PESQUISA E TEXTO POR
NELSON REIS
A – O AMBIENTE
O
dramático declínio do “swing” dá-se ao final de 1946, início de 1947. Assim,
Benny Goodman, Woody Herman, Artie Shaw, Tommy Dorsey, Les Brown, Harry James,
Jack Teagarden, Benny Carter, dentre outros, dissolveram suas bandas, ou nunca
mais se recuperaram com a mesma grandeza.
Foi
um forte colapso que implicou na criação de pequenos grupos, egressos dessas
orquestras. Eram músicos notáveis, vindos – especialmente - de Woody Herman,
Benny Goodman e Stan Kenton. Este último ainda se aguentou um pouco mais,
graças à hipotecação de seus direitos autorais e, uma mudança em seu idioma no
“avant garde”, vindo um pouco mais tarde também a se dissolver. Resistiram,
heroica e posteriormente, as de Ellington e de Basie que vieram a se tornar “instituições”,
pós-morte de seus líderes, sob conduta de Mercer Ellington e Frank Foster,
respectivamente.
O
“bebop” ou “bop”, gerado nas sessões “after hours” de um Minton’s Club, com
gente do calibre de Thelonious Monk, Bud Powell, Charlie Parker e Dizzy
Gillespie, não tinha grande massa de público e, o jazz voltara ao seu
nascedouro de caráter intimista, longe dos grandes clubes noturnos e
“ballrooms”. A velhice dos anos 30 ficou deprimida com a nova linguagem e,
grande parte dos “músicos de swing” foi emigrando para a Europa.
Dá
entrada nesse cenário a “escola cool”, trazida pelos apelidados “músicos
cerebrais”.
Com
isso, o ambiente dos camarins viu mudar “do carteado” para “gente que lia
Proust e/ou jogava xadrez”, nos intervalos. Mudara o ambiente musical nos anos
50.
A
debandada nas direções “East and West” coasts (Nova York e Califórnia), largara
para trás todo “o antigo” de Nova Orleans, Chicago ou Kansas City e, as ideias
de Miles Davis e Gerry Mulligan surgidas com “octetos”, “nonetos” e “tentetos”
apoiados por trompa e tuba, em ensambles, toma um lugar de destaque. Os
pensamentos eruditos de John Lewis, Lennie Tristano e Dave Brubeck,
infiltram-se na linguagem jazzística. Mulligan e Davis produziriam com Gil
Evans “coisas mais estruturadas” dentro desse novo conceito egresso de “um idioma bop febril” numa “partitura de
escol”
É
o “ Cool Jazz “, matriz do “estilo West Coast”
B – O NASCITURO
Em
8 de Abril de 1951, entra num estúdio na Califórnia um grupo de músicos de
origem branca, tendo somente o pianista como um afro-descendente. São
capitaneados, musicalmente, por um trompetista de baixa estatura física e, que
por isso, tem o tratamento carinhoso, entre eles, de “Shorty”.
Milton
Michael Rojonski, conhecido no meio musical jazzístico como “Shorty” Rogers,
nascido em 14/4/1924, natural de Massachusets, iniciou sua carreira em Nova
York, juntamente com um dos que agora se faz acompanhar no estúdio o sax-tenorista
Jimmy Giuffre, foram alunos do Dr. Wesley La Violette (1) que funcionou como um
guru, para ambos.
Estão
com eles, no estúdio, o sax-alto Art Pepper, o trompista John Graas, o tubista
Gene Englund e uma seção rítmica com Hampton Hawes ao piano, Don Bagley ao
contrabaixo e Shelly Manne à bateria. Nessa ocasião, o grupo é batizado como
Shorty Rogers & seus Gigantes (“Shorty Rogers & his Giants”). Era algo
semelhante, em sonoridade, ao que fizera Miles Davis e Gerry Mulligan, em 1949,
quando da gravação do famoso álbum “The Birth of the Cool”. Ou seja, além dos
sopros da estante da frente, havia uma tuba lá atrás que lembra um pouco,
fisicamente, aquelas antigas formações de retratos de grupos, dos primórdios do
jazz da Lousiana nos
“saloons’, antes do advento da praticidade do trombone (tailgate) (2)
C – “MODERN SOUNDS” (“Sons Modernos”, “Sonidos
Modernos”, etc..)
Esta
sessão de gravação, editada mundo afora posteriormente, inclusive no Brasil, em
LP, foi o berço do que veio a se caracterizar como o “estilo West Coast”. É o
balizamento da criação do estilo. As criações de Rogers e Giuffre como as
peças: POPO, A PROPOS, DIDI, SAM AND THE
LADY e FOUR MOTHERS e, a orquestração de OVER THE RAINBOW, vão para o mercado de discos em janeiro de 1952.
Como
diria Gene Norman em seu programa radiofônico de jazz:
−
“Modern Sounds “ se mostra uma força
vital na música americana de hoje, apesar de uma torrente de pragas que caem
sobre ela. Sob a direção de eleitos que reivindicam e praticam sua arte com uma
sincera convicção e com irrefutáveis qualidades musicais, “Modern Sounds “expõe um repertório impressionante, amplamente
original e profundamente excitante, principalmente para o ouvido capaz de
degustar suas nuances [...]. Acabaram as audições de improvisações onde cada um
se contenta em improvisar seu solo. [...] Tudo aqui é cuidadosamente concebido
e executado, mesmo se tudo não for realmente escrito”
A
integração das partes improvisadas dentro da escrita e a escolha de solistas
mostra o que “Modern Sounds“ tem em
comum com Miles Davis em “The Birth of
the Cool”. O que separa essas obras essenciais na história do jazz, é a
personalidade de Shorty. Seu espírito bem humorado é o que dista das
sonoridades de Gil Evans. O sax de Art Pepper em OVER THE RAINBOW mostra isso.
As
passagens polifônicas de “SAM AND THE
LADY” é uma proeza para a época. Do ponto de vista estético, é uma
verdadeira virada na carreira de Shorty e, Miles Davis é apenas um catalizador.
Apesar
de sua digitação e fraseado de trompete ser uma herança de Roy Eldridge e Bobby
Hackett, Shorty nutre admiração por Miles. A sua admiração pela obra de Count
Basie e a perfeição atingida com a ajuda junto a seu cunhado, Red Norvo,
determinam como uma contribuição às suas inovações de arranjador. Sua
experiência adquirida no primeiro rebanho de Woody Herman, onde predominou um
“swing” à caminho do “bop”, farão, com a ajuda de Red Norvo o embasamento de
sua carreira como arranjador de orquestra.
Gostaríamos
de aqui frisar, que as 6 faixas de “Modern
Sounds” são – no disco da Capitol de
que temos conhecimento e posse - apresentadas no “lado A” do LP, com outras 6
do tenteto de Gerry Mulligan no “lado B”. Mas, ao que se sabe, as faixas de
Rogers foram prensadas, originalmente, em um único disco de 10 polegadas,
quando de sua inicial divulgação, que nunca tivemos oportunidade de conhecer, no
entanto, o disco com os dois é apresentado com o título:
“ Gene
Norman presents Gerry Mulligan / Shorty Rogers − MODERN SOUNDS”.
A
capa de encarte em 12 polegadas foi a mesma no mundo todo, apresentando
Mulligan e Rogers. Em certo casos, no idioma local. Na Argentina, por exemplo,
(graças ao nacionalismo de Perón) “Gene Norman presenta Gerry Mulligan / Shorty
Rogers “SONIDOS MODERNOS”.(vide
ilustração)
(continua na próxima semana)
(1) Wallace Wesley LaViolette (*4 de janeiro de
1894 Saint James, Minnesota;.. † 29
de julho de 1978, Escondido, Califórnia) foi um compositor, musicólogo,
realizava palestras e também era um poeta. Como
educador, orientou Shorty Rogers, Jimmy Giuffre, John Graas, George Perle,
Florence Price, Bob Carter, Bob Florence, John Graas, Robert Erickson, dentre
outros. Laviolette foi
uma figura importante na cena do jazz west coast na década de 1950.
(2) A palavra teve origem devido à colocação
dos trombonistas sempre na parte traseira (tailgate) das band-waggons
(carroças) que desfilavam pelas ruas, dado que o esticar da vara incomodaria os
outros músicos e o trombonista ficava atrás e virado para fora da carroça.
Assim desfilavam com as fanfarras e depois com as bandas de Jazz pelas ruas.
2 comentários:
Ao entrar no blog esta manhã para ver alguma novidade me deparei com esta excelente matéria sobre a WC, uma aula, parabéns Nelson e aguardo os próximos capítulos.
Carlos Lima
Grande NELSON:
Material de primeira, tanto histórica quanto sentimentalmente (para todos aqueles que se deliciaram e se deliciam com o "WC").
Toda uma época de criação, transformação e ampliação das fronteiras do JAZZ, com músicos de formação musical superior.
Aguardamos as próximas postagens, com certeza plenas de "história musical", dessa corrente que nos legou uma herança ímpar.
PEDRO CARDOSO
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