Outra reprodução das colunas do Mestre LOC, esta a de 29/9, originalmente publicada na edição online do Jornal do Brasil. Deleite puro, como sempre. Abraços.
Os ‘Enfants terribles’, ao vivo, no Blue Note
O título do disco é Enfants terribles, e foi gravado ao
vivo, no clube Blue Note, Nova York, no ano passado. Os “meninos terríveis”
formam um quarteto cuja idade média é de 70 anos. O mais velho de todos, Lee Konitz,
completa 85 agora em outubro; o mais “jovem” do grupo, o baterista Joey Baron,
tem 57 anos; o guitarrista Bill Frisell já fez 61; Gary Peacock, aos 77,
continua impecável na arte do contrabaixo.
O CD recém-lançado pelo selo Half Note reúne seis faixas
a partir ou em torno de temas que os quatro músicos — sobretudo o saxofonista
alto — estão, aparentemente, cansados de tocar: What’s this thing called
love (6m), Body and soul (12m05), Stella by starlight (11m), I’ll
remember April (10m), Iremember you (11h40) e I can’t get started
(9m15).
Joey Baron comentou que, quando da gravação ao vivo do álbum, um
executivo da empresa Blue Note-Half Note queria sugerir a Konitz uma espécie de
“atualização” do repertório, mas foi avisado de que isso seria uma “ofensa” ao
legendário altista, já que “Lee tem passado a vida investigando essas
melodias”.
A “investigação” melódicoharmônica foi o alicerce da “intuição
criativa” pregada e praticada pelo mestre de Konitz, o pianistacompositor
Lennie Tristano (1919-1978), cuja temática era formada, em grande parte, por
paráfrases de standards (April, de I’ll
remember April; Lennie Bird, de How
high the moon; 317 East 32nd, de Out of nowhere). A estética tristaniana tinha por objetivo atingir “os
verdadeiros limites de expansão de uma determinada estrutura”, em improvisação
contínua de linhas musicais, num complexo que vai se formando aos poucos, na
base da interação, sem qualquer esquema preconcebido.
É esse tipo de música que se ouve em Enfants terribles —
jazz totalmente espontâneo que só pode ser criado por instrumentistas com a
excelência técnica, a maturidade e a capacidade de interação exibidas por
Konitz, Frisell, Peacock & Baron. É um CD do mesmo quilate e do mesmo requinte
de Live at Birdland (ECM) — registro de dezembro de 2009, lançado no
ano passado, com Konitz ao lado de Brad Mehldau (piano), Charlie Haden (baixo)
e Paul Motian (bateria).
Nos dois discos, ambos gravados ao vivo, perante plateias
formadas em grande parte por jazzófilos exigentes e músicos, não há líderes.
Nem é seguida a norma da exposição do tema (ou de sua paráfrase) com variações
em sucessões de solos individuais, divididos em choruses. Trata-se
de uma espécie de action playing, em que qualquer um dos atores pode
tomar a iniciativa. Como fazem, em Enfants terribles,
Konitz e Baron — baterista pontilhista como
foi Paul Motian — em What is this thing... e Body and soul; Bill
Frisell em I’ll remember April; Gary Peacock em I can’t get started.
O octogenário Lee Konitz mantém, no sax alto, um sopro cool —
não tão diáfano como na juventude — mas suas digressões são cada vez mais
despojadas e cerebrais, por sobre um beat mais sugerido do que marcado.
Como anotou Allen Morrison (Downbeat), “Konitz e os Enfants não
tocam canções propriamente ditas; eles tocam meditações sobre canções —
de maneira pós-moderna, em improvisações às vezes excêntricas”.
Um comentário:
Assim como os solos octogenário de Sonny Rollins no Albun "Road Show Vol 2". Excentrico e meditativo.
Abrçs Sonoros
Leo
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