Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

RETOMANDO: DUAS COLUNAS DO MESTRE LOC NO JB

15 setembro 2014

Tentando recuperar o tempo perdido, solto para aqueles que não as leram no site do Jornal do Brasil, duas colunas consecutivas do nosso querido colaborador "remoto". Assim: 


Azar Lawrence merece, enfim, lançamento à sua altura

por Luiz Orlando Carneiro - 06/09/14

O saxofone tenor – instrumento em forma de “j” inventado por Adolphe Saxe em 1845, e reinventado quase um século depois por Coleman Hawkins e Lester Young – tornou-se, com o tempo, uma espécie de “logo” do jazz. E talvez seja por isso que é tão grande o número de excelentes saxofonistas que nunca foram elevados ao estrelato. Aqueles que os críticos e jazzófilos mais atentos qualificam de underrated,under the radar, unsung heroes ou “músicos para músicos”, dentre os quais estilistas influentes como Don Byas (1912-72), Charlie Rouse (1924-88), Booker Ervin (1930-70) e Hank Mobley (1930-86).

Há uma legião de veteranos saxofonistas tenores atuando nos Estados Unidos, em clubes e festivais, como líderes ou sidemen, praticamente desconhecidos, mesmo pelos leitores dos principais sites ou revistas de jazz.

É o caso de Azar Lawrence, 61 anos, que só agora mereceu o lançamento de um CD à altura de sua arte, como líder, instrumentista e compositor, numa etiqueta especializada de primeira linha: The seeker (Sunnyside). O último álbum de sua autoria, à frente de um quarteto,Prayer for my ancestors, tinha sido editado, em 2008, pelo selo indie Furthermore.

O item mais conhecido da modesta discografia de Lawrence é Enlightenment (Milestone), gravado no Festival de Montreux (Suíça), em 1973. Com apenas 20 anos de idade, ele integrava então o quarteto do grande McCoy Tyner, que ficou célebre, na década de 1960, como “o” pianista de John Coltrane.

Azar Lawrence também aparece como sideman de Miles Davis, na fase final fusionista (jazz-rock) do lendário trompetista, no obscuro Dark Magus, registro de um show no Carnegie Hall, em 1974, e que só foi reeditado em CD pela CBS, nos Estados Unidos, em 1997.

No novo álbum The seeker, já à venda nas lojas virtuais, o saxofonista tenor - herdeiro estilístico do John Coltrane de A love supreme (1964) eImpressions (1963) – é ouvido, ao vivo, no clube Jazz Standard (Nova York), numa noite de dezembro de 2011. Seus parceiros são músicos de grande prestígio na cena jazzística: o mestre da bateria Jeff “Tain” Watts; o pianista venezuelano Benito Gonzalez, que conquistou Nova York depois de vencer, em 2005, a Great American Jazz Piano Competition; o baixista Essiet Okon Essiet; o eminente trompetista Nicholas Payton.

Seis das sete peças de The seeker foram escritas por Lawrence, destacando-se as duas primeiras, de modalidade oriental, intensamente coltraneanas, com muita emoção, sopro vigoroso e as indispensáveis sheets of sound: Gandhi (10m25) e Lost tribes of Lemuria (7m40).

A faixa-título do CD, de 12 minutos, é desenvolvida pelo líder, no sax soprano, a partir de oito notas, com aquele mesmo toque hipnótico (healing music) do Coltrane de My favorite things. De volta ao tenor, Azar Lawrence sublinha o seu lado zen nas baladas Rain ballad (5m55) eSpirit night (10m). A última faixa do set ao vivo no Jazz Standard é a vibrante Venus rising (7m10), com realce para um brilhante solo do trompetista Payton.


O pianista Benito Gonzalez está para McCoy Tyner como Lawrence está para Coltrane. Dono de uma técnica prodigiosa, o venezuelano de 38 anos “ataca o piano com a força e a determinação de um pit bull”, para usar uma frase de Len Lyons tirada do capítulo referente a Tyner do seu livro The great jazz pianists (Quill, N.Y, 1983). No CD The seeker, Gonzalez é um show à parte, e ainda assina a irresistível composiçãoOne more time (9m20), a única do álbum que não é de Azar Lawrence.

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Mauro Senise realiza "sonhos antigos" em 'Danças'

por Luiz Orlando Carneiro - em 13/09/14

O saxofonista e flautista Mauro Senise, carioca de 64 anos, é uma das maiores expressões da música instrumental brasileira, desde a década de 1980, quando fundou, com o baterista Pascoal Meirelles, o conjunto Cama de Gato. Além disso, nos saxes alto e soprano, é umjazzman “bilingue” do primeiro escalão. Ou seja, é tão fluente no chamado samba jazz como na linguagem do bebop. Se tivesse resolvido emigrar para os Estados Unidos, teria hoje, em Nova York, o mesmo prestígio conquistado pelos emigrés Duduka da Fonseca, Claudio Roditi, Hélio Alves, Romero Lubambo e Nilson Matta. Aliás, o guitarrista Lubambo e o baixista Matta foram seus comparsas em formações diversas do Cama de Gato.

Dois anos depois de Afetivo – álbum comemorativo dos 40 anos de carreira de Senise - o selo Biscoito Fino está lançando, oficialmente, o CD/DVD Danças, na próxima quarta-feira, dia 17, às 21h, no Espaço Tom Jobim, lá no Jardim Botânico.

A ideia da nova produção é assim explicada nas notas do livreto escritas pelo próprio músico:

“O projeto Danças é a cristalização de alguns sonhos antigos. O primeiro deles era o de reunir num só CD alguns dos meus compositores/arranjadores preferidos. Consegui! Gilson Peranzetta, Cristóvão Bastos, Jota Moraes e Antonio Adolfo estão aqui comigo. O segundo era o de transmitir de alguma forma o meu interesse pela dança, ensejada pela boa música. O terceiro era o de juntar minha amiga Deborah Colker com outro amigo, Walter Carvalho, de preferência tendo a minha música como pretexto”.

Na apresentação do CD/DVD, o jornalista, saxofonista bissexto e renomado crítico musical Roberto Muggiati – que acompanhou de perto toda a carreira de Senise – registra que o título e o conceito de Danças o “despertou bruscamente para um aspecto da música de Mauro Senise que sempre esteve ali: o seu espírito dançante”. E acrescenta: “O próprio projeto desse seu vigésimo trabalho autoral assume o aspecto de um grande baile de almas e/ou auras irmãs, em que ele convida para dançar, sucessivamente, parceiros de toda uma vida”.

Das 12 faixas do CD, os ouvintes antenados na temática brasileira com o tempero harmônico e o “som da surpresa” típicos do jazz vão preferir, certamente, as seguintes: Vou deitar e rolar (Baden Powell), em quarteto, com Senise (sax alto), Peranzetta (piano e arranjo), Zeca Assunção (baixo) e Ricardo Costa (bateria); Chorosa blues (Antonio Adolfo), em quinteto, com o líder novamente no sax alto, Adolfo (piano e arranjo), Leonardo Amuedo (guitarra), Rodrigo Villa (baixo) e Costa; Casa de Marimbondo (Peranzetta), com o autor, arranjador e pianista em duo com Senise (sax alto); Sem palavras (Cristóvão Bastos), com o líder no sax soprano mais Bastos (arranjo e piano), Gabriel Geszti (acordeão), Villa e Costa; Garoto de POA (Jota Moraes), envolvente valsinha interpretada em duo por Moraes (vibrafone) e Senise (sax soprano).

Mas há música, da boa, para todos os gostos nas demais faixas, inclusive momentos assumidamente sentimentais, com a Orquestra dos Sonhos (oito violinos, três violas e dois violoncelos) atuando como “colchão” para o sax alto (ou a flauta) de Senise em arranjos de Miles (Sueli Costa/Peranzetta), Ilusão à toa (Johnny Alf/Jota Moraes) e Noite de verão (Edu Lobo-Chico Buarque/ Cristóvão Bastos).


JAKOB BRO

O guitarrista dinamarquês Jakob Bro, 38 anos, cultor de um jazz camerístico que não dispensa refinados efeitos eletrônicos, apresenta-se no Rio, à frente do seu trio, nos próximos dias 18 (Festival Multiplicidade, no Oi Futuro, Flamengo, 19h) e 19 (Santo Scenarium, Jardim Botânico, 21h). Os jazzmen também dinamarqueses Anders “AC” Christensen (baixo) e Jakob Hoyer (bateria) completam o trio.

Jakob Bro ganhou justa fama nos Estados Unidos e na Europa como integrante de dois primorosos conjuntos: a Paul Motian Band, um septeto com três guitarras, dois saxes, baixo e a bateria do saudoso Motian (Garden of Eden, ECM, 2004); o quinteto do trompetista polonês Tomasz Stanko (Dark eyes, ECM, 2009). No ano passado, o guitarrista lançou o CD December song (Loveland), como líder, na companhia luxuosa de Bill Frisell (guitarra), Lee Konitz (sax alto), Craig Taborn (piano) e Thomas Morgan (baixo).

2 comentários:

BraGil disse...

Este cd do Azar Lawrence é muito bom mesmo! Vale conferir.

apostolojazz disse...

Viva MAURO SENISE, um senhor músico que agora nos brinda com mais "a masterpiece".