Trabalho de Pesquisa de nosso Editor NELSON REIS
MECANISMOS DE AFINAÇÃO DO TAMBOR
Como já vimos, o tambor acústico veio sofrendo
modificações diversas através de sua história no tempo. Ele anunciava a
proclamação do arauto na praça pública, precedia à aplicação dos castigos de
enforcamento e guilhotina e, marcava a evolução da dançarina no festim. Mais
tarde, antecipava-se ao anunciante de “respeitável público” do circo, ou o
Diretor do clube social em dia de festa, com o seu “Senhoras e Senhores, sua
atenção, por favor”.
Para isso, o baterista tinha a afinação do tambor de
forma a adequar o toque com intuito de chamar com maior ou menor altura, maior
ou menor intensidade, de forma mais grave ou mais aguda, a atenção dos presentes.
Assim sendo, nos primórdios de
criação, descobriu o homem que a temperatura influía sobre a sonoridade
produzida pela “pele” que cobria o tambor. A textura dada no estiramento do
couro aplicado na “abertura acústica do casco”, modificava a “voz do
instrumento”.
Reparando detalhes da história, a
nossa tradição do “carro de bateria” nos desfiles de Escolas de Samba, é um
símbolo da manutenção dos instrumentos de tambor da bateria, utilizado no
passado. Aquele carro empurrado junto à ala da bateria, carregava – entre
outros petrechos – uma boa quantidade de jornais velhos que eram queimados aos
poucos durante o desfile, para produção de calor para “esticar o couro” dos
tambores e tamborins, que eram trocados pelos executantes, após pequeno tempo
de uso quando “o couro ficava frouxo”. Isto porque, esse couro era fixado junto
ao casco de madeira do instrumento por meio de taxas de metal para tencioná-lo,
dando uma afinação temporária ao instrumento, que só podia ser mantida com a
pele de couro esticada mediante aplicação de calor.
Na antiguidade, os atabaques tencionavam
a pele do instrumento por meio de corda de fixação e, a aplicação de cunhas de
madeira que eram batidas entre a pele sobreposta na extensão da lateral do
casco e um aro de madeira ou metal adaptado à borda da saída onde a pele era
adaptada. Mais tarde, criou-se um aro de
madeira, com furos espaçados em sua extensão, por onde passava-se um cordel.
Agora esses aros eram aplicados nas duas extremidades de saída do tambor,
fixados por um único cordel perpassado simultaneamente em ambos, intercalando
as distâncias de baixo à acima. Por força da pressão de ar no momento da
percussão e para maior propagação do som e melhor perpetuação temporária da
afinação, o casco sofreu duas pequenas furações laterais opostas na sua
superfície. permitindo o escape maior do ar e do som internos do tambor.
Surge assim um tambor de “dupla
face”, que no caso de emergência de troca, precariamente, utilizava a outra
face para percussão, caso a original se rompesse ou furasse durante o uso.
Hoje, por todos esse motivos,
acrescido o fato de que os ambientalistas, muito naturalmente, vieram a ser
opositores do sacrifício animal com o fito de obtenção de material para uso
instrumental (peles de carneiro para uso em percussão, tripas de porco e
carneiro para uso em instrumentos de cordas e aplicação em raquetes de jogar
tênis), surgiram a fibra e “peles” sintéticas produzidas como pesquisa de
derivados orgânicos (petróleo e outros) produzida na pesquisa química de
laboratório.
Nos tambores musicais, surgiram
dois tipos de “peles”. Já não haveria mais aquela complicação de “esquentar o
couro”. Uma das “peles” seria a própria para ser percutida diretamente pelos
auxiliares de percussão (baquetas) e, na extremidade oposta com uma outra
espessura mais fina, a chamada “pele de resposta” acústica.
A afinação do instrumento passou
a ser quase permanente, visto que o material sintético quase não se deforma
pelo uso correto, permanecendo com a tensão desejada, sem necessidade de
afinação a quase todo instante pelo instrumentista, como ocorria no passado.
As “peles” já vêm de fábrica,
preparadas nas medidas-padrão de tamanhos e espessuras adaptadas a cada estilo
de tambor, sendo afixadas nos instrumentos por um aro metálico removível ,
sobreposto à “pele” e adaptado ao casco do tambor por ajuste de parafusos longos
que dão a afinação desejada por aperto.
2 comentários:
Estimado NELSON:
Seguimos a trajetória dos "sons", com sua história, exemplos e toda a informação.
E vamos aprendendo..............
Grato,
PEDRO CARDOSO
Bela série, Mestre Nels, sempre fui curioso nesses aspectos de afinação de tambores, mas nunca tinha tido tempo ou paciência para parar e pesquisar. Muito bom poder ler isso por aqui. Parabéns e keep on swingin', como diz o Mestre Raf!
Abração.
MauNah
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