Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

21 setembro 2015


Série   PIANISTAS  DE  JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
18ª Parte

(23)     ELMO HOPE   -   Escutando Bud Powell          (Resenha longa)

Elmo Sylvester Hope, ELMO HOPE, pianista, compositor e arranjador norte-americano, nasceu (27/junho/1923) e faleceu (19/maio/1967) em New York.
Filho de pais das Antilhas (Simon e Gertrude Hope), com muitos irmãos, iniciou seus estudos e práticas no piano com 07 anos de idade, voltado para a  música clássica com a qual venceu concurso de piano.solo com 15 anos e com base na qual dava recitais.
Foi amigo de infância de ninguém menos que Bud Powell, com quem estudava, tocava e ouvia horas a fio JAZZ e música clássica, sendo ambos contemporâneos e companheiros de Thelonius Monk.
Foi estudante na “Benjamin Franklin High School” até completar 17 anos, ainda residente na Madison Avenue para depois deixar o Harlem, certo de que seu lugar seria o “centro” da ilha, a então capital do JAZZ.
Aquí abrimos um parênteses para o que poderia ter sido uma morte ainda mais prematura do então jovem ELMO HOPE, já que ele com 17 anos e por milagre sobreviveu aos tiros efetuados por um grupo de  políciais de New York;  foi levado para o “Sydenham Hospital” onde os médicos constataram que uma das balas por milímetros não atingira sua espinha dorsal.   Após 06 semanas de internação ele saiu do hospital diretamente para um tribunal, acusado de “agressão, tentativa de roubo e violação da Lei Sullivan”, com os policiais envolvidos testemunhando que ELMO HOPE fora parte de um grupo de cinco envolvidos em um assalto;   ele declarou que estava no local e fugiu com muitos outros transeuntes depois que os policiais começaram a atirar, sendo atingido ao entrar em um beco;   ocorre que nenhum dos outros quatro “assaltantes” e tampouco as três “vítimas” brancas jamais foram identificados pelos policiais;  o advogado de HOPE descreveu a ação policial como um “ultraje” e as acusações como acobertamento e o Juiz absolveu HOPE de todas as acusações.
ELMO HOPE tornou-se pianista de orquestras de baile e em botecos (“speak easys”) marcando presença desde o Bronx até Coney Island,  fez parte de octeto liderado pelo trumpetista Eddie Robinson em 1947 e no período de 1948/1951 (com intervalo no qual esteve no exército americano) e com o surgimento do “bebop” é empregado na banda de Joe Morris que, se por um lado garante-lhe sustento e projeção, por outra parte o afasta por momentos de New York, já que a banda realizou apresentações em “ballrooms” e clubes, excursionando por todo o território americano, além de realizar muitas gravações.
Em New York e segundo testemunho do saxofonista Johnny Griffin, muitos músicos [ 13 ]viviam praticando e aprendendo na casa de Monk no Harlem ou na de ELMO HOPE no Bronx, ouvindo Charlie Parker e Dizzy Gillespie, montando e decifrando harmonias, com ELMO sempre pronto a tirar as dúvidas.
Em 06/março/1943 e em vias de completar 20 anos, já casado (o casal havia perdido 01 filho) HOPE alistou-se no exército americano, então envolvido na IIª Guerra Mundial.     Os termos do alistamento o definiam como “solteiro e com dependentes” e  sua permanência até quando durasse o conflito e mais 06 meses.
Retornando a New York em meados dos anos 1950 ele gravou como “sideman” para diversos músicos então em evidência, ai incluídos John Coltrane, Lou Donaldson, Clifford Brown, Sonny Rollins e Jackie McLean;   uma dessas gravações, de 1953,  despertou a atenção do produtor Alfred Lion que em uma semana supervisionou a   gravação de estreia como líder de ELMO HOPE (“Elmo Hope Trio”, álbum de 10 polegadas), ao lado de Percy Heath no baixo e  de Philly Joe Jones na bateria.    A sessão de gravação rendeu a ELMO HOPE cerca de 01 ano após, o álbum "Elmo Hope Quintet, Volume 2".
Em agosto de 1954 ELMO HOPE gravou para o selo Prestige o álbum “Moving Out” (liderado por Sonny Rollins), assinando contrato com essa etiqueta  em 1955 e gravando os álbuns “Meditations” em trio e “Jazz Informal”, secundado por Donald  Byrd, Em janeiro de 1956 HOPE gravou com com Jackie McLean (álbum “Lights Out!), este então em ascensão e protagonizou  logo após episódio bizarro ao deixar o estúdio onde deveria gravar com Gene Ammons;  disse que visitaria uma tia no hospital, mas todos sabiam que o problema era a maldita droga pois, a essa altura ELMO HOPE já era usuário de heroína, tendo sido em 1956 condenado por posse e como usuário de drogas, tendo a licença cassada (“New York Cabaret Card”), sendo proibido de atuar em clubes de New York;    excursionou com Chet Baker e foi  para a Costa Oeste (Los Angeles) em 1957, alí residindo por, para ele que criara raízes em New York, longos 04 anos, ainda que com colaborações interessantes como, por exemplo, com Harold Land, que no  “Jazz Workshop” de San Francisco de 1957 o apreciou acompanhando Sonny Rollins, Scot LaFaro e Lennie McBrowne, decidindo contratá-lo assim como a toda a seção rítmica, com eles cumprindo temporada no “Cellar” de Vancouver.
ELMO HOPE gravou com Harold Land, montou e gravou com grupo próprio (ele mais Stu Willianson, Leroy Vinegar e Frank Butler) e assumiu nova formação com Jack Sheldon e Pepper Adams.
Em 1959 HOPE gravou em quinteto o álbum “The Fox”, com 04 temas de sua autoria (além do álbum “Elmo Hope Trio”) que, segundo o crítico e historiador David Rosenthal, eram uma clara ilustração do alto patamar musical desenvolvido pelo pianista na Costa Oeste.    O álbum “Elmo Hope Trio” recebeu da revista “Down Beat” a rara apreciação de 05 estrelas, afirmando que a estética de HOPE continha uma melancolia agridoce que aparenta influir no cerne de outros músicos de JAZZ.
Em 1960 conhece a pianista Bertha Rosemond (mais tarde Bertha Hope sua segunda e definitiva esposa), com quem gravou em 1961 “Hope-Full”.
Até então e descontadas as apreciações dos álbuns de 1959, diversos críticos opinavam que ELMO HOPE ofuscava sua carreira gravando com muitos músicos “emergentes” (artigo de 1976 do “Buffalo Jazz”, por exemplo), enquanto outros  afirmavam que sua individualidade extremamente complexa e sutil tanto na técnica de tocar quanto na de compor, ultrapassavam o virtuosismo predominante no “bebop” em curso.
HOPE gravou ainda em quinteto com Curtis Counce e foi contratado por Lionel Hampton para apresentação no”Moulin Rouge” de Hollywood.
A carreira do pianista foi interrompida em diferentes ocasiões, em consequência de prisões pela posse e uso de narcóticos, levando Orrin Keepnews do selo Riverside a aconselhá-lo a que retornasse para New York, o que efetivamente ocorreu em 1961, quando HOPE retornou com a mulher e sua pequena filha, passando a gravar seguidamente em diversos formatos (trio, sexteto) com Blue Mitchell, Frank Foster, Jimmy Heath, Percy Heath e Philly Joe Jones.
Com a saúde acusando problemas a atividade de ELMO HOPE foi sendo reduzida, mas reencontrou  Curtis Counce para substituir Carl Perkins.
Em junho/1961 HOPE integrou quinteto que incluía o trumpetista Freddie Hubbard, além de gravar  nessa  época 04 álbuns ("Here's Hope!", "High Hope!", "Homecoming!" e "Hope Full"), que incluem piano.solo e duetos com a esposa (ela também ao piano).    Em 1963 gravou em sexteto o álbum "Sound From Rikers Island (referência ao complexo prisional de New York, onde todos os músicos participantes da gravação já haviam cumprido pena ! ! !).
Havia  gravado no final de 1962 com Jackie McLean, liderou trio em 1963 (Ray Jenney no baixo e Lex Humphrie à bateria), em 1964 seu trio apresentava John Ore no baixo e Billy Higgins na bateria, prosseguiu em 1965 liderando trio e quarteto, mas os anos de droga cobravam altos juros e até o final da carreira apresentou-se com baixíssima frequência, culminando em 1966 com sua derradeira apresentação, no “Judson Hall” de New York.
HOPE foi HOPE foiHOHhospitalizado com pneumonia em 1967, falecendo em poucas semanas e deixando esposa com 31 anos e 03 fillhos (uma filha, Monica Hope, tornou-se cantora de JAZZ).
O estilo de ELMO HOPE foi fortemente influenciado pelo blues e pela tradição, com emprego de harmonias dissonantes, linhas melódicas e frases em contraste (delicadeza + contraste + ousadia), tons muitas vezes “sombrios”, mudanças de acordes nas introduções e com senso de tempo muito pessoal do que resultava imprevisibilidade na colocação das notas (avanço ou retardamente em relação às batidas).   Em muitos momentos ele nos lembra Bud Powell.
Enquanto compositor HOPE legou-nos algumas belezas enigmáticas entre suas mais de 70 composições: "Minor Bertha", “One Down”, “Barfly” e “Tranquility” são  exemplos de sua complexa criatividade.
Com certeza a tríade ELMO HOPE, Bud Powell e Thelonius Monk constituíram um claro “ponto-de-partida” para os pianistas iniciantes das décadas de 1960/1970/1980:   Lafayette Gilchrist, Alexander Hawkins, Frank Hewitt e Hasaan Ibn Ali, assim como para músicos de outros instrumentos (por exemplo, o guitarrista Kurt Rosenwinkel).
A pianista e esposa Bertha Hope casou-se mais tarde com o contrabaixista Walter Booker e juntos criaram em 1999 o grupo "Elmollenium" que apresentava composições de ELMO, segundo ela poucas,  uma vez que muitas delas perderam-se em incêndio no apartamento que possuíam no Bronx.  
A discografia de ELMO HOPE não é extensa, até pelo seu pouco tempo de atividade em função de morte prematura, mas a seguir listamos uma relação compacta incluindo álbuns em que ele lidera e outros em que é “sideman”.
1953           Elmo Hope Trio                              Blue Note       Líder
1953           New Faces New Sound                    Blue Note
1954           Elmo Hope Quintet                         Blue Note      Líder
1955           Elmo Hope Trio                               Prestige         Líder
1955           Elmo Hope / Frank Foster Quintet  Prestige         Co-líder 
1956           Elmo Hope All Stars Sextet            Prestige         Líder
1957           Elmo Hope Quintet                          Pacific J       Lider
1959           Elmo Hope Trio  -  The Fox            HiFi Jazz      Líder
1961           Elmo Hope Sextet                            Riverside     Líder
1961           Elmo Hope Trio                               Riverside      Líder
1961           Elmo Hope / Bertha Hope               Riverside      Co-líder
1961           Elmo Hope Trio                               Beacon         Líder
1963           Elmo Hope Ensemble                      Audio Fidelity      Líder
1966           Elmo Hope Trio                               OJC              Líder
1966           Elmo Hope Trio                               OJC              Líder
Prosseguiremos  nos  próximos  dias

Um comentário:

MARIO JORGE JACQUES disse...

Polícia é sempre a mesma coisa em todos os lugares e em todos os tempos. Viva o Elmo que conseguir se safar das balas e da injusta acusação. Ótima resenha Pedro. Grande abraço