Série “PIANISTAS DE
JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas”
4ª Parte
MAIS ALGUMAS
NOTAS SOBRE O
PIANO (B)
Em
linhas gerais as etapas dos pianistas de
JAZZ podem ser descritas como a
seguir, ainda que não de forma exata mas como forma de sintetizá-las no tempo.
Jelly Roll Morton
explorou muito bem o registro grave do instrumento com o cotovelo (ouvir sua
versão de “Tiger Rag”).
Meade “Lux” Lewis
espalmava a mão direita sobre o teclado
(“prefaciando” Thelonius Monk),
seguindo-se a característica percussiva de Lionel
Hampton, utilizando os dedos como se fossem “mallets” (com as quais tocou e
gravou com grande sucesso para o mundo).
Phineas Newborn Jr. executa
“Blues For Left Hand Only” apenas com a mão esquerda, felizmente gravado em
áudio e vídeo.
Determinados
pianistas deslizam os dedos nas teclas (como se as estivessem esfregando), como
é o caso de Marius Cultier e Monty Alexander em determinadas passagens.
A
partir de meados da década de 1920 já estava em plena ebulição o estilo
“stride”, realmente um evolução mais “moderna” do “ragtime”, de forma mais
livre e estilizada e que foi bastante utilizada nos “cutting contests” (competições musicais).
As
influências do pianismo de Luckey Roberts
e de James P. Johnson (mestre no
embelezamento com a mão esquerda) desaguam no “paisagismo” de Willie “The Lion” Smith e no
arrebatamento de Thomas “Fats” Waller,
que vai influenciar de uma ou outra
maneira a muitos: Joe Turner, Cliff Jackson,
Donald Lambert e até em muitas
citações de Duke Ellington e Count Basie.
O
“Blues” seguiu evoluindo e na década de 1930 nas “barrelhouses” (cabarés de
negros e pobres) ocorre a mistura do “Blues” com o “Ragtime”, culminando com o
“Boogie-Woogie”: Jimmy Yancey, Leroy Carr, Pinetop Smith, Cow Cow
Davenport, Pete Johnson e tantos e tantos mais.
O
“stride piano” encontrou seu ápice com o magnífico Earl Hines que chegou com sua vivência ao lado de Louis
Armstrong ao “trumpet piano style”, influenciando gerações de pianistas de JAZZ:
Art Tatum, Count Basie, Teddy Wilson, Nat “King”
Cole, Jess Stacy, Mary Lou Williams e tantos outros.
Em
particular o grande Art Tatum
introduz seus acordes de passagem, que inpregnaram Ahmad Jamal, Bud Powell,
Oscar Peterson, George Shearing..................
Teddy Wilson
liberou-se da influência de Earl Hines
para “professorar” seu estilo fluido e refinado. Tal como no caso de Art Tatum tampouco Teddy
Wilson se dedicou à composição.
A
era “swing” no piano é devedora em grande parte a Teddy Wilson, mas quase ao término da mesma tivemos os
inclassificáveis Nat “King” Cole (cuja
estética influenciou ao grande Oscar
Peterson) e Erroll Garner.
O
advento do “bebop” nos brindou com “top’s” do nível de Bud Powell, Thelonius Monk,
Al Haig, Duke Jordan, Elmo Hope e
outros mais.
A
técnica dos “acordes em bloco” converteu-se como integrante inseparável do
“piano-JAZZ” moderno.
A
“mainstream” no “piano-JAZZ” já passara a integrar grande contingente dos
mestres das “88 teclas”, sendo objeto do aprendizado nas escolas de JAZZ.
(04)
GENE HARRIS
- Muitas Gravadoras e
Gravações (Resenha
longa)
Eugene Haire Harris, GENE HARRIS, pianista norte-americano
nasceu no dia 01 de setembro de 1933 na cidade de Benton Harbor, estado de
Michigan, situado ao norte dos estados de Indiana e Ohio (cuja capital é a
cidade de Lansing e que abrange um total de 252 cidades, entre as quais e mais
conhecidas Grandville, Jackson, Albion, Buchanan, Kalamazoo, Vicksburg e
Trenton), vindo a falecer com a idade de 66 anos no dia 16 de janeiro de 2000,
na cidade de Boise, capital do estado de Idaho..
Iniciou-se de forma
auto-didata no piano já na infância (09 anos), assim como muito jovem formou um
grupo que chegou a atuar em rádios locais.
Durante
o serviço militar que iniciou no ano de 1953 e tocando na “82nd Airborne
Division” aprendeu a ler música, assim como passou a estudar música com
seriedade e continuidade.
Ainda no serviço
militar HARRIS conseguiu sua
primeira gravação (selo “Jubilee”) em
1955 e sob o título bem sugestivo de “Our
Love Is Here To Stay”.
Ao ser desligado do
serviço militar em 1956 formou o grupo “The Three Sounds”, com a participação de
Bill Dowdy na bateria e Andrew “Andy” Simpkins no contrabaixo, que no ano
seguinte passou a denominar-se “The Four Sounds”, já então com Carl Burnett substituindo Bill Dowdy. Esse grupo atuou inicialmente na região de
Washington, até radicar-se em New York a partir de 1958.
Na “capital do mundo” HARRIS e seu grupo conseguiram manter
agenda lotada, tanto de apresentações em clubes, quanto em concertos e temporadas
pelos U.S.A. e ainda gravando intensamente para a etiqueta “Blue Note” com alto
nível de resposta comercial em vendas e de aplausos da crítica. Dessa parceria com a “Blue Note” podemos
alinhar, entre outros, os álbuns:
- “Standards”,
1959
Mesmo gravando e
obtendo sucesso com a etiqueta “Blue Note”, HARRIS chegou a gravar para outras etiquetas: “Blue Genes” em 1962 para a “Verve”, “Jazz On Broadway” de 1962 para o selo “Mercury”, com o qual
voltou a gravar em 1963 e 1964 (“Some
Like It Modern” e “Live At The Living Room”), e ainda para o
selo “Limelight” em 1964 (“Three Moods”), 1965 (“Beautiful Friendship”) e 1966
(“Today's Sounds”).
No final dos anos 1970 GENE HARRIS retirou-se em grande parte
dos holofotes, passando a apresentar-se no “Idanha Hotel”, mas foi convencido
pelo grande contrabaixista Ray Brown a retornar á cena.
No ano de 1974 HARRIS saiu da fórmula “trio” passando
seu grupo a sexteto, assim como e paralelamente atuou como “sideman” para
diversos outros músicos, além de atuar em trio liderado pelo grande
contrabaixista Ray Brown, com o qual atuou em temporada na Europa.
Seguiram-se apresentações e gravações para outras etiquetas, sendo que
a partir de 1981 a discografia de HARRIS
cresceu de forma mais que substancial à sombra da etiqueta “Concord Jazz” (leia-se Carl Jefferson
então Presidente da gravadora), com algumas dezenas de títulos, dos quais
destacamos os que se seguem e sem esgotar o “estoque” dessa gravadora:
- “Live At Otter Crest”, 1981,
album da maior importância pela fascinante versão de “Battle Hymn of the
Republic”, talvez somente superada pela versão do pianista jamaicano Monty
Alexander (álbum de 1977 “Montreux Alexander Live”, selo “MPS”, gravação ao
vivo no “Montreus Festival” em 10 de junho de 1976, com Monty ao piano
secundado por John Clayton no baixo e Jeff Hamilton á bateria)
- “Soular
Energy With The Ray Brown Trio”, 1984
- “The
Gene Harris Trio Plus One”, 1985
- “Tribute
to Count Basie With The Gene
Harris All-Star Big Band”, 1987
- “Bam
Bam Bam With The Ray Brown Trio”, 1988
- “Listen Here!”, 1989
- “Live at Town Hall,
N.Y.C.
With The Philip Morris Superband”, 1989, grava-ção imperdível com 13 faixas
(uma delas um “medley” com arranjo muito bom, “Porgy And Bess Medley”), a banda
e os arranjos dentro dos cânones de Count Basie (04 trumpetes, 04 trombones, 05
palhetas, guitarra por Herb Ellis, baixo por Ray Brown e bateria a cargo de Jef
Hamilton, todos liderados por HARRIS
no piano)
- “World Tour 1990
With The Philip Morris Superband”, 1990, mais uma gravação com a “big band” em
14 temas e sempre lembrando Basie (04 trumpetes, 04 trombones, 05 palhetas,
guitarra com Kenny Burrell, baixo com Ray Brown e bateria a cargo de Harold
Jones, todos devidamente capitaneados por HARRIS)
- “At Last”, Gene
Harris / Scott Hamilton,
1990, gravação excepcional, com HARRIS
no piano ao lado de Scott Hamilton em estado de graça, Herb Ellis na guitarra,
Ray Brown no contrabaixo e Harold Jones à bateria, um quinteto de alto nível em
10 temas, sendo que no tema-título, “At Last”, temos mais de 05 minutos de pura
beleza
- The Ray Brown Live At The Loa -
Summer Wind”, 1990, album em que GENE
HARRIS / piano, Ray Brown / baixo e Jeff Hamilton / bateria nos presenteiam
com 08 faixas, 02 das quais da autoria de Ray Brown (“The Real Blues” e
“Buhaina Buahina”), enquanto que as demais 06 são clássicos de Johnny Mercer (a
faixa título “Summer Wind”), de Nel Hefti (Li’l Darlin’” imortalizada pela
máquina de Count Basie), de Duke Ellington (“It Don’t Mean A Thing If It Ain’t
Got that Swing”), de Jay Washington / Ray Evans (“Mona Lisa” que o grande Nat
“King” Cole tornou imortal), de Oscar Hammerstein II / Jerome Kern (“Can’t Help
Lovin’ Dat Man”) e do grande vibrafonista Milt Jackson “Bluesology”)
- “Black
And Blue, 1991
- “Like
A Lover”, 1992
- “Gene
Harris Live At Maybeck Recital Hall” – Volume 23”, 1992
- “Brotherhood”, 1992,
gravação de qualidade com HARRIS
acompanhado por Ron Escheté / guitarra, Luther Hughes / baixo e Paul Humphrey /
bateria, em um repertório com 08 “clássicos” do populário americano (“I
Remember You”, “For Once In My Life”, “The Brotherhood Of Man”, “When You Wish
Upon A Star”, “The SideWinder”, “I Told You So”, “September Song”, “This Little
Light Of Mine” e “A Beatiful Friendship”)
- “A
Little Piece Of Heaven At Ste. Chapelle Winery", 1993
- “Funky
Gene's”, 1994
- “Live - Gene Harris & The Philip Morris
All-Stars”, 1995
- “In
His Hands”, 1996
- “Alley
Cats”, 1998.
GENE
HARRIS ao longo de sua carreira gravou também para os
selos “Riverside”, “Jubilee”, “Verve”, “Mercury”, “Limelight” e “JAM”.
Durante largo período
de sua carreira, que se não foi mais longa deve-se ao prematuro falecimento com
apenas 66 anos, GENE HARRIS
manteve-se em uma “fórmula” de sucesso que, se lhe trouxe dividendos
financeiros respeitáveis, por outra parte restringiu seu desenvolvimento
musical em função da permanência da “elegância” musical, quase tangenciando o
estilo “piano-bar”. Ainda assim temos
que considerar o “swing”, a articulação, as idéias claras dentro do que fez,
sua linguagem “soul”, enfim, seu “pianismo” de alta categoria.
Deixou-nos dezenas de
gravações de qualidade, que poderemos ouvir
até o infinito. E isso poucos
conseguiram !
Prosseguiremos nos
próximos dias
Nenhum comentário:
Postar um comentário