Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

PEQUENA HISTÓRIA DO “WEST COAST JAZZ” (1a parte)

15 março 2016


PESQUISA E TEXTO POR NELSON REIS

A – O AMBIENTE
O dramático declínio do “swing” dá-se ao final de 1946, início de 1947. Assim, Benny Goodman, Woody Herman, Artie Shaw, Tommy Dorsey, Les Brown, Harry James, Jack Teagarden, Benny Carter, dentre outros, dissolveram suas bandas, ou nunca mais se recuperaram com a mesma grandeza.
Foi um forte colapso que implicou na criação de pequenos grupos, egressos dessas orquestras. Eram músicos notáveis, vindos – especialmente - de Woody Herman, Benny Goodman e Stan Kenton. Este último ainda se aguentou um pouco mais, graças à hipotecação de seus direitos autorais e, uma mudança em seu idioma no “avant garde”, vindo um pouco mais tarde também a se dissolver. Resistiram, heroica e posteriormente, as de Ellington e de Basie  que vieram a se tornar “instituições”, pós-morte de seus líderes, sob conduta de Mercer Ellington e Frank Foster, respectivamente.
O “bebop” ou “bop”, gerado nas sessões “after hours” de um Minton’s Club, com gente do calibre de Thelonious Monk, Bud Powell, Charlie Parker e Dizzy Gillespie, não tinha grande massa de público e, o jazz voltara ao seu nascedouro de caráter intimista, longe dos grandes clubes noturnos e “ballrooms”. A velhice dos anos 30 ficou deprimida com a nova linguagem e, grande parte dos “músicos de swing” foi emigrando para a Europa.
Dá entrada nesse cenário a “escola cool”, trazida pelos apelidados “músicos cerebrais”.
Com isso, o ambiente dos camarins viu mudar “do carteado” para “gente que lia Proust e/ou jogava xadrez”, nos intervalos. Mudara o ambiente musical nos anos 50.
A debandada nas direções “East and West” coasts (Nova York e Califórnia), largara para trás todo “o antigo” de Nova Orleans, Chicago ou Kansas City e, as ideias de Miles Davis e Gerry Mulligan surgidas com “octetos”, “nonetos” e “tentetos” apoiados por trompa e tuba, em ensambles, toma um lugar de destaque. Os pensamentos eruditos de John Lewis, Lennie Tristano e Dave Brubeck, infiltram-se na linguagem jazzística. Mulligan e Davis produziriam com Gil Evans “coisas mais estruturadas” dentro desse novo conceito egresso de  “um idioma bop febril” numa “partitura de escol”
É o “ Cool Jazz “, matriz do “estilo West Coast”
B – O NASCITURO
Em 8 de Abril de 1951, entra num estúdio na Califórnia um grupo de músicos de origem branca, tendo somente o pianista como um afro-descendente. São capitaneados, musicalmente, por um trompetista de baixa estatura física e, que por isso, tem o tratamento carinhoso, entre eles, de “Shorty”.
Milton Michael Rojonski, conhecido no meio musical jazzístico como “Shorty” Rogers, nascido em 14/4/1924, natural de Massachusets, iniciou sua carreira em Nova York, juntamente com um dos que agora se faz acompanhar no estúdio o sax-tenorista Jimmy Giuffre, foram alunos do Dr. Wesley La Violette (1) que funcionou como um guru, para ambos.
Estão com eles, no estúdio, o sax-alto Art Pepper, o trompista John Graas, o tubista Gene Englund e uma seção rítmica com Hampton Hawes ao piano, Don Bagley ao contrabaixo e Shelly Manne à bateria. Nessa ocasião, o grupo é batizado como Shorty Rogers & seus Gigantes (“Shorty Rogers & his Giants”). Era algo semelhante, em sonoridade, ao que fizera Miles Davis e Gerry Mulligan, em 1949, quando da gravação do famoso álbum “The Birth of the Cool”. Ou seja, além dos sopros da estante da frente, havia uma tuba lá atrás que lembra um pouco, fisicamente, aquelas antigas formações de retratos de grupos, dos primórdios do jazz da Lousiana nos “saloons’, antes do advento da praticidade do trombone (tailgate) (2)
C – “MODERN SOUNDS” (“Sons Modernos”, “Sonidos Modernos”, etc..)
Esta sessão de gravação, editada mundo afora posteriormente, inclusive no Brasil, em LP, foi o berço do que veio a se caracterizar como o “estilo West Coast”. É o balizamento da criação do estilo. As criações de Rogers e Giuffre como as peças: POPO, A PROPOS, DIDI, SAM AND THE LADY e FOUR MOTHERS e, a orquestração de OVER THE RAINBOW, vão para o mercado de discos em janeiro de 1952.
Como diria Gene Norman em seu programa radiofônico de jazz:
“Modern Sounds “ se mostra uma força vital na música americana de hoje, apesar de uma torrente de pragas que caem sobre ela. Sob a direção de eleitos que reivindicam e praticam sua arte com uma sincera convicção e com irrefutáveis qualidades musicais, “Modern Sounds “expõe um repertório impressionante, amplamente original e profundamente excitante, principalmente para o ouvido capaz de degustar suas nuances [...]. Acabaram as audições de improvisações onde cada um se contenta em improvisar seu solo. [...] Tudo aqui é cuidadosamente concebido e executado, mesmo se tudo não for realmente escrito”
A integração das partes improvisadas dentro da escrita e a escolha de solistas mostra o que “Modern Sounds“ tem em comum com Miles Davis em “The Birth of the Cool”. O que separa essas obras essenciais na história do jazz, é a personalidade de Shorty. Seu espírito bem humorado é o que dista das sonoridades de Gil Evans. O sax de Art Pepper em OVER THE RAINBOW mostra isso.
As passagens polifônicas de “SAM AND THE LADY” é uma proeza para a época. Do ponto de vista estético, é uma verdadeira virada na carreira de Shorty e, Miles Davis é apenas um catalizador.
Apesar de sua digitação e fraseado de trompete ser uma herança de Roy Eldridge e Bobby Hackett, Shorty nutre admiração por Miles. A sua admiração pela obra de Count Basie e a perfeição atingida com a ajuda junto a seu cunhado, Red Norvo, determinam como uma contribuição às suas inovações de arranjador. Sua experiência adquirida no primeiro rebanho de Woody Herman, onde predominou um “swing” à caminho do “bop”, farão, com a ajuda de Red Norvo o embasamento de sua carreira como arranjador de orquestra.
Gostaríamos de aqui frisar, que as 6 faixas de “Modern Sounds”  são – no disco da Capitol de que temos conhecimento e posse  -  apresentadas no “lado A” do LP, com outras 6 do tenteto de Gerry Mulligan no “lado B”. Mas, ao que se sabe, as faixas de Rogers foram prensadas, originalmente, em um único disco de 10 polegadas, quando de sua inicial divulgação, que nunca tivemos oportunidade de conhecer, no entanto, o disco com os dois é apresentado com o título:
“ Gene Norman presents Gerry Mulligan / Shorty Rogers − MODERN SOUNDS”.
A capa de encarte em 12 polegadas foi a mesma no mundo todo, apresentando Mulligan e Rogers. Em certo casos, no idioma local. Na Argentina, por exemplo, (graças ao nacionalismo de Perón) “Gene Norman presenta Gerry Mulligan / Shorty Rogers  “SONIDOS MODERNOS”.(vide ilustração)
(continua na próxima semana)
                                 

(1)     Wallace Wesley LaViolette (*4 de janeiro de 1894 Saint James, Minnesota;.. 29 de julho de 1978, Escondido, Califórnia) foi um compositor, musicólogo, realizava palestras e também era um poeta. Como educador, orientou Shorty Rogers, Jimmy Giuffre, John Graas, George Perle, Florence Price, Bob Carter, Bob Florence, John Graas, Robert Erickson, dentre outros. Laviolette foi uma figura importante na cena do jazz west coast na década de 1950.

(2)     A palavra teve origem devido à colocação dos trombonistas sempre na parte traseira (tailgate) das band-waggons (carroças) que desfilavam pelas ruas, dado que o esticar da vara incomodaria os outros músicos e o trombonista ficava atrás e virado para fora da carroça. Assim desfilavam com as fanfarras e depois com as bandas de Jazz pelas ruas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ao entrar no blog esta manhã para ver alguma novidade me deparei com esta excelente matéria sobre a WC, uma aula, parabéns Nelson e aguardo os próximos capítulos.
Carlos Lima

Anônimo disse...

Grande NELSON:

Material de primeira, tanto histórica quanto sentimentalmente (para todos aqueles que se deliciaram e se deliciam com o "WC").
Toda uma época de criação, transformação e ampliação das fronteiras do JAZZ, com músicos de formação musical superior.
Aguardamos as próximas postagens, com certeza plenas de "história musical", dessa corrente que nos legou uma herança ímpar.

PEDRO CARDOSO