Série “PIANISTAS DE
JAZZ”
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
17ª Parte
(22)
ART
HODES - Professor e palestrante (Resenha longa)
Arthur
W. Hodes, ART HODES, pianista,
historiador, escritor e professor de JAZZ tornou-se cidadão norte-americano mas
nasceu na cidade de Nikoliev (sul da Ucrânia) na Rússia em 14/novembro/1904, filho de casal
que participava de corais russos, vindo a falecer com 88 anos em 03/março/1993
no Ingalls Memorial Hospital de Harvey, Illinois e após cirurgia vascular. Além da esposa Jan ele deixou 03 filhas
(Janet Gordley, Karen Sullivan e Margaret Figueroa), 02 filhos (Robert W. Hodes
e Daniel R. Hodes), 12 netos e 02 bisnetos.two sons, Daniel R. Hodes and Robert W. Hodes, 12
grandchildren and two great-grandchildren.
A
família de imigrantes aportou nos U.S.A. em 1905 (ART HODES então com 06 meses de idade), estabelecendo-se em
Chicago/ Illinois (“the windy city”) a partir de 1909, onde ART HODES passou sua infância.
Muito
se pode escrever sobre Chicago mas, em resumo, a cidade
foi descoberta em 1673 por Jacques
Marquette (padre jesuíta francês) e Louis Jolliet (explorador e cartógrafo
canadense), primeiros europeus a cruzar a região, guiados por indios amigos. Foi palco de grandes acontecimentos,
podendo citar-se:
- em 1795 lá foi assinado o "Tratado de Pazz Greenville" pelo General Anthony Wayne - apelidado de "Mad Anthony" - com as tribos indígenas;
- foi incorporada como cidade em
12/agosto/1833;
- durante a Gerra Civil americana (12/abril/1861 à primavera/1965), foi um dos centros nervosos das operações militares;
A denominação “Chicago” é de origem indígena, ainda que não
se saiba exatamente de que tribo.
Existem muitas teorias sobre o assunto, mas os historiadores mais
conceituados afirmam que a palavra significa
“grande”, “forte”, tal como os índios se referiam ao Rio
Mississipi, afirmando que seu ruido era o do
“grande Manitou”.
Com
12 anos ART HODES iniciou sua
educação musical na “Jane Addam’s Hull House”.
Parte
do contato de ART HODES no JAZZ se
deve à oportunidade de poder ouvir Benny Goodman, Gene Krupa e outras figuras
importantes do JAZZ em Chicago, então
tradicionalistas, pré-swing. Esses
contatos foram ampliados até os 16 anos (1920) em que HODES
já tinha escutado e aprendido muito da linguagem e da sintaxe do JAZZ em função
da proximidade com os grandes músicos que circulavam pela “cidade dos
ventos”: Jelly Roll Morton, Joe “King”
Oliver e Louis Armstrong, entre outros.
Com certeza foi bastante influenciado pelo canto da grande Bessie Smith.
Em
1923 ele realizou sua estréia profissional nos “Rainbow Café” (na verdade um
apartamento localizado na “West Madison Street” onde ele tocava para cantoras
divertirem clientes). ART HODES afirma que ganhava US$ 35.00
de salário e bônus adicional semanal de US$ 14.00. Foi uma época em que ele já possuía um carro, usava boas roupas e sempre tinha dinheiro no
bolso (“An Autobiography Of Black Jazz”, Dempsey J. Travis, 1983, 543 páginas,
longa entrevista com ART HODES nas
páginas 380-387).
Sua
real e proveitosa iniciação para o JAZZ ocorreu em 1927 e deveu-se ao banjoísta
Earl Murphy, que possuía farta coleção de gravações de Louis Armstrong e Bix
Beiderbecke, que tocava constantemente. ART HODES passou a estudar os solos
desses “Mestres”, seus ritmos, acordes;
mais adiante ouviu Earl Hines e Jimmy Noone em “Sweet Lorraine”.
Após
realizar curta temporada nos “Wolverines”, tornou-se o pianista titular em 1927
e após a saída de Bix Beiderbecke.
Em
1927 HODES tocou com o grupo de
Wingy Manone (com o qual registrou sua primeira gravação e estabeleceu laços
por longo tempo) e durante boa parte da década de 1930 atuou em Chicago com
Gene Krupa, Muggsy Spanier, Bud Freeman, Floyd O’Brien e Frank Teschemacher,
mas ainda era pouco conhecido e conceituado.
Na mesma entrevista citada anteriormente ART HODES nos conta que era uma época difícil para viver de música,
em função da crise de 1929
Tocou
com o grupo do cantor e saxofonista Floyd Townes, foi pianista na formação do
baterista Frank Snyder e apresentou-se em solo e com grupos próprios nos clubes
de Chicago.
Com
34 anos e em 1938 HODES mudou-se
para New York e realizou importantes gravações
com Mezz Mezzrow e Joe Marsala, o que lhe deu certa projeção. A essa altura a “Rua 52” iniciava sua
conversão para tornar-se a meca do JAZZ.
Na década de 1940 ele
capitaneou diversos grupos voltados para o “blues” e o JAZZ tradicional, sem
aderir ao então emergente “bebop”, fincando pé no tradicionalismo.
Foi “disc.jockey” de JAZZ em
programa da rádio “WNYC” (apresentava e
comentava gravações de JAZZ, apresentava grupos ao vivo e, também, executava
alguns temas ao piano), publicou de fevereiro
de 1943 a novembro de 1947 a revista “The Jazz Record”, mesmo título de sua
gravadora, o que à época foi ação pioneira
- primeiro músico JAZZ a possuir
gravadora própria - utilizando-a para impulsionar gravações
para o selo Blue Note, ai incluída sessão
com Sidney Bechet.
Teve artigos seus publicados
nas revistas especializadas “Second Line”, “Jazz Revieuw” e “Chicago Tribune”.
No ano de 1949 ele fez parte
da banda do clarinetista Tony Parenti.
Em 1950 ART HODES retornou para Chicago e passou a lecionar JAZZ no
subúrbio de Park Forest, onde também
fixou residência, sempre educando e escrevendo sobre JAZZ.
Na década de 1960 ele manteve
coluna mensal sobre JAZZ na “Down Beat”, além de excursionar por todos os U.S.A. com suas
apresentações denominadas "Sounds Of Jazz" (palestras e concertos de piano).
ART HODES também teve
oportunidade de trabalhar na televisão
no final dos anos 1960, onde ganhou um “EMMY” como autor do blues “Plain Ol”.
Seus programas intitulados
“Jazz Alley” eram sempre baseados no estilo Chicago, chegando a apresentar
músicos da talha de Pee Wee Russell e Jimmy McPartland, assim como apresentou em um
dos programas “Pops” Foster.
Também realizou mais de um
programa com a participação de Wild Bill Davison.
Simultaneamente com o trabalho
na televisão ART HODES impulsionou
seu trabalho como professor, dando aulas
de piano no onservatório “Park Forest”, próximo à sua residência.
No final de 1970 (outono) ele
realizou temporada na Dinamarca e, retornando aos U.S.A. realizou larga
temporada com o espetáculo “Stars Of Jazz Concert”, levando a tiracolo Barney
Bigard, Eddie Condon e Wild Bill Davison.
Em dezembro de 1972 ele teve
artigo seu publicado na importante revista “Esquire”.
Em 1973 realizou uma série de
concertos com Jimmy McPartland e na metade da década de 1970 foi a vez da
Europa revê-lo,
A carreira de ART HODES teve um “renascimento” no
final da década de 1970 e início da de 1980, em função das críticas altamente
entusiasmadas e do público nas suas apresentações em Chicago e New York em
clubes e boates sempre lotadas (do nível da “Hanratty”), assim como no “Kool
Jazz Festival”, o que o levou a prosseguir com essas apresentações até sofrer
seguidos problemas de articulação e pouco antes
de seu falecimento.
Em maio de 1989 participou
também da turnê denominada “A tour, the Legends of American Dixieland, followed in
May 1989 with the same line-up.Legends Of American Dixieland”, com os mesmos acompanhantes.
ART HODES tocou e gravou com dezenas de músicos de JAZZ,
podendo destacar-se entre os principais Louis Armstrong, Gene Krupa, Wingy Manone, Mugsy Spanier, Joe Marsala, Mezz Mezzrow, Sidney Bechet, Albert Nicholas, Wild Bill Davison e Vic Dickenson: uma constelação ! ! !
É dificil definir o estilo
pianístico de ART RODES, já que para
o “stride” (remember Earl Hines) falta-lhe a força necessária na mão esquerda,
ao passo que no “boogie-woogie” tem uma característica muito pessoal. É acima de tudo um “bluesman”, com acordes
em que os trêmolos sustentam muito bem o som da “linha de frente” (sopros),
seja nos solos, seja nos “ensembles”;
enquanto solista carrega na intensidade e na precisa definição das
notas.
Em 1998, portanto cinco anos
após seu falecimento, teve seu nome agraciado com a inclusão no “Jazz Hall Of Fame”.
Entre suas dezenas de
gravações podemos alinhar:
-
The Jazz Record Story, selo Jazzology, 1943–1946;
-
Tribute to the Greats, selo Delmark, 1976–1978, piano.solo;
-
Pagin' Mr. Jelly, selo Candid, 1988;
-
Keepin' Out Of Mischief Now, selo Candid, 1988;
-
Art Hodes Blue Five and Six,
selo Jazzology, 1987;
-
South Side Memories, selo Sackville ;
-
Blues in the Night, selo Sackville;
-
Together Again With Wild Bill
Davison & John Petters, selo CMJ;
-
Sensation - With John Petters
& Trevor Whiting, selo CMJ;
-
Coalition - With Wild Bill
Davison & John Petters, selo Jazzology;
-
The Duets, selo Solo Arts, 2000;
-
I Remember Bessie, selo Delmark,
2013.
JazzoO pianismo, a
técnica e o “feeling” de ART HODES
podem ser muito bem apreciados na excelente coletânea de 03 DVD’s “ART
HODES -
JAZZ ALLEY” (claro que o título é oriundo da série de televisão dos
anos 1960 “JAZZ ALLEY”) do selo Storyville Films, 2004, em que ao longo de 39
temas e com acompanhantes de peso ele nos mostra, em ambiente próprio, toda a
sua versatilidade, sua característica maior nos “blues”, seu maior reduto. Assim
temos:
DVD volume 1
1ª Parte - ART HODES ao piano, Jimmy McPartland
(trumpete), Pee Wee Russell (clarinete), Harry Hawthorne (baixo) e L.R.Wilson
(bateria), nos temas “China Boy”, “St. James Infirmary”, “Oh! Baby”, “Meet Me
In Chicago” e “Sugar”
2ª Parte - ART HODES ao piano, Doc Evans (trumpete)
e Bob Cousins (bateria), nos temas “Yoy
Took Advantage Of Me”, “Singing’ The Blues”, “Once In A While”, “Squeeze Me”,
“I Thought I Heard Buddy Bolden Says”, “Wolverine Blues”, “Everybody Loves My
Baby” e “Sugar”
DVD volume 2
1ª Parte - ART HODES ao piano, George Brunies
(trombone), Nappy Trottier (trumpete), Jimmy Granato (clarinet), Truck Parham
(baixo) e Monty Mountjoy (bateria), nos temas “I Found A New Baby”, “Blues”, “Jazz
Me Blues”, “Pearl Of Blues” e “Tiger Rag”
2ª Parte - ART HODES ao piano, Bud Freeman
(sax.tenor), Bob Cousins (nessa parte no baixo) e R.Wilson (bateria), nos temas
“Sunday”, “Sweet Sue”, “You Took Advantage Of Me”, “Dinah”, “Three Little
Words” e “Blues”
DVD volume 3
1ª Parte - ART HODES ao piano, J.C.Higginbotham
(trombone), Smokey Stover (trumpete), Tony Parenti (clarinete), Eddie Condon
(banjo), R.L. ‘Rails’ Wilson (baixo) e Harry Hawthorne (bateria), nos temas
“Squeeze Me”, “Ballin’ The Jack”, “Someday Sweetheart”, “I Got That Old Fashioned”,
“Love In My Heart”, “Royal Garden Blues”
e “Blues”
2ª Parte - ART HODES ao piano, Barney Bigard
(clarinete), R.L. ‘Rails’ Wilson (baixo) e Bob Cousins (bateria) nos temas “Squeeze
Me”, “Rose Room”, “High Society”, “Sweet
Lorraine”, “Perdido”, “Blues”, “C Jam Blues”, “Caravan” e “When It’s Sleepy
Time Down South”
O
estojo “THE HISTORY OF PIANO JAZZ”
do selo Le Chant Du Monde, 10 CD’s, produção alemã, brinda-nos no CD nº 5 com ART HODES em piano solo nos temas “South
Side Shuffle” de sua autoria (gravação de 1939) e “Organ Grinder Blues” de
Clarence Williams (gravação de 1940).
Prosseguiremos
nos próximos dias
Um comentário:
Não tenho nada de Hodes vou procurar e colocar em um podcast. De vez em quando precisamos nos lembrar de algum músico esquecido, afinal são milhares!!!!
Valeu Pedrão
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