ALGUMAS
POUCAS LINHAS SOBRE A
GUITARRA
E OS GUITARRISTAS - 26
Se no número 25
desta série focalizamos Johnny St. Cyr, um guitarrista e banjoista ligado ao
JAZZ dos mais tradicionais, este número 26
é dedicado a um músico de escola das mais avançadas no JAZZ.
DEREK BAILEY nasceu em 29 de janeiro de 1930
em Sheffield, Inglaterra, vindo a falecer aos 75 anos, no dia de Natal de 2005,
em Londres.
Sempre informou que seu aprendizado
deveu-se às audições da rádio inglesa, a partir das quais e, como auto-didata,
“graduou-se”.
Pela constituição musical da família pode-se afirmar
que essa informação contém um “pouco” de exagero, já que sua mãe tocava piano,
o irmão dela e tio de DEREK era
guitarrista e, ainda mais, seu avô paterno era pianista e banjoista profissional.
Com a idade de 22 anos e de 1952 até 1962, portanto durante
cerca de 10 anos, foi guitarrista de música comercial, para em seguida formar o
trio “Joseph Holbrooke”, com ele à guitarra, Gavin Bryars no baixo e Tony Oxley
na bateria. A denominação do trio
referia-se ao músico inglês Joseph Holbrooke, alcunhado de “Wagner
cockney”. Os 03 integrantes do trio
eram, obviamente, ingleses como DEREK.
O trio atuou de 1963 até 1966, inicialmente voltado
com intensa paixão para a música de John Coltrane, assim como para as
experiências de John Cage e, particularmente, para as novas concepções do
fenomenal trio Bill Evans / Scott LaFaro / Paul Motian.
Em 1965 o trio de DEREK
passa a dedicar-se à “improvisação total e/ou livre”, na linha do denominado
“free jazz”.
DEREK incorpora-se em 1966 ao grupo do baterista John
Stevens, o “Spontaneous Music Ensemble”.
Nesse grupo estreita amizade pessoal e musical com o saxofonista (tenor
e soprano) Evan Parker.
Ato seguido DEREK
faz parte da “London Jazz Composer’s Orchestra” do contrabaixista Barry
Guy. Com esse contrabaixista e o
trombonista Paul Rutherford une-se ao grupo “Iskra 1903” e à formação
“Musician’s Cooperative Association” (“MCA”), onde atuam Evan Parker, o
pianista Howard Riley e os bateristas Paul Lytton e Tony Oxley.
O “MCA” dedica-se a divulgar a música baseada na “improvisação
livre”, para o que seus músicos promovem festivais e dezenas de concertos. Esse núcleo dá origem à “Music
Improvisation Company”, que atua de 1968 a 1971 e que conta com as
participações de Hugh Davies nos sintetizadores e de Jamie Muir à bateria.
Em sociedade com Evan Parker e Tony Oxley, no ano de
1970 DEREK cria o selo discográfico
“Incus”, totalmente dedicado à “improvisação livre”. Esse selo passa a publicar o trabalho do
grupo internacional “Company”, que na realidade não foi um grupo permanente,
mas um “espaço” por onde circularam e gravaram Terry Day, Anthony Braxton,
Johnny Dyani, Misha Mengelberg, Leo Smith, Lol Coxhill, Steve Lacy, Steve
Beresford, Maurice Horsthuis, Han Bennink, Maarten Altena, Tristan Honsinger e
muitos mais, todos ligados à denominada “improvisação livre”.
A partir de 1969 DEREK
BAILEY gravou mais intensamente, participando ainda do grupo “Globe Unity
Orchestra” do líder Alexander Von Schlippenbach.
Em 1980 DEREK
publicou o livro “Improvisation, Its Nature And Practice In Music”, na verdade
uma coletânea de entrevistas de músicos dedicados à “improvisação livre” em
vários contextos, tais como e entre outros JAZZ, música barroca, rock, música
indiana etc, entrevistas essas devidamente comentadas; trata-se de verdadeiro tratado a favor dessa denominada
“improvisação livre”.
Sem sombra de dúvidas DEREK BAILEY é o maior representante do máximo radicalismo na
“improvisação livre”, o que é sobradamente demonstrado por suas gravações e
pelas habituais apresentações ao vivo, enquanto solista ou no contexto do grupo
“Company”.
Todo o trabalho musical de DEREK é um permanente afastamento de quaisquer codificações ou
sistematizações de “estilos” instrumentais, assim como do tradicional “ordenamento” musical característico do JAZZ
e da música do ocidente.
Os solos de DEREK
são “módulos”, “células”, nunca “temas” ou melodias conhecidas, das quais se
afasta categoricamente. Seus “módulos” estão relacionados e um sistema
tonal em que a “lógica” harmônica é intermitentemente sacudida por acordes
aleatórios. Pode-se entender um certo,
digamos assim, “lirismo negativo”, uma
música de superfície árida mas conteúdo vibrante, já que DEREK desconstrói e sistematiza partes, em oposição às convenções
jazzísticas.
Além dos solos contidos nas gravações indicadas ao
final, um exemplo clássico de seu guitarrismo dentro da “improvisação livre”,
pode ser ouvido na composição “Untitled” com 5’24”, gravada em Paris
(01/fevereiro/1985, ano de seu falecimento) em duo com o saxofonista soprano
Steve Lacy; os dois são os autores da
composição (parte do CD “Steve Lacy Duets: Associates”, anexado è edição de
outubro de 1996 da revista italiana “Musica Jazz”).
Algumas gravações recomendadas de DEREK BAILEY, dentro do contexto de “improvisação livre” em que ele
atua, são:
- 1971
= Solo Guitar;
- 1971
= Improvisations For Cello And
Guitars (com Dave Holland);
- 1974
= Together;
- 1974
= Duo (com Anthony Braxton);
- 1977
= Improvisations.
Retornaremos à guitarra e aos guitarristas em próximo
artigo
apostolojazz@uol.com.br
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