A importância histórica de gravar
Ko-Ko
feita por Charlie Parker em Nova York para Savoy Records em 1945, é que há uma opinião generalizada de que esta foi a primeira vez que o
estilo bebop foi gravado em um disco.
O bebop "nasceu"
antes, entre 1942 e 1944, porém a American Federation of Musicians havia proibido
seus membros de gravar devido a uma disputa trabalhista com as companhias
fonográficas.
Mais de meio século depois, em
2002, a Biblioteca do Congresso homenageu esta gravação Ko-Ko, incluindo-a no
Registro Nacional de Gravações.
Parker há muito procurava
desvendar a progressão harmônica da composição de Ray Noble - Cherokee, estudando-a em todas as claves ou tons,
improvisando sobre eles “ad nauseum”. Assim ele descobriu que usando os
intervalos superiores de um acorde como uma linha de melodia, e apoiando-a com
mudanças harmônicas apropriadas, poderia finalmente obter "o que estava
ouvindo em sua cabeça há algum tempo."
Surge, assim, Ko-ko,
que é baseado na progressão de acordes de Cherokee.
Esta é a gravação original. O solo de trompete é de Gillespie, mas é Parker que
domina o tema. (“rouba a faixa”)
Charlie Parker's Reboppers: Dizzy Gillespie (tp),
Charlie Parker (sa), Sadik Hakim (pi), Curly Russell (bx) e Max Roach (bat)
New York, 26/novembro/ 1945
(traduzido e adaptado do blog - Noticias
de Jazz de Pablo Aguirre)
Nota: (Glossário do Jazz - Mario Jorge Jacques)
KO-KO - estranho nome a que se referem 2
composições: uma de Duke Ellington, um blues clássico de 12 compassos da forma
AAB em tom menor, gravado em março de 1940 (Victor 26577). A magia desta peça
está nas harmonias dissonantes e o ritmo complexo. O tema de KO KO foi proposto
para a inacabada ópera Boola que objetivava detalhar a história do negro
norte-americano.
A outra composição titulada KO KO é uma versão do tema favorito de
Charlie Parker Cherokee de autoria de Ray Noble escrita ao final dos anos 30 e
basicamente de 32 compassos na forma AABA (Savoy – 916B).
A maioria dos temas bebop iniciam com uma seção que se ajusta
nitidamente sobre a progressão de acordes dos solos. KOKO em vez deste esquema
se inicia com uma elaborada introdução. O que se houve primeiro é uma linha
desenvolvida em oitavas pelo sax-alto de Parker e o trompete de Gillespie
apenas com acompanhamento pulsante no “snare drum” de Max Roach usando as
escovinhas. Os músicos estão improvisando harmonicamente sem nenhum senso de
progressão de acordes. Uma pontuação do bombo conclui a introdução. Max, então
troca as escovinhas pelas baquetas mantendo seu ataque no "ride cymbal" e,
inicia-se o solo de Parker por 2 choruses, na verdade 128 compassos de uma
clareza e virtuosidade simplesmente fenomenais, esmiuçando harmonicamente o
tema Cherokee. Os ritmos parecem desorientados não pelo tempo extraordinariamente
rápido, mas por causa dos acentos com constantes deslocamentos, por vezes nos "downbeats" e por vezes não. Segue-se o solo de Max Roach à bateria e o retorno a
Parker e Gillespie para a coda. O trompete de Gillespie se contenta com 8
compassos na introdução e 8 na coda, enfim a peça é inteiramente de Parker com
excelente apoio de Max Roach. O tempo total é de 2:58min e aos exatos 1:16min
há uma passagem histórica quando Parker faz uma citação de uma frase retirada
do solo de clarinete de George Lewis em Hight Society um clássico do Jazz de
New Orleans. Este histórico se dá pela lembrança de um dos gênios do Jazz moderno,
com sua conexão ao passado tradicional do jazz.
As KO KO são duas obras primas. Mas e a origem da
inusitada palavra?
Tudo leva a crer que se identifica com o coadjuvante de
Betty Boop o palhaço Ko Ko, integrantes de uma sequência de desenhos
cinematográficos (cartoons) muito populares na década de 1930. Os cartoons eram
produzidos por Max Fleischer para a Paramount Studios e a protagonista Betty
Boop era uma figurinha sex-appeal. Em um desses cartoons, intitulado I'll Be Glad When You're Dead You, Rascal
You aparece Louis Armstrong e a
banda executando a canção título.
3 comentários:
Maravilha Major - mostrou tudo uma aula sobre koko que é realmente uma obra prima do bebop e com todas as informações - beleza
Carlos Lima
Estimado MÁRIO JORGE:
A gravação de "KO KO" por PARKER (26/novembro/1945, New York, Estúdios WOR), é uma viagem bela e alucinante em seus 128 compassos.
PARKER gravou o tema em outras ocasiões posteriores (18/julho, 13, 20 e 29/setembro e 08/novembro/47, 04/setembro/48 e finalmente em 24/dezembro/49), com outras formações e em outros locais - uma delas inclusive para o "Metronome All Stars".
Mas a gravação de 1945 é a mais representativa da arte, da técnica, do "fwwling" e do domínio total de respiração e digitação de PARKER em seu instrumento.
PEDRO CARDOSO
Leia-se, claro, "feeling" onde digitei "fwwling".
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