ALGUMAS
POUCAS LINHAS SOBRE A
GUITARRA
E OS GUITARRISTAS - 28
William De Arango, artisticamente “BILL” DE ARANGO, guitarrista
norte.americano, nasceu na cidade de Cleveland, estado de Ohio, no dia 20 de
setembro de 1921, cresceu em “Cleveland Heights” e veio falecer em sua cidade
natal (asilo para idosos em “East Cleveland”) no dia 26 de dezembro de 2005,
portanto pouco depois de completar 84 anos, sempre sob os cuidados de
enfermeira especializada, já que desde o ano de 1999 ficou constatada sua demência.
Estudou música na “Ohio State University” e
desenvolveu-se de forma auto-didata; entre
os anos de 1939 até 1942 atuou em pequenos grupos de JAZZ, dentro do estilo
“Dixieland” e nos arredores de Columbus (“The Hot Spot” localizado na West 3rd
Street); portanto, com apenas 21 anos BILL já possuía larga “estrada” rodada.
É importante descrever que anteriormente e com 17
anos, eIn November of 1938, the
17-year-old de Arango was at the Trianon Ballroom at 9802 Euclid Avenue where
the Duke Ellington Orchestra was playing for a dance.m novembro de 1938,
BILL DE ARANGO assistiu no “Trianon
Ballroom” (9802 Euclid Avenue) a uma apresentação da banda de Duke Ellington, ficando
totalmente entusiasmado com cerca de 2.500 jovens dançando e quase uma centena
deles perto do palco, próximos aos seus
“heróis” musicais pois, como ele, queriam ser músicos.
BILL também assistiu à “big.band” de Benny Goodman; após a apresentação e em conjunto com outros
jovens admiradores, cercaram o “Rei do Swing” que conversou com eles e teve
oportunidade de ouvir BILL à
guitarra: uma glória ! ! ! Nessa oportunidade alguns músicos da banda
de Goodman aconselharam BILL a ir
para New York.
BILL foi convocado e serviu nas Forças Armadas americanas
de 1942 até 1944, chegando a tocar em uma banda do Exército em Fort Sill,
Oklahoma.
Logo após o término desse serviço ele se estabeleceu
em Nova York, onde apresentou-se inicialmente na “Rua 52” (“a rua que nunca
dorme”, como era jargão da época), em grupo liderado pelo grande sax.tenorista
Don Byas no clube “Three Deuces” (72W 52nd Street, que funcionou de
1939 até 1950); então o grande rival
de Don Byas era o não menos reverenciado Ben Webster (que portava em seu
curriculum 04 anos com a “Duke Ellington Orchestra”) e, numa noite, ele
perguntou a BILL DE ARANGO onde ele
estava trabalhando; como BILL informou que estava sem trabalho,
Ben Webster contratou-o.
A partir de então BILL
trabalhou durante um ano e meio com Ben, exatamente nos clubes da “Rua 52” (“Onyx”,
“Spotlight” e no “Three Deuces” entre
outros).
Em 25/maio/1945 BILL adentrou estúdio em New York, para participar da gravação de 03
temas (“What More Can A Woman Do?”, “I'd Rather Have A Memory Than A Dream” e
“Mean To Me”), integrando uma formação
histórica do “Bebop”, o octeto sob o comando da cantora Sarah Vaughan: Dizzy
Gillespie (trumpete), Charlie Parker (sax-alto),
Joe “Flip” Phillips (sax-tenor), Nat Jaffe e Tadd Dameron (piano), Bill
DeArango (guitarra), Curley Russell (contrabaixo), Max Roach (bateria) e, claro,
Sarah Vaughan (líder e vocal). A
produção dessa sessão de gravação foi do crítico Leonard Feather e pode ser
ouvida no CD nº 19 da série “Bird’s Eyes”, do selo italiano “Philology”.
Montou seu próprio grupo, que contava com o
vibrafonista Terry Gibbs e que atuou tanto em New York quanto em Chicago, “The
Wind City”.
Trabalhou em seguida com os saxofonistas Charlie
Ventura e Ike Quebec, assim como atuou com os músicos exponenciais da corrente
do “Bebop” e daqueles que eram então os
mais importantes na cena da “grande maçã”:
Coleman Hawkins (“Mr. Bean”), Red Norvo (então marido da cantora Mildred
Bailey), Dizzy Gillespie e outros.
Em 1945 BILL
participou de gravação para o selo “Haven”, em sessão que contou com Slam Stewart, Ike Quebec e Eddie "Lockjaw"
Davis.
Em 1946 BILL DE
ARANGO estava presente em gravações com Dizzy Gillespie, onde ficaram
cunhados os clássicos "A Night in Tunísia”, "Ol' Man Bebop” e
"Anthropology”.
Em 1946 e como guitarrista de JAZZ foi o vencedor na
categoria “new star” da revista especializada “Esquire”.
No ano de 1948 BILL DE ARANGO retirou-se da cena musical,
retornando à sua cidade natal para trabalhar em emissoras de rádio, “ressurgindo” em 1954 para gravar o LP
“DeArango” pelo selo “Mercury / EmArcy” com John Williams.
Durante
praticamente 20 anos BILL somente
tocou com músicos locais de Cleveland, inclusive titulando o grupo de rock
“Henry Tree”, assim como atuando em “gig’s” no “Smiling Dog Saloon” com Ernie Krivda e Skip Hadden.
Voltou a gravar em 1978 o
importante LP “Another Time, Another Place”, integrando formação com Sam
Rivers, Ray Anderson, Arthur Blythe, Anthony Davis e Dave Holland. Ainda
em 1978 gravou com Barry Altschul e em 1981 com Kenny Werner.
Em 1988 apresentou-se em temporada no clube “Venice”
da Califórnia, em companhia de trio formado por David Withan / piano, Bob
Bowman / contrabaixo e Paul Kreibich / bateria.
Em 1993 BILL
gravou um CD com o tenorista Joe Lovano, “Anything Went”, integrado por
“standards” trabalhados musicalmente de forma mais livre, mostrando a
impressionante capacidade estilística desse guitarrista-símbolo.
Com certeza BILL
é “o” guitarrista do “Bebop”, tendo sido um dos primeiros guitarristas, senão o
primeiro, a integrar-se ao núcleo dos “boppers”.
Moderno, versátil, com acentuada velocidade de
execução sem nenhuma dificuldade, emérito improvisador, executando suas frases
mais no contratempo que no tempo, e capaz de adaptar seu estilo aos dos músicos
com quem contracena, o que se pode avaliar pela quantidade de músicos de
vanguarda que sempre o solicitaram para suas atuações e gravações.
Seu ataque era “duro” mas com amplificação que pouco
se notava, pelo som “leve”, ligeiro.
BILL DE
ARANGO evitava que as cordas se
movessem, o que resultava nesse som “leve”, puro, de forma que esse nível de
controle dava como resultado uma sonoridade mais “cool” (em oposição, por
exemplo, ao som “quente” e “bluesy” do grande Charles Christian).
De acordo com o biógrafo Jason Ankeny em seu “Allmusic”, BILL foi o guitarrista mais inovador
e técnico surgido na cena da era bebop”.
Mesmo sendo em quantidade reduzida suas gravações sob
as titularidades de Ben Webster, de Charlie Ventura e de Red Norvo, assim como
enquanto líder, elas mostram uma expressiva e continuada evolução e atualização
estilística, mas sempre mantendo as raízes no “Bebop”. Ao final desta resenha uma síntese de algumas
das gravações de BILL DE ARANGO.
Retirou-se para sua cidade natal, Cleveland, passando
a atuar nos clubes locais (particularmente no “Barking Spider Tavern”), como ele mesmo dizia, “por amor á
arte”, além de manter uma loja de artigos musicais.
BILL DE
ARANGO, como escrito no início desta
resenha, veio a falecer no dia 26 de dezembro de 2005 (havia completado 84 anos
meses antes), internado em instituição especializada (asilo para idosos), já
que desde 1999 tivera constatada sua demência.
Algumas das gravações iniciais com BILL DE ARANGO à guitarra são as seguintes:
(01) 25 de
maio de 1945 em New York
As 03 faixas indicadas
no início (“What More Can A Woman
Do?”, “I'd Rather Have A Memory Than A Dream” e “Mean To Me”), com octeto sob o
comando de Sarah Vaughan
(02) 28 de
maio de 1945 em New York
Com Johnny Guarnieri / piano, Red Norvo / vibrafone,
Billy Taylor e Slam Stewart / baixo, Morey Feld / bateria, 08 faixas para os
álbuns “Johnny Guarnieri, Singing at the Piano” e “Slam Stewart Quintet”, selo
“Continental”
(03) 12 de
junho de 1945 em New York
Com o “Charlie Kennedy Quintette” (Charlie Kennedy /
sax.tenor, Johnny Guarnieri / piano, Al McKibbon / baixo e Buddy DeRocco /
bateria), 06 faixas para o selo SAVOY
(04) 07 de
agosto de 1945 em New York
Com o “Ike Quebec All Stars” (Ike Quebec / sax.tenor, Johnny
Guarnieri / piano, Milton Hinton / baixo e J.C. Heard / bateria), 04 faixas
para o selo SAVOY
(05) 07 de
setembro de 1945 em New York
04 faixas com o trio de Erroll Garner (Garner no
piano, BILL na guitarra e John Levy
Jr. à bateria), selo Associated
(06) 22 de
fevereiro de 1946 em New York
Com “Dizzy
Gillespie And His Orchestra” 06 faixas para o selo RCA (Dizzy Gillespie /
trumpete, Don Byas, sax.tenor, Milt Jackson / vibrafone, Al Haig / piano, Ray Brown / baixo e J. C. Heard / bateria)
(07) BILL integrou a “Trummy Young And
Orchestra With Four Jazz Award Winners” (Trummy Young / trombone, Abe Baker – Ray
Eckstrand – Herbie Fields – Nick Calazza – Stan Webb / saxophones, Bill Rowland
/ piano e o grupo vocal “The Holidays”) para a gravação de 04 faixas, selo
Classics Records
Seguiram-se gravações de BILL DE ARANGO em New York nas datas de 03/maio, 15/maio e
08/junho, sempre em 1946, 26/março e 05/abril de 1947, 13/abril/1953,
07/março/1954, em 1968 a primeira gravação fora de New York (Cleveland),
13/março/1978, setembro/1981, janeiro/1983 (em Beachwood / Ohio), 1992
(Cleveland), 02/abril/1993 (gravação com Joe Lovano) e em 1994 (Cleveland).
Retornaremos à guitarra e aos guitarristas em próximo
artigo.
apostolojazz@uol.com.br
3 comentários:
Caro Pedro já havia me esquecido que existiu o Arango, mas não tenho nada dêle, apesar de vc ter colocado várias peças não reconhecí nenhuma.
Valeu!!!
Estimado MÁRIO JORGE:
As gravações de Bill DeArango não são peças fáceis de serem encontradas, em função da época.
Os 03 temas citados gravados com octeto sob o comando da "Divina" SARAH ("What More Can A Woman Do?", "I'd Rather Have A Memory Than A Dream" e "Mean To Me") integram o volume 19 da série "Philology" (Philology W 849.2).
Trata-se de sessão produzida por Leonard Feather em 25/maio/1945.
Mestre "Apóstolo"
Aqui "antes tarde do que nunca", face ao assoberbo, quero parabeniza-lo - mais que merecidamente - pelos "guitarristas".
Tive contato com pequena fração da obra de Arango, quando da sua participação junto da inciática "bebop" do Gillespie, com a habitual e sempre perspicaz observação do saudoso Mestre Lulla.
Obrigado pela descrição e análise raio-X, desse quase esquecido guitarrista.
Abçs.
"Nels"
Postar um comentário