PESQUISA E TEXTO POR
NELSON REIS
E – A “CASA DE LUZ” – “THE LIGHTHOUSE”
Assim como a fase “bop” criou verdadeiros celeiros de bons
músicos desse estilo em “night clubs”, como “Minton’s”, “Three Duces” e o
“Birdland”, muitos deles localizados na famosa Rua 52, em Nova York, o estilo
“West Coast” teve também seus vários redutos, na Califórnia. Casas como “Bill
Berg’s”, “The Blackhawk”, ”Zardy’s”, “The Haig”, “The Peacock” foram redutos de
vivificação do estilo. Todavia, as duas mais notáveis - não obstante o “The
Haig”, onde o quarteto sem piano de Mulligan apresentou-se pela primeira
vez -
foram o “Lighthouse” e o “Shelly’s
Manne Hole”.
A famosa “Casa de Luz”, mais conhecida como “The Lighthouse”, um velho farol
náutico em Hermosa Beach, na Califórnia, ficou como um símbolo físico do jazz
californiano, dos anos 50. Sendo criado pelo contrabaixista Howard Rumsey com o
apoio de John Levine, o Lighthouse Café, veio
a tornar-se cenário de grandes “jam sessions” e o “time da casa”, liderado por
Rumsey, ficou sendo conhecido como “The
Lighthouse Group” e, mais tarde “The
Lighthouse All Stars”.
Grandes figuras foram para lá se confraternizar musicalmente, como Miles Davis com Chet Baker (tp), Max Roach com Shelly Manne (bat) e Cannonball Aderley com Bob Cooper.(sax)
O contrabaixista Howard Rumsey nascido em 1917, estudou piano,
depois bateria e, finalmente, contrabaixo com o qual estreou na Orquestra de
Stan Kenton em 1941 a quem conhecera no “Mandarin Ballroom” em Redondo Beach em
1938, onde Stan Kenton atuava como pianista da Orquestra de Vido Musso.
A estreia com Stan Kenton, deu-se no “Palladium”, no sábado
véspera que antecede o ataque japonês em Pearl Harbour, tendo ido para New York
com Kenton para atuar no “Cinderella Ballroom”. Celebrizou-se na sua atuação
dessa orquestra através do tema “Concerto for a Doghouse”. Influenciado por
Jimmy Blanton em seu instrumento, volta em 1949 para Hermosa Beach, Califórnia,
após tournée em Baltimore e depois de ter ido trabalhar com Charlie Barnet e
Barney Bigard. Daí, conhece John Levine
e, propõe levantar o bar com “jam sessions” aos domingos à tarde. Foi um árduo
convencimento mas o sucesso que adveio dessa união foi grande e confiante a tal
ponto que jamais ambos assinaram um contrato.
F – O “SHELLY’S MANNE-HOLE”
Assim como Howard Rumsey conseguiu o apoio de John Levine,
Shelly Manne também conseguiu o de Rudy Onderwyser, para constituição de seu
“night club”.
A maioria dos clubes como o The Haig, Billy Berg’s, The
Peacock e o Zardy’s, em 1960, já haviam
desaparecido. Basicamente, restavam o “Lighthouse”, o “Renaissance” e o “The
Summit” e “Shelly Manne & his Men” faziam sucesso havia 5 anos, no topo da
lista de popularidade, mas só faltava ao “patrão” uma sede. Marcou um jantar
com Rudy e, como resultado, a dupla constituiu o melhor clube de jazz da Costa
Oeste, depois do “Lighthouse”.
Ali vão desfilar todos os maiores expoentes do jazz e,
inclusive, a estreia em território norte-americano do niteroiense Sergio
Mendes. Este celeiro irá abrigar nomes como Stan Getz em 64, Wes Montgomery em
66, Eddie Harris em 68 e Roberta Flack em 1970, para citar apenas alguns.
Todavia, Shelly guardou boas lembranças e também penosas,
como foi a morte de seu trompetista Joe Gordon em um incêndio e do tenorista
Joe Maini que suicidou fazendo “roleta russa” e Shelly Manne que teve a
desagradavel tarefa ao ser chamado para identificar o corpo.
Mas o declínio do clube estava a caminho, porque os estúdios
do império do milionário Wally Heider gravavam rockn’roll 24 horas por dia, que
ficava ao lado do “Manne’s Hole e, não havia como manter um trio de jazz que só
tinha música acústica e estava com dificuldade de ser ouvido, portanto não teve
como renovar um contrato numa casa em tais condições. A maior parte do ano de 1972 foi dedicada à
procura de uma nova localização para o “Manne-Hole”, mas o custo dos aluguéis
estava proibitivo e até o próprio Lighthouse já convidara Manne e seu grupo
para se reinstalarem naquela casa. Mas, Shelly não via mais condições de retornar a Hermosa Beach e, no
outono de 1972, após 12 anos de existência, o Shelly’s Manne Hole fechou as
portas.
(continua na próxima semana)
4 comentários:
Bela sequência sobre a saga do "WC", muito mais que um estilo, uma epopéia de bom gosto e de encontros musicais fascinantes.
À distância deliciava-nos com cada lançamento que aportava em nossa terrinha, enquanto nos USA a história ia acontecendo.
Época dourada, plena de MÚSICA.
PEDRO CARDOSO
mais uma ótima aula sobre a west coast belo trabalho Nelson
Carlos Lima
Amigo Nelson
Obrigado pela série de matérias sobre o West Coast. Parabéns pelos textos e pela pesquisa. Já copiei e anexei nos meus arquivos estas aulas. Parabéns.
Forte abraço
Amigos,
Obrigado "pela força", porque como vocês sabem este e qualquer outra matéria, que envolve aspectos ou épocas do nosso jazz, não cabem num "simples artigo" de um blog. Os assuntos são vastos, mas tentamos fazer uma síntese dos fatos e principais aspectos que cercaram um período em que - posso dizer - infiltrei-me na senda do jazz (1953 /4)e quando vivificava este estilo.
Foi um período de pouco mais de 10 anos, mas uma corrente de forte contribuição ao "mundo do jazz)
A todos, o meu Muito Obrigado. E, VAMOS MANTER O JAZZ VIVO.
Abçs.
"Nels"
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