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MORREU RUDY VAN GELDER

30 agosto 2016

Este artigo de Peter Keepnews foi publicado originalmente no New York Times em 25/8 p.p. e traduzido e adaptado para este blog.



Rudy Van Gelder foi um engenheiro de áudio cujo trabalho com Miles Davis e John Coltrane, além de inúmeros outros músicos, ajudou a definir o som do jazz em gravações, morreu na última quinta feira em sua casa (onde ficava também seu estúdio) em Englewood Cliffs, em Nova Jérsei, aos 91 anos de idade. Sua morte foi confirmada por sua assistente, Maureen Sickler.

Van Gelder, como sofria para explicar aos entrevistadores, era um engenheiro e não um produtor. Ele não estava encarregado das sessões que gravava; ele não contratava músicos ou desempenhava nenhum papel na escolha de repertórios. Mas era sua a última palavra no som dos discos e ele era, na visão de inumeráveis produtores, músicos e ouvintes, melhor nesse quesito do que qualquer outro.

Os vários álbuns que gravou para a Blue Note, para a Prestige, para a Impulse e outros selos nos anos '50 e '60 incluíram reconhecidos clássicos como “A Love Supreme”, de Coltrane, o “Walkin’” de Miles Davis, o “Maiden Voyage” de Herbie Hancock, o “Saxophone Colossus”, de Sonny Rollins e o “Song for My Father”, de Horace Silver.

Nos anos '70 trabalhou primordialmente para a CTI Records, o selo comercialmente mais bem sucedido do período, onde sua “discografia” incluiu álbuns estourados como o “What a Diff’rence a Day Makes” de Esther Phillips e “Mister Magic” de Grover Washington Jr.. “Acho que estou associado a mais gravações, tecnicamente falando, do que qualquer outra pessoa na história da indústria do disco”, disse Van Gelder ao The New York Times em 1988.

Van Gelder sempre relutou em revelar detalhes específicos sobre suas técnicas de gravação. Mas sempre teve claro seu objetivo: ele queria que os equipamentos eletrônicos pudessem captar perfeita e acuradamente o espírito humano, como disse a Marc Myers, do site JazzWax em 2012, e fazer com que os discos que gravava soassem “os mais calorosos e realistas possível”.

Dan Skea, do diário Current Musicology, observou em 2001 que, “enquanto gravações jazzísticas pareciam soar ao ouvinte como se vindo de alguma distância, Van Gelder descobriu maneiras de aproximá-los, capturando a música de perto, e assim trazer mais claramente as características jazzísticas e seu sentido de imediatismo”.

O próprio Rudy Van Gelder dizia: “Quando as pessoas falam dos meus discos, sempre dizem que a música tem ‘espaço’. Eu tentei reproduzir esse sentido de espaço na imagem geral do som”. E acrescentava: “Eu usei microfones específicos colocados em locais que permitiam aos músicos soarem como se estivessem tocando em distintos lugares da sala, o que de fato eles faziam. Isso criou essa sensação de dimensão e profundidade”.

Ele também se orgulhava de estar sempre no ápice da tecnologia de gravação. Ele foi um dos primeiros engenheiros nos EUA a usar microfones sofisticadíssimos, feitos pela empresa alemã Neumann (porque, dizia, um Neumann “podia capturar sons que outros microfones não conseguiam”). Foi um dos primeiros a usar a gravação magnética em fita e depois as gravações digitais.

Rudy interessou-se pelo jazz muito jovem. Tocava trompete - segundo suas próprias palavras, mal – ao mesmo tempo em que desenvolvia uma paixão paralela por tecnologia sonora. Aos 12 anos comprou um aparelho de gravação doméstico que incluía um prato e discos. No colégio,  tornou-se um radioamador iniciante.

Mas originalmente não acreditava que poderia sobreviver como técnico em gravações e freqüentou o Pennsylvania College of Optometry, na Filadelfia. “Achei que como oculista poderia adquirir a disciplina mental que precisaria e um salário estável depois que me formasse”, lembrava ele. Por mais de uma década trabalhou como oculista de dia e um engenheiro de gravação nas horas livres.

Trabalhava originalmente num estúdio montado na sala de seus pais em Hackensack, Nova Jérsei. Não foi senão em 1959 — quando então já tinha gravado alguns dos mais celebrados discos de jazz da história – que ele pode tornar a gravação técnica sua ocupação em tempo integral, mudando sua base de operações para um estúdio doméstico porém elaborado, que ele próprio projetou em Englewood Cliffs.

Segundo ele, nunca ganhou dinheiro como oculista, mas gastou-o todo nos equipamentos de gravação que usava.  Em 1952, depois de estar gravando discos de artistas locais e cantores em 78 r.p.m. por muitos anos, ele atraiu a atenção de Alfred Lion, da Blue Note Records, o selo de jazz então líder. Lion passou a usá-lo regularmente, e outras gravadoras rapidamente seguiram pelo mesmo caminho.

Van Gelder ficou conhecido não apenas por seu talento e técnica como engenheiro de som, mas também por seu crtico nível de exigência, exemplificada por sua insistência em usar luvas enquanto trabalhava. Como explicou em 2012, “eu era o cara encarregado de tudo – arrumar as cadeiras, passar os fios, posicionar os microfones, operar o console” e aí eu não queria manipular meus equipamentos caros e sofisticados com as mãos sujas”.

Diferente de muitos engenheiros de áudio, Rúdy Van Gelder se envolvia em todos os aspectos da fabricação dos discos, da preparação até a masterização, fase final do processo no qual a música gravada em fita era transferida para os discos através da impressão nestes. “Eu sempre quis estar no controle de toda a cadeia de gravação”, dizia, para aduzir “E porque não? Tinha meu nome ali”.

Em 1999 ele iniciou a remasterização de várias de suas sessões da Blue Note para CDs; o resultado foi lançado com muita fanfarra como Edições Rudy Van Gelder. Depois faria o mesmo para as suas gravações para a Prestige e a CTI.

Ele foi nomeado na categoria Jazz Master do prêmio do National Endowment for the Arts (N.E.A.) em 2009 e recebeu o prêmio de “Reconhecimento pela Carreira” da Recording Academy em 2012 e da Audio Engineering Society em 2013.

Quando soube que seria homenageado pela N.E.A. numa cerimônia em Nova Iorque, Van Gelder deu uma declaração: “penso em todos os grandes músicos de jazz que eu gravei através dos anos e que sorte eu tive que os produtores com quem eu trabalhava tivessem essa fé em mim, a ponto de trazê-los para serem gravados por mim”.


E acrescentou: “E aí eu pensei, vou ter de comprar um terno!”

3 comentários:

MARIO JORGE JACQUES disse...

Van Gelder, o grande mágico do som, suas gravações tem a perfeição dos sons produzidos pelos diversos instrumentos, não se nota um contrabaixo gravado baixo (sem trocadilho) ou um piano mal colocado sem presença que deveria ter. Quando produzo o podcast várias vezes tenho que equalizar trechos que ficam sem brilho ou mesmo apagados, claro não as gravações de Rudy. Seu estúdio maravilhoso continua com seu filho. Descanse em paz.

pedrocardoso@grupolet.com disse...

Estimado MauNah:

Excelente resumo do trabalho daquele que todos reverenciamos como o mais importante técnico de gravação (principalmente no JAZZ), o mais cuidadoso, o mais pesquisador, o mais perfeito, enfim, o melhor.
Com certeza o paraiso ficará muito bem servido para as gravações celestiais.

PEDRO CARDOSO

Carlos Tibau disse...

Amigo Major
Vamos esperar que ele tenha passado a herança do puro som para o filho.
Ele era inigualável. Lamento muito sua morte.
Abraço