Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

OUTRO DO RAF, SOBRE MARY LOU WILLIAMS

07 março 2012

Em continuação da republicação de artigos escritos pelo Mestre Raf, segue-se este sobre a magistral pianista, verdadeiro pilar do conhecimento, amor e dedicação ao jazz. Tal qual o nosso decano, que, no entanto só não toca piano.

MARY LOU WILLIAMS – A PIANISTA ADMIRADA E CULTUADA POR TODOS

No mundo do jazz em que os homens predominam, algumas mulheres de trajetórias marcantes brilharam com seu talento, categoria e criatividade. Uma dessas grandes figuras foi a pianista, compositora e arranjadora Mary Lou Williams (1910/1981), considerada a primeira instrumentista famosa no jazz, sempre elogiada e respeitada por astros do quilate de Duke Ellington, Benny Goodman, Thelonious Monk, Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Bud Powell e Tadd Dameron, entre muitos outros. Mary nasceu em Atlanta, Georgia, e seu verdadeiro nome era Mary Elfrieda Scruggs. Desde cedo revelou-se uma criança prodígio em Pittsburgh, onde viveu algum tempo e aprendeu a tocar piano. Embora ainda sem prender-se a um estilo em particular, ela marcou significativamente sua carreira no jazz alcançando um status bem acima das demais instrumentistas que atuaram na música dos músicos. Sobre seu estilo, ela declarou: “Na verdade, eu mudei de estilo experimentando vários caminhos até encontrar o que buscava”.

Consta que ela compôs centenas de peças de jazz e sacras e gravou cerca de 100 discos. Ela sempre declarou que sua vida era guiada em dois planos paralelos: seu amor por Deus e seu amor pelo jazz. Entre suas inúmeras composições destacam-se “Camel Hop” (gravada por Benny Goodman), “Froffy Bottom”, “Little Joe From Chicago”, “Trumpets no End” (baseada em “Blue Skies” e gravada por Duke Ellington com uma notável batalha dos trompetistas da orquestra), “Zodiac Suite”, cuja première no Carnegie Hall, em 1945, foi executada pela Orquestra Philarmonica de New York, “Pretty Eye Baby” e “In the Land of Oo-Bla-Dee, gravada por Dizzy Gillespie.

Sua carreira profissional começou, Missouri, nos anos 20/30, como pianista, compositora e arranjadora da orquestra de Andy Kirk’s 12 Clouds of Joy, tocando blues e boogie woogies, que na época eram estilos muito populares. Sua produção de compositora foi bastante prolífica gerando as obras primas “Roll’Em”, que, gravada por Benny Goodman, contribuiu para tornar-se uma espécie de hino oficial do estilo Swing, alcançando enorme sucesso; outro tema seu muito popular entre os dançarinos dos ballrooms foi “Walkin’ and Swingin’”, cuja introdução foi aproveitada por Thelonious Monk em sua conhecida “Rhythm-a-Ning”. Durante seu período com Andy Kirk ela casou-se com o saxofonista John Williams, de quem se divorciou mais tarde. Deixando a orquestra de Andy Kirk nos anos 40 foi para New York, onde a música fervilhava e as orquestras de jazz proliferavam. Na Big Apple, ela liderou seu conjunto que tocou muito tempo no conhecido clube Café Society, contribuindo para ela ser conhecida no meio musical, a tal ponto que seu apartamento tornou-se um ponto de encontro dos músicos de jazz, que reconheceram seu real talento, passando alguns deles a tocar suas composições. Nesse período ela casou-se com o trompetista Harold Baker Seu vasto talento de compositora e arranjadora firmava-se a cada dia e alguns críticos exaltavam suas qualidades, mas, ao mesmo tempo, ela foi invejados por alguns músicos. Por isso, nos anos 50 ela retirou-se da música convertendo-se para a religião católica em 1956; durante três anos dedicou-se com afinco à religião e converteu vários músicos que passaram a freqüentar sua igreja. Em 1957, Dizzy Gillespie convenceu-a a tocar com sua orquestra no Newport Jazz Festival. Mais tarde ela dividiu seu tempo, entre a música e a igreja até 1969, quando a pedido do padre jesuíta Peter O’Brien voltou a tocar em clubes de jazz e compondo música religiosa, incluindo a peça “Missa”, que ela tocou na famosa Saint Patrick Categral de New York, em 1975. Em 1978 ela passou a lecionar jazz na Duke University, onde formou um conjunto com 18 estudantes.

Mary Lou Williams apresentou-se no II Festival de Jazz de São Paulo, em 1980, vindo acompanhada por seu grande amigo o Padre Jesuita Peter O’Brien. Nessa ocasião, embora adoentada, sempre solicita e muito simpática, Mary Lou Williams atendeu a imprensa e o público que a procurou para os autógrafos com alegria, sempre generosa com seus agradecimentos. Foi com imensa tristeza que no ano seguinte soubemos da sua morte. Sua figura encantadora e seu sorriso perene deixaram muitas saudades nos corações dos que tiveram a felicidade de conhecê-la.

Por José Domingos Raffaelli

Nenhum comentário: