Keith Jarrett comemora 70 anos
por Luiz Orlando Carneiro, em 14/05/2015
Keith Jarrett, virtuose do piano, conhecido como o Glenn
Gould do jazz – por sua genialidade, seu temperamento e suas excentricidades –
é septuagenário desde o último dia 8 de maio. Ele é capaz de interromper um
concerto solo ou do celebrado trio que lidera há 32 anos (Gary Peacock, baixo;
Jack DeJohnette, bateria) por causa de um flash ou de um ruído vindos da
audiência. Durante toda a década de 2000, reinou supremo na categoria best
pianist do referendo anual internacional dos críticos promovido pela revista
Downbeat. E o seu trio continua a ser, sem dúvida, o melhor pequeno combo de
jazz num nível de excelência só comparável ao quarteto Footprints do
saxofonista Wayne Shorter (Danilo Perez, piano; John Patitucci, baixo; Brian
Blade, bateria).
Em maio de 2003, Jarrett recebeu, da Academia de Música da
Suécia, o Polar Music Prize, destinado a músicos excepcionais nos campos
erudito e popular. Em anos anteriores tinham sido homenageados, entre outros,
os compositores Pierre Boulez e Stockhausen, o violinista Isaac Stern e o
celista Rostropovitch. Na área da música popular, foram premiados, por exemplo,
Paul McCartney, Stevie Wonder e Miriam Makeba. O único jazzman a merecer o
Polar Prize, até 2003, foi Dizzy Gillespie. Sonny Rollins recebeu a mesma
distinção em 2007.
Keith Jarrett foi garoto-prodígio. Aos sete anos já dava
recitais, e desenvolveu os seus dons extraordinários com Nadia Boulanger (1887-1979)
e, depois, na então Berklee School of Music de Boston. Aos 21 anos, deixou os
Jazz Messengers de Art Blakey para associar-se ao quarteto do saxofonista
Charles Lloyd (Forest flower, Altantic, 1966). Na década de 1970, passou a se
apresentar solo numa série de concertos mundo afora, totalmente improvisados,
cujo ponto culminante foi o Köln Concert, de 1975, gravado pela ECM, e que –
desde sua edição em LP duplo – vendeu mais de três milhões de exemplares.
Como pianista “erudito”, o prodigioso e controverso músico
gravou obras de fôlego como as Variações Goldberg e o Cravo bem temperado, de
J.S. Bach, e a série de 24 prelúdios e fugas de Shostakovitch.
Para marcar o seu 70º aniversário, Keith Jarrett vem de
lançar – sempre no selo ECM, de Manfred Eicher – dois CDs com material inédito
selecionado por ele e por Eicher.
O primeiro é Creation, com solos improvisados em seis
concertos gravados, entre abril e julho de 2014, no Japão (Kioi Hall e Orchard
Hall, Tóquio), na Itália (Parco Della Musica, Roma), na França (Salle Pleyel,
Paris) e no Canadá (Roy Thomson Hall, Toronto). No total, são nove faixas, de
duração variando entre 6m 55 e 8m35.
John Kelman, do site All About Jazz, considera o todo
formado pelas nove partes sem títulos de Creation uma espécie de suíte, na qual
Jarrett “evita quaisquer construções previsíveis no decorrer do programa, em
geral meditativo e sombrio, baseado sobretudo em achados harmônicos e melodias
esparsas”, que, em termos de dinâmica, vão “do mais suave pianíssimo ao mais
dramático fortíssimo”.
O segundo álbum intitula-se Samuel Barber/Béla Bartók, e
contém os concertos para piano e orquestra de Barber (Opus 38) e de Bartók (o
número 3), registros dos anos 80, em apresentações, respectivamente, com a
Saarbrücken Radio Symphony Orchestra, e a New Japan Philarmonic.
(Samples das faixas do CD Creation podem ser ouvidos em
http://www.jazzecho.de/keith-jarrett/diskografie/album/product:274702/creation)
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