Série “PIANISTAS DE
JAZZ”
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
18ª Parte
(23) ELMO
HOPE -
Escutando Bud Powell (Resenha longa)
Elmo Sylvester Hope, ELMO HOPE, pianista, compositor e arranjador norte-americano,
nasceu (27/junho/1923) e faleceu (19/maio/1967) em New York.
Filho de pais das Antilhas (Simon e Gertrude Hope), com
muitos irmãos, iniciou seus estudos e práticas no piano com 07 anos de idade,
voltado para a música clássica com a
qual venceu concurso de piano.solo com 15 anos e com base na qual dava recitais.
Foi amigo de infância de ninguém menos que Bud Powell,
com quem estudava, tocava e ouvia horas a fio JAZZ e música clássica, sendo
ambos contemporâneos e companheiros de Thelonius Monk.
Foi estudante na “Benjamin Franklin High School” até
completar 17 anos, ainda residente na Madison Avenue para depois deixar o
Harlem, certo de que seu lugar seria o “centro” da ilha, a então capital
do JAZZ.
Aquí abrimos um parênteses para o que poderia ter sido
uma morte ainda mais prematura do então jovem ELMO HOPE, já que ele com 17 anos e por milagre sobreviveu aos
tiros efetuados por um grupo de políciais
de New York; foi levado para o “Sydenham
Hospital” onde os médicos constataram que uma das balas por milímetros não
atingira sua espinha dorsal. Após 06
semanas de internação ele saiu do hospital diretamente para um tribunal,
acusado de “agressão, tentativa de roubo e violação da Lei Sullivan”, com os
policiais envolvidos testemunhando que ELMO
HOPE fora parte de um grupo de cinco envolvidos em um assalto; ele declarou que estava no local e fugiu com
muitos outros transeuntes depois que os policiais começaram a atirar, sendo atingido
ao entrar em um beco; ocorre que nenhum
dos outros quatro “assaltantes” e tampouco as três “vítimas” brancas jamais
foram identificados pelos policiais; o
advogado de HOPE descreveu a ação
policial como um “ultraje” e as acusações como acobertamento e o Juiz absolveu HOPE de todas as acusações.
ELMO HOPE tornou-se pianista de orquestras de baile e em botecos
(“speak easys”) marcando presença desde o Bronx até Coney Island, fez parte de octeto liderado pelo trumpetista
Eddie Robinson em 1947 e no período de 1948/1951 (com intervalo no qual esteve
no exército americano) e com o surgimento do “bebop” é empregado na banda de
Joe Morris que, se por um lado garante-lhe sustento e projeção, por outra parte
o afasta por momentos de New York, já que a banda realizou apresentações em
“ballrooms” e clubes, excursionando por todo o território americano, além de
realizar muitas gravações.
Em New York e segundo
testemunho do saxofonista Johnny Griffin, muitos músicos [ 13 ]viviam praticando e aprendendo na casa de Monk no
Harlem ou na de ELMO HOPE no Bronx,
ouvindo Charlie Parker e Dizzy Gillespie, montando e decifrando harmonias, com ELMO sempre pronto a tirar as dúvidas.
Em 06/março/1943 e em vias de completar 20 anos, já
casado (o casal havia perdido 01 filho) HOPE
alistou-se no exército americano, então envolvido na IIª Guerra Mundial. Os termos do alistamento o definiam como
“solteiro e com dependentes” e sua
permanência até quando durasse o conflito e mais 06 meses.
Retornando a New York em meados dos anos 1950 ele
gravou como “sideman” para diversos músicos então em evidência, ai incluídos
John Coltrane, Lou Donaldson, Clifford Brown, Sonny Rollins e Jackie
McLean; uma dessas gravações, de
1953, despertou a atenção do produtor
Alfred Lion que em uma semana supervisionou a gravação de estreia como líder de ELMO HOPE (“Elmo Hope Trio”, álbum de
10 polegadas), ao lado de Percy Heath no baixo e de Philly Joe Jones na bateria. A sessão de gravação rendeu a ELMO HOPE cerca de 01 ano após, o álbum "Elmo Hope Quintet, Volume 2".
Em agosto de 1954 ELMO HOPE gravou para o selo
Prestige o álbum “Moving Out” (liderado por Sonny Rollins), assinando contrato
com essa etiqueta em 1955 e gravando os
álbuns “Meditations” em trio e “Jazz Informal”, secundado por Donald Byrd, Em janeiro de 1956 HOPE gravou com com Jackie McLean
(álbum “Lights Out!), este então em ascensão e protagonizou logo após episódio bizarro ao deixar o
estúdio onde deveria gravar com Gene Ammons;
disse que visitaria uma tia no hospital, mas todos sabiam que o problema
era a maldita droga pois, a
essa altura ELMO HOPE já era usuário
de heroína, tendo sido em 1956 condenado por posse e como usuário de drogas, tendo a
licença cassada (“New York Cabaret Card”), sendo proibido de atuar em clubes de
New York; excursionou com Chet Baker e foi para a Costa Oeste (Los Angeles) em 1957, alí
residindo por, para ele que criara raízes em New York, longos 04 anos, ainda
que com colaborações interessantes como, por exemplo, com Harold Land, que no “Jazz Workshop” de San Francisco de 1957 o
apreciou acompanhando Sonny Rollins, Scot LaFaro e Lennie McBrowne, decidindo
contratá-lo assim como a toda a seção rítmica, com eles cumprindo temporada no
“Cellar” de Vancouver.
ELMO HOPE
gravou com Harold Land, montou e gravou com grupo próprio (ele mais Stu
Willianson, Leroy Vinegar e Frank Butler) e assumiu nova formação com Jack Sheldon
e Pepper Adams.
Em 1959 HOPE
gravou em quinteto o álbum “The Fox”, com 04 temas de sua autoria (além do
álbum “Elmo Hope Trio”) que, segundo o crítico e historiador David Rosenthal, eram uma clara ilustração do alto patamar musical desenvolvido
pelo pianista na Costa Oeste. O álbum “Elmo Hope Trio” recebeu da revista
“Down Beat” a rara apreciação de 05 estrelas, afirmando que a estética de HOPE continha uma melancolia agridoce
que aparenta influir no cerne de outros músicos de JAZZ.
Em
1960 conhece a pianista Bertha Rosemond (mais tarde Bertha Hope sua segunda e
definitiva esposa), com quem gravou em 1961 “Hope-Full”.
Até então e descontadas as apreciações dos álbuns de
1959, diversos críticos opinavam que ELMO
HOPE ofuscava sua carreira gravando com muitos músicos “emergentes” (artigo
de 1976 do “Buffalo
Jazz”, por exemplo), enquanto outros
afirmavam que sua individualidade extremamente complexa e sutil
tanto na técnica de tocar quanto na de compor, ultrapassavam o virtuosismo predominante
no “bebop” em curso.
HOPE gravou ainda em quinteto com Curtis Counce e foi
contratado por Lionel Hampton para apresentação no”Moulin Rouge” de Hollywood.
A carreira do pianista foi interrompida em diferentes
ocasiões, em consequência de prisões pela posse e uso de narcóticos, levando
Orrin Keepnews do selo Riverside a aconselhá-lo a que retornasse para New York,
o que efetivamente ocorreu em 1961, quando HOPE
retornou com a mulher e sua pequena filha, passando a gravar seguidamente em
diversos formatos (trio, sexteto) com Blue Mitchell, Frank Foster, Jimmy Heath,
Percy Heath e Philly Joe Jones.
Com a saúde acusando problemas a atividade de ELMO HOPE foi sendo reduzida, mas
reencontrou Curtis Counce para
substituir Carl Perkins.
Em junho/1961 HOPE integrou
quinteto que incluía o trumpetista Freddie Hubbard, além de gravar nessa época 04 álbuns ("Here's Hope!", "High Hope!", "Homecoming!" e "Hope Full"), que incluem piano.solo e duetos com a esposa (ela também ao piano). Em 1963 gravou em sexteto o álbum "Sound From Rikers Island (referência ao complexo
prisional de New York, onde todos os músicos participantes da gravação já
haviam cumprido pena ! ! !).
Havia gravado no final de 1962 com Jackie McLean, liderou trio em 1963 (Ray
Jenney no baixo e Lex Humphrie à bateria), em 1964 seu trio apresentava John
Ore no baixo e Billy Higgins na bateria, prosseguiu em 1965 liderando trio e
quarteto, mas os anos de droga cobravam altos juros e até o final da carreira
apresentou-se com baixíssima frequência, culminando em 1966 com sua derradeira
apresentação, no “Judson Hall” de New York.
HOPE foi HOPE foiHOHhospitalizado com pneumonia
em 1967, falecendo em poucas semanas e deixando esposa com 31 anos e 03 fillhos
(uma filha, Monica Hope, tornou-se cantora de JAZZ).
O estilo de ELMO HOPE foi fortemente influenciado
pelo blues e pela tradição, com emprego de harmonias dissonantes, linhas
melódicas e frases em contraste (delicadeza + contraste + ousadia), tons muitas
vezes “sombrios”, mudanças de acordes nas introduções e com senso de tempo
muito pessoal do que resultava imprevisibilidade na colocação das notas (avanço
ou retardamente em relação às batidas).
Em muitos momentos ele nos lembra Bud Powell.
Enquanto compositor HOPE legou-nos algumas belezas
enigmáticas entre suas mais de 70 composições: "Minor Bertha", “One Down”, “Barfly” e
“Tranquility” são exemplos de sua
complexa criatividade.
Com certeza a tríade ELMO HOPE, Bud Powell e Thelonius Monk
constituíram um claro “ponto-de-partida” para os pianistas iniciantes das
décadas de 1960/1970/1980: Lafayette Gilchrist, Alexander Hawkins, Frank Hewitt e Hasaan Ibn Ali, assim como para músicos de outros instrumentos (por exemplo, o guitarrista Kurt Rosenwinkel).
A pianista e esposa Bertha Hope casou-se mais tarde com o contrabaixista Walter Booker e
juntos criaram em 1999 o grupo "Elmollenium" que apresentava composições de ELMO, segundo ela poucas, uma vez que muitas delas perderam-se em
incêndio no apartamento que possuíam no Bronx.
A discografia de ELMO
HOPE não é extensa, até pelo seu pouco tempo de atividade em função de morte
prematura, mas a seguir listamos uma relação compacta incluindo álbuns em que
ele lidera e outros em que é “sideman”.
1953 Elmo
Hope Trio Blue Note Líder
1953 New Faces New Sound Blue
Note
1954 Elmo
Hope Quintet Blue Note Líder
1955 Elmo
Hope Trio Prestige Líder
1955 Elmo
Hope / Frank Foster Quintet Prestige
Co-líder
1956 Elmo Hope All Stars Sextet Prestige
Líder
1957 Elmo
Hope Quintet Pacific
J
Lider
1959 Elmo
Hope Trio - The Fox HiFi
Jazz
Líder
1961 Elmo
Hope Sextet Riverside
Líder
1961 Elmo
Hope Trio Riverside
Líder
1961 Elmo
Hope / Bertha Hope Riverside
Co-líder
1961 Elmo
Hope Trio Beacon
Líder
1963 Elmo
Hope Ensemble Audio Fidelity
Líder
1966 Elmo
Hope Trio OJC
Líder
1966 Elmo
Hope Trio OJC
Líder
Prosseguiremos
nos próximos dias
Um comentário:
Polícia é sempre a mesma coisa em todos os lugares e em todos os tempos. Viva o Elmo que conseguir se safar das balas e da injusta acusação. Ótima resenha Pedro. Grande abraço
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