MARY LOU WILLIAMS – A PIANISTA ADMIRADA E CULTUADA POR TODOS
No mundo do jazz em que os homens predominam, algumas mulheres de trajetórias marcantes brilharam com seu talento, categoria e criatividade. Uma dessas grandes figuras foi a pianista, compositora e arranjadora Mary Lou Williams (1910/1981), considerada a primeira instrumentista famosa no jazz, sempre elogiada e respeitada por astros do quilate de Duke Ellington, Benny Goodman, Thelonious Monk, Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Bud Powell e Tadd Dameron, entre muitos outros. Mary nasceu em Atlanta, Georgia, e seu verdadeiro nome era Mary Elfrieda Scruggs. Desde cedo revelou-se uma criança prodígio em Pittsburgh, onde viveu algum tempo e aprendeu a tocar piano. Embora ainda sem prender-se a um estilo em particular, ela marcou significativamente sua carreira no jazz alcançando um status bem acima das demais instrumentistas que atuaram na música dos músicos. Sobre seu estilo, ela declarou: “Na verdade, eu mudei de estilo experimentando vários caminhos até encontrar o que buscava”.

Sua carreira profissional começou, Missouri, nos anos 20/30, como pianista, compositora e arranjadora da orquestra de Andy Kirk’s 12 Clouds of Joy, tocando blues e boogie woogies, que na época eram estilos muito populares. Sua produção de compositora foi bastante prolífica gerando as obras primas “Roll’Em”, que, gravada por Benny Goodman, contribuiu para tornar-se uma espécie de hino oficial do estilo Swing, alcançando enorme sucesso; outro tema seu muito popular entre os dançarinos dos ballrooms foi “Walkin’ and Swingin’”, cuja introdução foi aproveitada por Thelonious Monk em sua conhecida “Rhythm-a-Ning”. Durante seu período com Andy Kirk ela casou-se com o saxofonista John Williams, de quem se divorciou mais tarde. Deixando a orquestra de Andy Kirk nos anos 40 foi para New York, onde a música fervilhava e as orquestras de jazz proliferavam. Na Big Apple, ela liderou seu conjunto que tocou muito tempo no conhecido clube Café Society, contribuindo para ela ser conhecida no meio musical, a tal ponto que seu apartamento tornou-se um ponto de encontro dos músicos de jazz, que reconheceram seu real talento, passando alguns deles a tocar suas composições. Nesse período ela casou-se com o trompetista Harold Baker Seu vasto talento de compositora e arranjadora firmava-se a cada dia e alguns críticos exaltavam suas qualidades, mas, ao mesmo tempo, ela foi invejados por alguns músicos. Por isso, nos anos 50 ela retirou-se da música convertendo-se para a religião católica em 1956; durante três anos dedicou-se com afinco à religião e converteu vários músicos que passaram a freqüentar sua igreja. Em 1957, Dizzy Gillespie convenceu-a a tocar com sua orquestra no Newport Jazz Festival. Mais tarde ela dividiu seu tempo, entre a música e a igreja até 1969, quando a pedido do padre jesuíta Peter O’Brien voltou a tocar em clubes de jazz e compondo música religiosa, incluindo a peça “Missa”, que ela tocou na famosa Saint Patrick Categral de New York, em 1975. Em 1978 ela passou a lecionar jazz na Duke University, onde formou um conjunto com 18 estudantes.
Mary Lou Williams apresentou-se no II Festival de Jazz de São Paulo, em 1980, vindo acompanhada por seu grande amigo o Padre Jesuita Peter O’Brien. Nessa ocasião, embora adoentada, sempre solicita e muito simpática, Mary Lou Williams atendeu a imprensa e o público que a procurou para os autógrafos com alegria, sempre generosa com seus agradecimentos. Foi com imensa tristeza que no ano seguinte soubemos da sua morte. Sua figura encantadora e seu sorriso perene deixaram muitas saudades nos corações dos que tiveram a felicidade de conhecê-la.
Por José Domingos Raffaelli
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