ALGUMAS
POUCAS LINHAS SOBRE A
GUITARRA
E OS GUITARRISTAS - 29
As notas seguintes foram originalmente compiladas em 2011, para depois serem ampliadas com
base nos documentos indicados abaixo:
(a) resenha sobre PAT
MARTINO elaborada pelo amigo ÉRICO
RENATO SERRA CORDEIRO (autor do livro “Confesso que Ouvi”, Azulejo Editora,
1ª Edição, 2010, Brasil), em seu blog “www.ericocordeiro.blogspot.com”,
a quem agradecemos a permissão para utilização; ÉRICO,
que nos honra com sua amizade é, como sempre, portador de fidalguia e elegância
permanentes;
(b) recortes de
artigos das revistas “Down Beat”, “Jazz Magazine” e “Musica Jazz” mantidos em arquivos próprios;
(c) livro “THE JAZZ
GUITAR” de Maurice J. Summerfield, 3ª Edição, 1980 (a 1ª foi de 1978),
Inglaterra;
(d) livro “GRAN ENCICLOPEDIA
DEL JAZZ” (04 volumes), Ed.
SARPE, 1ª Edição, 1980, Espanha;
(e) livro “THE PENGUIN
ENCYCLOPEDIA OF POPULAR
MUSIC”, Donald Clarke, 1ª Edição, 1989, Inglaterra;
(f) livro “DICCIONARIO DEL
JAZZ”, Philippe Carles, André
Clergeat & Jean-Louis Comolli, 1ª Edição, 1995(tradução
de original francês de 1988), Espanha.
Pat
Azzara, artisticamente PAT MARTINO,
guitarrista norte-americano, nasceu na Filadélfia, estado da Pensilvânia, no
dia 25 de agosto de 1944 e no seio de família de origem italiana, sendo que seu
pai, Mickey Azzara, alfaiate e amante do JAZZ,
cantava, tocava guitarra (foi aluno do grande Eddie Lang) e colecionava discos
de JAZZ, principalmente de
guitarristas. Assim, o jovem PAT encontrou no pai a proximidade; o
estímulo e o amor pela guitarra, ainda mais porque o acompanhava quando os
grandes nomes do JAZZ
apresentavam-se nos clubes da Filadélfia:
momentos memoráveis que o “garoto” PAT
absorvia.
No
lar era habitual ficar escutando as muitas gravações que o pai possuía,
principalmente de guitarristas como o citado Eddie Lang, além do cigano Django
Reinhardt e de Johnny Smith.
Com
11 anos PAT ganhou sua primeira
guitarra e passou a estudar com o professor Dennis Sandhole (grafia do
sobrenome conforme “The Jazz Guitar” de Maurice J. Summerfield, Ashley Mark
Publishing C., 1978), sua primeira
grande influência no estilo; Sandhole
era figura de proa no cenário da guitarra na Filadélfia, já que portador de respeitada experiência
profissional por ter tocado com Tommy Dorsey, Billie Holiday, Frank Sinatra e
Charlie Barnet, além de ter sido professor de Michael Brecker, John Coltrane,
James Moody e outros músicos.
Foi o próprio Sandhole que apresentou PAT MARTINO, então com 15 anos, a seu
ex-aluno John Coltrane, com quem o rapaz manteve longas conversações sobre a
música. Essas conversações levaram PAT a deixar a escola, a adotar o
sobrenome de MARTINO e a tocar
profissionalmente, o que fez inicialmente em grupos de “Rhythm & Blues”: Charles
Earland, Lloyd Price e Red Holloway para, já então com 20 anos e em 1964,
unir-se ao grupo de Willis Jackson, com quem teve oportunidade de gravar em
1966 sob seu verdadeiro sobrenome, Azzara.
Some-se
a essa experiência o fato de ter atuado entre os 16 e os 19 anos de idade com
futuros “ídolos” da juventude, citando-se Frankie Avalon e Bobby Darin, este
último e à época cogitado como um “segundo Frank Sinatra”.
Situamos
essa época de PAT com a da plena
inserção da guitarra no JAZZ, já que
aos primeiros passos dos pioneiros Charlie Christian, Eddie Lang, Oscar Moore,
Freddy Green e outros “chefes-de-escola”, somaram-se as contribuições e
inovações de “gigantes” da talha de Barney Kessell, Joe Pass, Jimmy Raney, Tal
Farlow, Jim Hall, Herb Ellis, Wes Montgomery (com quem PAT manteve amizade e com que estudou) e Charlie Byrd, levando o
instrumento ao mesmo patamar de metais e palhetas, instrumentos cujos solistas
contavam com lugares e histórias até então já consolidadas para o JAZZ.
Por
todo esse cenário de “cultura da guitarra” o jovem PAT conseguiu, a partir de seus primeiros ensinamentos, de suas
primeiras influências e experiências profissionais locais, desenvolver estilo e
linguagem próprias, simultaneamente com sua decolagem para horizontes mais
amplos, nada menos que New York.
Trabalhou em estúdios de gravação, tocou com dezenas
de músicos de JAZZ da cena
novaiorquina (principalmente com organistas do nivel de Don Patterson, “Brother”
Jack McDuff, Trudy Pitts, Jimmy Smith e Jimmy McGriff, mas também com
saxofonistas do porte de Charles McPherson, Eric Kloss e Sonny Stitt) e gravou
em 1967 seu primeiro álbum de qualidade com o nome de PAT MARTINO, sob o título de “El Hombre” e para o renomado selo Prestige,
onde podemos notar todo um painel de conhecimentos musicais já devidamente
“vividos” e devidamente impregnados em “standards” (entre os quais o clássico “Just
Friends” de Sam Lewis e John Klenner e
“Once I Loved” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes ).
Seu
prestígio e sucesso de público e de crítica aportou em boa parte graças à
recomendação de Howard Johnson para que assinasse contrato com o quinteto do
saxofonista texano John Handy (nascido em 03 de fevereiro de 1933 e então
oriundo dos grupos de Charles Mingus e de Randy Weston, além de já ter liderado
grupos próprios contando com Freddie Redd e Bobby Hutcherson), com quem atuou
entre 1967 e 1968 pelo período de 08 meses, caminho para a primeira gravação já
sob o nome de PAT MARTINO e
anteriormente indicada, “El Hombre”,.
É dessa época que PAT
MARTINO inicia seu “professorado”, dedicando-se também ao ensino da
guitarra. Com os anos PAT ampliou essa atividade dando
cursos e palestras nas mais variadas instituições, latitudes e longitudes: nos U.S.A. na “Stanford University”, “Pennsylvania
University”, “Washington University”, “Wisconsin Conservatory of Music”, “North Texas State University”, “University of
Washington School of Music”, “Berklee College”, “University of Maryland” e outros., assim como em centros europeus do
nível de Holanda, França e Itália.
PAT já se tornara uma estrela no cenário da “grande maçã”. Seu estilo destaca-se por uma sonoridade
clara e “sensual”, com ataque forte de total nitidez e, ainda que se aproxime
de Johnny Smith (até por ser uma de suas primeiras fontes de inspiração), sua
articulação é de uma precisão absolutamente pouco usual, com total consciência
dos acordes; nota-se, também, a
tessitura de linhas melódicas em oitavas, que domina como Wes Montgomery, que
foi como já escrito anteriormente seu amigo e mestre e para quem e mais adiante
gravou pelo selo “Cobblestone” o LP “Pat Martino / The Visit !” com a capa
indicando textualmente que essa gravação foi “Inspired By And Dedicated To Wes
Montgomery”.
Seguiu tendo oportunidade de tocar e gravar com
grandes nomes do JAZZ tais como e
por exemplos: Bobby Hutcherson, Sonny
Stitt, Chick Corea, Genne Amons, Stanley Clark, Woody Herman, Chuck Israels,
Jimmy Heath, Joe Farrell, Cedar Walton, Cyrus Chestnut, Paul Chambers,
Christian Mc Bride, Charlie Persip, Joe Lovano, Ben Tucker, Lewis Nash, Gonzalo
Rubalcaba e muitos outros.
Com prestígio crescente e consolidado, PAT MARTINO seguidamente cunhou suas
gravações em outros estúdios além dos da Prestige, citando-se: Warner, Columbia, Savoy, Evidence, Sony, 32
Jazz, High Note, Milestone, Polydor, Concord, Fantasy e Blue Note.
PAT passou a estudar a cultura e a música hindus, assim
como toda a instrumentação eletrônica, principalmente os sintetizadores,
dominando esse universo sob os aspectos de sonoridade e de ritmo, que passou a
explorar com muita originalidade.
Esse aprendizado permitiu-lhe gravar em 1968 para seu
selo original, Prestige, uma experiência em que mistura a música oriental com
rock (“Baiyina: The Clear Evidence”, com o sub-título de “A Psychedelic
Excursion Through The Magycal Mysteries Of The Koran”, ou é pouco???!!!...), à
qual seguiu-se ainda na Prestige um enxerto de “Rhythm & Blues” com “funk”
(“Desperado”), prosseguindo em suas buscas com o “fusion” (criou o grupo
“Jovous Lake”) e, já em 1972 e para o selo Savoy, gravou o álbum “Footprints” e
em 1976 para a Warner o album “Starbright”, essas 02 produções com temas do
tenorista Wayne Shorter.
Com a carreira desenvolvendo-se muito bem e diante de
perspectivas excelentes, ocorreu a primeira tragédia no ano de 1980, quando recebeu
o diagnóstico de um aneurisma cerebral e teve que submeter-se a cirurgia de
alto risco, da qual resultou total “apagão” da memória: PAT
não identificava os pais, os médicos, os amigos e esqueceu totalmente sobre
“como tocar”.
Começa o “Vôo da Phenix”: família ao lado, músicos amigos colaborando
(Les Paul e George Benson são visitas constantes), radiola tocando seus
próprios discos, recursos de informática, exibição e leitura de publicações que
o citam em suas apresentações, fotografias, partituras, enfim todo um batalhão
de recursos foi capaz de, paulatinamente, devolver à memória de PAT MARTINO sua integridade, o que lhe
presenteia com a recuperação de sua técnica e habilidade originais.
Após quase 04 anos PAT retorna como músico aos poucos e apresenta-se ao grande
público, voltando a gravar em 1984 o álbum de título simbólico, “The Return”,
coadjuvado por não menos que Steve LaSpina / contrabaixo e Joey Baron /
bateria.
Mais 04 anos e a vida volta a surpreender PAT com seguidos fatos desagradáveis:
durante quase 02 anos ele tem que dedicar-se aos pais, enfermos, que falecem em
1989 (a mãe) e em 1990 (o pai).
Mais uma vez PAT
“alça vôo”, supera a depressão e retorna à música no ano seguinte.
Mais alguns anos e esse sobrevivente é atacado por uma
forte pneumonia que o abateu por muitos meses, deixou-o com pouco mais de 40
quilos e quase tendo que submeter-se a cirurgia para transplante de
pulmão. Mais uma vez “alçou vôo” e
retornou à música.
Vida que segue e PAT
MARTINO realizou longa temporada mundial no ano de 1995, base para a
produção do documentário “Open Road” sobre sua vida e sua música. Na mesma linha lançou seu método,
“Creative Force”, em vídeo.
Em 1997 PAT
gravou pela primeira vez para o selo Blue Note, etiqueta para a qual passou a
gravar seguidamente; no LP “All Sides Now”
ele contou com o veterano amigo Les Paul, ao lado de músicos da nova geração
como Kevin Eubanks, Charlie Hunter, Tuck Andress, Mike Stern e Joe Satriani. Na Blue Note seguiram-se os albuns “Stone
Blue” em 1998, “Live At Yoshi's” em 2001 (indicação ao Grammy de “Melhor Album
de Jazz Instrumental” e “Melhor Solo Instrumental” por “All Blues”), “Think
Tank” em 2003 (também indicado ao Grammy de “Melhor Album de Jazz Instrumental”
e “Melhor Solo Instrumental”) e “Remember: A Tribute to Wes Montgomery” em
2005, mostrando sua fidelidade e respeito às raízes.
A seguir algumas das principais gravações de PAT MARTINO, como líder, ao longo dos
anos:
- 1966 Pat
Azzara Selo Vanguard
- 1967 El
Hombre Selo Prestige
Strings
! Selo Prestige
- 1968 East
! Selo Prestige
Baivina Selo
Prestige
- 1970 Desperado Selo
Prestige
- 1972 Live ! Selo Muse
- 1974 Consciousmess Selo Muse
- 1984 The
Return Selo Muse
- 1994 Interchange Selo
Muse
- 1995 The
Maler Selo Evidence
- 1996 Nightwings Selo
Muse
- 1997 All
Sides Now Selo Blue Note
- 1998 Stone Blue Selo Blue
Note
- 2001 Live At Yoshi’s Selo Blue Note
- 2003 Think Tank Selo
Blue Note
- 2006 Remember Selo
Blue Note
Como co-líder PAT
MARTINO também gravou diversos álbuns, citando-se:
- em
1999 e pelo selo “1201Music” o álbum “70’s Jazz Pioneers Live At Town Hall” ao
lado de Randy Brecker, Buster Williams, Joanne Brackeen, Dave liebman e Al
Foster;
-
ainda em 1999 o álbum “Fire
Dance”, com Peter Block, Habib Khan, Ilya Rayanan e Zakir Hussah, pelo selo
“Mythos”;
- no
ano de 2000 o álbum “Tribute To Charles Earland”, pelo selo “High Note” e ao
lado de Joey DeFrancesco e Eric Alexander;
- também
em 2000 o clássico “Conversation” com Michael Sagmeister, pelo selo “Acoustic
Music”.
Como “sideman” PAT
MARTINO é encontrado em mais de 40 albuns, em “coletâneas” contabiliza duas
dezenas de álbuns e como “músico convidado” em cerca de uma dezena de outros.
PAT MARTINO prossegue com sua atividade musical, casado com uma
oriental (a japonesa Ayako Asahi), vive entre sua terra natal, Filadélfia, e a
“grande maçã”, não dispensando a companhia da “Gibson” fabricada especialmente
para ele, leciona (professor adjunto na “University Of The Arts In
Philadelfia”), compõe e apresenta-se em
momentos especiais.
Em sua agenda para o mês de junho de 2011 (época em que inicialmente redigimos o presente texto) constavam apresentações
de 09 a 12 no “Jazz Showcase” em Chicago / Illinois, no dia 18 no “The Loft” em
Atlanta / Geórgia, de 25 a 26 no “Yoshi’s Jazz House” em Oakland / Califórnia
e no dia 29 do mês no “National Guitar
Workshop” em Sandy Spring / Maryland.
Entre as muitas e mais recentes homenagens já
recebidas por PAT MARTINO,
destacam-se:
-1995 Medalha
de Honra no “Mellon Jazz Festival”;
-1996 Inscrição pela “Philadelphia Alliance” no “Walk Of Fame
Award”;
-1997 Inscrição
de seu trabalho pela “National Academy Of Recordings Arts & Sciences” nas
“Songs From The Heart Award”;
-2002 Eleição pela “National
Academy Of Recordings Arts & Sciences” como “2nd Annual Heroes Award";
-2002/2003 Indicações para o Grammy (álbuns “Live At Yoshi's” “Think
Tank”);
-2004 “Guitarrista
do Ano” entre os leitores (“Reader’s Poll”).
Agradecendo uma vez mais ao amigo ÉRICO RENATO SERRA CORDEIRO, sempre fidalgo e prestativo,
dispomo-nos a retornar à guitarra e aos guitarristas em próximo artigo.
apostolojazz@uol.com.br
Um comentário:
Caro Mestre Pedro Apóstolo, não bastasse a de ter você como um dos entronizados aqui no CJUB, tenho também a renovada alegria de encontrar um post dessa qualidade e com tal profundidade de detalhes, e mais, atualizado através de adendos de publicações que só um "homem-santo" teria a capacidade de compilar, redigir e manter pronto para a leitura de qualquer aficionado pela arte maior.
Mais uma vez, é um prazer e uma honra tê-lo colaborando com o blog nesse nível. Muito obrigado.
Grande abraço.
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