo "módulo" quando foco o livro "LA DANSE DES INFIFÈLES" de Francis Paudras.
Abraços,
PEDRO CARDOSO
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